Uma semana havia se passado desde minha última conversa com Diego. Ele havia prometido retornar com notícias, mas até agora, o silêncio era ensurdecedor. Eu entendia que ele provavelmente estivesse tentando falar com Henrique Montebello, mas a falta de comunicação me deixava inquieta e preocupada. Agora eu só tinha três semanas.
Eram exatamente 20h30 da noite quando eu estava atrás do balcão preparando drinks como de costume. A atmosfera era mais descontraída aqui, longe da recepção, e eu preferia assim. Meu foco estava nos ingredientes, nas misturas e na arte de criar as bebidas perfeitas para os clientes.Então, foi quando ela chegou. Melissa. Sua presença sempre foi difícil de ignorar, sua beleza deslumbrante contrastando com a expressão de raiva sutil que ela parecia carregar como uma segunda pele. Seus olhos se encontraram com os meus e eu senti um calafrio percorrer minha espinha.— Olá, boa noite. Como posso te ajudar? — Cumprimentei-a com um sorriso, tentando ignorar a sensação de desconforto da sua presençaNo entanto, ao invés de retribuir o cumprimento, Melissa foi direta ao ponto, pedindo um drink de morango com um tom de desdém em sua voz. Senti-me desconfortável com sua atitude, mas mantive minha compostura enquanto preparava sua bebida.— Aqui está sua caipirinha de morango. Espero que goste.Eu me senti como se estivesse sob um microscópio, cada movimento sendo observado e julgado por ela.— Dá para o gasto. Por que você não está na recepção hoje?— Bem, este lugar não é exatamente meu. Prefiro ficar por trás do balcão, fazendo os drinks. É onde me sinto mais à vontade.Um sorriso maldoso brincou nos lábios de Melissa enquanto ela soltava uma risadinha debochada.— Ah, entendi. Aposto que os homens não acham isso, não é mesmo? Eles preferem que você seja a entrada. — Ela sussurrou com um tom de deboche.Apertei as mãos em punho, sentindo o calor da raiva subir pelo meu corpo. Respirei fundo, tentando me controlar, mas, embora falasse baixo, minha resposta saiu com firmeza:— Bom, na vida de cada um, há quem prefira a entrada ao "prato principal". Aposto que o seu noivo concorda com isso, não é mesmo?Melissa franziu a testa, captando perfeitamente a referência. Seus olhos faiscaram de raiva enquanto ela se levantava da banqueta, enfrentando-me de frente.— Como ousa insinuar algo assim? Você não sabe de nada sobre mim ou meu noivo! — Ela praticamente cuspiu as palavras.Eu mantive minha expressão impassível, apesar da vontade de retrucar à altura.— Tenho outras pessoas para atender agora. Se tiver mais algum pedido, por favor, peça ao meu colega. — E, antes que ela pudesse continuar, virei-me e afastei-me, deixando-a furiosa e sem palavras.Ninguém próximo notou a breve confusão. Eu estava à flor da pele com todas as malditas coisas que estavam acontecendo ao mesmo tempo.Do outro lado do balcão, distante de onde Melissa estava, um homem capturou minha atenção. Ele era incrivelmente atraente, com uma aura de sofisticação e mistério. Seus olhos cinzentos pareciam penetrar minha alma, lendo cada pensamento que eu guardava. Seu cabelo e barba grisalhos eram um charme, enquanto seu olhar sério e avaliador transmitia uma autoridade natural.Meu colega passou por mim e sussurrou que o homem queria ser atendido por mim. Eu engoli em seco, sentindo uma mistura de nervosismo e outra coisa diante da presença magnética daquele desconhecido.Ele não usava terno, apenas uma camisa social que contornava seus músculos de forma impecável. As mangas estavam dobradas, revelando um relógio luxuoso em seu pulso, provavelmente um Rolex.— Boa noite, senhor. Em que posso ajudá-lo?Ele me olhou por um momento, como se estivesse avaliando minhas habilidades. — Qual é a bebida mais forte que você tem esta noite? — , sua voz era firme e controlada, mas havia uma sugestão de curiosidade por trás dela.— Temos uma seleção de destilados premium, senhor. Posso sugerir um whisky envelhecido ou um conhaque de alta qualidade, dependendo do seu gosto.Ele assentiu, considerando minhas palavras com interesse. — Quero algo que faça jus ao nome forte, — disse ele, seu olhar nunca vacilando.— Entendi — respondi, mantendo-me firme diante de seu olhar penetrante. — Posso preparar algo exclusivo para você. Uma mistura especial, talvez?Ele considerou minha sugestão com interesse, seus olhos cinzentos pareciam buscar algo além das palavras que trocávamos.— Me supreenda, pode até acrescentar algo a mais.Eu me vi um pouco acanhada sob sua inspeção minuciosa. Seu silêncio era eloquente, revelando pouco e deixando muito para a imaginação. Havia um toque de perigo em sua presença, uma sensação inebriante de adrenalina que se misturava à curiosidade.O aroma das especiarias dançava no ar enquanto eu misturava os elementos cuidadosamente escolhidos. O líquido assumia uma tonalidade vibrante, refletindo a mistura de sabores que se combinavam ali.Optei por uma combinação audaciosa e exótica: um coquetel de pitaya, infundido com um toque de especiarias intensas e um toque sutil de doçura. Acrescentei um toque de limão para equilibrar os sabores e uma dose generosa de um destilado premium para garantir que o coquetel fosse verdadeiramente forte.Quando finalmente servi o coquetel em uma taça, deslizando-o na direção do homem desconhecido, meu coração batia com antecipação. Seus olhos examinaram a bebida.Enquanto ele saboreava o drink, seus olhos permaneciam fixos nos meus.
