Algo dentro de Melissa começou a queimar por entre suas pernas e ela ficou com muito tesão olhando Kernel vestido tão casualmente com aquele uniforme de time de basquete. Era bem diferente vê-lo fora de um terno, por isso ficou atraída e sentiu a mesma coisa quando ele saiu do carro naquela manhã, porém a loira não se permitiu aproveitar aquela visão por estar tão cega pelo ódio. Não se permitia sentar na arquibancada do estádio e apenas observar aquele homem que lhe tirava o ar quando se aproximava. Não se permitia sentar naquela cadeira e ocupar seu espaço na vida dele. Melissa simplesmente não conseguia mais respirar direito quando estava próxima do senhor Kernel, sua presença arrancava tudo que ela tinha, tudo que ela era e ela simplesmente esquecia qualquer coisa, ficava nervosa, não sabia onde enfiar as mãos, não sabia se colocar perante ele. Não sabia nem como poderia olhar para aqueles olhos novamente. Seus olhares, que estavam conectados por aquele breve momento, desconectara
Era um final de semana e Melissa estava cozinhando em seu apartamento. Com os cabelos loiros presos para cima e uma roupa leve e descontraída, descalça, a secretária escutava uma música contagiante, I Follow Rivers The Magician Remix, e dançava enquanto escolhia os ingredientes da refeição. Abria a geladeira, olhava nas gavetas, girava uma colher de pau por entre os dedos, picava e salteava os vegetais na frigideira. As memórias do dia divertido de ontem com as crianças no jogo de basquete e no restaurante traziam aos lábios de Melissa um certo sorriso e à sua essência um certo vigor. Apoiados por sobre o balcão, uma garrafa de vinho tinto encorpado e uma taça Bordeaux regavam o momento de felicidade de Mel. Enquanto dançava e cozinhava, lembrava dos acontecimentos de ontem. Convencidos por Amanda, de repente, estavam Melissa e o senhor Kernel dentro de uma piscina de bolinhas enorme, junto com várias crianças pulando em cima deles. Fora engraçado. Toda hora Kernel jogava bolinhas mul
Melissa percebeu que tinha aberto um presente que não era para ela. Desesperada, fechou com força o estojo do colar e tentou consertar a embalagem de papel branco, porém o selo de cera que a lacrava já havia sido rompido. Suas mãos trêmulas encontraram o cartão de visita do embaixador da Cartier com intuito de ligar para ele e solicitar uma nova embalagem com um selo novo quando virou-se para pegar o telefone e trombou com o senhor Kernel, que havia entrado na recepção de repente. Assustada, esbarrou na sacola de presente e empurrou o estojo do colar, que caiu desembalado no chão. Ela olhou desesperada para Kernel e engoliu em seco. Ele ergueu apenas uma sobrancelha. - Melissa, o que aconteceu com o presente da minha esposa? – ele olhou para os lados. – Ela esteve aqui? - N-não senhor Kernel – respondeu Melissa, de supetão –, eu abri achando que era para mim. Já estou ligando para a empresa fazer uma embalagem nova. Por incrível que pareça, Kernel ficou com o rosto corado. Não era c
Melissa e Mattew nem sequer pediram a comida para viagem: ele pagou a conta e foram depressa para o carro. Mattew enfiou a BMW no beco mais escuro que podia, considerando o sol do meio-dia, mais ou menos embaixo de uma ponte, e Melissa pulou por cima do senhor Murray no banco do motorista. Nunca achara que teria tal habilidade ou que aquela posição poderia ser tão confortável. Tudo em cima, preservativo, mal abriram o necessário da roupa e, em minutos, estavam os dois se esbaldando com toda velocidade na BMW. Passou um tempinho e, se tivessem prestado atenção, teriam visto: um flash de luz. Mais um flash. Teriam ouvido um barulho de câmera fotográfica muito sutil, tirando fotografias em série. Por ser o dono de uma das revistas masculinas mais famosas de Nova York, Mattew era uma pessoa pública frequentemente perseguida por paparazzi, entretanto, por aquele breve momento de total descontrole, não parara para pensar exatamente no que estava fazendo e nas consequências daquilo. Consequê
