/Leyla's POV/
Fazíamos o caminho de volta para a residência do garoto ahito, Jack. Devo confessar que me sinto, e estou, afadigada. Quero dizer, já estava um pouco cansada antes, desde que chegamos aqui em Shiymorán. Afinal, foi uma viagem deveras fadigosa. Mas eu estivera tão animada de estar em um ambiente diferente, que não me importei. Não que não esteja feliz agora, porém o cansaço está vencendo-me.
— Está muito longe? — inquiro.
— Não — Jack me responde — Por quê?
— Por nada — dou um longo suspiro.
Permanecemos andando pelo que acredito que foram três minutos, e era como se minhas pernas fossem quebrar a qualquer instante. Definitivamente, não estou tão acostumada a andar longas distâncias. Com isso, finalmente me pronunciei:
— Ah, necessito descansar, nem que seja um pouco — resmunguei — Deveria ter vindo com sapatos mais confortáveis, — aproximo-me de uma grande rocha para me sentar.
— Eu não sentaria aí, se fosse você — escuto Jack falar.
— Por qual razão? — indago. Todavia, minha pergunta foi respondida, no momento em que a grande rocha começou a estremecer.
— Por que isso é um nokamel’s e não uma cadeira. Eles não gostam que sentem neles.
Por que raios ele não me contou isso antes?!
Levanto-me imediatamente, voltando para junto de Caleb e do yarén, vendo o grande golem se levantar e observando o quão gigante a criatura era.
— Eu cuido disso!
O garoto ruivo usa o poder de sua manopla, liberando um raio de energia que atinge o golem. Entretanto, não parece ter causado efeito algum, como se nem cócegas tivesse feito.
— Você é um burro?! — Jack exclama batendo na própria testa — Esses seres são totalmente pacíficos, a não ser que você os ataque.
— E o que faremos agora? — questiono.
— Corremos — o garoto-lobo dá de ombros, e sai correndo na frente, em alta velocidade.
A criatura fez menção de desferir um poderoso golpe com seu braço. Porém antes que ela o fizesse, Caleb e eu saímos correndo logo atrás de Jack. Com isso, o golem começou a seguir-nos, e, apesar, de este animal ser completamente feito de rochas gigantescas e pesadas, ele não era tão lento! E eu não estou interessada em ser esmagada. Ser perseguida por uma coisa dessas nem fazia partes dos meus planos.
— Cuidado — Jack avisa ao ver um penhasco deveras alto.
Paramos na beira do penhasco, e aquele bicho ainda está atrás de nós! O ataque de Caleb nem sequer fez efeito, então lutar não adiantaria, não é? E poderia piorar a nossa situação.
— Vejo vocês lá embaixo! — Caleb imediatamente reativa sua manopla, usando-a para se teletransportar.
— Biltre! — grito.
Eu olho para Jack, e percebo que ele não demonstra nenhum sinal de medo. Aparenta estar até um pouco confiante.
— Ok, vamos pular — ele disse.
— Quê?! Tu és louco?
— Não acho que você tem muitas escolhas, a não ser acreditar em mim — Ele estende sua mão.
Acabo por hesitar um pouco nos primeiros segundos, mas no final eu seguro em sua mão, pulando com o garoto logo em seguida.
Por mais que eu tenha aceitado pular daquele penhasco, eu ainda estou com muito medo. Portanto, apenas fecho meus olhos e fico assim o tempo todo, somente sentido o forte vento em meu rosto e meu coração completamente acelerado.
Parecia uma queda sem fim, até que, de repente, sinto que Jack se solta de minha mão. Espera, o que ele está fazendo?!
Mesmo sem entender, não me atrevo a abrir os olhos. Eu só estava esperando sentir o impacto no chão e acordar no céu. De repente, sinto alguém me pegando. E, pelo jeito, eu não estou mais caindo.
— Já estou no céu? — pergunto, ainda mantendo meus olhos fechados.
— Pode abrir os olhos, Paxley — escuto Jack falando.
Decido abrir meus olhos lentamente, deparando-me com Jack olhando para mim. Espere, ele está carregando-me em seus braços?!
— Hehe — posso sentir meu rosto acalorar-se.
Ele me coloca no chão. O clima parece estar mais tranquilo; aquele golem não parece mais querer nos matar, então acho que podemos relaxar.
— Que bom que vocês conseguiram — Caleb se aproximou, parecendo aliviado de nos ver bem.
— Não graças a você. Por acaso você ao menos se preocupou de verdade? — Jack arqueia a sobrancelha. — Você simplesmente nos abandonou com aquele nokamel.
