No sábado, deixou o Uno verde-escuro no imenso estacionamento da igreja às 7h45min.
A rua Hunt Mállaguer, da zona norte — mesma zona onde residia —, localizada num bairro nobre, estava bastante movimentada, com aquela montanha de gente indo na direção do templo. Pessoas desesperadas?
Saiu e deu uma olhada no templo.
Era imenso — pelo menos uns 80 metros de largura — e possuía dois andares. Na frente, uma enorme escadaria, de 12 degraus, em aclive, que dava acesso à enorme porta da entrada — esta teria uns bons 30 metros de largura. Templo suntuoso e luxuoso!
"Coisa de louco, meu. UAU!"
Parou de admirar a estrutura, juntou-se à multidão, voltou à frieza e entr
À tarde, retornou ao templo e repetiu as ações que fizera pela manhã. Viu tudo, menos o falso médico. Saiu de lá frustrado. À noite, mais uma tentativa. Em vão. Mas viu Kleber, que estava acompanhado de uma mulher gorda e de dois meninos. Por sorte, não foi visto por ele. Ao lado deles, de modo surpreendente, viu Patrick — o esquelético e tímido Patrick —, outro colega de trabalho. “Nossa! Não sabia que o Patrick tinha embarcado nessa. Esse Kleber tem muita lábia, convenhamos.” Decidiu não se aproximar deles, para conversar. Não valeria à pena. Saiu de mansinho, ciente de que teria que prosseguir com a caçada.&nbs
Pesquisou na internet os demais endereços da igreja Geral da Ressurreição. Anotou seis, numa caderneta de capa preta. Os templos situados mais próximos de seu bairro. Kleber veio falar com ele: → E aí, Macto? Encontrou o falso médico? → Ainda não → respondeu, incisivamente →. Mas continuarei procurando. Não contou a ele que o viu, conversando com o Patrick, no templo, fins evitar ter que dar explicações. Kleber, então, se afastou, discretamente, com a calma de sempre. No sábado de manhã, foi até à rua Lins Grugger, na zona sul — longe do bairro onde residia — e deixo
Por incrível que possa parecer, acabara de avistar o falso médico! O famigerado falso médico! O desgraçado estava ali — no palco —, quieto, sério, concentrado, sentado na enorme mesa que eles sempre instalavam. Ao lado dele, mais nove pessoas sentadas, provavelmente pastores à espera, prontos para proferirem suas patéticas pregações. Sentiu seu coração bater mais forte, no peito. Aquele olhos azuis-cerúleos! O gel nos cabelos. Não teve dúvidas. E logo na sua quarta tentativa. Fácil, fácil. Por que ele deveria se esconder? Por que passaria na cabeça dele a ideia de que alguém pudesse procurá-lo? Afinal, não c
Foi para casa. Passou o resto da tarde e início da noite vendo TV, pensando nas ações que iria realizar. Tomou banho. Vestiu bermuda azul e camiseta branca, ambas de algodão. Jantou frango frito, com arroz e salada, no restaurante “Alvix”, seu preferido, localizado ali perto. Ingeriu um copo de suco de laranja como acompanhamento. De volta ao apartamento, ligou seu notebook e navegou na internet. Leu os e-mails recebidos, assistiu alguns vídeos engraçados e jogou freecell. Às oito e meia tomou outro banho e vestiu bermuda jeans e camisa verde-escura, meia-manga, esta de algodão. Saiu de casa às 21 horas em ponto. Levou meia hora para chegar até a res
Às duas horas da madrugada, após ter tomado duas latinhas de refrigerante e ter dado pelo menos seis voltas na quadra, para não dormir, viu, enfim, o falso médico sair da boate, abraçado com um homem. “O quê?!?” Atônito, escondeu-se atrás de um carro e bateu as primeiras fotos. A imagem do nome da boate, atrás do falso médico, era visível. Depois, passou a filmar, enquanto os dois se dirigiam para o estacionamento. Diante do Siena vermelho, aconteceu a cena inusitada, que não esperava fosse acontecer. O pastor Gutemberg — com certeza achando-se protegido pela privacidade do local —, beijou o parceiro na boca. Na boca, sim senhor! Nossa! Foi um
No domingo, depois que voltou da igreja católica, sentou-se no sofá e deu uma minuciosa e analítica olhada nas fotos e imagens. Horríveis! Nojentas! Porém nítidas. Sabia que qualquer pessoa que as visse e conhecesse (pessoalmente ou por fotos) o pastor Gutemberg, o reconheceria. E qualquer pessoa entenderia o significado delas. Como se dizia por aí, eram realmente fotos e imagens comprometedoras. → É o fim de sua carreira, babaca → murmurou, os olhos brilhando de ódio. Almoçou somente com os pais. Sua irmã havia ido à praia, com o noivo. → Tudo bem, filho? → sua mãe, curios
A semana demorou a passar. Na quarta-feira, Kleber o abordou: → E aí? Encontrou o falso médico? Seguindo seu instinto, decidiu não contar nada a ele. Seria seu segredo. Depois ele saberia de tudo, assim que o escândalo estourasse. → Não. Acho que irei desistir. → Isso! Eu sabia que ele não pertencia à nossa igreja. Não temos criminosos em nossos quadros. Largar isso de mão é a melhor coisa que você faz, amigo. Não se esqueça: Deus te ajudará a superar essas maledicências. Ore e serás recompensado. “Você é que pensa que ele não é da tua igreja, amigo. Logo terás um
No sábado à tarde, foi até a igreja. O pastor Gutemberg estava sentado à mesa, esperando a sua vez de pregar. Não quis ouvi-lo. Não valeria à pena ouvir tantas bobagens. Decidiu esperar no carro. Uma hora depois, a multidão começou a sair da igreja. Também saiu do carro e esperou, o coração aos saltos. Não demorou para ver a figura do pastor Gutemberg, elegante num terno azul-marinho, que acabara de sair. Nos degraus da igreja, ele conversou com algumas pessoas, enquanto cumprimentava as que passavam; sorrindo, a simpatia em carne-e-osso. Notou que algumas garotas o encaravam com admiração. Com certeza achavam ser ele um bom partido. Óbvio! Os car