E-Espere, ele está morto? Merda, essa não era minha intenção. Devo ter exagerado um pouco na potência do feitiço. Argh!
Sou expulso dos meus próprios pensamentos quando de repente, sinto um forte golpe no meu estômago! Sendo forte o suficiente para me fazer cambalear e cair sentado no chão. Além disso, logo sinto um forte soco em meu rosto, fazendo-me cuspir um pouco de sangue. Além de sentir a ponta de uma lâmina encostado em meu pescoço, e diversos gritos no dialeto de Shiymorán que certamente devem ser ameaças.
— Puff! — o ahito resmunga. — Garotos, apenas acabem logo com isso — O escuto dizer.
E antes mesmo que aqueles homens me matassem, os quatro animais obedeceram a ordem e atacaram os dois rapazes ferozmente, rasgando suas carnes e os devorando ainda vivos! Deixando-os da mesma maneira que sua vítima anterior. Por alguns segundos, fico com receio que eu também fosse um alvo, mas eles parecem só me ignorar, o que me deixa mais aliviado.
— Bom... — me levanto. — Acho que eu deveria agradecer?
— Por que? Irá morrer de qualquer forma.
— Como? — Isso é uma ameaça?
— Você furtou esses instrumentos valiosos do templo de kesshō, e certamente os monges já perceberam o desaparecimento deles. E para a sua informação, as pessoas da capital não são muito fãs de estrangeiros, então certamente você será a primeira suspeita, isso se eles não viram seu rosto. — Ele explica com uma voz séria: — E como você não terá nada para provar inocência, e nem um lugar seguro onde possa esconder seu furto para disfarçar, a monarca do país provavelmente irá condena-lo, e a primeira no comado do exército shiymoriano certamente vai querer executa-lo. AH! — Ele parece se lembrar de algo a mais: — E não posso esquecer que esses homens serão dados como desaparecidos, e é capaz de você ser acusado por fazer isso também. O que de certa forma, é verdade já que matou um deles.
— Então, o que eu vou fazer?! — coloco as duas mãos na cabeça tentando pensar em algo.
— O mais sensato a fazer, além de devolver tudo; seria evitar as aldeias ou sair de Shiymorán — O yarén fala aquilo com um conselho.
Sair de Shiymorán? Mas eu acabei de chegar. E não tem como eu evitar as aldeias, afinal, iria dormir aonde?
— Você não pode me ajudar? — Peço.
Eu realmente estou pedindo ajuda para um garoto que acaba de matar dois caras na minha frente? Bom, apesar que ele não me considerar inimigo. Além de que, situações desesperadas pedem medidas pensadas.
— Por que eu faria isso?
— Por que ajudei você com esses caras, mesmo que tenha me dedurado! — argumento.
— E tenho quase certeza que evitei que eles te matassem, não é? Contudo, acho que estamos quites — O garoto refuta.
— Por favor — suspiro. — Ah, estou tão lascado.
— Afe — o menino bufou. — Vou ser bondoso com você, estrangeiro. Acredito que não vai ter problema você pousar em minha casa por enquanto — ele sugere. — E acredito que consigo limpar a sua barra com a monarca, contanto que você devolva os itens.
Ter que devolver os itens? Bom... Acho que é justo. Irei procurar um templo vazio na próxima vez.
— Tudo bem, eu acho. — Acabo concordando. — No entanto, deixa eu perguntar; você acabou de me convidar pra ficar na sua casa?! Um estranho que você conheceu ontem?!
— Não me preocupo — o garoto dá de ombros. — Aliás, depois do que você viu hoje e ontem, não vai ser idiota de fazer qualquer bobagem — ele sorri.
— Você sabia que eu estava lá?
— Como eu havia dito, seu cheiro te entrega, então sim. Eu sabia que você estava vendo tudo e, se você estiver se perguntando por que não te matei... Só senti que não deveria, nem teria motivo pra isso — ele dá de ombros. — Não precisa se preocupar.
— Então você teve um motivo para matar aquele homem?
— Sim. — Ele balança a cabeça positivamente. — Mas você certamente não entenderia e não importa agora.
— Okay? ... Só tenho uma última pergunta, na verdade duas — comento. — Primeiro, qual seu nome? E segundo, você pode não se preocupar, mas sua tribo iria aceitar um estranho como eu lá?
Quando fiz essas perguntas, o jovem não respondeu, o que fez um silêncio um pouco constrangedor surgir entre nós. Ele apenas abaixa a cabeça e as orelhas, ficando assim por alguns segundos. Foi… algo que falei?
— Quem disse que eu tenho uma tribo? — seu tom de voz é sério, e ele ainda está de cabeça baixa.
— Ah… ninguém! Eu só deduzi, já que nos livros que tem na minha cidade falavam que os yarén viviam em tribos, aldeias próprias etc… — explico.
