/Caleb’s POV/
Eu fiquei alguns dias na região da capital de Shiymorán, um total de uma semana, e em cada dia tentei explorar ao máximo cada lugar da floresta, na tentativa de encontrar outros templos com coisas valiosas. Afinal, eu vim aqui para isso.
Porém, infelizmente acabei por não os encontrar. Quer dizer, eu encontrei diversos templos e palácios, mas nenhum que estivesse ou pelo menos aparentasse estar abandonado. Em todos os que avistei havia monges, entre outras pessoas ricas, que pareciam habitá-los.
Claro que ainda foi um pouco tentador tentar invadi-los, mas eu não sou um ladrão.
Mas, por outro lado, apesar de não conseguir nada valioso, eu pelo menos consegui avistar criaturas que nunca pensei em ver, como os snapits, que são uma espécie de lagarto gigante da região. Eles são seres carnívoros e até ferozes quando se trata de suas presas, mas por algum motivo são dóceis com seres humanos. Também consegui ver algumas pessoas locais interagindo com os nokamel’s, que basicamente são golens gigantes e, assim como os snapits são seres totalmente amigáveis. E não posso me esquecer também do momento em que eu pude ouvir a canção dos coovlas. Apesar de não ter visto um, sei através dos livros e de rumores que eles são muito parecidos com baleias gigantescas, só que eles voam e vivem em altas altitudes acima das nuvens.
Eu deveria ter trazido um gravador. Com certeza conseguiria vender o áudio da canção deles por um bom preço na minha cidade.
Quanto ao yarén que me acolheu, ele parece ser bem gente boa. Todavia, não conversamos tanto quanto eu queria, mas nem tentei forçar amizade ou algo do tipo. Afinal, ele me deixou ficar na casa dele, e isso pra mim foi o suficiente. Claro que quero saber mais sobre o mesmo, mas acho que terei que ir com muita calma.
Mas agora eu estou me despedindo dessa terra mágica. Claro que eu irei voltar pra cá o quanto antes; ainda tenho que achar algo valioso e que preste, né? Eu só estou indo embora por que quero trazer mais alguém comigo.
Portanto, irei voltar ao meu continente, Valor. Porém, não irei para casa, e sim para o grande e rico reino que fica ao sudeste da região, o reino de Allanor.
Através da minha manopla envio uma mensagem de fogo para a pessoa que queria encontrar, isso seria uma espécie de feitiço de comunicação. Logo mais, organizo o restante das minhas coisas, partindo.
***
Foram longos dias de viagem até chegar aos muros do país, mas eu já estava acostumado com isso. Assim que chego em frente aos muros do reino, me deparo com algumas flores da espécie Matthiola incana numa cor roxa. Essas flores não são comuns nesta região, mas para mim isso é um grande sinal: o sinal que diz que a barra estava limpa.
Preparando minha manopla de ouro mágica, uso sua magia para me teletransportar para dentro de Allanor. Eu sei que isso é um jeito meio ilegal de se entrar num país, mas não me importo de correr o risco; afinal, sempre saio ileso de qualquer situação, por que eu sou incrível.
No momento em que me teleporto para dentro da cidade, me deparo com uma jovem e bela garota de cabelos sedosos e ondulados de cor castanha, pele branca, com olhos verdes, que usa um longo e cintilante vestido violeta combinando com suas luvas. Essa é minha amiga, Leyla Paxley.
— Finalmente apareceste — ela fala no momento em que me vê, e parecia frustrada com algo.
— Está tudo bem?
— Quase fui encontrada pelos guardas, de novo — ela responde — Não é nada simples ter que fazer estas flores brotarem de forma mágica, toda vez que tu resolveres fazer uma visita. Por que não podes fazer como todo cidadão e passar pela fronteira?
— Por que seria mais arriscado para mim — me justifiquei.
Allanor é um reino no qual o uso de magia é completamente proibido. Eu não sei a história em todos os detalhes, mas até onde Leyla me contou, houve uma grande guerra de magos, feiticeiros e bruxas a mais de cem anos atrás, e aparentemente essa guerra quase destruiu a vida deste continente já que também envolveu demônios e espíritos malignos super poderosos, etc... Depois que a guerra acabou e os demônios foram selados, os sobreviventes ficaram com esse medo de tudo que é mágico, e essas mesmas pessoas foram as que construíram Allanor.
Desse modo, Leyla acaba por ser arriscar um pouco ao ter que fazer essas flores nascerem magicamente para me avisar que é seguro me teletransportar. Eu poderia sim só passar pela fronteira, mas começaram a circular rumores sobre eu ser um usuário de magia. O que já era de se esperar, já que eu sou praticamente o único explorador que consegue entrar em templos super perigosos e sair ileso.
Então prefiro que Leyla me ajude, já que não quero correr o risco de ser preso ou morto. Não é que eu não me importe com a segurança dela, é só que ela tem uma vantagem que eu não tenho... Leyla é de uma família super rica e que tem certa influência em todo reino, talvez sejam próximos da família real, certo? Afinal, até onde a mesma comentou, seus pais fizeram alguns atos honrosos ao reino. De qualquer forma, por conta disso, ela deve ser quase intocável.
