Caminho pela areia úmida da praia, deixando as pegadas se apagarem rapidamente sob meus pés. O sol está se pondo lentamente no horizonte, pintando o céu com tons suaves de laranja e rosa. Enquanto a brisa do mar acaricia meu rosto, tento deixar que sua tranquilidade penetre em minha alma conflituosa.
Acabei de sair do meu estágio em enfermagem neonatal, um mundo onde a fragilidade da vida e a esperança se entrelaçam de maneira linda. Enquanto cuidava dos recém-nascidos na unidade de cuidados intensivos, não pude deixar de refletir sobre minha própria vida e as incertezas que a cercam
As ondas quebram suavemente na costa, uma melodia suave que acompanha meus pensamentos tumultuados. Meu pai sempre foi uma figura complicada, suas escolhas imprudentes nos deixaram atolados em dívidas e preocupações. Agora, após sua morte, essas preocupações se tornaram ainda piores.
A brisa marinha tenta me tranquilizar, mas é difícil encontrar paz em meio ao caos que se desenrola diante de mim. A bolsa estágio mal cobre minhas despesas básicas, e as contas continuam a se acumular.
O curso técnico que tanto me esforço para manter, está com duas mensalidades atrasadas, é provável que eu perca a possibilidade de renovar a matrícula daqui há um mês, o que consequentemente resultará na perda do estágio. Minha rotina já é exaustiva, com o curso técnico pela manhã, o estágio à tarde e os freelancers de bar girl ou garçonete em eventos noturnos para a elite.
E, no meio de tudo isso, sinto-me perdida. Meu sonho sempre foi ser enfermeira, mas nunca tive tempo para estudar e mesmo se passasse na universisade, por ser integral, não daria certo. Sempre estava correndo atrás do meu pai, cuidando dele quando caía bêbado na rua, gastando minhas economias em remédios e dívidas que surgiam.
Cheguei a pensar em largar tudo e buscar um trabalho efetivo, mas nem isso estou conseguindo. Não sei mais o que fazer. Estou presa em um ciclo interminável de lutas e decepções, sem vislumbre de uma saída.
Eu tenho que dar um jeito na minha vida, mas como faria isso? Enquanto as lágrimas se misturam com a brisa do mar, prometo a mim mesma que não desistirei. Mesmo quando tudo parece perdido, continuarei lutando. Como? confesso que não sei.
🧜🏾♀️
Ao chegar em casa, sou recebida pelo barulho ensurdecedor da vizinhança agitada. Os latidos dos cachorros, o som estridente das buzinas e as vozes exaltadas ecoam pelas ruas estreitas, como se cada casa fosse um palco para o caos urbano. Suspiro profundamente, preparando-me mentalmente para mais uma noite tumultuada.
No entanto, ao me aproximar da minha casa, meu coração afunda ao avistar Helena, sentada na calçada como uma sentinela indesejada. Seus olhos frios encontram os meus e um sorriso de escárnio se forma em seus lábios.
Helena é uma mulher de meia-idade, uma figura sinistra que se entrelaçou com a vida caótica do meu pai. Ela e tantas outras, envolvidas em casos amorosos com ele, compartilharam noites de bebedeira e confusão. Agora, ela se recusa a aceitar a realidade e insiste em perturbar minha paz, reivindicando uma parte da casa como se tivesse algum direito sobre ela.
Sinto a irritação borbulhar dentro de mim enquanto me aproximo dela. Já não aguento mais essa mulher, com suas exigências sem sentido e sua presença intrusiva.
— Helena — , chamo sua atenção, minha voz carregada de firmeza. — O que você está fazendo aqui novamente?
Ela me encara com desafio, seus olhos faiscando com uma mistura de arrogância e ciniscmo. — Oh, enfermeirinha mediocre, você sabe muito bem por que estou aqui. Eu quero o que é meu por direito. Metade desta casa pertence a mim, e não vou descansar até conseguir o que é meu!
Reviro os olhos, minha paciência se esgotando diante da sua persistência.
— Você sabe muito bem que não tem nenhum direito sobre esta casa — , retruco, lutando para manter a calma. — Você e meu pai eram apenas dois estranhos que se afogavam em suas próprias misérias. Não venha aqui com suas exigências absurdas.
