Não precisei procurar muito pela casa. Eu seguia o caminho como se soubesse exatamente aonde ir e, ao olhar para ela, uma sensação de tristeza me invadiu, quase me fazendo desistir de bater palmas. Meus olhos anuviaram ao me defrontar com o muro com grade baixa e o reboco com manchas negras que cobriam as paredes da casa. Havia tanta simplicidade na estrutura, entretanto, a vida vibrava pela porta aberta que sinalizava para uma rua calma e tranquila. Relutante, fui em frente. Uma garotinha me atendeu.
— Olá! Você mora aqui? — Perguntei à garota de aproximadamente uns dez anos.
— Minha avó mora. — Respondeu desconfiada.
— Ela está? Posso falar com ela?
— Vô chama a vó — esperei aflita, olhando para os lados, enquanto a menina desaparecia pela porta.
— O vô tá vind
Sabia que mais cedo ou mais tarde teria que enfrentar Nick. Deixei a fazenda intempestivamente. Sentia-me horrível, mas não gostaria de deixar que ele soubesse o quanto sua rejeição havia me afetado. Não queria que me achasse uma deslumbrada, uma carente e desesperada por afeto. Gostaria que me visse como uma mulher forte, livre, feliz e independente. Uma mulher que entendia e não sofria por uma romântica e única noite de paixão. Para ele poderia ter sido apenas sexo, mas para mim, foi um pouquinho mais. Cheguei até a acreditar que seu jeito de me tratar fosse medo de se envolver com outra pessoa.Protelando o máximo que podia, entrei em uma padaria no centro da cidade, em busca de uma boa xícara de café e de um pão na chapa. Estava faminta. Havia me esquecido de almoçar, com tantas coisas na cabeça. Fiquei ali por quase quar
Não tinha percebido que estava tão cansada, quase esgotada emocionalmente, até ter a ducha quente e forte batendo em minhas costas. Demorei no banho um pouco mais que o normal, mas precisava relaxar os músculos tensos e pôr o pensamento em ordem. O quebra-cabeça estava longe de estar completo. Com a ajuda de Fran, talvez começasse a tomar forma. Por enquanto uma peça aqui outra ali, cuja dificuldade era juntá-las. Alguém acabou com o negócio do Nick e a única certeza é que não foi Marília. Mas então, quem? O tal do amigo Tiago? Mas se fosse ele não teria dado um toque para Marilia, levando-a a tentar descobrir e se esbarrando com o tráfico. Qual a ligação que havia entre os negócios do Nick e o tráfico? Será que ela foi infeliz, estando na hora errada e
Minha vida havia virado de cabeça para baixo em quatro dias. Cheguei ao Haras fugindo de um relacionamento destruído e acabei caindo de bandeja no colo de um homem atormentado e abandonado por uma moça que eu julgara que morrera pelas mãos de uma quadrilha. Ainda que não fosse uma quadrilha de roubo de órgãos humanos, ainda sim uma quadrilha que supostamente calara Marilia. O que exatamente ela havia descoberto? E por que me fizera crer que havia recebido seu coração? Fran pedira para que me afastasse, entretanto as coisas não eram tão simples assim. Sei que não devia, que estava sendo imprudente, mas já não podia mais controlar as batidas do coração toda vez que olhava para Nick. E não era carência. Algo naquela rudeza mexia comigo. Algo naquele olhar duro que algumas vezes tornava-se doce, como quando estava em seus braços,
Cheguei à Clínica pela segunda vez naquele dia e quase fora a última que a via. Encontrava-me furiosa, louca para confrontá-lo. Aquele cretino teria o que merecia assim que a polícia chegasse. Apertei o interfone ininterruptamente, até que o portão se abriu. Entrei correndo, dando de cara com a recepcionista, já pronta para sair.— Está de saída? — Pperguntei a ela, que me olhava espantada.— Estou. É meu horário de almoço.— Cadê o Alan?— Já foi faz uma meia hora. Por quê?— Tem alguém aqui? – perguntei pegando em seu braço.— O Caio ainda está lá dentro. Quer que eu vá chamá-lo?— Não! Não é preciso. Qual o seu nome? — Perguntei querendo me certificar de que ela