— Este drink parece com você? Exótico, relativamente doce e ainda assim, forte e amargo por dentro? — Seus olhos cinzentos, profundos e penetrantes, me encaravam com uma intensidade intrigante, enquanto suas sobrancelhas se arqueavam ligeiramente.Um sorriso timido brincou em meus lábios enquanto eu considerava sua pergunta. Era verdade que, apesar das adversidades, eu mantinha uma aura de resiliência, na verdade, eu não tinha muitas opções.— Bom, senhor. A maioria das pessoas são assim.— Bom, Barbara, eu não quero saber das outras pessoas, quero saber de você. — disse ele com um tom de autoridade, sua expressão séria e intensa.Como ele sabia o meu nome? Seria possível que fosse Thiago, meu colega do bar, quem o informou?— É possível,— comecei, escolhendo minhas palavras com cautela. — Assim como este drink, estou enfrentando uma mistura de sabores na minha vida. Exótica, doce em poucos momentos, amarga em muitos outros, mas sempre forte, bom, nem sempre.Eu não costumava desabafar com estranhos, mas algo sobre aquele homem me fez abrir meu coração por um instante. E no fundo, eu sabia que jamais deveria ter feito isso.Com um suspiro cansado, meus lábios formaram uma linha firme enquanto eu reprimia a frustração que fervilhava dentro de mim. — Um homem mesquinho, metido a besta, rico e obcecado em destruir minha vida está brincando comigo,— murmurei, meu tom carregado de desgosto e amargura. As palavras escaparam de meus lábios quase como um desabafo, expressando a revolta que eu sentia em relação à situação em que me encontrava. — Mas vou encontrá-lo. E direi tudo isso na cara dele.Ouvi uma risada baixa ecoando pelo ar. Meus olhos se estreitaram, surpreendidos por aquela reação inesperada. Eu me senti repentinamente autoconsciente, percebendo que minhas palavras não deveriam ter saido da minha boca.— Peço desculpas — , murmurei rapidamente, minha voz carregada de constrangimento. — Não era apropriado... eu... só estou com a cabeça cheia. — minha voz vacilou enquanto eu lutava para encontrar as palavras certas para desfazer o momento tenso.O homem ergueu o copo vazio para os lábios, terminando o restante da bebida.— Qual é o nome que você dará a essa bebida? — , ele perguntou, sua voz carregada de curiosidade, mas também de um certo desafio.— Ruína. Assim como a dona dela.— Ruína é surpreendentemente apropriado— , ele comentou com um tom de aprovação. — Você realmente é uma boa ruína.Sua observação me pegou de surpresa, e eu não pude deixar de arquear uma sobrancelha, intrigada com sua escolha de palavras. Antes que eu pudesse responder, ele desviou o olhar, olhando para o lado.
