O olhar de surpresa de Sra. Auth foi evidente enquanto ela dizia:— Se seu avô já se manifestou assim, então não há o que discutir.Quando o nome do Mestre Auth foi mencionado, eu aproveitei para trocar um olhar com Jean, dando-lhe um sinal. Ele entendeu de imediato e se levantou, dizendo:— Mãe, vou levar a Kiara para ver o vovô. Voltamos para o almoço.— Certo, podem ir. — Respondeu ela, com um aceno.Amélia, sempre animada, saltou do sofá, querendo nos acompanhar. Mas Sra. Auth a interrompeu com um tom firme:— Você não foi lá hoje de manhã? Não precisa ficar indo e vindo o dia todo. Quando é que vai aprender a ser mais tranquila?Amélia fez um biquinho, claramente contrariada, mas acabou voltando a se sentar, resignada.Jean tentou pegar minha mão, mas eu franzi a testa e o olhei, indicando para ele evitar aquilo na frente de sua mãe.Assim que saímos do casarão, ele estendeu a mão novamente e segurou a minha, dizendo em um tom baixo:— Por que está fugindo? É só segurar sua mão, n
Eu troquei um olhar com Jean, e ele apertou minha mão com mais força, como se tivesse medo de que eu fugisse. Seguimos juntos até a beira do riacho.— Vovô, trouxe minha namorada para conhecer o senhor. — Disse Jean, com a voz baixa e um tom calmo, acompanhado de um sorriso discreto.Mestre Auth, ao ouvir a voz do neto, endireitou-se no banco. Ele desviou o olhar do livro e nos encarou. Apesar dos cabelos totalmente brancos, ele parecia estar com a saúde em dia, e seus olhos carregavam um brilho penetrante. A postura e o peso da experiência acumulada ao longo dos anos emanavam uma autoridade natural, capaz de inspirar respeito imediato.— Como vai, vovô? Eu sou Kiara. — Cumprimentei com educação.Mestre Auth sorriu levemente e disse:— Kiara, realmente é uma garota muito bonita.Eu rapidamente respondi, tentando ser modesta:— O senhor é muito gentil, vovô. Não é bem assim.— Não precisa ser tão modesta. Há mais de dez anos, quando eu estava com meu regimento em Dondo, já tinha ouvido
Meu coração deu um salto, e eu olhei instintivamente para Jean.— Vovô... — Jean começou a falar, mas Mestre Auth o interrompeu:— Estou apenas conversando com a Srta. Kiara. Por que essa pressa? Afinal, ela é sua salvadora. Você acha que eu faria algo contra ela?Embora Mestre Auth mantivesse um tom amigável comigo, aquele "Srta. Kiara" repetido várias vezes já deixava claro para mim.— Essa aprovação, eu não passei.O que ele queria dizer era evidente: gratidão é gratidão, mas a realidade é outra. A realidade era que eu vinha da família Mendes, uma família cheia de problemas e absolutamente incompatível com o status da família Auth. Ele não precisava dizer isso diretamente; eu já havia compreendido perfeitamente.— Sim, meu pai cometeu alguns erros nos negócios e acabou preso. Mas, recentemente, por questões de saúde, ele conseguiu a liberação para tratamento médico. — Respondi com honestidade, sem esconder nada. Afinal, não havia como esconder.Mestre Auth assentiu levemente com a c
— Vovô, o irmão mais velho só está assim porque... — Jean tentou argumentar novamente, mas eu rapidamente segurei sua mão e o interrompi, dizendo:— O vovô tem razão. Um homem deve priorizar sua carreira, especialmente sendo parte da família Auth. Não podemos deixar que relacionamentos pessoais atrapalhem questões importantes.Mestre Auth assentiu com satisfação.— A Srta. Kiara tem uma visão clara da realidade. Jean realmente fez uma boa escolha.Sorri amargamente por dentro. Essa “realidade” era algo que eu fui obrigada a aceitar.Porém, no fundo, eu não tinha pressa para me casar novamente. A atitude de Mestre Auth, de certa forma, tirava um peso das minhas costas. Para mim, isso era um alívio. Minhas palavras conseguiram aliviar o clima, tornando o ambiente mais tranquilo.Eu e Jean voltamos aos nossos lugares e nos sentamos. Nesse momento, uma pessoa entrou no pátio. Pelo traje e postura, parecia ser alguém que trabalhava diretamente para Mestre Auth.— Mestre Auth, Mestre Serra e