— Eu estava salvando minha vida - meu amigo tenta se justificar.
— Senhorita Paxley — o híbrido olha para mim — na próxima vez, selecione melhor as pessoas com quem você viaja.
O ruivo pareceu querer se defender, chegando a ficar pensativo por alguns segundos, tentando achar uma boa resposta, mas, no final o rapaz apenas desiste.
Para não perder muito tempo ali, decidimos voltar à casa de Jack o mais rápido possível, também por motivos de segurança, em decorrência daquele golem. Mesmo que ele não esteja mais nos perseguindo e nem demonstre interesse em nós, não queríamos arriscar.
Conseguimos chegar ao grande lar do garoto um pouco antes do entardecer. Ele me mostrou os meus aposentos.
— Fique à vontade — é o que ele disse antes de entrar no que parecia ser seu aposento.
Apesar de ainda ser um pouco cedo, eu também vou para o quarto em que estava hospedada. Afinal, tenho que descansar um pouco.
Pode ser um pouco arriscado, mas, quando eu voltar para Allanor, preciso falar com uma amiga minha sobre tudo. Na verdade, acho que nem terá problema... Aliás, acho que ela também gostará aqui.
Será que seria abusar demais se eu a trouxesse também? Bom, isso eu resolvo depois.
/Leyla’s POV/ Não pude ter o deleite de ficar em Shiymorán por muito mais tempo. Já havia ficado no país por três dias, que, em minha opinião, passaram muito rápido. Tinha que voltar a Allanor, ou meus pais, ou qualquer pessoa, poderia suspeitar de algo. Portanto, cá estava eu de volta a este reino, que me parece mais uma prisão. De qualquer forma, não me apetece deslembrar-me de Shiymorán. Muito pelo contrário, até combinei com o Caleb de que irei retornar logo mais. — Leyla — uma voz amigável e familiar soou atrás de mim. — Por onde estiveste? Virei-me para trás pra ver quem me chamava. Foi quando me deparei com uma garota jovem e alta, que possuía cabelos longos e negros e olhos azuis. Suas vestes eram chiques e elegantes, típico das pessoas ricas de Allanor. Seu nome era Eri, da família Scarpellini. Assim como eu, Eri também pertencia a uma família rica e muito influente neste reino, além do fato de também possuir magia. — Estive a tua pro
Após a resposta seca da garota de capuz, um pequeno silêncio ficou entre nós por alguns segundos, deixando o clima meio desconfortável até que o ruivo o encerrou com um resmungo: — Puff, tudo bem. Vou dar um jeito — ele deu as costas. — Vamos logo. Por alguns minutos não perdemos a embarcação, e o explorador arranjou um modo de a garota Yonara viajar conosco. Afe, francamente, espero que ela não interrompa nossos planos. *** Depois de uma longa e até mesmo cansativa viagem, chegamos às encostas oeste do continente. Era mais ou menos meio-dia e estávamos com muita fome, portanto nos alimentamos em uma das barracas de comida que havia por ali no litoral. Apesar de boa parte dos nomes dos pratos estarem escritos com o dialeto de Shiymorán, também havia muitos com nosso idioma, e foram esses que escolhemos. <
Ela nos lança um olhar sério e um tanto intimidador, até que paira seus olhos em Caleb, fazendo uma leve expressão zangada. — Foi você! — a valquíria diz, ainda o encarando. — Esse garoto mortal invadiu meu palácio, e ainda tentou roubar minha espada — a valquíria expressa grande ira em sua voz. — Esse mortal merece uma punição. Que será… a morte! Rapidamente, a valquíria retira sua espada da bainha empunhando-a e fazendo um movimento rápido e poderoso, enquanto avança para cima do jovem explorador na menção de executar um golpe mortal! — Sarah, espere! — antes que fosse tarde demais, Jack se posiciona a frente do ruivo, ficando entre eles. Por sorte, a guerreira interrompe sua ação a tempo, antes de atingir o yarén, deixando a espada a pequenos centímetros de seu pescoço. — Saia da minha frente, garoto! — ordena a valquíria, porém Jack não move um músculo. — Por que está defendendo esse mero humano? <
/Jack's POV/ Já havia completado um dia desde que Ducan retornou a Shiymorán junto com alguns amigos. Eu não me importei quanto a isso, não sei se ligo mais, mas o problema é que desta vez eles trouxeram uma mestiça com eles, e isso sim me incomodou! Passaram dos limites! Quer dizer… aquela garota tem sangue demoníaco, como alguém conseguiria ficar tranquilo perto dela? O pior é que ela não fazia menção de ir embora tão cedo. Por sorte, a rainha Kyoumi e a primeira no comando do exército de Shiymorán, Sawa, deram a ideia de mostrar os pontos turísticos da capital, além dos costumes básicos dos humanos do país para que erros como “invadir um monastério sagrado” não se repitam. Obviamente Kyoumi e Sawa são pessoas muito ocupadas, então essa função foi passada para alguns de seus empregados. De qualquer forma, pelo menos ficarei um dia inteiro sem sentir aquela aura sombria da Yonara me atormentando. Não que eu tenha algo c
