– Você está melhor agora? – Aurora perguntou, segurando-a pela mão esquerda. Carmem Lúcia ainda tremia, embora estivesse um pouco mais forte a aquela altura. Os olhos tempestuosos transmitiam tanta tristeza quanto desconfiança de que quando o dono da casa chegasse, certamente a expulsaria daquele quarto. – Eu estou bem, mas não sei como superar isso. – Por que não pergunta para a sua amiga como se faz? – Como assim? – Carmem tentou parecer desentendida, embora ela temesse que o marido soubesse a aquela altura. Como ela poderia explicar-lhe todas as crueldades que fizera dentro daquele manicômio, torturando mulheres que nem mesmo eram verdadeiramente loucas? Como ela o diria que acobertou abusos e que roubou o bebe de uma mulher que acabara morrendo em uma greve de fome infindável? – Eu não sei... Por que você não me diz? – Ele está falando sobre uma amiga. Eu comentei com ele que uma conhecida acabou perdendo o bebê. – Ela o encarou com severidade, torcendo para que aque
Ela levantou-se na manhã seguinte, sentindo o corpo dolorido, embora o Amiro não tenha sido bruto a maior parte do tempo, depois que ela passou a ceder-lhe os desejos. O coração doía mais que o objeto de prazer entre as pernas, e ela ainda tinha o característico cheiro de sexo pela manhã, depois que ele a usou durante toda a noites e uma parte da madrugada em que acordou sentindo-se entediado. Aquele homem estava mesmo obstinado a engravida-la do menino tão desejado. O herdeiro dos Reese. Ele nunca pensara que chegaria tão longe ao ter o primeiro filho, e tampouco, que ter uma filha pareceria mais uma derrota quando ele estivesse próximo aos amigos que ostentavam herdeiros vigorosos e másculos como os pais. Era como uma ofensa a si próprio não ter o pequeno garanhão na família. Aurora Beatrice tomou um longo banho, apenas para abrir a porta e deparar-se com o Tom, prostrado como uma estatua de metal. Ele esteve ali a noite toda? Ele os ouviu? E se sim, por que não podia ajuda-la
– O que você está fazendo? – Ela esgueirou-se cada vez mais, tentando lentamente dar passos para trás. A parede pareceu mais dura que o normal quando ela a sentiu gelada, ao encostar-se sem querer. Aurora Beatrice soltou um leve gemido de medo e temor de que o marido pudesse voltar. Ele por certo acabaria chegando no pior momento e a flagraria. E se ele a matasse naquele momento? – Eu vou provar que você está errada. – Tom, a sua mulher está lá em cima agora. Ela esta descansando e... – E ela não consegue ter um filho meu... – Então é por isso? Você me quer por que está infeliz no seu casamento? – Eu te quero por que eu te amo. Eu te quero por que você é linda... Eu te quero por que você sempre foi o meu sonho, Aurora Beatrice. – Reese. Aurora Beatrice Reese. – Esqueça aquele nome maldito. Você não é uma Reese. Você sempre foi e sempre vai ser minha. – Eu me casei com o Amiro. Ele é o meu marido agora. – Você não o ama. Você não o quer como me quer. – Você não te
Ele disse, para logo depois levantar-se do sofá a segurando pela cintura, ainda encaixada a ele. O homem a colocou suavemente na cama, e cada movimento parecia mais erótico que o normal, como se realmente fosse a primeira vez. Foi o único momento em que ela sentiu-se realmente nervosa, como se não soubesse o que fazer ou como agir, embora fosse tão natural. Ela riu, estranhando o próprio sentimento. – É tão estranho... Ele sorriu de volta, da forma mais gentil que poderia, embora temesse que ela desistisse de tudo e que o dissesse que não o amava mais como antes. – O que? – Eu estou nervosa. É como se essa fosse a minha primeira vez. – É a nossa primeira vez, amor. É a sua.Ela estava sem jeito ao corrigi-lo, mas não queria mentir para si mesma. Ela sabia bem que tivera homens demais para pensar em uma hipótese como aquelas. Nem mesmo o tempo poderia corrigir todos os erros que cometera desde tão nova e cheia de ambição. – Nós dois sabemos que isso não é verdade. Eu j