— Bom, acho que não sou como os outros — ele levanta seu olhar. — Eu não tenho uma tribo.
— Mas lobos naturalmente não vivem em… — Ele me interrompe:
— Isso não é um assunto da sua conta. — Ele fala de forma séria, em seguida respira fundo, voltando a falar de uma forma calma. — E quanto ao meu nome, me chamo Jack.
— Caleb Ducan — me apresento. — Prazer em te conhecer, eu acho.
Jack apenas dá um sorriso sem graça antes de dar as costas, começando a ir embora. Eu volto a segui-lo. Quando percebo, vejo que ele me levou novamente ao templo no qual roubei, dizendo que eu deveria devolver os itens naquele exato momento, caso contrário não me ajudaria.
Acabo fazendo o que o híbrido disse, afinal, tínhamos feito um acordo, de certa forma. E no final, consigo devolver tudo com sucesso, sem que ninguém visse nada. Portanto, me reencontro com o yarén, voltando a segui-lo, fazendo mais alguns minutos de caminhada onde chegamos a uma grande casa no meio da floresta. Talvez pudesse ser até comparada a uma mansão! Ele mora sozinho numa casa grande assim? Não deve ser solitário demais?
A casa, assim como os demais locais deste país, é fundida com as árvores em sua volta, e seu interior é decorado com objetos rústicos e que parecem ser chiques. Seja como for, este ahito deve ter bastante dinheiro.
Confesso que estou muito curioso, e com muitas dúvidas, mas um lado meu prefere guardar essas questões pra mim mesmo para evitar um atrito com a única pessoa que, por algum motivo, está me ajudando! E para evitar ser morto, principalmente. No entanto, outro lado meu quer resolver essas dúvidas e curiosidades; por mais que não seja da minha conta, eu gostaria de respostas. Mas acho que ainda irei buscar respostas sobre sua tribo, e não posso esquecer de procurar mais sobre essa tal valquíria.
/Caleb’s POV/ Eu fiquei alguns dias na região da capital de Shiymorán, um total de uma semana, e em cada dia tentei explorar ao máximo cada lugar da floresta, na tentativa de encontrar outros templos com coisas valiosas. Afinal, eu vim aqui para isso. Porém, infelizmente acabei por nãoos encontrar. Quer dizer, eu encontrei diversos templos e palácios, mas nenhum que estivesse ou pelo menos aparentasse estar abandonado. Em todos os que avistei havia monges, entre outras pessoas ricas, que pareciam habitá-los. Claro que ainda foi um pouco tentador tentar invadi-los, mas eu não sou um ladrão. Mas, por outro lado, apesar de não conseguir nada valioso, eu pelo menos consegui avistar criaturas que nunca pensei em ver, como ossnapits, que são uma espécie de lagarto gigante da região. Eles são seres carnívoros e até ferozes quando se trata de suas presas, mas por algum motivo são dóceis com seres humanos.
Enquanto Leyla vai se preparar, eu fico a esperando em uma praça que ficava na região de classe alta do reino. Acabo por ficar ali algumas horas, até que eu a vejo se aproximando novamente. Dessa vez ela não está mais com seu vestido chique; ela usa algo mais casual e despojado e carrega uma mochila nas costas — Podemos ir? — questionei.Eu já estava impaciente de tanto esperar. — Necessito resolver algo antes — ela me responde — Vamos, por aqui. Eu a sigo até a saída da praça, entrando num território de mansões que ficava próximo ao palácio da família real. De repente, a garota simplesmente entra em uma casa nobre, indo a uns dos saguões da mansão onde ela se aproxima de uma garota que está sentada em uma poltrona lendo um livro, completamente encapuzada, o que me impediu de ver o seu rosto. Quem é ela? E por que dela estar desse jeito? — Não me digas que tu vais viajar com esse ruivinho de novo? — a menina resmunga. —
/Leyla'sPOV/ Fazíamos o caminho de volta para a residência do garoto ahito, Jack. Devo confessar que me sinto, e estou, afadigada. Quero dizer, já estava um pouco cansada antes, desde que chegamos aqui emShiymorán. Afinal, foi uma viagem deveras fadigosa. Mas eu estivera tão animada de estar em um ambiente diferente, que não me importei. Não que não esteja feliz agora, porém o cansaço está vencendo-me. — Está muito longe? — inquiro. — Não — Jack me responde — Por quê? — Por nada — dou um longo suspiro. Permanecemos andando pelo que acredito que foram três minutos, e era como se minhas pernas fossem quebrar a qualquer instante. Definitivamente, não estou tão acostumada a andar longas distâncias. Com isso, finalmente me pronunciei: — Ah, necessito descansar, nem que seja um pouco — resmunguei — Deveria ter vindo com sapatos mais confortáveis, — aproximo-me de uma
