"...Ele é diferente do que esperava. Quando o conheci, naquela manhã, pude perceber que ele não me olhava com cuidado, ele quase despiu-me com os olhos, nunca me senti tão invadida com o olhar de alguém... Nem pelo de Henry. Talvez seja apenas um devaneio meu, ou uma sensação longa e aguda de solida que me faz sentir atraída por todos. Por que fiquei tão mexida com o olhar daquele homem? Mas por que me importar? Por que é tão errado que eu me sinta bem e queira ser desejada e olhada daquela forma? Porque somente Henry tem o direito de me humilhar e me fazer sentir horrível, beijando cada moça que cruza seu caminho e bem na minha frente! Apenas por que sou uma mulher? Nem mesmo o título de rainha me garante liberdade?... Pai, sinto-me frustrada." — Charlotte, março de 1648.
Henry adentrou o salão de guerra, após dispensar os guardas que ladeavam a porta. O salão de guerra e
Henry deixou a sala poucos minutos após a saída do pai. Seu destino seguinte: encontrar-se com Jacob Somerset. Sabia que provavelmente o encontraria em algum canto do palácio bebendo ou com alguma mulher. Somerset deleitava de seu tempo sozinho, o que geravam fofocas de que ele era uma pessoa estranha, que não gostava das mulheres e que era uma pessoa perigosa. No fim das contas, os boatos provaram-se verdadeiros, exceto pelo não gostar de mulheres, pelo contrário, gostava tanto de mulheres, quanto de homens. Era um sir, ou senhor como é mais frequentemente usado, desta forma, Jacob Somerset é um nobre, mas seu título tão baixo não o faz tem tamanho prestígio para que os nobres o respeitem, além do mais, suas riquezas são quase nulas, tendo somente poucas propriedades a qual se intitular dono. Seu único poder provem do título de amigo do príncipe e seu cão de caça. Por tal motivo, é plausível julgar-se que Sir Jacob não era uma pessoa com
Charlotte sabia que momentos como aquele eram raros, principalmente na corte inglesa, portanto aproveitava. Não poupou risadas ou gritos, enquanto seu cavalo corria desenfreado e alegre pelos campos ensolarados e vazios. Observou Charles metros atrás de si, com um sorriso emburrado delineando os lábios e olhos, tão castanhos e brilhantes, semicerrados. A mechas de seu cabelo castanho escuro decaindo sobre os olhos, totalmente bagunçados, após vários galopes nada gentis de seu cavalo. — Vá com calma, quer matar meu cavalo de cansaço?! — exclamou o homem. — Talvez devesse mudar de montaria, vejo que seu belo cavalo não serve nem para um singelo passeio! — Charlotte ri, berrando por cima do ombro. — Ora, mas quem será que está convencida? Ele está apenas indisposto, seu cavalo que é ab
Quando por fim chegaram ao quarto, Simon e Robert foram deixados a sós pelos guardas que saíram assim que acomodaram seus pertences no aposento. A pedido de Simon, Robert dormiria com ele, o que deixou o menino feliz, já que detestava a ideia de se afastar do irmão. Robert havia mudado muito depois da morte dos pais; não dormia sozinho, temia sempre que fosse deixado, o que se ampliou após o desaparecimento da irmã. Simon era o mais velho e desde muito jovem ajudava os pais a cuidar dos irmãos, forçando-o a trabalhar desde seus onze anos. Ele não reclamava. Simon sabia que fazia o certo e faria mais, se significasse trazer alegria a seus pais. No entanto, a repentina doença que os assolou trouxe ao rapaz uma carga de responsabilidade maior do que ele poderia suportar. Seu trabalho já não era o suficiente para ajudar os pais, que aos poucos foram ficando debilitados. Simon chegou a se privar de fome, para que não faltasse o pedaço de pão d