— Nesta noite, decidi ver se algo valia a pena neste maldito lugar. — murmurou.Acompanhei seu olhar, mas ele não olhava para nada e nem ninguém especifico.Curiosa, não pude deixar de perguntar: — E vale a pena?Ele virou-se para mim novamente, um brilho misterioso em seus olhos.— Sim — , respondeu ele, sua voz soando quase como um sussurro. — Estou satisfeito, como se eu fosse um demônio que conseguiu reivindicar a alma de alguém.Após suas palavras, o homem se levantou e desapareceu na multidão, como se nunca estivesse estado ali. Fiquei ali, observando-o se afastar, enquanto a agitação do bar continuava ao meu redor.Mesmo enquanto eu continuava a servir os clientes, minha mente vagava para aquele encontro incomum. Eu não podia ignorar a sensação de que havia algo mais nesse homem do que os olhos podiam ver.Por que aquele homem tinha tomado tanto a minha atenção? Era algo além de sua presença imponente. Havia uma energia magnética ao seu redor, algo que, por mais que eu não quisesse admitir, me atraía de uma maneira inexplicável.O ar frio do hospital envolvia-me enquanto eu caminhava pelos corredores familiares da maternidade. O brilho suave das luzes fluorescentes iluminava o ambiente, criando uma atmosfera tranquila e serena. O som suave dos passos ecoava pelos corredores vazios, enquanto eu me dirigia à ala de cuidados neonatais, pronta para começar mais uma tarde de trabalho. Ao entrar na ala, meus olhos se fixaram em um homem familiar de costas, parado diante de um berço onde repousava um recém-nascido adormecido. Um arrepio percorreu minha espinha ao reconhecê-lo como Diego. Seu perfil era inconfundível, mesmo de longe, e meu coração acelerou com a surpresa de encontrá-lo ali. No entanto, hesitei em me aproximar. Ele parecia estar imerso em um momento de profunda introspecção, tocando suavemente a bochecha do bebê enquanto seus olhos estavam fixos na pequena criatura. Eu não queria interromper esse momento íntimo e pessoal, e uma onda de vergonha me impediu de me aproximar. Foi então que seus olhos se
Caminhava pelos corredores da luxuosa mansão onde o evento estava ocorrendo. Meus passos eram incertos, meu coração martelava em meu peito. Eu sabia o que estava prestes a fazer, mas cada fibra de meu ser gritava para que eu desistisse. Encontrei minha chefe na sacada sozinha, segurando uma taça de vinho. Meu estômago se revirou quando nossos olhares se encontraram, e eu soube que não havia volta. A verdadeira face da noite começaria ali. — Marisa... — minha voz saiu trêmula enquanto eu lutava para manter a compostura. Ela virou-se para mim, seu olhar perspicaz capturando minha expressão ansiosa. Um sorriso insinuante dançou em seus lábios, mas seus olhos permaneceram sérios. — Barbara, o que foi? Você parece ter visto um fantasma. Engoli em seco, reunindo coragem para fazer a pergunta que estava me corroendo por dentro. — Estou reservada para alguém esta noite? Salvatore me contou. — Sim, você está reservada. Na verdade, estava prestes a ir procurá-la. Seu cliente não quer espe
Me viro lentamente, sentindo a intensidade do olhar cinzento dele fixado em mim. Seus olhos capturam cada detalhe de minha aparência, enquanto uma mistura de medo e fascinação me domina. Seu cabelo e barba levemente grisalhos conferem-lhe um ar de mistério e charme irresistível. Ele está vestido com elegância, usando calça e sapatos sociais, combinados com uma camisa branca social apertada que realça seu peitoral. Dois botões estão abertos, revelando sutilmente a força de seus músculos. As mangas levemente arregaçadas deixam à mostra parte de seus braços fortes com veias saltadas. Ele é alto, muito mais do que eu lembrava quando o vi pela primeira vez. Seu porte dominante preenche o ambiente, impondo uma presença que não pode ser ignorada. — Não respondeu minha pergunta. Ele avançou em minha direção. Recuei instintivamente, meu corpo encontrando o respaldo de um móvel próximo. Suas mãos fortes repousaram sobre a superfície, enquanto ele se inclinava em minha direção, sua presença
Estava decidida a ficar, a me entregar àquela noite de prazer e mistério. E algo dentro de mim ansiava por explorar os limites desconhecidos da luxúria. Então, com uma voz trêmula, mas decidida, murmurei: — Eu... — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Eu fico. Ele sorriu, um sorriso que carregava a promessa de tantas coisas que eu mal podia imaginar. Era como se, naquele momento, eu estivesse embarcando em uma jornada desconhecida, guiada pela atração magnética que existia entre nós. — Muito bem, Barbara. — Sua voz era suave, mas carregada de uma intensidade que fez meu coração acelerar ainda mais. — Então prepare-se, porque esta noite será inesquecível. Então, de repente, ele inclinou a cabeça, seus lábios se aproximando dos meus com uma urgência avassaladora. Eu mal tive tempo para processar o que estava acontecendo antes que ele me envolvesse em um beijo feroz e voraz. Seus lábios eram quentes e exigentes, explorando cada canto da minha boca com uma fome insaciável.
Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas cortinas, criando padrões de luz e sombra na parede. Eu acordei sozinha, sentindo o calor suave do sol na minha pele. Ainda meio adormecida, virei-me na cama, mas Henrique não estava lá. O lençol estava emaranhado ao meu redor, e eu me vi enrolada nele como se fosse um casulo.Senti uma dor moderada que me lembrava das intensas atividades da noite anterior. Sentei-me na beira da cama, tentando processar tudo. A realidade começou a entrar lentamente na minha mente, como a luz matinal que invadia o quarto.As paredes de um branco puro. A cama king-size no centro do quarto, com sua cabeceira estofada em veludo cinza. Os lençóis de algodão ainda estavam amassados, testemunhas silenciosas da nossa noite.No canto oposto à cama, havia um espelho grande, com uma moldura dourada. Ao olhar meu reflexo, vi meu cabelo desarrumado, a pele levemente marcada pelos beijos e toques dele. Levantei e me aproximei das portas de vidro que davam para uma varanda
Henrique caminhava à minha frente, e eu o segui, tentando controlar a ansiedade que se instalava em mim. Descemos lances de escadas, cada passo ecoando no silêncio da casa.Chegamos a um corredor, e ao final dele, ele parou diante de uma grande porta de madeira escura. Ele abriu a porta com facilidade e fez um gesto para que eu entrasse. Hesitei por um momento, mas acabei entrando.O escritório era completamente decorado em tons escuros. As paredes eram pintadas de um cinza profundo, quase negro, e uma estante cheia de livros antigos ocupava uma das paredes.No centro do cômodo, uma mesa de madeira maciça e polida dominava o espaço. Sobre ela, havia vários monitores gigantes, dispostos de forma estratégica, que iluminavam o ambiente com suas telas de alta definição. Cada monitor mostrava algo diferente: gráficos, câmeras de segurança, e-mails... tudo organizado meticulosamente.As janelas, cobertas por pesadas cortinas de veludo negro, deixavam entrar apenas um fino raio de luz, que co
Sempre tive tudo o que quis. As coisas vêm até mim com facilidade, como se o mundo estivesse ao meu dispor. Não preciso nem estalar os dedos. Um olhar meu, um movimento sutil, e as pessoas se dobram, temendo a sombra que minha presença lança sobre elas. Desde jovem, descobri que gostava de violência. Há algo visceral e puro no medo estampado nos olhos de alguém. Eu não sou apenas um homem poderoso; sou o Capo da Ndrangheta. Meu nome sussurrado em qualquer canto escuro é suficiente para paralisar corações e congelar o sangue nas veias. O poder corre em minhas veias, intoxicante e absoluto. No meu mundo, a lei é moldada pela força, e a justiça é entregue pela ponta da lâmina ou pelo som de um disparo. Não há lugar para fraqueza.Não me importo com as pessoas. Elas são ferramentas, meios para atingir meus fins. Suas vidas e seus destinos são irrelevantes para mim, meros detalhes em um panorama maior que eu construo e controlo. O medo é minha arma mais afiada. O terror é uma obra de arte,
Eu estava exausta. Cada músculo do meu corpo doía, e minha mente estava confusa A noite passada com Henrique tinha sido intensa, muito mais do que eu estava preparada para lidar. As palavras dele, os toques, tudo... Mas eu não podia deixar que isso me abalasse. Eu precisava manter a cabeça no lugar.Quando finalmente cheguei em casa, a luz suave da manhã já iluminava o céu. Destranquei a porta da frente e entrei silenciosamente, ansiando por um banho quente e talvez algumas horas de sono tranquilo. No entanto, assim que fechei a porta atrás de mim, notei algo fora do lugar. Havia um par de sapatos familiares no hall de entrada.— Emily? — chamei, minha voz ressoando na casa silenciosa.Ao entrar na sala de estar, lá estava ela. Emily estava sentada no sofá, segurando uma xícara de café fumegante, com uma expressão preocupada no rosto. Levantou-se assim que me viu, seu olhar percorrendo meu corpo em busca de sinais de que algo estava errado.— Barbara! — Ela exclamou, cruzando a sala