FELIPE . . Eu tentei encontrar uma brecha, alguma forma de tocar o coração que um dia eu pensei que a Renata tivesse, mas parecia que, naquele momento, ela não era mais uma pessoa; era uma pedra impenetrável, fria e cheia de veneno. Minhas palavras batiam contra o muro de ódio que ela ergueu, como se toda emoção que um dia existiu tivesse sido arrancada dela. — Renata, escuta… Tentei, minha voz quase um sussurro, a mão ainda presa pelos capangas dela. — Isso não vai te dar o que você quer. Isso tudo… só vai te trazer mais sofrimento. Ela riu, aquele riso seco que reverberava com ironia. — Sofrimento? Sofrimento é o que você me deu, Felipe. Você e essa… essa vadia. Ela apontou pra Marina com desprezo, e eu senti minha raiva crescer. — Por quanto tempo você acha que eu aguentei ver vocês juntos? Quantas vezes eu tive que ver vocês de mãos dadas em eventos, expondo um amor às custas do meu sofrimento? Como se eu fosse um lixo? Como se a minha dor fosse nada? — M
NICOLE ..Eu estava parada no meio do aeroporto, rodeada por pessoas que passavam apressadas, carregando malas, falando ao celular, vivendo suas vidas normais. Enquanto isso, o mundo ao meu redor parecia se fechar, sufocante, sem uma saída clara. Ainda segurava o celular nas mãos, sentindo as palavras ameaçadoras de Renata ecoarem na minha mente. Ela queria me destruir. E para isso, estava disposta a jogar sujo, a manipular cada fio daquela trama doentia, e eu… eu me sentia tão pequena.O que eu podia fazer? Não era ninguém. Era uma garota qualquer, sem preparação, sem treinamento para enfrentar uma psicopata. Eu sabia que a Renata não hesitaria em fazer qualquer coisa, talvez até estivesse armada. E como eu poderia fazer alguma coisa se ela realmente tivesse uma arma? Não tinha como ela controlar Felipe e Marina sozinha se não tivesse algum tipo de vantagem. Meu corpo todo tremia só de pensar nisso.Engoli em seco, e antes que a paralisia do medo tomasse conta de mim de vez, disqu
Eu só consegui o vôo pro Rio Grande do Sul no começo da noite, e tudo parecia rodar em câmera lenta, durante a viagem, eu só conseguia pensar no que o futuro me reserva, afinal, tudo poderia dar muito certo, mas também poderia dar muito errado. Ao chegar no aeroporto, tudo foi uma correria, os passos dos policiais ao meu lado, as instruções rápidas, mas precisas. Eles me levaram para uma sala reservada, onde, finalmente, as coisas começaram a se desenrolar. Uma agente policial, vestida em trajes civis, me ajudou a colocar a escuta. Era minúscula, escondida sob a gola da minha blusa, e os fios frios tocavam minha pele como um lembrete incômodo do que estava por vir.Enquanto ajustavam a escuta, um dos policiais, o chefe da operação, me deu as últimas instruções.— Nicole, você vai precisar manter a calma o tempo todo. Respire, fale devagar, e aja como se fosse só você e Renata. Qualquer hesitação ou reação fora do normal pode levantar suspeitas. Não se preocupe com nossa localização,
Senti a frieza do metal pressionada contra minha pele, acompanhada de um arrepio que corria por toda a espinha. Aquela era a linha entre a vida e a morte, e eu estava ali, à beira do abismo, com Renata prestes a decidir o meu destino.Ela segurava a escuta entre os dedos, o rosto contorcido de ódio e incredulidade. Quando seus olhos se levantaram para me encarar, seu olhar era um abismo de fúria. Eu senti o mundo inteiro congelar ao redor.— Você chamou a polícia, sua vagabunda? A voz dela era um sussurro cortante, mas não havia dúvida do ódio que vibrava em cada palavra. — Eu te avisei! Eu disse que era pra vir sozinha, que era pra ficar quieta.Ela levantou a arma e a apontou diretamente para a minha cabeça. A ponta brilhante refletia a luz fraca, e eu senti meu coração disparar. Mantive o olhar fixo no dela, mesmo que meu corpo tremesse por dentro. Eu sabia que, para a polícia, cada segundo contava, e precisava ganhar tempo de qualquer maneira.— E você acha que esses dois capan
