A apresentação transcorreu de maneira sublime. Pelos movimentos delicados e precisos, Felícia se transformava em verdadeiro cisne branco sobre o palco, elegância e nobreza em cada gesto. Hipnotizado, Valentino não conseguia desviar o olhar nem por um segundo daquela figura etérea.No meio da apresentação, meu celular vibrou. Era Antônio: [Leva também seus bichinhos para a Cidade B. Vamos cuidar deles juntos, pode contar comigo.]Senti um nó na garganta e os olhos marejados. Curiosa como nem durante o fiasco do pedido de casamento interrompido por Valentino eu havia derramado uma lágrima sequer. Mas aquele gesto de Antônio... Ser amada daquela forma genuína era uma sensação indescritível.Terminada a apresentação, todos se dirigiram ao salão para a festa de comemoração.Após algumas rodadas de champanhe, Luan, amigo tanto meu quanto de Valentino, já com a língua solta pelo álcool, se inclinou em minha direção e sussurrou com voz arrastada: — Tá, concordo que foi feio ele largar o pedid
Ser amada e não ser amada... Eis a distinção que marcava minha vida. Antônio demonstrava genuína preocupação com o bem-estar dos meus animaizinhos, mas Valentino os transformava em instrumento de chantagem emocional.Na Cidade M, eu vivia sob o disfarce de uma pessoa comum. Alimentava a esperança de revelar minha verdadeira identidade a Valentino após o pedido de casamento.Porém, uma simples mortal sem recursos financeiros significativos... O desfecho daquela história já estava escrito nas estrelas.Com um brilho de ternura no olhar, Valentino segurou a mão de Felícia.— Uma pedra tão deslumbrante merece adornar os dedos de uma artista. Observe suas próprias mãos... Curtas, grosseiras, perpetuamente manchadas de sangue e fluidos repugnantes das cirurgias. Acha mesmo que me agradava entrelaçar meus dedos nos seus? — Falou ele com desprezo.Incapaz de conter sua indignação, Luan interrompeu:— São mãos que devolvem vida às pessoas, as mais belas que poderiam existir! Valentino, vamos da
Diante da segurança nas palavras dela, fiquei completamente sem reação. Continuávamos naquele impasse quando, de repente, meu celular tocou. Era Antônio do outro lado da linha.— Ei, Carina! — Exclamou ele animadamente. — Seus bichinhos já chegaram sãos e salvos na Cidade B. Vou mantê-los na minha propriedade por enquanto, até você decidir o destino definitivo deles. Preciso saber de alguma coisa específica sobre os cuidados?— Já chegaram? — Perguntei, não conseguindo esconder minha surpresa.— Mandei transportá-los em avião particular. — Respondeu ele, orgulhoso.Um sorriso involuntário iluminou meu rosto ao ouvir aquilo.— Olha, a Cidade M é bem mais quente que a Cidade B. — Expliquei com preocupação. — Cuida para ficarem bem aquecidos, tá? Não quero que peguem um resfriado.— Pode deixar comigo! — Garantiu Antônio, respondendo com aquele entusiasmo característico, parecendo uma criança que acabava de receber um elogio.Naquela noite, Valentino estava completamente hipnotizado por s
Após aceitar o pedido de casamento de Antônio, ele não hesitou em me procurar tão logo pisou na Cidade M. Em seguida, tratou de contratar o mais prestigiado designer de joias do país para criar uma aliança exclusiva para mim. Trocamos contatos para facilitar nossa comunicação durante o processo.Enquanto aguardávamos, observei Valentino segurando as mãos de Felícia com carinho. Ele as aquecia com seu sopro, tentando consolá-la.— Essa pedra sem valor algum não faz jus à sua beleza. Não fique assim, querida. Vou até a Christie's comprar uma joia impecável para você, algo digno da mulher que é.Logo em seguida, me lançou um olhar carregado de desprezo e prosseguiu em tom mordaz:— Gente sem classe é assim mesmo. Nunca viram nada de qualidade na vida. Qualquer pedra já consideram uma preciosidade. Lamentável!Não me deixei intimidar e retruquei na hora:— Pois é, minha visão andava péssima mesmo. Antes confundia lixo com algo valioso. Agora entendi que lixo deve ir para o lixo, evitando a
