Jean caminhou em passos firmes, sua postura impecável e o semblante sério, embora sem demonstrar emoções claras. Seu rosto, com traços fortes e marcantes, parecia indiferente, mas a profundidade serena de sua expressão era intimidadora o suficiente para silenciar qualquer um.— Sra. Eduarda, ainda não respondeu à minha pergunta. — Jean a encarou diretamente, sua voz calma, mas carregada de autoridade.Eduarda hesitou, sua boca se movendo sem emitir som por alguns segundos. Finalmente, forçou um sorriso nervoso e tentou mudar de assunto, apelando para uma conexão:— Jean, nós já nos conhecemos bem! Na última vez, no aniversário de sua mãe, a família Castro foi cumprimentá-la, e eu conversei bastante com ela. Sua mãe até comentou que...— Parece que a senhora anda ocupada demais para lembrar bem dos fatos, Sra. Eduarda. Porque, se não me falha a memória, naquele dia vocês, mãe e filha, não fizeram nada além de passar vergonha. Quando foi que “conversaram bastante” com minha mãe? — Jean c
Olhei para a mudança repentina de atitude de Eduarda e, imediatamente, me lembrei da última vez em que Davi ficou doente. Naquela ocasião, ela também havia me ligado, falando com humildade, cheia de palavras doces, implorando para que eu fosse ao hospital doar sangue para ele.Quando recusei, sua verdadeira face emergiu rapidamente. Ela começou a me insultar, cuspindo palavras venenosas e cruéis.Agora, enquanto ela implorava novamente, eu a encarei em silêncio por alguns segundos antes de abrir um sorriso leve e frio:— Por que eu deveria concordar? Toda a família Castro me tratou como uma idiota, mentindo e me manipulando. Quando precisam de mim, vêm com palavras gentis; se eu me recuso, me atacam como se eu fosse o problema. Vocês ainda não pagaram nem metade do que me devem.Jean, sem dizer nada, esperou eu terminar de falar e continuou empurrando minha cadeira de rodas para longe.— Kiara! — Eduarda gritou atrás de mim, sua voz cada vez mais desesperada. — Dessa vez é diferente! N
Meu rosto permaneceu inexpressivo enquanto eu observava a cena. Por dentro, meu coração estava frio como gelo. Essa forma de "pedido de desculpas" de Eduarda não tinha um pingo de sinceridade. Pelo contrário, era mais uma tentativa de me jogar em um buraco ainda mais fundo, transformando-me na vilã da história.Para qualquer pessoa que não conhecesse os fatos, poderia parecer que eu estava maltratando uma senhora indefesa, ao ponto de forçá-la a se ajoelhar publicamente para me pedir perdão.Olhei para Davi e disse, com um tom deliberadamente indiferente:— Não há necessidade de ajoelharem. Não há ódio ou vingança entre nós. Quem vai punir sua irmã é a lei, não eu.Depois de terminar, fiz um pequeno gesto com a mão, e Jean imediatamente começou a empurrar minha cadeira de rodas para longe.Eduarda tentou correr atrás de nós novamente, mas Davi a segurou com força, mantendo-a no lugar. Não me virei para ver o que estava acontecendo, mas ouvi claramente a voz de Davi, cheia de raiva e re
Minhas pernas já estavam um pouco mais fortes, então consegui me sentar no carro por conta própria. Quando Jean entrou pelo outro lado e se acomodou, virei-me para ele. Finalmente tive a chance de perguntar:— Por que você veio? Não combinamos que você não se envolveria nisso? Se as coisas saírem do controle, pode acabar atrapalhando você.Jean pediu ao motorista que nos levasse ao Bom Sabor antes de responder:— Eu saí para resolver algumas coisas pela manhã. Quando terminei, olhei as horas e imaginei que seu caso no tribunal já estaria quase no fim. Então decidi passar lá para ver como você estava e, quem sabe, almoçar com você. Mas, assim que cheguei, vi a família Castro cercando você, e sua perna ainda não está boa. Se houvesse algum conflito e você se machucasse novamente, seria ainda pior. Fiquei preocupado e desci do carro para intervir.Ah, então foi isso. Meu coração se aqueceu com sua explicação. Eu estava verdadeiramente grata por ele ter aparecido na hora certa, mas, ao mes
— Ah, entendi tudo! — Bela exclamou, como se tivesse tido uma epifania, ainda mais animada e curiosa. — Então, quem foi que deu o primeiro passo?Na mesma hora, lembrei do que Jean havia dito sobre eu ter ficado bêbada e, supostamente, aproveitado para beijá-lo naquela noite. Segundo ele, eu ainda tinha elogiado que os lábios dele eram macios. Só de lembrar disso, senti meu rosto esquentar. Fiquei tão nervosa que me virei imediatamente para Jean:— Nem pense em dizer nada! Esse assunto está encerrado!Jean, claro, não disse nada, mas o sorriso em seu rosto ficou ainda mais evidente, e seus olhos brilhavam com aquele charme irritante que só ele tinha.Bela, sendo a pessoa perspicaz que era, percebeu tudo em questão de segundos. Seu rosto se iluminou com uma expressão de puro entusiasmo.— Kiara! Você é inacreditável! Já chegaram nesse ponto e não me contou nada? Que tipo de amiga é você?— Não! Não é nada disso! Foi um mal-entendido, um acidente! — Tentei me justificar, mas era inútil.