Helena se ergue da calçada com uma postura de desafio. Seu rosto está marcado por linhas de expressão profundas, testemunhas silenciosas de uma vida de excessos. Os olhos azuis são envoltos por uma sombra escura de lápis de olho preto
Ela quase sempre tem um cigarro entrelaçado entre os dedos. Os fios de cabelo curtos e desgrenhados, uma mistura de tons loiros desbotados, castanhos e grisalhos, caem desordenadamente ao redor de seu rosto.
Um vestido vermelho, curto e provocante, que deixa pouco para a imaginação. Os decotes profundos revelam mais do que escondem, enquanto as alças finas parecem prestes a ceder sob o peso do busto volumoso. Seus saltos altos, também vermelhos, batem no chão irregular da calçada com um som abafado.
— Se você não vender essa casa e dividir comigo, Barbara — , ela diz com um tom ameaçador, — eu vou me mudar para cá em breve e levar esse assunto para a justiça. Tenho muitas testemunhas que podem confirmar o meu relacionamento com o seu pai.
Seus lábios se curvam em um sorriso malicioso, como se estivesse desfrutando da agonia que está causando. É uma ameaça velada, uma forma de chantagem emocional destinada a me fazer ceder às suas exigências descabidas. Mas eu sei que não posso deixar que ela manipule a situação dessa maneira.
Meu pai se foi há apenas seis meses, e se antes eu não tinha paz, quem dirá agora. Helena só foi um caso passageiro, um capítulo sombrio na vida tumultuada do meu pai. Ele nunca assumiu compromisso com ninguém, e eu mesma só a tinha visto nos bares locais, nunca fui apresentada a ela oficialmente ou a qualquer outra.
Observo-a afastar-se, sua silhueta desaparecendo na escuridão da noite. Suspiro profundamente, o peso da sua presença ainda pairando no ar.
🧜🏾♀️
Precisava me recompor rapidamente para o evento de lançamento de carros naquela noite. Após um banho revigorante, Vesti rapidamente o uniforme para o evento: uma calça preta que abraçava minhas pernas e uma camisa branca de botão com alças de ombro que seguravam firmemente na calça, dando um toque de elegância ao conjunto. Prendi meu longo cabelo cacheado em um rabo de cavalo alto, deixando duas mechas soltas na frente para enquadrar meu rosto.
Optei por uma maquiagem básica, apenas o suficiente para rninguém no evento reclamar que eu estava sem. Embora não ganhasse muito como freelancer, cada pequeno trabalho era uma ajuda bem-vinda para minhas despesas crescentes.
Com um último olhar no espelho para garantir que estava apresentável, peguei minha bolsa e me preparei para enfrentar mais uma noite. Saí de casa e peguei o ônibus que me levou para a outra parte da cidade,
Sentada na janela do ônibus, observei a paisagem mudar gradualmente, as ruas estreitas e movimentadas dando lugar a avenidas largas ladeadas por árvores imponentes e prédios suntuosas. Era um mundo distante do meu, um mundo de luxo e privilégios que parecia existir em uma realidade paralela à minha própria.
Enquanto o ônibus avançava pelas ruas iluminadas pelo brilho das lojas de grife e dos carros reluzentes, uma sensação de determinação cresceu dentro de mim. Eu era forte, eu tinha que ser. Era isso que eu me repetia enquanto o ônibus seguia seu caminho, rumo ao mundo desconhecido que me aguardava.
Já havia passado muitas coisas pela minha cabeça nessas noites. Recebi propostas, como o "book rosa", por exemplo, e sempre recusei. Mas até quando? Eu poderia viver com isso? Minha vida estava desmoronando a cada dia, e talvez aquela noite fosse diferente. Talvez fosse hora de reconsiderar minhas escolhas, de questionar até que ponto eu estava disposta a ir para sobreviver neste mundo implacável. A incerteza pairava no ar, misturada com a tentação de soluções fáceis e o medo do desconhecido.
Mas uma coisa era certa: eu tinha que sair daquela merda.
