De manhã cedo — após o delicioso café expresso, que tomou na padaria da esquina, com três pães de queijo —, num sábado ensolarado, sozinho no apartamento (este localizado no quarto andar de um condomínio, na zona norte), tomou uma inusitada decisão.
Ainda triste, mas já recuperado, decidiu dar uma olhada na única foto que tinha de Vera, a foto especial, que havia guardado numa das gavetas do guarda-roupa.
Por orientação do doutor Fernando, todas as fotos de Vera — ou dos dois juntos — estavam na casa de seus pais. Deveriam permanecer lá por pelo menos três ou quatro anos, até que as ignóbeis feridas sarassem.
Entregou todas as fotos… menos aquela. Era seu mirífico segredo.
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Mantendo a rotina, domingo, após a missa, Macto almoçou com os pais, a irmã e Marcelo, o namorado dela. Conseguiu, obviamente, disfarçar seu maquiavélico estado de espírito. Optou por não contar a eles sobre a conversa que tivera com o médico e sua pretensão de encontrá-lo, pois corria o risco de ser mal interpretado. Débora anunciou que iria se casar com Marcelo dentro de seis meses. Excelente notícia, uma vez que Marcelo se mostrou uma pessoa de bem, um sujeito realmente honesto, simpático, além de possuidor de ótimo caráter. O almoço foi tranquilo. Na segunda-feira, de manhã — entre curioso e ansioso —, pediu dispensa do trabalho e seguiu para o efici
Na terça-feira, de manhã, de volta ao trabalho — era advogado, especializado em causas trabalhistas e trabalhava numa grande empresa do ramo — procurou seu colega Kleber, na sala adjacente à sua. Kleber — sujeito de seus trinta e poucos anos, moreno-claro, gordo e baixo, que usava feiosos óculos de grau —, encontrava-se sentado à mesa, concentrado, digitando, no notebook, alguns textos. Não eram realmente amigos, até porque tinham filosofias diferentes, no que dizia respeito a quase tudo. Kleber, casado, era religioso demais para seu gosto. Contudo, respeitava o colega, apesar deste ter sido contratado, pela empresa, há somente um ano e meio. Apesar do pouco tempo dele ali, já haviam colaborado um com o outro, em vários trabalhos. Ele era do tipo sério, tranquilo, educa
No sábado, deixou o Uno verde-escuro no imenso estacionamento da igreja às 7h45min. A rua Hunt Mállaguer, da zona norte — mesma zona onde residia —, localizada num bairro nobre, estava bastante movimentada, com aquela montanha de gente indo na direção do templo. Pessoas desesperadas? Saiu e deu uma olhada no templo. Era imenso — pelo menos uns 80 metros de largura — e possuía dois andares. Na frente, uma enorme escadaria, de 12 degraus, em aclive, que dava acesso à enorme porta da entrada — esta teria uns bons 30 metros de largura. Templo suntuoso e luxuoso! "Coisa de louco, meu. UAU!" Parou de admirar a estrutura, juntou-se à multidão, voltou à frieza e entr
À tarde, retornou ao templo e repetiu as ações que fizera pela manhã. Viu tudo, menos o falso médico. Saiu de lá frustrado. À noite, mais uma tentativa. Em vão. Mas viu Kleber, que estava acompanhado de uma mulher gorda e de dois meninos. Por sorte, não foi visto por ele. Ao lado deles, de modo surpreendente, viu Patrick — o esquelético e tímido Patrick —, outro colega de trabalho. “Nossa! Não sabia que o Patrick tinha embarcado nessa. Esse Kleber tem muita lábia, convenhamos.” Decidiu não se aproximar deles, para conversar. Não valeria à pena. Saiu de mansinho, ciente de que teria que prosseguir com a caçada.&nbs
Pesquisou na internet os demais endereços da igreja Geral da Ressurreição. Anotou seis, numa caderneta de capa preta. Os templos situados mais próximos de seu bairro. Kleber veio falar com ele: → E aí, Macto? Encontrou o falso médico? → Ainda não → respondeu, incisivamente →. Mas continuarei procurando. Não contou a ele que o viu, conversando com o Patrick, no templo, fins evitar ter que dar explicações. Kleber, então, se afastou, discretamente, com a calma de sempre. No sábado de manhã, foi até à rua Lins Grugger, na zona sul — longe do bairro onde residia — e deixo
Por incrível que possa parecer, acabara de avistar o falso médico! O famigerado falso médico! O desgraçado estava ali — no palco —, quieto, sério, concentrado, sentado na enorme mesa que eles sempre instalavam. Ao lado dele, mais nove pessoas sentadas, provavelmente pastores à espera, prontos para proferirem suas patéticas pregações. Sentiu seu coração bater mais forte, no peito. Aquele olhos azuis-cerúleos! O gel nos cabelos. Não teve dúvidas. E logo na sua quarta tentativa. Fácil, fácil. Por que ele deveria se esconder? Por que passaria na cabeça dele a ideia de que alguém pudesse procurá-lo? Afinal, não c
Foi para casa. Passou o resto da tarde e início da noite vendo TV, pensando nas ações que iria realizar. Tomou banho. Vestiu bermuda azul e camiseta branca, ambas de algodão. Jantou frango frito, com arroz e salada, no restaurante “Alvix”, seu preferido, localizado ali perto. Ingeriu um copo de suco de laranja como acompanhamento. De volta ao apartamento, ligou seu notebook e navegou na internet. Leu os e-mails recebidos, assistiu alguns vídeos engraçados e jogou freecell. Às oito e meia tomou outro banho e vestiu bermuda jeans e camisa verde-escura, meia-manga, esta de algodão. Saiu de casa às 21 horas em ponto. Levou meia hora para chegar até a res
Às duas horas da madrugada, após ter tomado duas latinhas de refrigerante e ter dado pelo menos seis voltas na quadra, para não dormir, viu, enfim, o falso médico sair da boate, abraçado com um homem. “O quê?!?” Atônito, escondeu-se atrás de um carro e bateu as primeiras fotos. A imagem do nome da boate, atrás do falso médico, era visível. Depois, passou a filmar, enquanto os dois se dirigiam para o estacionamento. Diante do Siena vermelho, aconteceu a cena inusitada, que não esperava fosse acontecer. O pastor Gutemberg — com certeza achando-se protegido pela privacidade do local —, beijou o parceiro na boca. Na boca, sim senhor! Nossa! Foi um