Com um olhar rápido para me certificar de que não havia clientes precisando de atendimento imediato, peguei o celular e o trouxe para perto do meu ouvido, deslizando o dedo nervosamente para atender a ligação.
— Boa noite, estou falando com a Barbara Castro? Aqui é Diego Guerra, advogado do Guerra & Carvalho. Tenho tentado entrar em contato com você nos últimos dias, mas parece que nossos horários não estão coincidindo. Me desculpe por ligar esse horário.
Diego Guerra. Advogado. As palavras ecoaram na minha mente, fazendo meu coração acelerar em antecipação. Por que um advogado estaria me ligando? Ótimo, mais problemas.
— Sim, sou eu. O que posso fazer por você, Dr. Guerra? — Tentei manter minha voz calma, mas minha mente já estava trabalhando freneticamente para antecipar o motivo da ligação.
— Pode me chamar de Diego. Gostaria de discutir um assunto importante relacionado ao seu pai. Seria possível nos encontrarmos pessoalmente para uma conversa?
— Por favor, me diga que ele me deixou uma herança generosa ou apenas uma coleção de dívidas para eu administrar? — brinquei, mas logo uma onda de preocupação começou a se formar em meu peito.
Diego hesitou por um momento antes de responder: — Na verdade, não estou representando seu pai, mas sim um cliente para quem ele pediu um favor. Seria possível nos encontrarmos pessoalmente amanhã para uma conversa? Ou prefere que eu vá até você?
Cada palavra de Diego só alimentava minha crescente ansiedade. O que meu pai teria feito dessa vez? Minha mente começou a correr através de várias possibilidades, nenhuma delas reconfortante.
Engolindo em seco, eu respondi: — Eu posso ir até o seu escritório amanhã a tarde, umas 17h00.
— Prefeito, vou te passar as coordenadas. Obrigada, Barbara.
Desliguei o telefone, mas o peso das palavras de Diego ainda pairava no ar. Meu pai, apesar de relativamente bem-sucedido, tinha suas fraquezas. Com alguns restaurantes pela cidade, ele era uma figura conhecida, mas também vulnerável. A bebida e as apostas o arruinaram, e agora, mais esse baque estava por vir.
🧜🏾♀️
Saí do evento naquela noite com um peso extra nos ombros. A conversa com o advogado tinha me deixado ansiosa e preocupada com o que viria a seguir. A brisa noturna, gelada e penetrante, fazia meu corpo tremer involuntariamente, enquanto eu me encolhia no casaco para tentar me proteger do frio cortante da noite.
Quando cheguei ao estacionamento, encontrei Marisa, minha chefe, parada ao lado de seu carro escuro, cujo brilho na lataria refletia a luz tênue dos postes próximos. Seu olhar sério e determinado me atingiu antes mesmo que eu me aproximasse.
— Você precisa de uma carona? — ela perguntou, uma expressão séria pairando em seu rosto.
Marisa nunca me oferecia carona, o que me deixou ainda mais desconfortável com a situação. Geralmente, eu voltava com Emily ou pegava o ônibus corujão. Sua oferta fez meu estômago revirar, pois eu sabia que havia algo mais por trás disso. Mas eu estava estressada demais para negar.
— Sim, obrigada, Marisa. Seria ótimo. — Respondi, tentando disfarçar minha inquietação.
Enquanto entrávamos no carro e Marisa dava partida, o silêncio se instalou entre nós, tão denso e opressivo quanto a escuridão da noite ao nosso redor. A única iluminação vinha dos faróis dos poucos carros, que lançavam feixes de luz sobre o asfalto, destacando os obstáculos à nossa frente, mas deixando os pensamentos turvos que inundavam minha mente na penumbra.
— Barbara, você é uma mulher incrivelmente bonita, e eu sei um pouco da sua história. Você tem um potencial enorme neste mundo, poderia ficar nessa vida por um tempo só até se estabilizar. — Marisa olhou para mim, seus olhos transbordando de determinação.
— Obrigada pelo elogio, Marisa, mas eu realmente não acho que essa seja a melhor opção para mim. Eu quero encontrar uma maneira mais estável de resolver meus problemas. — Minha resposta saiu mais firme do que eu esperava, como se a simples menção de meus princípios fosse suficiente para me fortalecer contra as pressões externas
— Precisa considerar todas as opções. Este mundo pode oferecer oportunidades que você nem imagina. E eu não estou falando apenas de dinheiro, estou falando de segurança, estabilidade. Você não acha que merece isso?