Cheguei ao evento uma hora antes do início. Marisa, a responsável pela agência que contratava os serviços temporários, estava em frente ao imenso espaço, visivelmente nervosa enquanto falava ao telefone. Avistei Emily à distância, minha amiga que trabalhava como recepcionista e fazia parte do catálogo VIP da agência. Isso significava que muitas vezes ela acompanhava os clientes, mas Emily não se importava com o que os outros pensavam sobre seu trabalho.Seu sorriso era encantador, iluminando seu rosto e transmitindo confiança. Uma mulher deslumbrante, loira, com cabelos no estilo chanel, bochechas rosadas, olhos grandes e expressivos. Vestia-se elegantemente com um vestido preto, discreto e sofisticado, combinado com saltos altos da mesma cor.Marisa acenou para que eu me aproximasse quando me viu, e eu me dirigi até ela, tentando ignorar o nó de ansiedade que se formava em meu estômago.— Barbara, precisamos conversar — ela disse quando me aproximei. Sua voz era firme, mas também hav
Com um olhar rápido para me certificar de que não havia clientes precisando de atendimento imediato, peguei o celular e o trouxe para perto do meu ouvido, deslizando o dedo nervosamente para atender a ligação.— Boa noite, estou falando com a Barbara Castro? Aqui é Diego Guerra, advogado do Guerra & Carvalho. Tenho tentado entrar em contato com você nos últimos dias, mas parece que nossos horários não estão coincidindo. Me desculpe por ligar esse horário. Diego Guerra. Advogado. As palavras ecoaram na minha mente, fazendo meu coração acelerar em antecipação. Por que um advogado estaria me ligando? Ótimo, mais problemas. — Sim, sou eu. O que posso fazer por você, Dr. Guerra? — Tentei manter minha voz calma, mas minha mente já estava trabalhando freneticamente para antecipar o motivo da ligação.— Pode me chamar de Diego. Gostaria de discutir um assunto importante relacionado ao seu pai. Seria possível nos encontrarmos pessoalmente para uma conversa?— Por favor, me diga que ele me de
A luz do sol invadiu suavemente a sala, anunciando o início de mais um dia. Levantei-me da cama com um misto de sono e ansiedade. Depois de um café da manhã rápido e um banho, peguei minha mochila e segui em direção ao meu curso técnico. O trajeto era familiar, mas meus pensamentos estavam longe, preocupados com as questões que me assombravam desde a ligação do advogado.No entanto, ao chegar ao curso, mergulhei nos estudos, tentando deixar de lado, ao menos temporariamente, as preocupações que me consumiam. Ali, entre livros e anotações, encontrei um refúgio onde podia me concentrar e esquecer, por alguns momentos, os problemas que me afligiam.Após as aulas da manhã, dirigi-me ao hospital onde fazia meu estágio na UTI neonatal. Desde que comecei a trabalhar ali, sentia-me em casa. O ambiente hospitalar, apesar de caótico em muitos momentos, era onde eu me sentia mais viva e realizada.Ao adentrar a UTI neonatal, fui recebida pelo burburinho característico do local. Médicos, enferme
Uma semana havia se passado desde minha última conversa com Diego. Ele havia prometido retornar com notícias, mas até agora, o silêncio era ensurdecedor. Eu entendia que ele provavelmente estivesse tentando falar com Henrique Montebello, mas a falta de comunicação me deixava inquieta e preocupada. Agora eu só tinha três semanas. Eram exatamente 20h30 da noite quando eu estava atrás do balcão preparando drinks como de costume. A atmosfera era mais descontraída aqui, longe da recepção, e eu preferia assim. Meu foco estava nos ingredientes, nas misturas e na arte de criar as bebidas perfeitas para os clientes. Então, foi quando ela chegou. Melissa. Sua presença sempre foi difícil de ignorar, sua beleza deslumbrante contrastando com a expressão de raiva sutil que ela parecia carregar como uma segunda pele. Seus olhos se encontraram com os meus e eu senti um calafrio percorrer minha espinha. — Olá, boa noite. Como posso te ajudar? — Cumprimentei-a com um sorriso, tentando ignorar a sens