— Não ficaremos parados aqui, não é? — A garota dá as costas e sai andando, e eu vou imediatamente atrás dela.
Talvez, quem sabe, ela saiba algo sobre as valquírias? Depois de quase ser morto por aquela em Shiymorán, eu preciso saber o máximo possível sobre elas.
— Leyla, posso fazer uma pergunta? — aperto meu passo para ficar ao lado dela.
— Dize.
— Você sabe algo sobre valquírias?
— Acredito que devo ter lido algo — ela coloca a mão no queixo ficando pensativa. — Se me recordo, os seres a que se refere, são como anjos guerreiros que podem controlar a reencarnação. Por que a pergunta?
Ao invés de respondê-la, faço outra pergunta por cima:
— Tem algum modo de derrotá-las?
— Elas não são imortais, nem seres divinos; podem ser executadas. No entanto, conheço-te, e se tu tens tal interesse nisso, é por que algo aconteceu — ela me lança um olhar sério.
— Resumindo, eu quase fui morto por uma.
— Como encontraste uma valquíria? — agora ela demonstrou uma expressão confusa. — Deviam estar extintas.
— Acredito que os livros de história que possui estejam errados... — dou de ombros. — De qualquer forma, se estiver disponível, já sei para onde podemos viajar.
— Quais são teus planos?
— As terras mágicas de Shiymorán! Garanto que você nunca vai ver algo como aquele lugar, inclusive foi lá onde eu encontrei a valquíria — comento.
— Queres levar-me para um lugar onde tu quase morreste? — ela arqueou a sobrancelha.
— Só me meti no lugar errado — coço minha cabeça, dando um sorriso. — O país não é tão perigoso quanto dizem.
— Está bem — ela parece aceitar — mas preciso avisar alguém e preparar-me.
Pode parecer muito repentino, mas na maioria das vezes que venho para Allanor é para viajar com a Leyla. Eu basicamente a levo junto para onde irei explorar. Tive essa ideia por que eu a escutava reclamando muito dizendo que sua vida era monótona, e também das regras do reino. Já que ela não pode usar magia, é como se ela não estivesse sendo ela mesma. Portanto, essas viagens seriam como férias desse inferno cercado de ouro.
Enquanto Leyla vai se preparar, eu fico a esperando em uma praça que ficava na região de classe alta do reino. Acabo por ficar ali algumas horas, até que eu a vejo se aproximando novamente. Dessa vez ela não está mais com seu vestido chique; ela usa algo mais casual e despojado e carrega uma mochila nas costas — Podemos ir? — questionei.Eu já estava impaciente de tanto esperar. — Necessito resolver algo antes — ela me responde — Vamos, por aqui. Eu a sigo até a saída da praça, entrando num território de mansões que ficava próximo ao palácio da família real. De repente, a garota simplesmente entra em uma casa nobre, indo a uns dos saguões da mansão onde ela se aproxima de uma garota que está sentada em uma poltrona lendo um livro, completamente encapuzada, o que me impediu de ver o seu rosto. Quem é ela? E por que dela estar desse jeito? — Não me digas que tu vais viajar com esse ruivinho de novo? — a menina resmunga. —
/Leyla'sPOV/ Fazíamos o caminho de volta para a residência do garoto ahito, Jack. Devo confessar que me sinto, e estou, afadigada. Quero dizer, já estava um pouco cansada antes, desde que chegamos aqui emShiymorán. Afinal, foi uma viagem deveras fadigosa. Mas eu estivera tão animada de estar em um ambiente diferente, que não me importei. Não que não esteja feliz agora, porém o cansaço está vencendo-me. — Está muito longe? — inquiro. — Não — Jack me responde — Por quê? — Por nada — dou um longo suspiro. Permanecemos andando pelo que acredito que foram três minutos, e era como se minhas pernas fossem quebrar a qualquer instante. Definitivamente, não estou tão acostumada a andar longas distâncias. Com isso, finalmente me pronunciei: — Ah, necessito descansar, nem que seja um pouco — resmunguei — Deveria ter vindo com sapatos mais confortáveis, — aproximo-me de uma
/Leyla’s POV/ Não pude ter o deleite de ficar em Shiymorán por muito mais tempo. Já havia ficado no país por três dias, que, em minha opinião, passaram muito rápido. Tinha que voltar a Allanor, ou meus pais, ou qualquer pessoa, poderia suspeitar de algo. Portanto, cá estava eu de volta a este reino, que me parece mais uma prisão. De qualquer forma, não me apetece deslembrar-me de Shiymorán. Muito pelo contrário, até combinei com o Caleb de que irei retornar logo mais. — Leyla — uma voz amigável e familiar soou atrás de mim. — Por onde estiveste? Virei-me para trás pra ver quem me chamava. Foi quando me deparei com uma garota jovem e alta, que possuía cabelos longos e negros e olhos azuis. Suas vestes eram chiques e elegantes, típico das pessoas ricas de Allanor. Seu nome era Eri, da família Scarpellini. Assim como eu, Eri também pertencia a uma família rica e muito influente neste reino, além do fato de também possuir magia. — Estive a tua pro
