No dia seguinte, pedi um dia de folga no estágio, algo que nunca faço. Acordei com a mente pesada, mas decidida. Fui até a secretaria da unidade de ensino e, com o dinheiro que Henrique me pagou, quitei todo o curso que devia. Era um alívio saber que, pelo menos nesse aspecto, eu estava livre de preocupações. Mas ainda não tinha certeza se trancaria o curso e partiria para a Itália.Me vi na rodoviária do Rio de Janeiro, comprando uma passagem de ônibus para São Paulo. O destino era inevitável. Precisava conversar com meu avô, e se possível com a vó também. O longo trajeto de ônibus me deu tempo para pensar, algo que, ultimamente, eu estava evitando.Enquanto o ônibus atravessava a paisagem urbana e depois se aventurava pelas estradas sinuosas, meus pensamentos voltavam ao meu avô. Após a morte do meu pai, tudo tinha se tornado pior. Minha avó sempre me amou profundamente, demonstrando carinho e preocupação em cada gesto. Mas meu avô... ele sempre foi frio e indiferente. Isso era algo
Finalmente, cheguei à sala de tricô, o lugar preferido da minha avó.A sala era pequena e acolhedora, com uma poltrona de veludo desgastado no canto e uma mesa de centro repleta de novelos de lã e agulhas de tricô.. Minha avó estava sentada na poltrona, os cabelos brancos como a neve caindo suavemente sobre os ombros. Seus olhos, outrora tão vivos e cheios de sabedoria, agora pareciam distantes, perdidos em um tempo que só ela conhecia. Ela vestia um suéter de tricô que ela mesma havia feito, de um azul suave que contrastava com a palidez de sua pele.— Vovó... — sussurrei, enquanto me abaixava para abraçá-la. Senti seus braços frágeis envolverem-me em um abraço que, embora fraco, era repleto de amor.Ela me apertou contra si, como se temesse que eu pudesse desaparecer a qualquer momento. Senti o calor de seu corpo, o cheiro familiar de lavanda e um toque de algo agridoce que sempre a acompanhava. — Estava com tantas saudades, vovó — murmurei, minha voz embargada pela emoção. — Faz t
Eu ainda estava encostada contra a parede fria. Levantei a cabeça lentamente, apenas para encontrar os olhos cinzentos de Henrique Montebello fixos em mim. Eles estavam ardendo com uma intensidade fria e impiedosa.Henrique avançou em direção ao homem, que gemia de dor após o ataque. Com uma expressão impassível, começou a golpear o homem, cada soco acompanhado por um som sinistro. O agressor tentava se esquivar, mas Henrique era implacável, seus movimentos precisos e cheios de fúria.Não havia piedade nos golpes brutais, que acertavam o homem repetidamente, no rosto, no estômago, em qualquer lugar ao seu alcance. Os sons de ossos quebrando e os gritos desesperados do agressor ecoavam pelo beco, misturando-se ao som abafado do sangue derramado. Então, em um movimento rápido e quase imperceptível, ele agarrou o homem pelos cabelos, puxando sua cabeça para trás com força. Com a faca curvada em sua mão, cortou a língua do homem com precisão cirúrgica. O grito do agressor ecoou pelo beco
O meu celular estava cheio de chamadas perdidas de Emily. Meu coração apertou ao ver a quantidade. Com um suspiro tenso e mãos trêmulas, peguei o aparelho e disquei seu número.— Barbara, por que não atendeu as minhas ligações? Você quer me matar do coração? — A voz de Emily estava carregada de preocupação e medo.— Preciso te contar algo importante. Houve uma pausa do outro lado da linha, seguida por um suspiro tenso e apreensivo.— O que aconteceu, Barbara? Você está bem? — Eu... eu encontrei Henrique hoje. Ele... — minha voz falhou, um nó se formando em minha garganta. Precisei de um momento para me recompor. — Ele me disse algumas coisas sobre você. Coisas que me deixaram preocupada.— Sobre mim? O que ele disse?Escolhi cuidadosamente as palavras, evitando os detalhes mais violentos e perturbadores. Eu não queria assustá-la mais do que o necessário.— Ele sabe que você andou fazendo perguntas sobre ele. E não gostou nada disso. Disse que você está se envolvendo em assuntos peri
