— Vó, eu entendo o que a senhora quer dizer. Eu também me preocupo com isso, por isso ainda não aceitei ficar com ele.Enquanto eu respondia à minha avó, os conselhos de Jean ecoavam na minha mente.Ele me dizia para ser mais egoísta, para pensar mais em mim mesma, porque só assim eu poderia ser realmente feliz. Mas mudar minha personalidade era algo difícil demais.Na minha família, as pessoas ou eram extremamente sem escrúpulos, como Carlos, ou eram boas demais, como minha avó.Eu queria ser capaz de ignorar tudo, de aproveitar o que a vida tinha a oferecer agora, sem me preocupar com o futuro. Mas o medo de machucar alguém que me considerava preciosa demais me paralisava.Eu não suportaria viver com essa culpa pelo resto da vida.— Diferenças de classe trazem muitos obstáculos. Você já passou por isso uma vez e deveria entender melhor do que ninguém como o coração das pessoas pode ser imprevisível. — Minha avó não disse muito mais, mas eu compreendi cada palavra.O coração humano é
Eu admirava muito a competência de Lucas no trabalho, mas essa admiração se limitava ao profissional. Se algum sentimento pessoal criasse constrangimentos entre nós, isso seria um grande problema. Por isso, no fundo, eu torcia para que a intuição de Tatiana estivesse errada.— Como assim não pode se interessar por você? Você é incrível! Muitas pessoas na empresa te veem como um modelo. Além disso, Sr. Jean, aquele homem que parece um deus, não foi também atraído por você? Então, Sr. Lucas gostar de você é super normal.— Obrigada pelos elogios, mas, mesmo que você continue me bajulando, não vou te dar um aumento de bônus. — Respondi, desviando novamente do assunto e entregando os documentos assinados para ela. — Essa semana eu não vou à empresa. Sobre o desfile de moda, avise o Sr. Lucas. Quando o plano estiver definido, me envie por e-mail.— Pode deixar. Então, Kiara, se cuida. Até mais.— Até.Assim que Tatiana saiu, fiquei pensando no comportamento de Lucas comigo. Não conseguia en
Eu parei de sorrir:— Esse caminho foi você quem escolheu.Davi ficou em silêncio novamente. Depois de alguns segundos, sua voz soou completamente derrotada:— Tanto faz... Por mais que eu não me conforme, não consigo mudar o resultado... Você é muito mais cruel do que eu imaginava.Dessa vez, fui eu quem escolheu o silêncio. Não respondi. Ele é quem havia me machucado primeiro, quem havia me encurralado até eu não ter mais para onde ir. E agora ele tinha a coragem de me acusar de ser cruel?— Eu vou retirar o processo, e você aceita o acordo extrajudicial. Vamos encerrar isso assim. — Davi disse, em um tom de rendição, como um lutador derrotado que quer acabar logo com a luta.Mas eu senti um incômodo. Por que ele sempre tinha que ditar as regras? Por que eu tinha que aceitar o que ele decidia? Não. Não dessa vez.Com calma, respondi:— Não importa se você retira o processo ou não. Eu não vou aceitar o acordo extrajudicial. Davi, as pessoas precisam pagar pelos próprios erros. Caso co
Logo pela manhã, Jean me ligou:— Você tem certeza de que não quer que eu te leve? Sua perna ainda está incomodando para andar.Na noite anterior, eu havia contado sobre o julgamento para ele. Não queria que ele fosse até minha casa e não me encontrasse, acabando por me culpar por não avisá-lo antes.— Não precisa. Esse tipo de ocasião é melhor você evitar. Chamei umas amigas para me ajudar, elas vão comigo. — Respondi.— Tudo bem, fico esperando notícias suas.— Certo.Assim que desliguei, a campainha tocou. Era Bela e Tatiana, que haviam chegado. As duas trouxeram uma cadeira de rodas, dizendo que seria mais prático para me locomover. Era a primeira vez que eu sentava em uma cadeira de rodas e era empurrada por alguém. A sensação era curiosa, para dizer o mínimo.No entanto, o que eu jamais poderia imaginar era que Davi também apareceria no tribunal... em uma cadeira de rodas! Ele parecia realmente debilitado.Quando nos encontramos, a cena era tão absurda que eu quase ri da ironia.