Tudo parecia normal, exceto pelas risadas ocultadas e os olhares trocados do casal que se amava a distância. Carmem Lúcia parecia bem ao descansar em casa, mas logo ela estaria de volta. Enquanto isso, o casal apaixonado aproveitava as tardes mais intensas que já tiveram o prazer de viver. Ela almoçava na mesa, junto ao marido, enquanto a funcionária os servia. Ela ainda trocava sutis olhares com o homem que mantinha um sorriso de vitória e satisfação ocultado nos lábios finos e perfeitos. Eles ainda planejavam fugir para viver o amor que tanto mereciam, mas tudo parecia os impedir. O salário estava atrasado, a mulher em casa que nunca parecia superara a morte de mais um filho, o marido que a cuidava cada vez mais, como se a estivesse cercando. Amiro Reese parecia saber das intenções da esposa desde que ela se recusou a entregar-se para ele outra vez. Era como se cada recusa o deixasse mais irritado, como se ele soubesse que por trás havia outra explicação. E enquanto ela esta
Dois dias se passaram desde que a empregada finalmente revelou tudo que sabia para a senhora Reese. Ela agora, estava tão cheia de roupas e joias quando de orgulho. Não havia um único centavo no bolso. A Aurora Beatrice Reese realmente não o tinha. Um médico nunca chegou até ela, para contar-lhe se realmente esperava ou não por um bebe, e aquilo a deixava completamente apreensiva, mas não mais que o Amiro Reese. Sua mulher estava mesmo esperando um bebê ou havia outro problema? Ele tinha certeza que a queria, mas ainda precisava do filho homem. Ele precisava de um herdeiro para agradar a família Beatrice ou não conseguiria colocar as mãos em tanta fortuna. Ele precisava provar que era um homem de verdade. Precisava provar que era melhor que o senhor Santorini. Havia um boato que ele não queria acreditar. Grande parte da cidade estava comentando como a empregada da casa foi coberta por ouro e joias. “ O senhor Reese estava dormindo com a empregada?” era o assunto mais comentado. M
O cavalo parou em frente a casa. O homem pulou dali com dificuldade pela primeira vez na vida. Ele não bateu na porta quando entrou. A arma ainda estava na mão como um alerta do massacre que provavelmente acabaria por causar se flagrasse aquele homem ali...A mulher parada em frente a pia gritou assustada no momento em que o viu parado, a observando de uma maneira tão estranha. Os olhos desceram em direção as mãos tremulas e ela pode ver o momento em que ele ergueu a arma em direção a ela. Mas ele ainda desviou. Ele precisava apenas coçar os miolos confusos. Carmem Lúcia tomou a grande coragem que tinha depois de lidar com tantos loucos que por muitas vezes a ameaçaram de formas piores que aquela. – O senhor precisava de alguma coisa, senhor Reese? – O seu marido. Ela ergueu a sobrancelha, sentindo-se confusa. – O meu marido está na sua casa. O senhor sabe disso. Ele quase nunca esta em casa. Ele a encarou com um olhar enviesado de ódio. – Eu sei! – Ele afirmou. Ela sentiu-
Aurora Beatrice Reese arrumou as malas e saiu de casa durante a madrugada fria. Ela sentiu os pulmões doerem violentamente, enquanto a neblina a atingia com velocidade cortante. Ela não parou. Os pés estavam praticamente congelados nos sapatos simples que trocara com uma das mulheres que trabalhava para ela. A estrada estava mais próxima quando ela avistou um dos cavalos. Os passos rápidos passaram direto por ela, por mais que a senhora Reese gritasse desesperadamente. O rosto do Tomas estava completamente impassível e ele nem mesmo a olhou. Aquele homem parecia catatônico como se não a amasse mais. – Ele não me viu. Só pode ser isso! – Ela afirmou para si mesma, tomando forças suficientes para jogar a mala nos ombros até o lugar mais longe que poderia ir. Ela estava tão cansada quando finalmente chegou a estação de trem. Tudo estava parado. As pessoas nem mesmo haviam acordado ainda, mas o homem da vida dela deveria estar ali, a esperando para fugir rumo a vida nova que tanto