Charlotte seguiu ao salão do trono onde acompanhou a rainha Caterina, que ficou sentada enquanto observava a mais nova rodeada pelas damas. Ela sentia a hostilidade de Caterina desde que se casou com o rei George, durante a primavera de seus 10 anos, em uma das viagens à corte que Charlotte fazia periodicamente em momentos importantes. Naquele tempo entendeu que, Caterina, não era uma mulher calma, gentil e humilde como diziam. No entanto ela era uma de Médici e era respeitada graças à riqueza, fama e poder de sua família. Charlotte sorria cordialmente, enquanto ouvia os nobres conversarem e bajularem a rainha inglesa. Todos a respeitavam à mesma medida que ao rei e por tal motivo, Charlotte não ousava causar conflitos, mesmo que ela não representasse nada para Henry como família. Caterina, percebendo o silêncio apático da rainha da Escócia, lançou-lhe um sorriso ensaiado e estendeu-lhe
Henry sabia que não estava agindo corretamente e embora tivesse plena consciência disso, seu corpo ignorava sua razão e fazia o que sua emoção mandava. Ele não se importava no que ela sentiria se o visse, ele só queria dar o troco e fingir, por um momento, que não estava com ciúmes. Somente por aqueles instantes ele queria sentir que não estava ligado a ela e que não estava incomodado, talvez este sentimento o convencesse de que realmente nunca sentiu nada por ela e que estava tudo bem apenas seguir em frente. Ver Charlotte em meio aos campos, cavalgando ao lado de Charles fez com que Henry tivesse seu coração esmagado entre os dedos da jovem monarca. Talvez uma reação um pouco exagerada para alguns, mas para ele era como perder seu bem mais precioso para seu arquirrival. Charlotte não era um objeto, ele sabia disso, mais que isso ele a via como o ser humano mais importante em todos aqu
O latido do cão ecoava por toda a rua, misturando-se ao som da água, correndo pelos esgotos da cidade. Os cavalos cavalgavam com cuidado, causando o tilintar de correntes e armaduras que trajavam, além do som das ferraduras chocando-se contra as pedras da rua. George observava à bela tarde de Londres através da pequena brecha na janela da carruagem que se assemelhava a uma caixa com teto oval e ornamentos dourados por sua extensão. Os poucos cidadãos que ainda circulavam pela rua, pareciam apáticos e silenciosos, apenas pequenos cochichos preenchiam os ouvidos do rei, que abriu a cortinam de veludo azul com confusão estampada em seu rosto. — O que há de errado com as pessoas, Finley? — questionou rei George, recostando-se na poltrona estofada. — Bom, vossa majestade deve saber dos constantes desaparecimentos de jovens pela cidade. O p
Do lado de dentro, George sentia-se ainda mais nervoso. Seus passos, pesados e apressados, ecoavam pela abadia conforme o monarca cruzava os arcos e portas. Após cruzar a pequena passagem, que ficava atrás do velho quadro no salão atrás do altar, George desceu um lance de escadas, que se cruzavam umas com as outras de cima à baixo, formando um conjunto de labirintos com degraus que ainda lhe causavam tontura. Apoiou-se na parede, descendo devagar à medida que analisava as palavras corretas à discursar aos nobres. Não podia ser rude, de forma alguma, e teria de ser sucinto é claro, caso contrário, de que forma os convenceria?"Talvez fosse necessário oferecer-lhes algo como da última vez?"pensou, parando por um momento próximo à janela de vitrais que iluminava o estreito lance de escadas. Conforme descia, George mergulhava-se ainda mais em seus pensamentos, a ponto de
Após duas horas agarrado aos livros, Simon finalmente havia pedido comida. Robert não havia se controlado e pedira tudo o que tivera direito; frango assado, purê de batatas, legumes, frutas, suco e torta. Ambos comiam com tranquilidade, o sol morno tocando os pés descalços dos dois. Robert estava em um embate incessante junto ao irmão sobre de que forma pediriam ajuda aos reis para encontrarem sua irmã, afinal era para isso que estavam ali. Mas, Simon sentia-se inseguro sobre quanto tempo conseguiria manter a farsa até que finalmente fossem descobertos. — Vamos pedir ajuda, mas, se em um mês eles não a encontrarem, nós vamos embora e continuamos a procurar por nós mesmos, combinado? — questiona Simon. — Combinado! Mas, você precisa pedir agora Simon, ela pode estar precisando da nossa ajuda... — Robert explica melancolicamente, enquan