O latido do cão ecoava por toda a rua, misturando-se ao som da água, correndo pelos esgotos da cidade. Os cavalos cavalgavam com cuidado, causando o tilintar de correntes e armaduras que trajavam, além do som das ferraduras chocando-se contra as pedras da rua. George observava à bela tarde de Londres através da pequena brecha na janela da carruagem que se assemelhava a uma caixa com teto oval e ornamentos dourados por sua extensão. Os poucos cidadãos que ainda circulavam pela rua, pareciam apáticos e silenciosos, apenas pequenos cochichos preenchiam os ouvidos do rei, que abriu a cortinam de veludo azul com confusão estampada em seu rosto.
— O que há de errado com as pessoas, Finley? — questionou rei George, recostando-se na poltrona estofada.
— Bom, vossa majestade deve saber dos constantes desaparecimentos de jovens pela cidade. O p
Do lado de dentro, George sentia-se ainda mais nervoso. Seus passos, pesados e apressados, ecoavam pela abadia conforme o monarca cruzava os arcos e portas. Após cruzar a pequena passagem, que ficava atrás do velho quadro no salão atrás do altar, George desceu um lance de escadas, que se cruzavam umas com as outras de cima à baixo, formando um conjunto de labirintos com degraus que ainda lhe causavam tontura. Apoiou-se na parede, descendo devagar à medida que analisava as palavras corretas à discursar aos nobres. Não podia ser rude, de forma alguma, e teria de ser sucinto é claro, caso contrário, de que forma os convenceria?"Talvez fosse necessário oferecer-lhes algo como da última vez?"pensou, parando por um momento próximo à janela de vitrais que iluminava o estreito lance de escadas. Conforme descia, George mergulhava-se ainda mais em seus pensamentos, a ponto de
Após duas horas agarrado aos livros, Simon finalmente havia pedido comida. Robert não havia se controlado e pedira tudo o que tivera direito; frango assado, purê de batatas, legumes, frutas, suco e torta. Ambos comiam com tranquilidade, o sol morno tocando os pés descalços dos dois. Robert estava em um embate incessante junto ao irmão sobre de que forma pediriam ajuda aos reis para encontrarem sua irmã, afinal era para isso que estavam ali. Mas, Simon sentia-se inseguro sobre quanto tempo conseguiria manter a farsa até que finalmente fossem descobertos. — Vamos pedir ajuda, mas, se em um mês eles não a encontrarem, nós vamos embora e continuamos a procurar por nós mesmos, combinado? — questiona Simon. — Combinado! Mas, você precisa pedir agora Simon, ela pode estar precisando da nossa ajuda... — Robert explica melancolicamente, enquan
A porta abriu-se lentamente, rangia pouco, mas o som havia ecoado pelas paredes do palácio quase inabitado. Podia-se ouvir até mesmo os passos cuidadosos da esguia criada que caminhava até Charlotte com a bandeja tremulando em suas mãos. A jovem rainha curvou seus lábios em um leve sorriso, percebendo os olhos pequenos e assustados sob a franja desarrumada da jovem. Caterina, que estava sentada no sofá oposto ao de Charlotte, apenas respirou profundamente, continuando a fitar a mobília cuidadosamente. — Vossa graça estará aqui em breve, senhora. — disse a jovem, colocando a bandeja sobre a mesinha a frente de Charlotte. — Muito obrigada... Qual é o seu nome? — Ma-matilde, senhora! A seu dispor! — curvou-se. — Acalme-se, não precis
"Não nego que no início fiquei surpresa com sua atitude, me defender daquela forma foi a coisa mais doce e romântica que ele já havia feito. Me emociono, mesmo sabendo de suas reais intenções; postura política, não de um noivo apaixonado que defende sua amada. Ao menos contento-me em saber que posso me sentir segura em relação à Inglaterra... Por enquanto."— Charlotte. O som das risadas eram audíveis mesmo fora do salão da corte. "Bando de urubus" pensou Charlotte consigo mesma. Caminhou devagar, afinal não tinha pressa em se juntar à corja fofoqueira que se formava ali todas as manhãs, mas, teria de ir para fazer seu desjejum e mostrar-se aos nobres que um dia seriam seus súditos. Seu poder provinha deles, portanto, não poderia ignorá-los. — Majestade, bom dia — murmurou dois nobres à esquerda, próximos a um castiçal d