As palavras de Marisa penetraram minha mente como flechas afiadas, encontrando pontos fracos e vulneráveis que eu não sabia que tinha. Enquanto observava as luzes da cidade passarem rapidamente pela janela do carro, senti-me submersa em um mar de dúvidas e incertezas, lutando para encontrar um porto seguro onde pudesse ancorar meus pensamentos tumultuados.
— Claro que eu quero segurança e estabilidade. Mas não acho que seguir esse caminho seja a única maneira de alcançá-las.
— Entendo seus princípios, mas não posso ignorar as oportunidades que estão diante de você. Muitos homens e mulheres aqui esta noite mostraram interesse em você, perguntaram se você faz atendimento. E aquele italiano, Salvatore, eu percebi como ele a olhou. Mais do que olhou para sua queridinha Emily.
Fechei os olhos e respirei fundo, sentindo o vento gelado chicotear meu rosto. Quando os abri, encarei Marisa com firmeza.
— Olhe para mim, Marisa. Eu simplesmente não sei lidar com esse estilo de vida. Se me observou esta noite, deve ter percebido.
— O eu perfil tímido é uma raridade neste meio. Você não é exagerada, é discreta, e isso é uma qualidade admirável. Saiba que seria muito bem recebida, tratada e recompensada.
— Não posso. — minha resposta saiu mais hesitante do que eu gostaria, como se minhas próprias convicções estivessem começando a se desfazer diante da intensidade do confronto.
— Mas, vamos ser sinceras, as dívidas e o mundo lá fora não se importam com princípios ou dignidade. Eles só querem o pagamento. Pense bem, o que é mais importante para você neste momento? Seguir seus princípios ou resolver seus problemas financeiros?
Marisa olhou fixamente nos meus olhos, sua expressão agora mais dura e incisiva, como se estivesse disposta a usar todas as armas à sua disposição para me convencer a aceitar sua proposta.
— Você gosta de se esconder, não é? De se esquivar da vida real, atrás do balcão do bar. Mas me diga, o que você está perdendo ao evitar encarar as coisas de frente? O que você tem a perder se der uma chance a si mesma? Pense bem, Barbara. Você já enfrentou tantas perdas, o que mais poderia temer agora? Não se iluda com essa noção de dignidade. Pense minha proposta com cuidado, mas não demore muito.
Eu estava exausta, emocionalmente exausta, e cada palavra de Marisa parecia pesar toneladas sobre meus ombros já sobrecarregados.
— Trabalhamos juntas há quatro meses e nunca me fez uma proposta desse tipo. Por que só hoje?
— Porque só hoje eu enxerguei em você.
— O que você viu em mim?
— Tudo. Eu vi Tudo.
Aquelas palavras ecoaram em meus ouvidos, reverberando como um lembrete implacável de minhas próprias fraquezas e inseguranças. Eu sabia que Marisa estava certa em muitos aspectos, mas também sabia que ceder às suas exigências significaria comprometer toda minha vida.
O silêncio pairou entre nós enquanto avançávamos pelas ruas até chegar à rua da minha casa. Foi então que Marisa quebrou o silêncio, segurando meu pulso com firmeza, antes que eu saisse do carro.
— Muito dinheiro, Barbara. — Sua voz estava carregada de expectativa enquanto me encarava. — Não responda agora, só pense sobre o assunto.
Eu fechei a porta do carro e ela partiu, deixando-me na calçada diante da minha casa. Senti um nó se formar em minha garganta enquanto observava as luzes do carro se afastarem. Suspirei profundamente, sentindo-me exausta após o longo dia de trabalho e a conversa intensa com Marisa.
Caminhei até a porta da minha casa, sentindo o peso das palavras de Marisa ecoando em minha mente. Era difícil não me deixar abalar por suas palavras persuasivas. Enquanto subia os degraus até a porta, o vento frio da noite soprava em meu rosto, como se quisesse levar embora todas as minhas preocupações.
Olhei para a pilha de livros sobre a mesa de centro, mas não tinha cabeça para estudar naquele momento. Minha mente estava repleta de preocupações e questionamentos, e qualquer tentativa de concentração parecia fútil diante da turbulência emocional que eu enfrentava.