Essas questões, na verdade, já haviam sido completamente esclarecidas durante a primeira audiência. Na época, até mesmo o "júri de familiares e amigos" testemunhou contra Davi, confirmando que ele realmente havia traído, e de forma tão escandalosa que se tornou motivo de chacota na cidade inteira.Eu simplesmente não conseguia entender como ele teve a coragem de, mais uma vez, apelar para a segunda instância, trazendo para o tribunal todos os detalhes sórdidos das coisas horríveis que ele já havia feito. Mas, pensando bem, para ele, o importante era lutar pela própria sobrevivência, prender o "banco de sangue ambulante" que ele enxergava em mim. Ele claramente não se importava com sua dignidade.Enquanto eu listava, uma por uma, as acusações contra Davi, ele me encarava do outro lado da mesa com um olhar fixo, cheio de contenção. Sua raiva estava prestes a explodir.Eu sabia que, se não estivéssemos no tribunal e se ele não estivesse tão debilitado, já teria se levantado para gritar co
Era um sentimento de melancolia que eu sentia por ele.O que me deu um pouco de satisfação, no entanto, foi ver a juíza, após proferir a sentença, dar um recado direto para Davi:— Réu, esta é a decisão final de segunda instância. Não cabe mais recurso.Davi imediatamente retrucou:— Eu vou solicitar uma revisão!Meu coração deu um salto. Ele havia perdido completamente o bom senso!— Solicitação indeferida. Esta decisão entra em vigor imediatamente. O julgamento está encerrado. — A juíza respondeu, cortante, sem dar espaço para discussão.— Eu não aceito isso! Quero apelar! — Davi gritou, sua expressão distorcida e tomada por uma raiva quase insana, como se estivesse sob algum tipo de maldição.Mas a juíza simplesmente o ignorou. Levantou-se, organizou os documentos e saiu do tribunal sem nem olhar para trás.Enquanto meu advogado empurrava minha cadeira de rodas para fora, passamos pelo lugar onde Davi estava. De repente, ele virou sua própria cadeira de rodas e segurou firme no apoi
Eu não respondei a perguntas hipotéticas. Elas não tinham sentido. Além disso, mesmo que não houvesse Jean, entre mim e Davi jamais existiria uma segunda chance.O advogado me empurrou para fora do tribunal, e Bela e Tatiana vieram ao meu encontro imediatamente.— Parabéns! Finalmente você se livrou dele de vez! — As duas já sabiam o resultado do julgamento e me felicitaram com entusiasmo.Dei um leve sorriso:— Vamos almoçar juntas. Podemos celebrar um pouco.— Com certeza! Vamos ao Bom Sabor. Já pedi para reservarem uma mesa. — Bela disse, animada.Convidei o advogado para se juntar a nós, mas ele recusou educadamente, dizendo que tinha muito trabalho a fazer, e se despediu.Nós três seguimos para a saída do tribunal. Assim que começamos a descer os degraus, ouvimos um tumulto na entrada. Quando olhei à frente, franzi o cenho.Os parentes da família Castro estavam lá, acompanhando Eduarda. Não sei quanto tempo esperaram na frente do tribunal, mas claramente estavam ali para me encont
Jean caminhou em passos firmes, sua postura impecável e o semblante sério, embora sem demonstrar emoções claras. Seu rosto, com traços fortes e marcantes, parecia indiferente, mas a profundidade serena de sua expressão era intimidadora o suficiente para silenciar qualquer um.— Sra. Eduarda, ainda não respondeu à minha pergunta. — Jean a encarou diretamente, sua voz calma, mas carregada de autoridade.Eduarda hesitou, sua boca se movendo sem emitir som por alguns segundos. Finalmente, forçou um sorriso nervoso e tentou mudar de assunto, apelando para uma conexão:— Jean, nós já nos conhecemos bem! Na última vez, no aniversário de sua mãe, a família Castro foi cumprimentá-la, e eu conversei bastante com ela. Sua mãe até comentou que...— Parece que a senhora anda ocupada demais para lembrar bem dos fatos, Sra. Eduarda. Porque, se não me falha a memória, naquele dia vocês, mãe e filha, não fizeram nada além de passar vergonha. Quando foi que “conversaram bastante” com minha mãe? — Jean c