/Leyla’s POV/ Não pude ter o deleite de ficar em Shiymorán por muito mais tempo. Já havia ficado no país por três dias, que, em minha opinião, passaram muito rápido. Tinha que voltar a Allanor, ou meus pais, ou qualquer pessoa, poderia suspeitar de algo. Portanto, cá estava eu de volta a este reino, que me parece mais uma prisão. De qualquer forma, não me apetece deslembrar-me de Shiymorán. Muito pelo contrário, até combinei com o Caleb de que irei retornar logo mais. — Leyla — uma voz amigável e familiar soou atrás de mim. — Por onde estiveste? Virei-me para trás pra ver quem me chamava. Foi quando me deparei com uma garota jovem e alta, que possuía cabelos longos e negros e olhos azuis. Suas vestes eram chiques e elegantes, típico das pessoas ricas de Allanor. Seu nome era Eri, da família Scarpellini. Assim como eu, Eri também pertencia a uma família rica e muito influente neste reino, além do fato de também possuir magia. — Estive a tua pro
Após a resposta seca da garota de capuz, um pequeno silêncio ficou entre nós por alguns segundos, deixando o clima meio desconfortável até que o ruivo o encerrou com um resmungo: — Puff, tudo bem. Vou dar um jeito — ele deu as costas. — Vamos logo. Por alguns minutos não perdemos a embarcação, e o explorador arranjou um modo de a garota Yonara viajar conosco. Afe, francamente, espero que ela não interrompa nossos planos. *** Depois de uma longa e até mesmo cansativa viagem, chegamos às encostas oeste do continente. Era mais ou menos meio-dia e estávamos com muita fome, portanto nos alimentamos em uma das barracas de comida que havia por ali no litoral. Apesar de boa parte dos nomes dos pratos estarem escritos com o dialeto de Shiymorán, também havia muitos com nosso idioma, e foram esses que escolhemos. <
Ela nos lança um olhar sério e um tanto intimidador, até que paira seus olhos em Caleb, fazendo uma leve expressão zangada. — Foi você! — a valquíria diz, ainda o encarando. — Esse garoto mortal invadiu meu palácio, e ainda tentou roubar minha espada — a valquíria expressa grande ira em sua voz. — Esse mortal merece uma punição. Que será… a morte! Rapidamente, a valquíria retira sua espada da bainha empunhando-a e fazendo um movimento rápido e poderoso, enquanto avança para cima do jovem explorador na menção de executar um golpe mortal! — Sarah, espere! — antes que fosse tarde demais, Jack se posiciona a frente do ruivo, ficando entre eles. Por sorte, a guerreira interrompe sua ação a tempo, antes de atingir o yarén, deixando a espada a pequenos centímetros de seu pescoço. — Saia da minha frente, garoto! — ordena a valquíria, porém Jack não move um músculo. — Por que está defendendo esse mero humano? <
/Jack's POV/ Já havia completado um dia desde que Ducan retornou a Shiymorán junto com alguns amigos. Eu não me importei quanto a isso, não sei se ligo mais, mas o problema é que desta vez eles trouxeram uma mestiça com eles, e isso sim me incomodou! Passaram dos limites! Quer dizer… aquela garota tem sangue demoníaco, como alguém conseguiria ficar tranquilo perto dela? O pior é que ela não fazia menção de ir embora tão cedo. Por sorte, a rainha Kyoumi e a primeira no comando do exército de Shiymorán, Sawa, deram a ideia de mostrar os pontos turísticos da capital, além dos costumes básicos dos humanos do país para que erros como “invadir um monastério sagrado” não se repitam. Obviamente Kyoumi e Sawa são pessoas muito ocupadas, então essa função foi passada para alguns de seus empregados. De qualquer forma, pelo menos ficarei um dia inteiro sem sentir aquela aura sombria da Yonara me atormentando. Não que eu tenha algo c
— Talvez isso deva até explicar o porquê de morares sozinho e longe dos teus pais e da própria tribo. Eu até poderia supor… — Ela faz uma expressão pensativa, voltando a falar com um tom sarcástico e debochado logo em seguida: — Julgando pelo tamanho da casa em que vive, deves ser de uma família rica de yarén, e certamente deves ter roubado uma porcentagem deste dinheiro para moldar a casa. Contudo, apenas fugiu para capital, longe da própria família e tribo! De onde ela tirou essas conclusões idiotas? I-Isso não faz menor sentido! E por que ela está falando isso, e desse jeito? Quero dizer, eu realmente posso não ter tentado ser amigável com ela quanto para os outros, mas por quê? Grr! — Eu sugiro a você que não fale de coisas das quais não tem conhecimento — respondo de forma seca. — Quer saber por que eu moro sozinho e não com meus pais? É porque eu não os tenho! E também não possui uma tribo — Olho para o rosto da garota, observando uma expressão de choque e, por incrível que pa