Eu me encontrava assustada e agradecida por ter sido salva por Nick e Alan. Deus sabe o que senti tendo Bia me segurando e Caio prestes a injetar um paralisante cardíaco em mim. Mas ainda não estava pronta para falar sobre isso e achava que Nick também não estava. Saber que Marilia havia sido morta e que ele fora manipulado por Bia durante todo aquele tempo deve ter mexido com seu brio. Talvez estivesse se recriminando, sobremaneira, por não ter acreditado que a noiva nunca o abandonaria por outro. O melhor a fazer no momento era dar tempo ao tempo. Quando ele estivesse pronto para se perdoar e deixar o passado, talvez pudéssemos ter uma conversa franca e honesta. Entrei na casa e fui direto para o quarto. Olhei no espelho e quase desmaiei ao ver o tamanho do estrago que aquela maldita fizera em meu rosto. Estava todo preto e inchado. Nem maquiagem daria para esconder aquilo. Corri ao banheiro, e dei
A moça ruiva parou em frente à recepção de um Hotel de Luxo em Salvador, alisando a saia do vestido e entrando confiante.— Bom dia. Vim por causa do anúncio — disse à recepcionista.— Só um momento. Vou chamar a encarregada do R. H.Ela esperava impaciente, olhando ao redor, vendo os hóspedes estrangeiros chegando com várias malas, outros na piscina e outros ainda no bar. Ela sorria confiante.— Pois não? — Perguntou a senhora de cabelos curtos e óculos de aro grosso.— Olá. A agência Delta me enviou para entrevista.— Sei. Venha comigo — levou-a até uma sala ao lado dos elevadores.— Então, que experiência você tem em administração?— Esse é meu currículo. Tenho uma vasta experiê
Deus ajuda a quem cedo madruga, é o que diz o dito popular, porém, gostaria de saber quem foi o referido autor do provérbio, pois acredito que o mesmo nunca teve que se levantar de madrugada, com ressaca, tendo o toque estridente do celular a despertá-lo para sair de viagem, a TRABALHO, em pleno feriado. Aconteceu comigo naquele dia específico e só contribuiu para me deixar ainda com mais raiva de mim mesma, por não ter conseguido dizer NÃO! Talvez, esse seja o meu grande problema até hoje, não conseguir dizer não. Mas tudo bem! Acho que, de certa forma, todos os fatos estranhos, pra não dizer assustadores, que me acometeram naquela cidadezinha estavam predestinados. Levantei trombando nos móveis. Caminhei até o banheiro para lavar o rosto em água fria e tomar um analgésico, antes de seguir viagem a uma cidade da qual nunca ouvira falar, simplesmente porque o cliente não podia vir à cidade grande. Meu querido chefe dizia
Obviamente, sabia que estava indo para uma cidadezinha minúscula, com apenas 6.977 habitantes, segundo o último censo de 2019, porém, não estava preparada para o que encontrei pela frente. O lugar era muito pitoresco, bucólico mesmo. Parecia que estava numa daquelas cidades que só vemos em filmes. Cercada por morros, que lhe conferia um charme todo especial, encontrava-me num lugar esquecido pelo tempo. A igreja católica da cidade, na praça central, era branca, tendo uma torre com um relógio à esquerda de quem a via da rua, cercada por jardins dos dois lados. Tudo era muito limpo e arrumado. Por um segundo, pensei que poderia viver ali para sempre. Livre de toda balbúrdia de São Paulo, tráfego, enchentes, caos, etc. Acreditei que conseguiria ser feliz ali. Parei no jardim em frente à Igreja para pedir informações:— Bo