Tenebris Redenção - Livro III
Tenebris Redenção - Livro III
Por: Érika Gomes
Prólogo

— Miguel, você precisa me ajudar — disse Heylel o que pareceu ser pela décima vez, encarando o irmão ainda na mesma posição, sem dar nenhum indício de que ajudaria.

— Não vou ficar levando madeira Lúcifer. — O tom de voz debochado e enojado atacava diretamente a pouca paciência que Heylel ainda tentava manter para lidar com ele.

Miguel estava sentado na entrada de uma simples cabana, trajava calça jeans, uma camiseta cinza de mangas curtas e botas. Mexia em um matinho aos seus pés e, como criança contrariando as ordens dos pais, fazia bico para o pedido de ajuda do irmão. A decisão já estava tomada, acataria o castigo dado por seu Pai, mas não facilitaria a vida de Heylel em momento algum.

— Se não me ajudar, não teremos como preparar o jantar, muito menos como nos aquecer à noite. — Lutava contra o desejo de sumir e viver o que deveria viver longe de Miguel e sua arrogância.

Heylel passou por ele com uma pilha de lenha em seus braços, bufando e claramente frustrado com toda a situação. Também vestia uma calça jeans, mas, ao contrário do irmão, estava com o peito nu e o corpo suado pelo esforço, que seria menor se dividido.

— Odeio tudo isso! — o grito ecoou enfurecido, afugentando as aves que se aglomeravam ali perto.

Miguel levantou-se, ainda contrariado, batendo as mãos na calça para tirar a poeira, caminhou até à grande pilha que Heylel havia cortado e empilhou alguns troncos em seu braço, caminhando para dentro da pequena cabana, marchando enraivecido. Sua mente trabalhava acelerada, desejando mil coisas ao mesmo tempo e nenhum desses desejos incluía algo bom ao irmão.

— Sei que odeia, irmão, mas precisamos trabalhar e nos ajudar. — Heylel falou calmamente, contendo-se mais uma vez.

— Não sou seu irmão e pare de achar que é meu pai, detesto quando faz isso. — Apesar das palavras gritadas por ele, todas suas ações diziam o contrário, pois se comportava exatamente como um filho mimado sendo corrigido pelo pai.

— Como quiser Miguel, como quiser — declarou deixando claro o quão frustrado estava com tudo aquilo.

Ele já estava cansado das manhas do irmão, não aguentava mais discutir ou tentar fazê-lo ver que poderia tirar algum proveito daquela situação. Ainda que não entendesse o plano de seu Pai em prendê-los naquela situação, tirando deles a imortalidade, transformando-os em seres humanos limitados, acataria o que quer que viesse dEle. Sabia que os planos de seu Pai seriam sempre melhores que os dele. Havia se afastado dessa verdade uma vez e colhia até os dias de hoje os frutos da rebeldia, não cairia no mesmo erro.

— O que vamos jantar? — Miguel perguntou jogando no chão os troncos que trouxe, fazendo o monte já arrumado se espalhar, tirando Heylel de seus pensamentos e fazendo a gota de paciência que nele existia, desaparecer por completo após o ato.

Heylel virou-se e a fúria estava estampada em sua face, espalmou as mãos sobre a mesa, fazendo o som ecoar por toda a cabana.

— Chega Miguel! — ele gritou, assustando o outro. — Não aguento mais essa sua atitude. Você comerá o que conseguir fazer, tomará banho quente se cortar sua própria lenha e ficará aquecido à noite se acender sua lareira. Estou farto de você e desse seu temperamento egoísta.

Não deu tempo para que o irmão retrucasse, saiu porta afora, deixando-a aberta. Puxou do varal improvisado uma camisa e sumiu da vista de Miguel.

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