No outro dia, Carolina me convidou para jantar em sua casa naquele sábado. Em vez de responder que sim imediatamente, fiz a imbecilidade de perguntar se havia convidado seu primo. Quer dizer, foi sem querer, mas a verdade é que não sabia fazer mais nada sem ele presente. Eu estava virando uma pessoa ridiculamente apegada.
Sua ideia inicial não era convidá-lo, obviamente. Afinal, da última vez que nos viram juntos, estávamos discutindo. Não faziam ideia do que aprontávamos quando ninguém estava vendo. No entanto, minha amiga quis saber se eu me importava em chamá-lo também, ao que respondi com um tanto faz (querendo realmente dizer que sim).
Na hora nem pensei no que minha resposta poderia implicar. Eu não fazia ideia como me comportaria na frente dele sem transparecer que estávamos tendo um caso. Mas iria fazer um esforço para demonstrar que nada estava aco
Ah, Henrique, porque não diz o que sente de uma vez?
Em um sonho daquela noite Henrique aparecia em meu quarto em plena madrugada e deitava ao meu lado, me abraçando por trás. Sentia primeiro seu perfume, e logo seu calor.Ele passava a mão por minha barriga e beijava meu pescoço e eu me sentia a mulher mais feliz do planeta. Depois ele dizia o quanto tinha sentido minha falta, que eu era tudo pra ele e que ele me amava.Mas era só um sonho, que logo acabou e a tristeza e sentimento de solidão veio bater novamente em minha mente e corpo. Eu odiava acordar e saber que ele não estaria ali ao meu lado, mas a quilômetros de distância, fazendo um treinamento do banco. Sem contar com o fato de estar irritado comigo por algum motivo que eu não tinha muito certeza de qual era. Talvez por termos revelado nosso segredo a Igor. Como se eu fosse a única culpada. Ou talvez porque eu não quisera revelar a Carolina. Não conseguia me decidi
Almoçamos e todos se reuniram na sala, conversando sobre assuntos diversos. Gustavo parecia um pouco alterado. Não sabia se era assim mesmo ou se havia bebido muito. Até que ele se aproximou do balcão onde estávamos sentados, eu, Henrique e Isabel, discutindo sobre quando e onde seria o chá de bebê, ainda que faltasse mais de um mês para isso.— Não acredito que você finalmente conseguiu pegar a Andressa, Henrique! — falou.Claramente havia sido ele que bebera a maior parte do vinho.— Não “peguei” a Andressa — reclamou o irmão mais novo. — Não fala como se ela não estivesse bem aqui ao lado.Ele estava com aquela expressão de quem não gostava nada de falar naquele assunto.— Lembra de quando você era criança e dizia que ia casar com ela? — continuou Gustavo, ignorando o irm&
Já eram quatro horas da tarde e nada de Henrique aparecer. Sendo sábado, esperava que fosse estar comigo, mas, que diabos estaria fazendo? Sem nem me avisar!Ele não havia dito que iria realmente a meu apartamento, porém, depois de tantos percalços, parecia que tudo estava ótimo entre nós. Parecia algo esperado, algo óbvio de acontecer. Ao menos na minha cabeça.Resolvi passar por cima de meus princípios de não correr atrás de homens, até porque já estava bem longe de conseguir esconder o que sentia. Duvidava muito que àquela altura Henrique não soubesse que estava completamente apaixonada por ele. Quer dizer, se até minha mãe havia percebido, por que ele não notaria o quanto minhas atitudes haviam mudado? Era carinhosa, falava manso, tentava fazer tudo para agradá-lo e fazia um esforço tremendo para não responder est
Nunca senti tanto medo na vida como senti naquele dia. Fiquei desesperada com a ideia de perder meu filho que ainda nem sequer conhecia. Mais desesperada com a ideia de que perder meu filho também significava perder Henrique de todas as formas possíveis, pois não teríamos mais nenhuma ligação dali adiante.Carolina parecia muito mais calma do que normalmente, o que era uma evolução e tanto para a pessoa mais exagerada que eu conhecia. Achei que ela me deixaria ainda mais nervosa quando saiu gritando e dirigindo feito uma doida pelas avenidas da cidade.Ela me levou até o hospital, sempre falando coisas para me acalmar e pedindo para que eu respirasse enquanto ela contava. Parecia estar falando com um de seus alunos.Entrei na emergência e fui imediatamente atendida, com a possibilidade de um parto prematuro e até pré-eclâmpsia. Minha pressão sanguínea estava al