Já era tarde da noite, e logo as primeiras luzes do amanhecer começariam a colorir o céu. Um novo dia se iniciaria, trazendo consigo uma carga de responsabilidades e desafios ainda desconhecidos. E o pior de tudo era a perspectiva de encarar esse novo dia sem sequer ter pregado os olhos.
Com um suspiro resignado, recostei-me no sofá, envolvendo-me com o cobertor que estava ao meu alcance. Sabia que precisava descansar, mas minha mente continuava agitada, repassando incessantemente os acontecimentos do dia e as palavras de Marisa.
Envolta pela penumbra da sala, deixei-me levar pela exaustão, na esperança de encontrar algum alívio temporário para as preocupações que me assombravam.
A luz do sol invadiu suavemente a sala, anunciando o início de mais um dia. Levantei-me da cama com um misto de sono e ansiedade. Depois de um café da manhã rápido e um banho, peguei minha mochila e segui em direção ao meu curso técnico. O trajeto era familiar, mas meus pensamentos estavam longe, preocupados com as questões que me assombravam desde a ligação do advogado.No entanto, ao chegar ao curso, mergulhei nos estudos, tentando deixar de lado, ao menos temporariamente, as preocupações que me consumiam. Ali, entre livros e anotações, encontrei um refúgio onde podia me concentrar e esquecer, por alguns momentos, os problemas que me afligiam.Após as aulas da manhã, dirigi-me ao hospital onde fazia meu estágio na UTI neonatal. Desde que comecei a trabalhar ali, sentia-me em casa. O ambiente hospitalar, apesar de caótico em muitos momentos, era onde eu me sentia mais viva e realizada.Ao adentrar a UTI neonatal, fui recebida pelo burburinho característico do local. Médicos, enferme
Uma semana havia se passado desde minha última conversa com Diego. Ele havia prometido retornar com notícias, mas até agora, o silêncio era ensurdecedor. Eu entendia que ele provavelmente estivesse tentando falar com Henrique Montebello, mas a falta de comunicação me deixava inquieta e preocupada. Agora eu só tinha três semanas. Eram exatamente 20h30 da noite quando eu estava atrás do balcão preparando drinks como de costume. A atmosfera era mais descontraída aqui, longe da recepção, e eu preferia assim. Meu foco estava nos ingredientes, nas misturas e na arte de criar as bebidas perfeitas para os clientes. Então, foi quando ela chegou. Melissa. Sua presença sempre foi difícil de ignorar, sua beleza deslumbrante contrastando com a expressão de raiva sutil que ela parecia carregar como uma segunda pele. Seus olhos se encontraram com os meus e eu senti um calafrio percorrer minha espinha. — Olá, boa noite. Como posso te ajudar? — Cumprimentei-a com um sorriso, tentando ignorar a sens
O ar frio do hospital envolvia-me enquanto eu caminhava pelos corredores familiares da maternidade. O brilho suave das luzes fluorescentes iluminava o ambiente, criando uma atmosfera tranquila e serena. O som suave dos passos ecoava pelos corredores vazios, enquanto eu me dirigia à ala de cuidados neonatais, pronta para começar mais uma tarde de trabalho. Ao entrar na ala, meus olhos se fixaram em um homem familiar de costas, parado diante de um berço onde repousava um recém-nascido adormecido. Um arrepio percorreu minha espinha ao reconhecê-lo como Diego. Seu perfil era inconfundível, mesmo de longe, e meu coração acelerou com a surpresa de encontrá-lo ali. No entanto, hesitei em me aproximar. Ele parecia estar imerso em um momento de profunda introspecção, tocando suavemente a bochecha do bebê enquanto seus olhos estavam fixos na pequena criatura. Eu não queria interromper esse momento íntimo e pessoal, e uma onda de vergonha me impediu de me aproximar. Foi então que seus olhos se
Caminhava pelos corredores da luxuosa mansão onde o evento estava ocorrendo. Meus passos eram incertos, meu coração martelava em meu peito. Eu sabia o que estava prestes a fazer, mas cada fibra de meu ser gritava para que eu desistisse. Encontrei minha chefe na sacada sozinha, segurando uma taça de vinho. Meu estômago se revirou quando nossos olhares se encontraram, e eu soube que não havia volta. A verdadeira face da noite começaria ali. — Marisa... — minha voz saiu trêmula enquanto eu lutava para manter a compostura. Ela virou-se para mim, seu olhar perspicaz capturando minha expressão ansiosa. Um sorriso insinuante dançou em seus lábios, mas seus olhos permaneceram sérios. — Barbara, o que foi? Você parece ter visto um fantasma. Engoli em seco, reunindo coragem para fazer a pergunta que estava me corroendo por dentro. — Estou reservada para alguém esta noite? Salvatore me contou. — Sim, você está reservada. Na verdade, estava prestes a ir procurá-la. Seu cliente não quer espe