O ar frio do hospital envolvia-me enquanto eu caminhava pelos corredores familiares da maternidade. O brilho suave das luzes fluorescentes iluminava o ambiente, criando uma atmosfera tranquila e serena. O som suave dos passos ecoava pelos corredores vazios, enquanto eu me dirigia à ala de cuidados neonatais, pronta para começar mais uma tarde de trabalho. Ao entrar na ala, meus olhos se fixaram em um homem familiar de costas, parado diante de um berço onde repousava um recém-nascido adormecido. Um arrepio percorreu minha espinha ao reconhecê-lo como Diego. Seu perfil era inconfundível, mesmo de longe, e meu coração acelerou com a surpresa de encontrá-lo ali. No entanto, hesitei em me aproximar. Ele parecia estar imerso em um momento de profunda introspecção, tocando suavemente a bochecha do bebê enquanto seus olhos estavam fixos na pequena criatura. Eu não queria interromper esse momento íntimo e pessoal, e uma onda de vergonha me impediu de me aproximar. Foi então que seus olhos se
Caminhava pelos corredores da luxuosa mansão onde o evento estava ocorrendo. Meus passos eram incertos, meu coração martelava em meu peito. Eu sabia o que estava prestes a fazer, mas cada fibra de meu ser gritava para que eu desistisse. Encontrei minha chefe na sacada sozinha, segurando uma taça de vinho. Meu estômago se revirou quando nossos olhares se encontraram, e eu soube que não havia volta. A verdadeira face da noite começaria ali. — Marisa... — minha voz saiu trêmula enquanto eu lutava para manter a compostura. Ela virou-se para mim, seu olhar perspicaz capturando minha expressão ansiosa. Um sorriso insinuante dançou em seus lábios, mas seus olhos permaneceram sérios. — Barbara, o que foi? Você parece ter visto um fantasma. Engoli em seco, reunindo coragem para fazer a pergunta que estava me corroendo por dentro. — Estou reservada para alguém esta noite? Salvatore me contou. — Sim, você está reservada. Na verdade, estava prestes a ir procurá-la. Seu cliente não quer espe
Me viro lentamente, sentindo a intensidade do olhar cinzento dele fixado em mim. Seus olhos capturam cada detalhe de minha aparência, enquanto uma mistura de medo e fascinação me domina. Seu cabelo e barba levemente grisalhos conferem-lhe um ar de mistério e charme irresistível. Ele está vestido com elegância, usando calça e sapatos sociais, combinados com uma camisa branca social apertada que realça seu peitoral. Dois botões estão abertos, revelando sutilmente a força de seus músculos. As mangas levemente arregaçadas deixam à mostra parte de seus braços fortes com veias saltadas. Ele é alto, muito mais do que eu lembrava quando o vi pela primeira vez. Seu porte dominante preenche o ambiente, impondo uma presença que não pode ser ignorada. — Não respondeu minha pergunta. Ele avançou em minha direção. Recuei instintivamente, meu corpo encontrando o respaldo de um móvel próximo. Suas mãos fortes repousaram sobre a superfície, enquanto ele se inclinava em minha direção, sua presença
Estava decidida a ficar, a me entregar àquela noite de prazer e mistério. E algo dentro de mim ansiava por explorar os limites desconhecidos da luxúria. Então, com uma voz trêmula, mas decidida, murmurei: — Eu... — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Eu fico. Ele sorriu, um sorriso que carregava a promessa de tantas coisas que eu mal podia imaginar. Era como se, naquele momento, eu estivesse embarcando em uma jornada desconhecida, guiada pela atração magnética que existia entre nós. — Muito bem, Barbara. — Sua voz era suave, mas carregada de uma intensidade que fez meu coração acelerar ainda mais. — Então prepare-se, porque esta noite será inesquecível. Então, de repente, ele inclinou a cabeça, seus lábios se aproximando dos meus com uma urgência avassaladora. Eu mal tive tempo para processar o que estava acontecendo antes que ele me envolvesse em um beijo feroz e voraz. Seus lábios eram quentes e exigentes, explorando cada canto da minha boca com uma fome insaciável.