Eu já estava com quase trinta semanas de gestação quando finalmente minha mãe conseguiu levar a arquiteta até meu apartamento para tirar as medidas de meu escritório e mostrar as ideias que tinha. Nem precisamos discutir, porque ela finalmente aceitou que um quarto de menino poderia ser em cores de branco e bege sem alterar sua masculinidade (até parece!). Ficamos tão empolgadas com as diversas opções que ela ia apresentando que até esqueci que Henrique passaria lá logo depois do trabalho.Naquela noite íamos receber Carolina e Igor para jantar em meu apartamento e ele prometera chegar cedo para me ajudar a preparar tudo. Ou melhor, para que ele pudesse fazer tudo, já que me impedia de fazer muitos movimentos mesmo afirmando que não estava doente, apenas grávida de quase sete meses. E o que é que ele não fazia para me proteger?Ele ainda ficava
Pode-se dizer que costumo exagerar um pouco nos meus barracos. Talvez porque seja intensa demais. Também pode-se dizer que na grande maioria das vezes tenho razão para o tamanho de minha irritação com a humanidade. Afinal, parece que sempre há um idiota para furar a fila, ou esquecer do troco, ou tentar passar a perna em um desavisado. Parece até que as pessoas não percebem que não levo desaforo para casa. Veja bem, não tenho sangue de barata; não posso deixar que alguém tente me enganar ou as pessoas com quem me importo. Não mesmo! Sempre faço tudo o que posso para ajudar quem precisa, em especial aqueles que merecem toda a minha atenção, sabe, aqueles que considero mais fracos. Porém, por mais esperta e ligada que possa parecer pela descrição recém-feita, imagino que seria difícil acreditar que alguma pessoa nesse mundo conseguiria enganar essa pessoinha aqui. Mas sim, isso realmente aconteceu! Posso mesmo ser uma pessoa de extremos. Transpareço toda minha
Uma semana depois, tudo o que eu queria era ficar em casa, sozinha, curtindo minha fossa como uma pessoa normal. Ao menos era o que eu achava que fosse normal. Quer dizer, você passa tanto tempo com uma pessoa, crente de que ela é maravilhosa e quase perfeita em vários aspectos, depois descobre que perdeu todo esse tempo com um imbecil sem coração (ou apenas sem razão), então estava no meu direito.Entretanto, ao contrário de mim, as pessoas com quem convivia não estavam nem aí para meu término nem meus sentimentos e todos concordavam que o que precisava mesmo era sair e esquecer que um dia havia tido um relacionamento sério com um bosta daqueles (palavras de Carolina). Assim, no sábado seguinte, sendo a comemoração do aniversário de Igor, o namorado engraçadinho de minha melhor amiga, fui obrigada a sair de meu confortável ninho de melodrama e autocomi
Antes mesmo de abrir meus olhos, já senti duas coisas estranhas ao acordar no domingo de manhã. A primeira foi que estava de ressaca. Uma terrível dor martelava atrás de meus olhos e uma sensação ruim se passava em meu estômago, além de um gosto horrível dominar minha boca.A segunda foi que alguém mais estava dividindo a cama comigo. Um calor incomum atravessava minha pele em toda a parte esquerda do corpo.Eu estava dormindo de barriga para cima, tapada até o pescoço com o edredom azul que ganhara de meu avô no último aniversário. Parecia um pouco frio, porém, dentro de meu quarto, a sensação era de abafamento.Tentei buscar na memória quem diabos estava ali comigo, mas a dor de cabeça me impedia de conseguir pensar por muito tempo. Cada vez que fazia um esforço, o latejar aumentava. Será que alguma amiga havia