Após a resposta seca da garota de capuz, um pequeno silêncio ficou entre nós por alguns segundos, deixando o clima meio desconfortável até que o ruivo o encerrou com um resmungo: — Puff, tudo bem. Vou dar um jeito — ele deu as costas. — Vamos logo. Por alguns minutos não perdemos a embarcação, e o explorador arranjou um modo de a garota Yonara viajar conosco. Afe, francamente, espero que ela não interrompa nossos planos. *** Depois de uma longa e até mesmo cansativa viagem, chegamos às encostas oeste do continente. Era mais ou menos meio-dia e estávamos com muita fome, portanto nos alimentamos em uma das barracas de comida que havia por ali no litoral. Apesar de boa parte dos nomes dos pratos estarem escritos com o dialeto de Shiymorán, também havia muitos com nosso idioma, e foram esses que escolhemos. <
Ela nos lança um olhar sério e um tanto intimidador, até que paira seus olhos em Caleb, fazendo uma leve expressão zangada. — Foi você! — a valquíria diz, ainda o encarando. — Esse garoto mortal invadiu meu palácio, e ainda tentou roubar minha espada — a valquíria expressa grande ira em sua voz. — Esse mortal merece uma punição. Que será… a morte! Rapidamente, a valquíria retira sua espada da bainha empunhando-a e fazendo um movimento rápido e poderoso, enquanto avança para cima do jovem explorador na menção de executar um golpe mortal! — Sarah, espere! — antes que fosse tarde demais, Jack se posiciona a frente do ruivo, ficando entre eles. Por sorte, a guerreira interrompe sua ação a tempo, antes de atingir o yarén, deixando a espada a pequenos centímetros de seu pescoço. — Saia da minha frente, garoto! — ordena a valquíria, porém Jack não move um músculo. — Por que está defendendo esse mero humano? <
/Jack's POV/ Já havia completado um dia desde que Ducan retornou a Shiymorán junto com alguns amigos. Eu não me importei quanto a isso, não sei se ligo mais, mas o problema é que desta vez eles trouxeram uma mestiça com eles, e isso sim me incomodou! Passaram dos limites! Quer dizer… aquela garota tem sangue demoníaco, como alguém conseguiria ficar tranquilo perto dela? O pior é que ela não fazia menção de ir embora tão cedo. Por sorte, a rainha Kyoumi e a primeira no comando do exército de Shiymorán, Sawa, deram a ideia de mostrar os pontos turísticos da capital, além dos costumes básicos dos humanos do país para que erros como “invadir um monastério sagrado” não se repitam. Obviamente Kyoumi e Sawa são pessoas muito ocupadas, então essa função foi passada para alguns de seus empregados. De qualquer forma, pelo menos ficarei um dia inteiro sem sentir aquela aura sombria da Yonara me atormentando. Não que eu tenha algo c
— Talvez isso deva até explicar o porquê de morares sozinho e longe dos teus pais e da própria tribo. Eu até poderia supor… — Ela faz uma expressão pensativa, voltando a falar com um tom sarcástico e debochado logo em seguida: — Julgando pelo tamanho da casa em que vive, deves ser de uma família rica de yarén, e certamente deves ter roubado uma porcentagem deste dinheiro para moldar a casa. Contudo, apenas fugiu para capital, longe da própria família e tribo! De onde ela tirou essas conclusões idiotas? I-Isso não faz menor sentido! E por que ela está falando isso, e desse jeito? Quero dizer, eu realmente posso não ter tentado ser amigável com ela quanto para os outros, mas por quê? Grr! — Eu sugiro a você que não fale de coisas das quais não tem conhecimento — respondo de forma seca. — Quer saber por que eu moro sozinho e não com meus pais? É porque eu não os tenho! E também não possui uma tribo — Olho para o rosto da garota, observando uma expressão de choque e, por incrível que pa
Porém ele não me dá uma resposta e apenas desvia seu olhar novamente.— Talvez eu possa ajudar, não? — Insisto. — Quem são aqueles? Sei que quer me dizer algo. — Está enganado. — Vamos, Jack, não somos amigos? Olha, eu… — Acabo interrompendo minha própria fala ao perceber que ele rosnava. — Grr. — O jovem olha para mim novamente, exibindo aquele mesmo olhar. — Pare de tentar me retratar com suas suposições bobas! Chega desse seu pano de chão idiota, pare de querer se passar por um herói. Desculpe se passei a impressão errada, mas não somos amigos! — Uau, eu achei que ficaria bem com isso, mas doeu mais do que pensei. — Eu apenas tive pena de você e te ajudei, fui amigável com vocês, mas apenas isso. Mas o que recebo em troca? Você só me causou problemas e reclamações até agora! — Ok, acho que ele tem direito de estar assim, posso estar magoado, mas ao menos ele está falando, né? — Eu não consigo lidar com mais mortais intrometidos como você, o que vocês tanto querem? Para alguém que