Logo de manhã, uma mensagem de Antônio iluminou meu celular: [Estou a caminho da Cidade M para te levar para casa.]Dei um pulo da cama, o coração aos saltos.E lá estava ele em carne e osso. Os cabelos levemente desgrenhados, pequenas olheiras marcando seu rosto, sem aquele ar impecável que sempre carregava. Parecia mais humano, mais próximo, como alguém que faz parte do cotidiano.Não é por acaso que meus pais o escolheram. Uma família respeitada, boa aparência e, acima de tudo, caráter. Como pude ser tão cega para não notar suas qualidades antes?Percebendo meu olhar insistente, Antônio se remexeu desconfortável. Passou a mão pelos cabelos, confessando com voz baixa:— Fui dormir tarde ontem e acordei com os primeiros raios do sol hoje, por isso estou com essa cara de sono.Captei a deixa no ar e indaguei, curiosa:— Foi por causa dos animais que ficou acordado?— Exatamente. — Respondeu ele com um sorriso cansado. — Mas não se preocupe, estão todos bem. E também sentem sua falta, p
O céu nublado além da vidraça capturava meu olhar enquanto minha mente vagava por memórias distantes.Não havia como negar. Antônio representava o partido mais cobiçado da toda Cidade B. Um homem que, por onde passava, atraía olhares admirados e invejosos. Qualquer família da alta sociedade sonharia em tê-lo como genro.Por algum mistério do destino, era justamente por mim que ele nutria uma fixação inexplicável. "Ou ela ou ninguém", declarava com firmeza sempre que o assunto matrimônio surgia. Seus pais aceitaram sua escolha obstinada. Os meus, extasiados com a perspectiva de uma aliança com a família Santiago, não hesitaram em selar o compromisso.Reconhecia as qualidades excepcionais de Antônio, sem dúvida. Mas a imagem de uma existência confinada às paredes de uma mansão, vivendo à margem da glória do marido ilustre, me sufocava. Foi assim que a Cidade M surgiu como meu refúgio. Lá, sob nova identidade, construí meu próprio caminho, experimentei a liberdade de amar sem imposições.
Mal pisamos na Cidade B quando minha mãe desabou em lágrimas, entre soluços e reprovações.— Tantos anos, sumida sem dar sinal de vida, e agora resolve aparecer do nada? Eu a envolvi num abraço apertado e sussurrei com carinho:— Me perdoe, mãe. Fui uma tola imatura, mas estou de volta agora. E trouxe um genro para você conhecer.Ao escutar a palavra "genro", seu semblante se transformou instantaneamente. Secou as lágrimas com as costas da mão e bateu no peito, exibindo um orgulho incontido:— Está vendo só? Sua mãe tem olho clínico! Você torcia o nariz antes, mas acabou caindo na real, não foi?Uni as mãos em sinal de reverência e respondi com um sorriso:— Você é mesmo extraordinária, mãe! Não ousaria contradizê-la.Posteriormente, fomos nos apresentar aos pais de Antônio. Para meu espanto, recebi deles uma acolhida calorosa, sem qualquer vestígio de mágoa por eu ter declinado o matrimônio no passado.A mãe dele me conduziu até seu cofre de joias e, com um gesto de generosidade impr
Cada mínimo detalhe da nossa nova residência foi cuidadosamente planejado para atender aos meus gostos pessoais. Com sua dedicação evidente, Antônio chegou até a designar um espaço especial para nossos queridos animais de estimação.As histórias que Luan me contava sobre Cidade M sempre me arrancavam gargalhadas incontroláveis.— Imagina só... — Comentou ele, gesticulando animadamente. — Na última ocasião, Felícia abandonou sua apresentação no meio do evento só para invadir seu noivado. Agora o pessoal do círculo artístico não tolera ela mais, e ela está completamente sem trabalho.Balançando a cabeça em desaprovação, ele prosseguiu:— A família Moura percebeu que o casamento com a família Santiago já era caso perdido e praticamente empurrou Felícia para os braços do Valentino. Mas quando a família Nunes descobriu que ela foi a culpada pelo fim do relacionamento de vocês, não hesitaram em chamá-la de interesseira e deixaram bem claro que jamais a aceitariam como parte da família. A mad