O motor do jato estava em silêncio, aguardando o momento de decolar. Lá fora, as estrelas cintilavam no céu noturno, indiferentes às tensões e dramas humanos que se desenrolavam abaixo delas. Sentei-me na luxuosa poltrona de couro, observando Barbara, que estava sentada à minha frente.Ela estava perdida em seus pensamentos, os olhos fixos em um ponto distante, talvez tentando processar a cadeia de eventos que a levara até aqui. Seus cabelos cacheados caíam em cascata pelos ombros, moldando seu rosto de maneira que acentuava sua expressão de determinação misturada com uma ponta de hesitação. As luzes suaves do interior do jato lançavam sombras delicadas sobre suas feições, destacando a tensão em sua mandíbula e o brilho em seus olhos.Aproximei-me um pouco mais, estudando cada detalhe. Havia algo hipnotizante em sua presença, uma mistura de vulnerabilidade e força que despertava minha curiosidade e meu interesse de maneiras que eu ainda estava tentando entender. Talvez fosse o desafio
O calor do verão italiano me envolveu assim que saímos do jato. A luz do sol era intensa e quase ofuscante. O terminal estava repleto de pessoas falando em italiano, uma língua melodiosa, mas que soava um pouco intimidante para mim.Cada passo que eu dava parecia amplificar a sensação de estar em um mundo novo e desconhecido. Tentei respirar fundo, esforçando-me para manter a calma e focar no que estava à minha frente. Assim que saímos, avistei um homem alto e magro, parado ao lado de um carro preto. Sua expressão era de uma seriedade quase impenetrável.— Signora, signore — ele nos cumprimentou com um leve aceno de cabeça, sua voz tão fria quanto seu olhar. Ele abriu a porta do carro, e eu entrei, sentindo o couro fresco do assento contra minha pele. Enquanto o carro se movia, olhei pela janela, tentando absorver a paisagem ao meu redor.Bari se desenrolava diante de mim como uma tapeçaria de contrastes vibrantes e antigos. Suas ruas largas e movimentadas estavam ladeadas por edifíci
O calor da banheira envolvia meu corpo com um conforto inesperado. Sempre preferi chuveiros rápidos, mas o banho relaxante, com sua água quente e aromática, era verdadeiramente revigorante.Depois do banho, vesti uma roupa casual e decidi que era hora de explorar. A curiosidade sobre o que Henrique estava escondendo era forte, e, embora pudesse não encontrar nada, sentia que precisava tentar.Percorri os corredores silenciosos da mansão, meu coração acelerado à medida que me aproximava do quarto de Henrique. Invadir seu espaço era arriscado, mas o desejo de entender o que ele ocultava superava o receio.Ao abrir a porta, fui recebida por um ambiente sofisticado em preto e cinza. As paredes, de um cinza profundo, criavam um pano de fundo discreto para a decoração minimalista. Luzes embutidas espalhavam um brilho suave, realçando as sombras e acentuando o mistério do lugar. A cama, com sua cabeceira estofada em preto e edredom de veludo cinza escuro, era o ponto focal do quarto. Com as
Entramos em uma sala de jantar elegante, com uma mesa comprida posta com toalhas de linho e pratos de porcelana fina. Cada lugar estava meticulosamente arrumado com talheres de prata polidos e copos de cristal, e um elegante centro de mesa com flores frescas. O aroma da comida que estava sendo servida começava a preencher a sala: uma variedade de pratos preparados, incluindo risoto de cogumelos, tagliatelle ao molho de trufas, e uma seleção de queijos finos.Amélia, estava ao lado da mesa, organizando as louças. Ela ajustava a posição dos pratos e talheres com um cuidado meticuloso. Já Cassandra, com sua expressão fechada de sempre, estava encarregada de servir as bebidas.— Cassandra, você tem certeza de que não colocou nada estranho na comida? — perguntou Matteo com um sorriso travesso, olhando para ela com um ar de provocação. — Não quero acabar com sintomas de envenenamento, como dores de estômago ou vômitos, ao final da noite.Ela lançou um olhar gelado para Matteo, seu rosto endu