Capítilo 2
A apresentação transcorreu de maneira sublime. Pelos movimentos delicados e precisos, Felícia se transformava em verdadeiro cisne branco sobre o palco, elegância e nobreza em cada gesto. Hipnotizado, Valentino não conseguia desviar o olhar nem por um segundo daquela figura etérea.

No meio da apresentação, meu celular vibrou. Era Antônio: [Leva também seus bichinhos para a Cidade B. Vamos cuidar deles juntos, pode contar comigo.]

Senti um nó na garganta e os olhos marejados. Curiosa como nem durante o fiasco do pedido de casamento interrompido por Valentino eu havia derramado uma lágrima sequer. Mas aquele gesto de Antônio... Ser amada daquela forma genuína era uma sensação indescritível.

Terminada a apresentação, todos se dirigiram ao salão para a festa de comemoração.

Após algumas rodadas de champanhe, Luan, amigo tanto meu quanto de Valentino, já com a língua solta pelo álcool, se inclinou em minha direção e sussurrou com voz arrastada:

— Tá, concordo que foi feio ele largar o pedido de casamento no meio pra correr atrás da amada, mas vai por mim. — Balançou o dedo no ar enfaticamente. — Foi só um momento de fraqueza. No fundo, ele ainda é louco por você. É só questão de tempo até o próximo pedido.

A raiva subiu instantaneamente. Apertei o copo com tanta força que meus dedos ficaram brancos e, num impulso, bati o líquido de volta na mesa, me virando para encará-lo.

— Nem comida faz você calar essa boca, né? — Disparei, o fulminando com o olhar. — Pois fique sabendo que não estou nem um pouco interessada em esperar pedido nenhum.

Meus olhos vagaram pelo salão até encontrar Valentino e Felícia trocando olhares carregados de paixão. Como fui tão cega por tanto tempo?

O amor verdadeiro não conseguia se esconder. E era evidente que ele realmente amava Felícia.

De repente, ela se aproximou de mim com passos leves. Estava deslumbrante, com cabelos lisos e compridos perfeitamente arrumados, vestido lilás que parecia flutuar ao seu redor. Uma visão saída diretamente das páginas de um romance.

— Carina... — Começou ela, com voz melodiosa. — Queria te pedir desculpas pelo constrangimento da última vez. Jamais tive a intenção de incomodar o Valentino ou causar problemas.

— Não se preocupe com isso. — Respondi com falsa serenidade, forçando um sorriso educado nos lábios. — O que importa é a felicidade de vocês.

Nosso relacionamento já estava acabado mesmo.

Algo em minha resposta fez sua expressão vacilar por um instante. O sorriso perfeito tremeu ligeiramente antes de voltar com ainda mais brilho. Ela ergueu a taça num brinde silencioso e foi nesse momento que vi o anel. Meu anel de noivado.

— Você... — O ar escapou de meus pulmões como se tivesse levado um soco.

— Ah, isso? — Comentou ela casualmente, girando o anel no dedo com ar de falsa modéstia. — Foi um presentinho do Valentino para celebrar minha apresentação. Lindo, não acha?

— Tire isso agora. — Minha voz saiu cortante como navalha. — Esse anel eu mesma escolhi pessoalmente no Sri Lanka.

A paixão por aquele tom único, entre rosa e laranja, semelhante ao pôr do sol mais intenso, me fez percorrer o país inteiro até encontrar a joia perfeita. Eu pedi a Valentino que me pedisse em casamento com ela. Era o símbolo de algo que acreditei ser puro.

Agora, não representava mais nada além de traição.

— Nossa, que eu saiba não tem seu nome gravado nela. — Ela retrucou com desprezo mal disfarçado.

— Carina... — A voz grave de Valentino ecoou. — A Felícia se encantou tanto com o anel que resolvi presenteá-la. Você não se importa, não é mesmo?

Ali estava ele, imponente em seu terno impecável, mãos nos bolsos, banhado pela luz dourada dos lustres de cristal. Uma imagem que seria bonita, não fosse completamente absurda.

O salão inteiro mergulhou num silêncio constrangedor.

— Então... — Articulei cada palavra lentamente. — Meu anel de noivado virou presente para outra mulher e eu deveria aceitar isso naturalmente?

— Essa pedra nem é tão valiosa assim. — Respondeu ele com displicência, dando de ombros. — Na próxima, te dou um diamante de três quilates, se quiser.

— Me devolva a pedra. — Exigi, sentindo o sangue ferver. — Fui eu quem pagou por ela. E mais, estou voltando para Cidade B.

Ele soltou uma risada, como se eu tivesse acabado de contar a piada mais absurda do mundo.

— Está falando sério, Carina? — Ele perguntou com ar de superioridade. — A família Nunes é uma das mais influentes da Cidade M. Você realmente acha que vai encontrar alguém melhor que eu?

Revirei os olhos, nauseada com tanta arrogância.

— Se insiste em partir, não vou te impedir. Mas, nesse caso, retiro imediatamente meu investimento. — Ele me encarou de cima, como quem já sabe o resultado da partida. — Sem meu dinheiro, quero ver como vai sustentar todos aqueles animais que insistiu em adotar.
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