Ser amada e não ser amada... Eis a distinção que marcava minha vida. Antônio demonstrava genuína preocupação com o bem-estar dos meus animaizinhos, mas Valentino os transformava em instrumento de chantagem emocional.

Na Cidade M, eu vivia sob o disfarce de uma pessoa comum. Alimentava a esperança de revelar minha verdadeira identidade a Valentino após o pedido de casamento.

Porém, uma simples mortal sem recursos financeiros significativos... O desfecho daquela história já estava escrito nas estrelas.

Com um brilho de ternura no olhar, Valentino segurou a mão de Felícia.

— Uma pedra tão deslumbrante merece adornar os dedos de uma artista. Observe suas próprias mãos... Curtas, grosseiras, perpetuamente manchadas de sangue e fluidos repugnantes das cirurgias. Acha mesmo que me agradava entrelaçar meus dedos nos seus? — Falou ele com desprezo.

Incapaz de conter sua indignação, Luan interrompeu:

— São mãos que devolvem vida às pessoas, as mais belas que poderiam existir! Valentino, vamos dar uma saída para fumar.

Antes de se retirar, porém, Valentino fez questão de lançar mais uma provocação:

— Esse joguinho de difícil já ultrapassou todos os limites, Carina. Cuidado, pois isso pode terminar muito mal para você.

Mal se distanciaram, Felícia arrancou o anel do dedo e o arremessou ao chão com violência. Me precipitei para recolhê-lo.

Ela se aproximou, me fitando do alto de sua postura imponente.

— Nasceu numa família de trabalhadores, Carina. — Declarou Felícia com frieza. — Em circunstâncias normais, jamais teria acesso ao nosso círculo social. Valentino só se interessou por você porque te enxergou como meu reflexo. Agora que estou devolvendo ele a você, cuida bem dele.

Ergui o olhar, examinando atentamente as feições de Felícia. De fato, havia certa semelhança entre nós.

Então era por isso que Valentino se declarou apaixonado à primeira vista?

— Me deixa adivinhar... — Ela provocou. — Vocês frequentavam o Chuchoter como restaurante favorito. Adoravam passear pela Rua Hager. E todas as joias que ele te presenteou vinham da Tiffany's, não é mesmo?

Cada palavra pronunciada por ela me trespassava como uma lâmina afiada.

— Como sabe disso? — Indaguei, embora no fundo já conhecesse a resposta. Precisava apenas de confirmação.

— Porque essas são todas as minhas preferências. — Felícia revelou com crueldade. — Ele apenas projetava em você a minha sombra.

— Se existe tanto afeto entre vocês, por que não permaneceram juntos? — Perguntei, confusa.

Uma expressão melancólica tomou conta do semblante de Felícia.

— Minha família está expandindo os negócios para a Cidade B. — Ela explicou com resignação. — Preciso me submeter a um casamento arranjado com uma família influente de lá. Meu pai já escolheu o pretendente... O herdeiro da família Santiago.

— Antônio? — Deixei escapar surpresa.

Ela me examinou dos pés à cabeça, destilando desprezo em seu olhar.

— Vejo que sabe mais do que deveria. — Ela constatou com frieza. — Mas me permita oferecer um conselho... Deveria se considerar sortuda por ter conquistado Valentino. Quanto ao Antônio, esse sim é um homem completamente fora do seu alcance.