Felizmente, Jean não continuou a me provocar. Em vez disso, ele desviou o assunto:— O que você está planejando para o Ano Novo? Amélia e alguns amigos organizaram um encontro para a contagem regressiva. Você quer ir e se divertir um pouco?Virei-me para ele, apenas para perceber que o Ano Novo era daqui a dois dias. O tempo realmente voava.— Ainda não pensei em nada. Tenho estado ocupada ultimamente e, por causa da minha perna, atrasei muito o trabalho. — Com minha recuperação avançando, eu já havia decidido voltar ao escritório no dia seguinte, e provavelmente teria que compensar o tempo perdido com várias horas extras.— É só a virada de ano. Podemos ir depois que você sair do trabalho. Não foi você quem sempre disse que, por mais ocupada que esteja, é importante equilibrar trabalho e descanso? — Ele insistiu, sua voz gentil, mas com um tom que claramente indicava que ele não aceitaria uma recusa facilmente.Ainda assim, tentei resistir, inventando outra desculpa:— Minha perna ain
Quando souberam que eu tinha machucado o joelho e estava com dificuldade de me locomover, decidiram, com pesar, adiar o convite para outra ocasião.Lucas também veio me visitar. Ele, ao perceber que eu já estava de repouso há quase uma semana e ainda caminhava com dificuldade, disse com um tom cheio de culpa:— Eu não devia ter insistido para você ir. Só queria que relaxasse um pouco, mas, no fim, acabei causando esse acidente.Lembrei-me do que Tatiana havia comentado comigo antes e decidi manter uma certa distância:— Sr. Lucas, não se culpe. Foi descuido meu, não teve nada a ver com você.Pensei comigo mesma: "Talvez seja o destino." Antes, eu tinha causado, indiretamente, aquela confusão que resultou em Isabela quebrando a cabeça dele e ele precisou levar pontos. Agora, foi ele quem, indiretamente, acabou me levando a me machucar e ficar com a perna ferida. De certa forma, estávamos quites.Mas, no fundo, eu sabia que a culpa era minha. Na ocasião, aceitei o convite para o evento d
Eu abri uma das mensagens e, para minha surpresa, o vídeo mostrava a cena em frente ao tribunal: Eduarda de joelhos diante de mim. Naquele instante, tudo fez sentido. Aquele alvoroço dos parentes da família Castro naquele dia só podia ter sido para gravar aquela cena e, assim, facilitar a difamação e as calúnias contra mim.Mas será que ninguém da família Castro tem um mínimo de bom senso? Eu tinha as provas dos crimes de Tânia em mãos. Meu plano inicial era apenas denunciá-la às autoridades e buscar ajuda legal, sem envolver redes sociais.Agora, com essa atitude absurda, eles realmente não têm medo de que eu reaja e acabe com todos eles? Eles nem se dão conta de que estão em desvantagem? Tânia já está com a reputação arruinada.Se as coisas sujas que ela fez forem expostas na internet, e ainda mais com o escândalo do abuso coletivo que ela mesma provocou, a velocidade de propagação nas mídias sociais acabaria com qualquer chance de recuperação. Ela seria massacrada online, sem saída.