— Talvez isso deva até explicar o porquê de morares sozinho e longe dos teus pais e da própria tribo. Eu até poderia supor… — Ela faz uma expressão pensativa, voltando a falar com um tom sarcástico e debochado logo em seguida: — Julgando pelo tamanho da casa em que vive, deves ser de uma família rica de yarén, e certamente deves ter roubado uma porcentagem deste dinheiro para moldar a casa. Contudo, apenas fugiu para capital, longe da própria família e tribo! De onde ela tirou essas conclusões idiotas? I-Isso não faz menor sentido! E por que ela está falando isso, e desse jeito? Quero dizer, eu realmente posso não ter tentado ser amigável com ela quanto para os outros, mas por quê? Grr! — Eu sugiro a você que não fale de coisas das quais não tem conhecimento — respondo de forma seca. — Quer saber por que eu moro sozinho e não com meus pais? É porque eu não os tenho! E também não possui uma tribo — Olho para o rosto da garota, observando uma expressão de choque e, por incrível que pa
Porém ele não me dá uma resposta e apenas desvia seu olhar novamente.— Talvez eu possa ajudar, não? — Insisto. — Quem são aqueles? Sei que quer me dizer algo. — Está enganado. — Vamos, Jack, não somos amigos? Olha, eu… — Acabo interrompendo minha própria fala ao perceber que ele rosnava. — Grr. — O jovem olha para mim novamente, exibindo aquele mesmo olhar. — Pare de tentar me retratar com suas suposições bobas! Chega desse seu pano de chão idiota, pare de querer se passar por um herói. Desculpe se passei a impressão errada, mas não somos amigos! — Uau, eu achei que ficaria bem com isso, mas doeu mais do que pensei. — Eu apenas tive pena de você e te ajudei, fui amigável com vocês, mas apenas isso. Mas o que recebo em troca? Você só me causou problemas e reclamações até agora! — Ok, acho que ele tem direito de estar assim, posso estar magoado, mas ao menos ele está falando, né? — Eu não consigo lidar com mais mortais intrometidos como você, o que vocês tanto querem? Para alguém que
/Suyane's POV/ Ducan havia ido atrás de Jack fazia algum tempo, mas, até agora, nada de os dois retornarem, então eu saí. Pensei em retomar minha busca pelo yarén, mas, como eu não tinha ideia de para onde eu estava indo, apenas acabei por desistir. Claro que ainda quero me reconciliar com Jack, mas aguardarei até o momento em que ele for encontrado. Assim, decidi focar em outra coisa que também estava intrigando-me. Aquela valquíria, Sarah, me deixara curiosa… No dia em que cheguei aqui, ela me falou que eu não deveria atrapalhá-la, mas o que isso significaria? A que ela estava referindo-se? Eu tenho muitas perguntas a fazer. Por conta dos comentários de Ducan, já tinha uma certa noção de onde era localizado seu palácio, então não tive problema em encontrá-lo. Por seguinte, me aproximo, empurrando aquela grande e pesada porta e entrando em sua morada, dando-me de cara um amplo e espaçoso saguão. Não demoro muito para escutar a voz daquela valquíria:
/Caleb's POV/ Eu caminho pelo bosque de Shiymorán junto com Jack na intenção de encontrar as meninas para alguma coisa. Enquanto caminhávamos, começo a pensar em outras coisas, tipo: “como eu poderia de alguma forma conseguir chamar a atenção da Eri?”. Podemos não ser tão próximos como sou com a Leyla, mas acho que devo confessar que gosto dela já faz um tempo, porém não sei se ela sente algo por mim ou se só me considera como colega, e admito que isso me deixa um pouco preocupado. Por conta disso, tento impressiona-la de todas as formas possíveis, mas não parece funcionar e se funciona, ela nunca demonstrou. — Bom, Eri não parece se impressionar com minhas aventuras ou os artefatos que encontro. Então, o que devo fazer? — Sussurro para mim mesmo. — Talvez você só deva parar de falar sozinho — escuto Jack me repreendendo — É estranho. Vocês humanos sempre fazem isso? Espera, ele está me escutando? Como? Eu tinha certeza que est