Naquela época, eu era a namorada de Davi, mas sempre fui ignorada por ele. Agora, vendo essa cena, parecia exatamente o mesmo cenário de anos atrás.Só não sabia se Emilia teria a mesma “sorte” que Clara e acabaria se tornando, de fato, a esposa do homem que ama.— Estou bem, obrigado pela preocupação, Srta. Emilia. E, claro, obrigado também pela roupa de ontem à noite. — Respondeu Jean, de forma educada e formal.Emilia deu um leve sorriso:— Jean, não precisa agradecer. Foi só uma roupa. Não tem importância.Assim que terminou de falar, ela desviou o olhar para mim. O sorriso, que antes parecia amigável, agora carregava um toque de provocação e desprezo, algo que só eu poderia perceber.Na noite anterior, eu tinha transferido trinta mil reais para ela como forma de retribuir o favor. No entanto, ela devolveu o dinheiro. Era evidente que, para ela, aquele gesto de ajuda era algo feito por Jean, não por mim. E, por isso, ela não via sentido em aceitar o dinheiro "de uma terceira pessoa
Os conflitos entre mulheres são, muitas vezes, difíceis de discernir quem está certo ou errado. Talvez por isso, mesmo alguém com tanta experiência como Mestre Auth preferiu não intervir, limitando-se a tomar seu café em silêncio.Jean virou a cabeça para me olhar. Seus olhos profundos brilhavam com um leve toque de diversão. Ao perceber isso, um desconforto inexplicável tomou conta de mim.— Está rindo de quê? Está feliz vendo eu e ela discutindo por sua causa?Se eu soubesse que a família Auth tinha qualquer ligação com Emilia, nunca teria aceitado ser namorada dele. Minha vida já era complicada o suficiente, e agora estava ainda mais bagunçada.Enquanto nós, os mais jovens, permanecíamos em silêncio, os dois senhores mudaram de assunto, aliviando o clima tenso.Pouco depois, meu celular tocou. Quando olhei, vi que era Lucas ligando. Devia ser algo relacionado ao trabalho, então levantei-me e me retirei para atender.Lucas queria discutir alguns detalhes sobre o desfile de moda, e a
Amélia estava andando de um lado para o outro na entrada e, ao nos ver, correu imediatamente até nós.— Essa Emilia é muito irritante. Ela sabe exatamente como agradar todo mundo. Dá muita raiva. — Amélia reclamou sem rodeios, como era de seu costume.Eu não consegui segurar o riso e lancei um olhar para Jean antes de responder:— Melhor você se acostumar. Quem sabe ela não vira sua cunhada no futuro?Antes que eu terminasse a frase, Jean já levantava a mão, com os dedos dobrados, pronto para dar mais um peteleco na minha testa. Mas, dessa vez, fui rápida e cobri minha cabeça com as mãos.— Não pode mais bater. Dói muito! — Protestei, me protegendo.— Então para de falar besteira! — Resmungou ele, com uma expressão de falsa irritação.Suspirei e respondi:— Só estou dizendo a verdade. Os mais velhos sempre gostam de pessoas com personalidades agradáveis e fáceis de lidar.Eu sabia que nunca seria assim. Como Eduarda já havia dito uma vez, eu tinha muitas qualidades, mas meu temperament
— Kiara! Por que você insiste em se comparar com o pior? — Gritou Isabela, irritada.— E o que você queria? Que eu me comparasse com o homem mais rico do mundo? — Retruquei, fria.— Você... — Isabela ficou sem palavras, claramente vencida pela conversa.Eu não podia ficar no banheiro por muito tempo, mas também não queria que ninguém ouvisse a ligação. Então, cortei a conversa de forma seca:— Eu já estou fazendo o máximo pagando pelo tratamento. Se continuarem me irritando, podem ir chorar no cemitério, porque eu não dou mais um centavo.Desliguei o celular e saí do banheiro, tentando manter a calma. Como esperado, Jean estava perto e logo veio perguntar:— Pelo tom da sua voz, parecia que a ligação não foi das melhores. Sua madrasta te incomodou de novo?— Sim, ela está reclamando das condições do hospital. — Respondi, decidindo não esconder nada dele. Mas, logo em seguida, acrescentei, com firmeza. — E você também não tem permissão para ajudá-los. Eu sei que, para você, resolver ess