Minha vida havia virado de cabeça para baixo em quatro dias. Cheguei ao Haras fugindo de um relacionamento destruído e acabei caindo de bandeja no colo de um homem atormentado e abandonado por uma moça que eu julgara que morrera pelas mãos de uma quadrilha. Ainda que não fosse uma quadrilha de roubo de órgãos humanos, ainda sim uma quadrilha que supostamente calara Marilia. O que exatamente ela havia descoberto? E por que me fizera crer que havia recebido seu coração? Fran pedira para que me afastasse, entretanto as coisas não eram tão simples assim. Sei que não devia, que estava sendo imprudente, mas já não podia mais controlar as batidas do coração toda vez que olhava para Nick. E não era carência. Algo naquela rudeza mexia comigo. Algo naquele olhar duro que algumas vezes tornava-se doce, como quando estava em seus braços,
Cheguei à Clínica pela segunda vez naquele dia e quase fora a última que a via. Encontrava-me furiosa, louca para confrontá-lo. Aquele cretino teria o que merecia assim que a polícia chegasse. Apertei o interfone ininterruptamente, até que o portão se abriu. Entrei correndo, dando de cara com a recepcionista, já pronta para sair.— Está de saída? — Pperguntei a ela, que me olhava espantada.— Estou. É meu horário de almoço.— Cadê o Alan?— Já foi faz uma meia hora. Por quê?— Tem alguém aqui? – perguntei pegando em seu braço.— O Caio ainda está lá dentro. Quer que eu vá chamá-lo?— Não! Não é preciso. Qual o seu nome? — Perguntei querendo me certificar de que ela
Eu me encontrava assustada e agradecida por ter sido salva por Nick e Alan. Deus sabe o que senti tendo Bia me segurando e Caio prestes a injetar um paralisante cardíaco em mim. Mas ainda não estava pronta para falar sobre isso e achava que Nick também não estava. Saber que Marilia havia sido morta e que ele fora manipulado por Bia durante todo aquele tempo deve ter mexido com seu brio. Talvez estivesse se recriminando, sobremaneira, por não ter acreditado que a noiva nunca o abandonaria por outro. O melhor a fazer no momento era dar tempo ao tempo. Quando ele estivesse pronto para se perdoar e deixar o passado, talvez pudéssemos ter uma conversa franca e honesta. Entrei na casa e fui direto para o quarto. Olhei no espelho e quase desmaiei ao ver o tamanho do estrago que aquela maldita fizera em meu rosto. Estava todo preto e inchado. Nem maquiagem daria para esconder aquilo. Corri ao banheiro, e dei
A moça ruiva parou em frente à recepção de um Hotel de Luxo em Salvador, alisando a saia do vestido e entrando confiante.— Bom dia. Vim por causa do anúncio — disse à recepcionista.— Só um momento. Vou chamar a encarregada do R. H.Ela esperava impaciente, olhando ao redor, vendo os hóspedes estrangeiros chegando com várias malas, outros na piscina e outros ainda no bar. Ela sorria confiante.— Pois não? — Perguntou a senhora de cabelos curtos e óculos de aro grosso.— Olá. A agência Delta me enviou para entrevista.— Sei. Venha comigo — levou-a até uma sala ao lado dos elevadores.— Então, que experiência você tem em administração?— Esse é meu currículo. Tenho uma vasta experiê
Deus ajuda a quem cedo madruga, é o que diz o dito popular, porém, gostaria de saber quem foi o referido autor do provérbio, pois acredito que o mesmo nunca teve que se levantar de madrugada, com ressaca, tendo o toque estridente do celular a despertá-lo para sair de viagem, a TRABALHO, em pleno feriado. Aconteceu comigo naquele dia específico e só contribuiu para me deixar ainda com mais raiva de mim mesma, por não ter conseguido dizer NÃO! Talvez, esse seja o meu grande problema até hoje, não conseguir dizer não. Mas tudo bem! Acho que, de certa forma, todos os fatos estranhos, pra não dizer assustadores, que me acometeram naquela cidadezinha estavam predestinados. Levantei trombando nos móveis. Caminhei até o banheiro para lavar o rosto em água fria e tomar um analgésico, antes de seguir viagem a uma cidade da qual nunca ouvira falar, simplesmente porque o cliente não podia vir à cidade grande. Meu querido chefe dizia
Obviamente, sabia que estava indo para uma cidadezinha minúscula, com apenas 6.977 habitantes, segundo o último censo de 2019, porém, não estava preparada para o que encontrei pela frente. O lugar era muito pitoresco, bucólico mesmo. Parecia que estava numa daquelas cidades que só vemos em filmes. Cercada por morros, que lhe conferia um charme todo especial, encontrava-me num lugar esquecido pelo tempo. A igreja católica da cidade, na praça central, era branca, tendo uma torre com um relógio à esquerda de quem a via da rua, cercada por jardins dos dois lados. Tudo era muito limpo e arrumado. Por um segundo, pensei que poderia viver ali para sempre. Livre de toda balbúrdia de São Paulo, tráfego, enchentes, caos, etc. Acreditei que conseguiria ser feliz ali. Parei no jardim em frente à Igreja para pedir informações:— Bo
Devo ser honesta e dizer que fui com a cara de Bia desde o começo. Com certeza teria nela uma aliada, principalmente para descobrir tudo sobre o tal do Nick e sobre a mulher misteriosa que estava atrás de sua herança. Quem sabe não acabaria descobrindo algo sobre a noiva que o abandonara?Não que estivesse interessada nele, mas informação é sempre informação, principalmente na minha área. Saímos da recepção e Bia me levou para uma construção de dois andares, pequena, porém charmosa.— Que casa linda, Bia! Vocês recebem hóspedes aqui no haras? — Perguntei curiosa.— Às vezes, quando é realmente necessário. Essa é a casa do Nick.— Eu vou ficar aqui? — Arregalei os olhos, horrorizada.— Hum-hum.— Mas, B
Corri os olhos pelos armários da pequena cozinha à procura de algo que pudesse transformar em uma refeição decente, já que a última vez que colocara alguma coisa no estômago fora no jantar, antes de tomar quase uma garrafa de vinho. Estava com o corpo inclinado dentro da geladeira, quando ouvi aquela voz encorpada e grossa, me assustando profundamente:— O que você está fazendo? — Perguntou, me deixando vermelha, como se tivesse sido pega fazendo algo de errado.— Estou procurando algo para comer. Bia disse que eu podia me virar em sua cozinha. — Senti-me desconfortável ao ficar de frente para aquele homem alto e forte.— Você veio direto de São Paulo para cá?— Sim. Confesso que estou morrendo de fome.— Tem pão no armário de cima, e frios nos pot
Quando cheguei à casa de Nick já estava escurecendo. Acendi as luzes e chamei por ele. Como não obtive resposta, resolvi tomar um banho bem demorado e depois, preparar algo para comer. Aquele lanchinho há muito se fora. Não que eu seja uma pessoa gulosa. Depois que terminei meu namoro com Artur, fiquei vários dias sem me alimentar direito, e foram minhas roupas que mais sentiram. Porém um mísero pão de forma com presunto e queijo, não é lá uma refeição que se preze. Precisava comer algo com mais substância. Enquanto vasculhava a cozinha a procura de arroz, Nick chegou:— O que está fazendo? — Perguntou, novamente, com aquela voz profunda.— Isso já está ficando embaraçoso! Estou tentando fazer o jantar. Posso? — Encarei-o ameaçadoramente, com uma panela na mão.