Quando se aproximou da porta do salão, pode ouvir o som alto, e quase ensurdecedor, da melodia da sinfonia que tocava durante o baile. A porta foi aberta assim que ela consentiu, fazendo com que num instante a música fosse diminuída. Charlotte dispensava apresentações, mas foi anunciada assim que pisou no ladrilho polido do salão. Tudo estava perfeitamente decorado, como em um grande espetáculo de teatro, mas nada estava mais deslumbrante do que o sorriso delineando os lábios da escocesa. A cada passo que dava conseguia mais atenção e todos aqueles olhos sobre ela a energizaram da mesma forma que a melodia crescente. O arrepio em sua pele era, de certa forma, uma sensação agradável, mas nada a fez sentir-se mais satisfeita do que ver o olhar hipnotizado de Henry poucos passos à frente. — ...Incrivelmente linda, sem dúvidas... — murmurou um dos nobres.
"Naquela época da nossa infância, podia ver, quase que como uma parte de minha rotina, Charlotte correr pelos jardins atrás das freiras, como se aquela fosse a melhor das brincadeiras para ela, o único momento em que a via rir tão intensamente. Uma das freiras, a que sempre a acompanhava, chamava-a, com extrema frequência, de 'pequeno raio de luz', por conta de sua energia, alegria e personalidade. Hoje, Charlie continua sendo a mesma 'pequeno raio de luz' de sempre, somente aumentou um pouco sua intensidade."— Henry, março de 1648. Henry sabia que naquele momento não seria prudente agir sem pensar. O que faria naquela situação? Para começar, pensou em partir para cima do Conde e lhe dar socos incansáveis até esvair-se de toda a sua raiva, mas estava decidido a não iniciar uma instabilidade maior para com a Espan
"Nesta noite tive que lidar com o emocional delirante e inseguro que não sabia que Henry possuía. Mesmo sabendo que é triste a forma como ele pensa e abstrai seus sentimentos em relação a mim, vejo mais os efeitos negativos e torpes que tais ações tem sobre mim. De forma alguma é natural ou aceitável, para mim, que ele tenha atitudes tão desmedidas e temperamentais. Não vou permitir que ele monopolize meus sentimentos ou que brinque comigo como um de seus brinquedos que não deve ser compartilhado. Henry precisou e precisará entender o que está em jogo. É meu povo, minhas responsabilidades e minha vida! Espero que ele, um dia, compreenda... ele vai, não é papai?"— Charlotte, março de 1648. No caminho até ali, ela considerou romper aquele noivado. Afinal, não seria difícil conseguir um novo acordo, tinha os Bourbon da França, e os Valois-Habsburg da Áustria, e tantos outros
Os raios de sol que cruzam a janela de vidro começam a atingir a pele de Charlotte aos poucos. Conforme ela se distanciava de seu apartamento¹ e tomava espaço pelos corredores, a luz do dia dançava pela superfície de seda e cetim de seu vestido vermelho e dourado. Do lado da saia de seu vestido uma pequena bolsa de perfume feita em veludo branco e com babados de linho deixava o cheiro de jasmim, rosas e canela permearem o ar em torno da rainha escocesa. Em sua mão, Charlotte carregava um livro de salmos e um terço enrolado em seu pulso. O som de vozes e conversas ao redor era quase que habitual, portanto ela apenas ignorou e continuou andando a caminho da capela real. Sua dama de companhia, Effie, permanecia ao seu lado em silêncio. Diferentemente de Nimue, ela era calma e contida e não se abria com Charlotte sobre seus pensamentos e sentimentos. Por muitas vezes Charlotte se incomodou