Nunca senti tanto medo na vida como senti naquele dia. Fiquei desesperada com a ideia de perder meu filho que ainda nem sequer conhecia. Mais desesperada com a ideia de que perder meu filho também significava perder Henrique de todas as formas possíveis, pois não teríamos mais nenhuma ligação dali adiante.
Carolina parecia muito mais calma do que normalmente, o que era uma evolução e tanto para a pessoa mais exagerada que eu conhecia. Achei que ela me deixaria ainda mais nervosa quando saiu gritando e dirigindo feito uma doida pelas avenidas da cidade.
Ela me levou até o hospital, sempre falando coisas para me acalmar e pedindo para que eu respirasse enquanto ela contava. Parecia estar falando com um de seus alunos.
Entrei na emergência e fui imediatamente atendida, com a possibilidade de um parto prematuro e até pré-eclâmpsia. Minha pressão sanguínea estava al
Eu já estava com quase trinta semanas de gestação quando finalmente minha mãe conseguiu levar a arquiteta até meu apartamento para tirar as medidas de meu escritório e mostrar as ideias que tinha. Nem precisamos discutir, porque ela finalmente aceitou que um quarto de menino poderia ser em cores de branco e bege sem alterar sua masculinidade (até parece!). Ficamos tão empolgadas com as diversas opções que ela ia apresentando que até esqueci que Henrique passaria lá logo depois do trabalho.Naquela noite íamos receber Carolina e Igor para jantar em meu apartamento e ele prometera chegar cedo para me ajudar a preparar tudo. Ou melhor, para que ele pudesse fazer tudo, já que me impedia de fazer muitos movimentos mesmo afirmando que não estava doente, apenas grávida de quase sete meses. E o que é que ele não fazia para me proteger?Ele ainda ficava
Pode-se dizer que costumo exagerar um pouco nos meus barracos. Talvez porque seja intensa demais. Também pode-se dizer que na grande maioria das vezes tenho razão para o tamanho de minha irritação com a humanidade. Afinal, parece que sempre há um idiota para furar a fila, ou esquecer do troco, ou tentar passar a perna em um desavisado. Parece até que as pessoas não percebem que não levo desaforo para casa. Veja bem, não tenho sangue de barata; não posso deixar que alguém tente me enganar ou as pessoas com quem me importo. Não mesmo! Sempre faço tudo o que posso para ajudar quem precisa, em especial aqueles que merecem toda a minha atenção, sabe, aqueles que considero mais fracos. Porém, por mais esperta e ligada que possa parecer pela descrição recém-feita, imagino que seria difícil acreditar que alguma pessoa nesse mundo conseguiria enganar essa pessoinha aqui. Mas sim, isso realmente aconteceu! Posso mesmo ser uma pessoa de extremos. Transpareço toda minha
Uma semana depois, tudo o que eu queria era ficar em casa, sozinha, curtindo minha fossa como uma pessoa normal. Ao menos era o que eu achava que fosse normal. Quer dizer, você passa tanto tempo com uma pessoa, crente de que ela é maravilhosa e quase perfeita em vários aspectos, depois descobre que perdeu todo esse tempo com um imbecil sem coração (ou apenas sem razão), então estava no meu direito.Entretanto, ao contrário de mim, as pessoas com quem convivia não estavam nem aí para meu término nem meus sentimentos e todos concordavam que o que precisava mesmo era sair e esquecer que um dia havia tido um relacionamento sério com um bosta daqueles (palavras de Carolina). Assim, no sábado seguinte, sendo a comemoração do aniversário de Igor, o namorado engraçadinho de minha melhor amiga, fui obrigada a sair de meu confortável ninho de melodrama e autocomi