FELIPE ..A noite caía, e o silêncio no hospital pesava como uma nuvem sobre meus ombros. Não havia som que abafasse as cenas que ecoavam dentro da minha cabeça, como se o terror daquela noite estivesse gravado na minha pele. O rosto pálido de Marina, amarrada e indefesa, cada expressão de medo de Nicole, os gritos, o estalo dos tiros, tudo se repetia sem parar, uma memória cruel e implacável.Sentado num banco frio, cobri o rosto com as mãos, tentando afastar a culpa que me consumia. Nicole estava próxima, enrolada em uma manta que o policial lhe havia dado para cobrir os vestígios da humilhação que havia sofrido. Eu me sentia um fracasso. Deveria tê-las protegido. Deveria ter sido forte o suficiente para impedir que tudo isso tivesse acontecido.Um médico se aproximou, trazendo notícias de Marina. Meus olhos foram de imediato para o rosto dele, em busca de uma resposta, de um milagre, mas antes mesmo que ele abrisse a boca, eu já sabia o que diria. Seu tom era suave, cuidadoso,
O amanhecer trouxe uma luz fraca e insensível. Eu acordei com um peso nos ombros, ainda com a cabeça deitada ao lado de Nicole, segurando a mão dela como se aquilo fosse a única âncora que me mantivesse à tona. Quando o médico entrou no quarto e anunciou que Nicole seria liberada, olhei para ela, com um alívio misturado à culpa que ainda me consumia. Era difícil aceitar que, apesar de tudo, ela estava viva e segura, enquanto tantas outras coisas haviam se despedaçado de maneira irreversível. Olhei para o médico, hesitante, com uma pergunta que ele parecia já saber que eu faria. — E Marina? Sussurrei, sem forças para encarar a resposta. O médico assentiu e disse que eu poderia vê-la. Nicole apertou minha mão uma última vez antes de soltá-la e disse, com a voz fraca: — Vai. Eu espero você aqui, Felipe. Sei que é algo entre vocês dois. Eu balancei a cabeça, agradecendo com um olhar, e segui o médico pelos corredores frios do hospital. Cada passo parecia pesar toneladas, co
NICOLE . . Eu nunca imaginei que um hospital pudesse ter um silêncio tão opressor, tão cheio de memórias e temores que se escondem nas paredes, nos ruídos leves dos monitores. O Felipe estava ali, ao meu lado, mas parecia que ele havia se exaurido ao ponto de não conseguir ficar acordado. Eu o observava na poltrona, sua expressão cansada, como se o peso de tudo o que havia acontecido fosse demais para suportar. No entanto, ele não saía do meu lado, e isso era o que me mantinha firme naquele momento. Foi então que o policial entrou no quarto, e por um segundo meu coração disparou. O homem se aproximou em passos firmes, o olhar sério, e eu sabia que ele trazia notícias, aquelas que poderiam significar o fim de tudo ou um novo começo. Eu chamei pelo Felipe, como se quisesse que ele acordasse para ouvir o que viria, mas ele estava completamente entregue ao cansaço. — Senhora Nicole? O policial perguntou, a voz baixa, respeitosa, como quem carrega um fardo pesado e não q
A porta do hospital se abriu, e antes mesmo que eu pudesse respirar o ar lá fora, senti o impacto das luzes, das câmeras e das vozes me cercando como um enxame faminto. Uma chuva de repórteres estava ali à minha espera. Eram como urubus em torno de uma carniça, ansiosos por um pedaço de escândalo, de tragédia, não importava se eu estava em outro estado, urubus existiam em todos os lugares.Eles estavam em busca de qualquer coisa que pudessem agarrar para vender a próxima manchete.A polícia tentou nos escoltar até o carro, mas eu sabia que aquilo não ia adiantar. Esse era um capítulo que eu precisava fechar com as minhas próprias palavras. Eu parei, me virei para encarar aquele mar de rostos e microfones, as mãos que empurravam, as câmeras que tentavam me capturar de todos os ângulos.— Nicole, como você se sente após ter sido humilhada diante de milhares de pessoas? A voz de um repórter me atingiu como um tiro, fria e direta.Eu encarei aquele homem sem desviar o olhar. Eu já tinha