Me viro lentamente, sentindo a intensidade do olhar cinzento dele fixado em mim. Seus olhos capturam cada detalhe de minha aparência, enquanto uma mistura de medo e fascinação me domina. Seu cabelo e barba levemente grisalhos conferem-lhe um ar de mistério e charme irresistível. Ele está vestido com elegância, usando calça e sapatos sociais, combinados com uma camisa branca social apertada que realça seu peitoral. Dois botões estão abertos, revelando sutilmente a força de seus músculos. As mangas levemente arregaçadas deixam à mostra parte de seus braços fortes com veias saltadas. Ele é alto, muito mais do que eu lembrava quando o vi pela primeira vez. Seu porte dominante preenche o ambiente, impondo uma presença que não pode ser ignorada. — Não respondeu minha pergunta. Ele avançou em minha direção. Recuei instintivamente, meu corpo encontrando o respaldo de um móvel próximo. Suas mãos fortes repousaram sobre a superfície, enquanto ele se inclinava em minha direção, sua presença
Estava decidida a ficar, a me entregar àquela noite de prazer e mistério. E algo dentro de mim ansiava por explorar os limites desconhecidos da luxúria. Então, com uma voz trêmula, mas decidida, murmurei: — Eu... — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Eu fico. Ele sorriu, um sorriso que carregava a promessa de tantas coisas que eu mal podia imaginar. Era como se, naquele momento, eu estivesse embarcando em uma jornada desconhecida, guiada pela atração magnética que existia entre nós. — Muito bem, Barbara. — Sua voz era suave, mas carregada de uma intensidade que fez meu coração acelerar ainda mais. — Então prepare-se, porque esta noite será inesquecível. Então, de repente, ele inclinou a cabeça, seus lábios se aproximando dos meus com uma urgência avassaladora. Eu mal tive tempo para processar o que estava acontecendo antes que ele me envolvesse em um beijo feroz e voraz. Seus lábios eram quentes e exigentes, explorando cada canto da minha boca com uma fome insaciável.
Os primeiros raios de sol filtravam-se pelas cortinas, criando padrões de luz e sombra na parede. Eu acordei sozinha, sentindo o calor suave do sol na minha pele. Ainda meio adormecida, virei-me na cama, mas Henrique não estava lá. O lençol estava emaranhado ao meu redor, e eu me vi enrolada nele como se fosse um casulo.Senti uma dor moderada que me lembrava das intensas atividades da noite anterior. Sentei-me na beira da cama, tentando processar tudo. A realidade começou a entrar lentamente na minha mente, como a luz matinal que invadia o quarto.As paredes de um branco puro. A cama king-size no centro do quarto, com sua cabeceira estofada em veludo cinza. Os lençóis de algodão ainda estavam amassados, testemunhas silenciosas da nossa noite.No canto oposto à cama, havia um espelho grande, com uma moldura dourada. Ao olhar meu reflexo, vi meu cabelo desarrumado, a pele levemente marcada pelos beijos e toques dele. Levantei e me aproximei das portas de vidro que davam para uma varanda
Henrique caminhava à minha frente, e eu o segui, tentando controlar a ansiedade que se instalava em mim. Descemos lances de escadas, cada passo ecoando no silêncio da casa.Chegamos a um corredor, e ao final dele, ele parou diante de uma grande porta de madeira escura. Ele abriu a porta com facilidade e fez um gesto para que eu entrasse. Hesitei por um momento, mas acabei entrando.O escritório era completamente decorado em tons escuros. As paredes eram pintadas de um cinza profundo, quase negro, e uma estante cheia de livros antigos ocupava uma das paredes.No centro do cômodo, uma mesa de madeira maciça e polida dominava o espaço. Sobre ela, havia vários monitores gigantes, dispostos de forma estratégica, que iluminavam o ambiente com suas telas de alta definição. Cada monitor mostrava algo diferente: gráficos, câmeras de segurança, e-mails... tudo organizado meticulosamente.As janelas, cobertas por pesadas cortinas de veludo negro, deixavam entrar apenas um fino raio de luz, que co