Ela não conseguiu ter uma noite de sono em paz, e a aquela altura, nem sequer fazia ideia de com quem a Sara Reese estava. Ela comeu bem? Ela foi bem cuidada durante sua dolorosa ausência? Não importava. Ela só conseguia sentir ódio por si mesma, e a dor da perda parecia deixar a mulher estonteante, completamente cega de tristeza. A porta bateu na sala, a deixando alarmada... Os olhos não estavam fundos, apesar do pouco descanso ou o fato de ter chorado a noite inteira. Ela saltou da cama, sem ao menos vestir-se para sair do quarto. E nem mesmo colocou um robe por cima da camisola sexy que vestira com a intenção de acalmar o marido, mesmo que em uma atividade que ela odiava fazer com ele.Aurora Beatrice Reese pisou os pés na sala da casa e paralisou ao ver sangue preso as botas daquele homem. A lágrima desceu pelo rosto sem pedir licença. Havia um claro desespero estampado no rosto delicado. As faces rosadas tornaram-se vermelhas de tanta dor que ela tentou, inutilmente guardar.
Ela andou pela prioridade sentindo aquele aperto no peito a sufocando com cada vez mais intensidade, enquanto o homem a seguia a distância, como se nem ao menos a conhecesse. Carmem Lúcia segurava a filha que ela deveria levar nos braços para o que seria o passeio entre mãe e filha. Mas ela não tinha o costume de fazer aquilo para não estragar as unhas recém feitas. Afinal, a criança nem mesmo era dela. E o que mais Sara Reese poderia querer se já tinha tudo na vida? Ela tirara a sorte grande ao ter entrado para a família Reese, onde possivelmente seria a única herdeira de uma fortuna incalculável deixada pela mãe e pelo pai que também não dava-lhe a mínima atenção. Mas ela tinha tudo que queria. As melhores bonecas, as melhores roupas, e joias. Joias demais para tornar alguém tão pequena na criatura mais soberba e vaidosa que já pisou por aquelas terras. Aurora Beatrice Reese olhou para trás como se tentasse provoca-lo, embora tentasse a todo custo que ele voltasse para ela, se
Aurora Beatrice parecia mais feliz, embora ainda sentisse aquele ciúmes a correr lentamente por dentro.O homem que a acompanhava como uma sombra, mantendo-se sempre a distância, podia sentir cada tentação do cheiro, da forma como ela o encava. Das torturas que todos aqueles dias tinham se tornado. Ela andou em direção ao quarto e fez questão de deixar a porta do banheiro aberta quando ele a seguiu até o quarto, como o marido havia mandado que ele fizesse. Tomas sentiu um súbito medo de que fosse flagrado se entrasse ali com ela, embora fosse a sua maior vontade. A esposa dormindo no quarto ao lado não o permitiu abandonar os escrúpulos o suficiente para fazer aquilo. Não enquanto ela cuidava tão bem de uma criança que nem mesmo era dela. Toda vez que ele pensava que a menina era do Santorini, todo o seu ódio crescia. O amor parecia desaparecer ao afogar-se em um mar de magoas e ressentimentos que jamais poderiam ser superados. E ele sabia que aquela era só mais uma das maiores
Aurora Beatrice Reese levantou-se pela manhã, sentindo o coração doer. Fazia algum tempo desde que vivia naquela situação, e sentia-se cada vez mais infeliz. Ela abriu a porta do quarto e encarou o homem parado, esperando que ela acordasse, mas ainda sem dizer-lhe uma única palavra.Foram tantas vezes que ela o havia tentando. Foram tantos momentos em que chorara e desabafara com ele todos os seus pesares e pesadelos, mas ele ainda parecia não se importar o suficiente para consola-la. Aurora encarou o rosto serio como o de um jagunço e passou direto por ele. – Bom dia! – Foi tudo que ela disse, sentindo-se amargurar a alma a cada dia que passava, com mais maldade. Sara Reese a encontrou no corredor. – Mamãe, nós podemos... – Não! Você tem as suas aulas, querida. Não pode sair de casa hoje. – Mas eu pensei que... – Pensou errado! Você não pode. – Eu vou pedir ao papai. – E então, a menina mal criada virou-se de encontro ao homem que a mimava comprou a princesa mais precios