Antes mesmo de abrir meus olhos, já senti duas coisas estranhas ao acordar no domingo de manhã. A primeira foi que estava de ressaca. Uma terrível dor martelava atrás de meus olhos e uma sensação ruim se passava em meu estômago, além de um gosto horrível dominar minha boca.A segunda foi que alguém mais estava dividindo a cama comigo. Um calor incomum atravessava minha pele em toda a parte esquerda do corpo.Eu estava dormindo de barriga para cima, tapada até o pescoço com o edredom azul que ganhara de meu avô no último aniversário. Parecia um pouco frio, porém, dentro de meu quarto, a sensação era de abafamento.Tentei buscar na memória quem diabos estava ali comigo, mas a dor de cabeça me impedia de conseguir pensar por muito tempo. Cada vez que fazia um esforço, o latejar aumentava. Será que alguma amiga havia
Dizem que existe amor à primeira vista. Particularmente, nunca experienciei esse tipo de sentimentos e nem tenho certeza se isso um dia possa acontecer comigo ou com qualquer pessoa. Acredito que o amor aconteça quando conhecemos a pessoa profundamente e que, à primeira vista, tudo o que pode haver é atração física (por isso certamente já passei muitas vezes, sobretudo com Bernardo). Isto é, como posso amar uma pessoa sem saber nada sobre ela, sem saber se gosta das mesmas coisas que eu, se torce para o time rival ou ronca à noite, se votou em certo candidato ou se não baixa a tampa do vaso?Esse tipo de conhecimento só se adquire mesmo com a convivência diária, em minha humilde opinião.Em contrapartida, acredito fielmente no que chamo de ódio à primeira vista. Foi assim com Henrique. Nossas almas não se bateram, éramos como almas rivais.
Meu aniversário de 27 anos passou completamente despercebido, sem nenhuma comemoração de minha parte. Estar próximo dos trinta me deixava muito nervosa.No dia 23, terça-feira, passei quase todo trabalhando, indo a foro, delegacia e até presídio para protocolar processos e tentar liberar um cliente que tinha sido pego com drogas. Eram poucas gramas e ninguém tinha provas se era para venda ou consumo próprio, então eu precisava me virar como dava para usar isso a meu favor. Ou a favor dele, no caso.Chegando em casa, não fiz nada além de sentar em meu confortável sofá retrátil acinzentado com o sushi pedido na telentrega e uma taça de vinho branco, sozinha e absolutamente cansada, sentindo uma leve cólica me incomodando que apenas me deixava alerta sobre eu estar ovulando ou próximo de menstruar. Depois do término, eu meio que tinha me lib
Uma parte de mim, aquela parte piegas, romântica e estupidamente boba que habitava meu ser, já me imaginava de vestido branco entrando em uma igreja ao som da marcha nupcial, acompanhada de meu pai, enquanto Bernardo me esperava no altar chorando de emoção ao me ver tão linda e feliz. É claro que ele estaria chorando. Se existia algum homem no mundo que chorasse mais que ele, eu desconhecia. Era só começarmos a brigar ou eu ameaçar terminar a relação para que seus olhos começassem a ficar molhados. Foi realmente incrível ele não ter feito isso naquele dia, no shopping. Acho que estava sem reação.Eu era, certamente, o homem daquela relação. Ao menos nesse quesito.Ainda bem, no entanto, que essa parte sentimental e sem sentido de meu subconsciente parecia estar adormecida naquele momento. Ou talvez tivesse falecido ao ser esfaqueada pela trai&cce
Duas semanas depois do ocorrido, achei que nunca mais veria meu dinheiro. Cassiani havia sido solto, mas ninguém me atendia no número que me deu. Às vezes só chamava, outras nem tinha sinal. E cada dia ficava mais preocupada de não receber meus honorários. Até porque já havíamos conversado e Cassiani prometera me entregar pessoalmente quando saísse.Naquele dia, precisava mais uma vez ir ao presídio pegar a assinatura de um garoto que havia sido preso com drogas e que outro preso havia me indicado. Nem o conhecia ainda, mas já havia conseguido encontrar todo o processo com os dados que me enviara pelo Whatsapp. Sim, porque eles conseguiam se comunicar com o lado de fora muito fácil atualmente. Provavelmente era mais fácil falar com alguém que estivesse lá dentro do que com Carolina, que era a rainha de me deixar no vácuo por horas.Entrei na sala e me