Após aceitar o pedido de casamento de Antônio, ele não hesitou em me procurar tão logo pisou na Cidade M. Em seguida, tratou de contratar o mais prestigiado designer de joias do país para criar uma aliança exclusiva para mim. Trocamos contatos para facilitar nossa comunicação durante o processo.

Enquanto aguardávamos, observei Valentino segurando as mãos de Felícia com carinho. Ele as aquecia com seu sopro, tentando consolá-la.

— Essa pedra sem valor algum não faz jus à sua beleza. Não fique assim, querida. Vou até a Christie's comprar uma joia impecável para você, algo digno da mulher que é.

Logo em seguida, me lançou um olhar carregado de desprezo e prosseguiu em tom mordaz:

— Gente sem classe é assim mesmo. Nunca viram nada de qualidade na vida. Qualquer pedra já consideram uma preciosidade. Lamentável!

Não me deixei intimidar e retruquei na hora:

— Pois é, minha visão andava péssima mesmo. Antes confundia lixo com algo valioso. Agora entendi que lixo deve ir para o lixo, evitando assim contaminar os outros com seu odor repugnante!

— Você... — Bradou Valentino, entendendo a indireta. Apontou o dedo em minha direção, vermelho de fúria.

Com um sorriso sereno nos lábios, respondi:

— Sr. Valentino, estava apenas falando de lixo, não de sua pessoa. Se o comentário te atingiu tanto, talvez devesse refletir sobre o motivo, não acha?

Percebendo o clima tenso, Luan interveio rapidamente:

— Estamos chamando atenção de todos. Se alguém filmar e postar na internet, será péssimo para todos nós.

Valentino suspirou profundamente, controlando sua raiva a muito custo, e voltou a bajular Felícia com atenção exagerada.

O joalheiro não tardou a aparecer. Com mãos habilidosas e precisas, abriu sua maleta de ferramentas e, em questão de segundos, separou a pedra do engaste com maestria.

— Tome, fique com seu anel. Estamos quites. — Declarei, arremessando o engaste na direção de Valentino.

Ele sequer se dignou a apanhá-lo. Deixou que a peça caísse ao chão e sibilou entre dentes:

— Você foi longe demais desta vez. Já que destruiu este anel, não tenho mais intenção de providenciar outro para você. Da próxima vez, se contente com um anel feito de lacre de latinha!

Mantendo sua postura discreta e profissional, o joalheiro se dirigiu a mim com respeito:

— Srta. Carina, já concluí o esboço da sua aliança. Gostaria de examinar e sugerir alguma modificação, caso deseje?

De sua pasta, retirou um desenho meticulosamente feito à mão. A aliança era simplesmente deslumbrante, uma obra-prima de puro luxo.

Ao espiar o desenho, Valentino não perdeu tempo em me acusar:

— Como tem coragem? Mandar fazer uma aliança caríssima para si mesma? Saiba que eu jamais gastaria um centavo com isso! Depois do seu showzinho de hoje, o máximo que merece é mesmo um lacre de latinha!

Felícia se aproximou com passos calculados, tomou o desenho em suas mãos e o examinou atentamente. Se virou para o joalheiro e, com voz melosa, declarou:

— O design é realmente encantador. Poderia fazer um igual para mim?

E se voltando para Valentino, piscou os olhos sedutoramente e perguntou:

— Valentino, você me presentearia com esta joia?

— Claro, minha deusa! Você merece apenas o melhor. — Respondeu ele, me lançando um sorriso carregado de zombaria.

O joalheiro, no entanto, coçou a cabeça com visível desconforto e explicou:

— Lamento informar, mas esta peça foi desenhada com exclusividade para a Srta. Carina. Não está disponível para comercialização.

— Exclusiva? — Retrucou Felícia. — Você caiu no golpe dela. Esta mulher é apenas uma pobretona que só conseguiu se agarrar ao Sr. Valentino por pura sorte. Agora que ele não quer mais sustentar ela, você perdeu seu tempo com esse desenho. Melhor vendê-lo para mim.

Atordoado, o joalheiro franziu o cenho ao passar o olhar de mim para eles antes de declarar:

— O Sr. Antônio já quitou o valor integral. Não existe golpe algum.

— Antônio? — Valentino murmurou com evidente preocupação. — De quem você está falando?

— Antônio Santiago, o herdeiro do Grupo Santiago. — Explicou o joalheiro com naturalidade.

A simples menção daquele nome pareceu tranquilizar Valentino. Soltando um suspiro desdenhoso, ele zombou:

— Grupo Santiago? Ora veja só! O senhor caiu direitinho na conversa fiada. Esta mulher aqui veio do nada e agora quer me fazer acreditar que tem intimidade com o herdeiro do Grupo Santiago? Melhor tomar cuidado para não embarcar nessa farsa.

Impassível, o joalheiro ignorou as provocações e continuou mexendo no celular.

Os curiosos em volta começaram a sussurrar entre si:

— Grupo Santiago? Como ela consegue mentir com tanta cara de pau... Até a família Santiago está envolvendo nessa história!

Felícia soltou uma gargalhada afetada, cobrindo os lábios com delicadeza fingida.

— Antônio? Aquele que é meu futuro marido. — Zombou ela, elevando a voz. — Carina, se você realmente se casar com Antônio, eu me jogo desta sacada agora mesmo.

Finalmente, o joalheiro ergueu o rosto e virou a tela do celular na direção de todos.

— Não existe golpe algum. — Ele afirmou categoricamente. — O pagamento já caiu na minha conta. Cinco milhões. E não dá para falsificar extrato bancário, não é mesmo?

Os números na tela falavam por si. Um silêncio pesado tomou conta do ambiente.

Cansada de fingir, abri um sorriso radiante.

— Como já devem ter percebido. — Anunciei com satisfação. — No dia 15 deste mês, Antônio e eu celebraremos nossa festa de noivado na Cidade B. Estão todos convidados! E tudo será por nossa conta!

Valentino me encarou, completamente atônito.

— Carina, o que você está pretendendo com isso tudo? Brincando de romance de reconquista? — Ele questionou com ar desconfiado. — Não sei como você montou essa farsa, mas, por coincidência, no dia 15, Felícia tem um baile na Cidade B. Vamos aproveitar e verificar se essa história de noivado tem algum fundo de verdade.

Afinal de contas, ele não confiava em mim.

Naquela mesma noite, muito antes que Valentino retornasse para casa, já havia arrumado minhas malas e me instalado em um hotel.