Ela esperou do lado de fora daquele quarto durante todo o tempo em que o médico esteve com a senhora Carmem. Havia uma clara hesitação no olhar, e naquele ponto, a mulher passara a roer as próprias unhas também. Aurora Beatrice Reese viu-se entre a cruz e a espada quando o coração conflituoso dividiu-se em culpa e rancor. Ela era mesmo a culpada por aquilo? Ela merecia tanto sofrimento? A mulher sabia que não. Mas e quanto a Carmem Lúcia? Ela também não merecia nada daquilo. Aquela mulher queria apenas ser mãe. A porta se abriu, e ela rapidamente ajeitou a postura. A mulher secou as lágrimas e tomou coragem para enfrentar o casal que provavelmente estava bravo. Ela esperou que o medico idoso saísse do quarto, carregado pela mesma carranca que sempre teve, desde que frequentara a mansão dos Beatrice pela primeira vez. – Bom dia, senhora. Está tudo ajeitado. Acertarei mais tarde com o seu marido. – Oh, não. Não se preocupe. Eu tenho tudo aqui. – Tem certeza? Não quero tirar-
Aurora Beatrice Reese tentou afastar-se o quanto pode, andando para longe daquele homem, mas ele ainda representava a figura dos seus sonhos e dos piores pesadelos. Ele a acompanhou lentamente como uma sombra que nunca a deixaria sozinha. Ela soube que nunca estaria em paz. Rapidamente, ela olhou para trás e fitou o rosto de traços marcantes e feição rígida como uma rocha, mas ainda havia bondade nele, especialmente os olhos. A mulher andou mais rápido, em uma tentativa de fuga que sabia que nunca daria certo. Ainda assim, ela precisava tentar. E ela passou a correr rápido e muito mais devagar que ele, torcendo mentalmente para que ele desistisse de alcança-la. Naquela altura, o coração da jovem doía como a própria morte, e ela olhou para trás apenas para notar o quanto estava longe de casa. Ela estava longe de tudo. Naquele instante pareceu ter apenas os dois no mundo, num cenário pós apocalíptico. O problema é que ela não o queria mais. Ela não queria estar com ele ali. Ela
Ela parecia incrédula enquanto o encarava ali, no meio do bosque, aonde somente a grama alta se mexia sobre as pernas do casal que parecia petrificar-se cada vez mais a medida em que o tempo passava. Ela o encarou e viu os olhos sinceros. As mãos calejadas finalmente ergueram-se em direção ao rosto delicado e ela sentiu a aspereza do trabalho duro que ele passara a vida a realizar. Aquilo não a incomodou. Na verdade, Aurora Beatrice Reese se agradava daquela sensação estranha e diferente de qualquer outro homem que já ousou toca-la apesar das dificuldades. – Eu sinto muito, Tom. Eu não posso. – Eu não acredito em você. – O homem ainda manteve as mãos a toca-la como se aquilo fosse o que mais almejasse durante tanto tempo. – Eu sei que fugir comigo é o que você mais quer na vida. – Eu não quero mais isso. Eu não vou magoar outra mulher. Eu posso imaginar o que a Carmem sentiria. Ele parecia irritado. – Esta cheia de moralismos agora! Por que não pensou nisso quando ficou nua
– Você está melhor agora? – Aurora perguntou, segurando-a pela mão esquerda. Carmem Lúcia ainda tremia, embora estivesse um pouco mais forte a aquela altura. Os olhos tempestuosos transmitiam tanta tristeza quanto desconfiança de que quando o dono da casa chegasse, certamente a expulsaria daquele quarto. – Eu estou bem, mas não sei como superar isso. – Por que não pergunta para a sua amiga como se faz? – Como assim? – Carmem tentou parecer desentendida, embora ela temesse que o marido soubesse a aquela altura. Como ela poderia explicar-lhe todas as crueldades que fizera dentro daquele manicômio, torturando mulheres que nem mesmo eram verdadeiramente loucas? Como ela o diria que acobertou abusos e que roubou o bebe de uma mulher que acabara morrendo em uma greve de fome infindável? – Eu não sei... Por que você não me diz? – Ele está falando sobre uma amiga. Eu comentei com ele que uma conhecida acabou perdendo o bebê. – Ela o encarou com severidade, torcendo para que aque