Aquela tarde fora de trabalho intenso e muitas ligações para a diretoria da Kernel Publicidade. Melissa não queria prestar muita atenção no que estava acontecendo no trabalho, o que mais importava era ignorar os comentários maldosos de seus colegas e receber o embaixador da Cartier para consertar o embrulho que ela havia violado e apor na parte exterior das embalagens os dizeres “De: Adam; Para: Eve”. Após todas as resoluções urgentes com o embrulho da joia destinada à esposa de Kernel, o embaixador da Maison, sempre trajando um terno muito bem alinhado e luvas impecavelmente brancas, disse: - Senhorita Sanders, pedimos sinceras desculpas por termos esquecido de escrever o nome do destinatário na parte externa do pacote. Espero que agora esteja tudo certo. Eis aqui o seu. E esta é a outra encomenda do senhor Kernel. Para a surpresa de Melissa, o rapaz lhe entregou duas sacolas de papel; uma com a indicação “De: Adam; Para: Mel”; outra com os dizeres “Para nosso cliente especial, Adam
O senhor Kernel estava em seu quarto em frente ao espelho, fazendo um nó em sua gravata, olhando-se de corpo inteiro. Trajava um terno azul marinho com acabamento levemente brilhante, camisa social de manga longa cor creme e um colete, que fechou por sobre a gravata assim que terminou de ajeitá-la no pescoço. Imaginou a gravata como uma forca. Suas feições eram duras: ele estava extremamente irritado naquela noite enquanto ajeitava suas abotoaduras. - Falsos moralistas malditos – disse, entredentes. A voz grave extremamente irritada, as mãos dando os últimos retoques no gel dos cabelos levemente grisalhos e curtos. - Sorte sua que eles não descobriram o Círculo – comentou uma bela mulher que estava sentada em uma penteadeira de madeira escura, de costas para seu marido. Tratava-se de Eveline Kernel. Eveline estava trajada com um belo vestido azul marinho de saia volumosa, cortes retos na parte superior e uma mini jaqueta toda rendada estilo bolero, na mesma cor, de gola alta. O rost
No dia seguinte ao jantar de deslinde extremamente inusitado na mansão Kernel, Melissa estava trabalhando normalmente na recepção da sala da direção da Kernel Publicidade. No fim do dia, recebeu uns papéis da empresa de recursos humanos para assinar seu aumento de salário. Seus olhos azuis fitaram a documentação e o valor aposto ao final do documento era absurdamente alto para o trabalho que ela fazia. Bom... talvez não fosse tão absurdamente alto. Melissa precisava aprender a valorizar-se e a valorizar seu trabalho, bem como as roupas caras que ela precisava comprar para ir trabalhar e todas as outras coisas que precisava pagar, além da terapia que frequentava e das bebidas alcoólicas que ela era obrigada a tomar frequentemente para aguentar o stress advindo do trabalho. Sim, ela precisava ser valorizada por tudo aquilo. A mão delicada da secretária pegou uma das canetas do escritório com os dizeres “Kernel Publicidade” e ajeitou-se para assinar o contrato. Encostou a ponta da caneta
Naquela noite de sábado, Melissa colocou um vestido preto, leve e fácil de tirar. Perfumou-se e hidratou sua pele com o creme que ganhara de Kernel. Entrou em um carro que fora enviado por seu chefe e foi em direção ao seu incerto destino. Ela não sabia explicar exatamente o que estava sentindo, mas esperou tanto tempo por aquele momento que agora seu coração saía pela boca. Finalmente ela iria conhecer o Círculo Dourado e aquilo parecia, ao mesmo tempo, totalmente certo e totalmente errado. Havia recebido mais cedo quase todos os resultados de seus exames e estava tudo certo com a saúde de Mel, fato que, na verdade, lhe dera um certo alívio por causa do medo de ter contraído alguma doença devido às traições de Patrick. Não que ela não estivesse prestes a entrar no mesmo grupo de pessoas com as quais Patrick estava tendo relações, mas sabe-se lá com mais quantas pessoas mais ele tivera relacionado fora do Círculo Dourado enquanto estiveram juntos naqueles últimos doze anos. Melissa s