No sábado à tarde, foi até a igreja.
O pastor Gutemberg estava sentado à mesa, esperando a sua vez de pregar. Não quis ouvi-lo. Não valeria à pena ouvir tantas bobagens.
Decidiu esperar no carro.
Uma hora depois, a multidão começou a sair da igreja. Também saiu do carro e esperou, o coração aos saltos. Não demorou para ver a figura do pastor Gutemberg, elegante num terno azul-marinho, que acabara de sair.
Nos degraus da igreja, ele conversou com algumas pessoas, enquanto cumprimentava as que passavam; sorrindo, a simpatia em carne-e-osso. Notou que algumas garotas o encaravam com admiração. Com certeza achavam ser ele um bom partido. Óbvio!
Os car
Naquela noite, jantou bife com fritas no restaurante “Alvix”, seu preferido — localizado ali perto —, assistiu TV (ou tentou), navegou na internet (colocou os e-mails em dia) e, lá pelas onze horas, deitou-se na sua adorável e aconchegante cama de casal. Antes de desligar o aparelho, realizou uma importante tarefa. Pegou o celular e transferiu as fotos e imagens do pastor Gutemberg para o notebook. Alguns segundos e pronto. Para a pasta escolheu o título “Igreja Geral da Ressurreição”. Um título conveniente e objetivo. Deveria enviar as fotos e imagens para alguém? Por enquanto não. Acreditou que, no momento, não seria necessário. Desl
No domingo, fez o de sempre: assistiu à missa — como era bom estar num lugar sereno, em que a ausência de gritos e choros dava um ar celestial ao ambiente — e almoçou com os pais, a irmã e o noivo dela. Carne assada no forno. Delícia! Foi um almoço bem tranquilo, onde conseguiu disfarçar a ansiedade que o dominava, por dentro. → É aí, filho? Conseguiu prender aquele monstro? → sua mãe, que não havia esquecido o assunto do último almoço, o questionou, séria. → Não foi necessário, mãe → mentiu. → O casal entrou em acordo. Eles se separaram e ela foi embora para outra cidade, levando a filha de seis anos. O ex-marido pediu desculpas pela agress&
Kleber, o gordo, simpático e calmo Kleber — um verdadeiro poço de tranquilidade —, estava ali, diante dele, segurando uma pistola. Naquele momento os olhos do gordo brilhavam. Seria ódio? Ou apenas indiferença? Viu o diabólico e mortífero cano da arma apontado na sua direção. → Mas… por quê? Por quê? → indagou, atônito, ainda sem sentir medo. “Sou colega dele. Ele não vai ter coragem de atirar em mim. É calmo, é evangélico, é um homem de Deus. Provavelmente só quer me assustar, para proteger o amigo”, refletiu, esperançoso. Precisava dizer alguma coisa, para convencê-lo a desistir da ideia:
Vinte minutos depois, precisamente às 22h32min, dois carros pararam diante da cancela de saída do condomínio: um Siena vermelho e um Uno verde-escuro. Ambos os vidros insulfilm levantados. O pastor Gutemberg chegou a baixar o vidro — rapidamente —, para cumprimentar, sorrindo, o porteiro. O porteiro também sorriu e acenou com a mão direita. Já o Uno manteve-se discreto, com os vidros erguidos. O sonolento e cansado porteiro não viu, portanto, os dois homens no Uno, um deles aparentemente dormindo no banco do lado. Viu apenas o vulto do motorista. Tudo bem, o porteiro refletiu, era apenas o amigo do pastor, saindo, após uma rápida visita. Mais um de seus inúmeros e esquisitos amigos.
Tudo deu certo. Havia deixado o carro do pastor no aeroporto, atrás de um depósito, pois sabia que ali não havia câmeras. Andou uns 400 metros. Pegou, enfim, um táxi e voltou para casa. Sua esposa estava dormindo — ou fingindo — assim como seus filhos. Havia informado a ela que iria para a reunião de pastores e que o pastor Júlio decidiu lhe dar carona, ida e volta. Deixara, portanto o carro na garagem. Se ela perguntasse, o pastor Júlio confirmaria a inusitada história. Mas ela, inteligentemente, não perguntou. Boa menina! Jogou os celulares no mar, na noite seguinte. Sumiram para sempre. Dois dias dep
O tempo foi passando e… nada. Os investigadores não avançaram, por mais que se esforçassem. O caso tornou-se um decrépito e infeliz beco sem saída. A frustração deles foi total! Um ano depois, o caso foi, enfim, parcialmente arquivado. Os policiais acharam que se tratou de assassinato seguido de suicídio e que o carro de Macto estaria em alguma ribanceira da região. Mas continuariam procurando, embora com menor intensidade. Ufa!... Na verdade, o Uno de Macto jamais foi encontrado, assim como os corpos dos dois. Kleber sorriu, satisfeito. Chegou a acreditar que os cadáveres seriam encontrados, mas aca
JODERYMA TORRES UM ESTRANHO DIÁLO
Era 16h45min. Macto, que estava sentado no estreito banco de madeira — pintado de branco neve —, levantou-se, visivelmente aflito, quando viu o que parecia ser o médico se aproximando. Ele conduzia um caderno médio, de espiral de arame, capa vermelha-escura, e uma caneta esferográfica de tinta azul, prontos para o uso. → Macto Krisser? → ele disse. → Eu mesmo. E aí, doutor? → perguntou, visivelmente nervoso → Como ela está? → Sente-se, por favor. Ambos sentaram. O largo corredor do imenso hospital estava vazio, naquele horário. Algo lúdico e perfeitamente normal, p