O mundo estava um caos.
Assim que os anjos contiveram a fúria solta entre os possuídos, fazendo-os cair em um sono profundo, conseguiram ver a destruição por todos os lugares. Andavam por ruas desertas e a sensação de fim do mundo estava marcada na face de cada um deles, como se esperassem por algo pior a qualquer momento. Diego, Heylel e Azazyel andavam na frente, sondando para ver se encontravam alguma pessoa ainda lúcida, e as que encontravam direcionavam à igreja central, onde anjos com as asas escondidas, passando por simples humanos, recepcionavam e tentavam apaziguar o turbilhão de sentimentos dessas pessoas. Pedro e Fernando estavam colocados logo atrás dos três, buscando neles abrigo contra uma luta que nem ao menos entendiam. Agares e Naiara estavam no centro daquela formação, camin
Naiara não entendia o porquê daquele pedido, mas respeitaria a vontade do amigo, liberou-o da bolha e ele caiu no chão e correu de volta para ela, tendo Naiara logo atrás. Ela parou ao lado de Gabriel, concentrando-se para conter a magia da mãe e suas irmãs. — O que está fazendo? — ele perguntou incrédulo. — Defendendo meu amigo. — Esboçou um sorriso. Samyaza estava com as mãos apoiadas nos joelhos, respirava com dificuldade. Soltou um risada baixa que em seguida se transformou em uma gargalhada. 
Uma luz diferente tocou a sua pele. Seus olhos, mesmo fechados, arderam diante da claridade. Ele levou a mão à face, tentando de alguma forma diminuir aquela intensidade. Não estava em sua casa, não poderia ser sua casa, não com aquela luz, não com aquele toque quente. Heylel abriu os olhos e sentou-se de súbito sobre uma cama grande, com lençóis brancos e macios. Seus olhos varreram o lugar, um quarto imenso e arejado, móveis claros e modernos. A luz que o despertou entrava por uma ampla janela aberta, onde cortinas brancas de um tecido leve balançavam com a brisa da manhã. Ao lado direito, um enorme quadro fez Heylel pular da cama e seu coração bater descompassado. Caminhou até a imagem pendurada envolta em uma linda moldura e seus dedos deslizaram suavemente, tentando talvez
— Já percebeu que estamos passando muito mais tempo aqui do que em casa, né? — Seus dedos deslizavam entre os fios loiros da menina em seu colo. Élida estava aninhada nos braços de Yekun, aproveitavam o dia ensolarado na ilha. Desde que o céu enfim ganhou cor novamente, ele se manteve ao lado dela, ajudando Mohini e Azazyel a colocarem ordem em todo o Sheol. Mesmo com o sumiço de Belial e a ordem nos três reinos, havia rumores de um possível levante se formando. Falavam muito pouco sobre a quebra da predestinação, mas sempre deixou claro o quanto se importava com a felicidade e segurança de Naiara, ainda que seu coração não pertencesse mais a ela. — Um pedido realiz
— Ela é tão linda. — O tom de voz manso não condizia com o caído que declarava a frase.Yekun e Élida estavam em pé, parados na entrada da morada. Muitas coisas haviam mudado nos últimos anos. Mohini deu vida ao lugar, enchendo tudo ao redor de grama verde e flores coloridas. No grande quintal à frente deles, uma pequena menina andava a passos inconstantes, com os braços abertos para manter o equilíbrio, vindo em direção dos dois seres que a olhavam em adoração, torcendo para que conseguisse fazer o trajeto até o final.— Vem, meu amor — Élida cantarolou para a pequena. — Vem com a mamãe.— Isso, filha, você consegue — Yekun incentivava.Élida deu alguns passos à frente, não conseguindo conter a ansiedade em ajudar a filha que caminhava para ela com dificuldade. Tomou a
—Sentiu? — Naiara olhava para Agares sorrindo.Ele estava com as mãos na barriga volumosa dela, deitados no chão da sala, enquanto ela o obrigava assistir todos os X-Men disponíveis. Olhava para Naiara e não continha o espanto em sua face.— O que foi isso? — Afastou-se um pouco quando sentiu um ondular sob a pele da sua amada.Ela riu baixo e o puxou para sua barriga novamente, acariciando os longos fios loiros, apreciando a cena com carinho.— Ele está mexendo — respondeu com a voz embargada, sentindo o bebê se mexer ainda mais, como se respondesse ao desejo dela.Agares ajeitou-se, deitando a cabeça sobre a barriga.Ficaram imóveis por alguns segundos até sentir a barriga se mover como uma grande onda. A respiração lhe faltou, apoiou uma mão de cada lado da barriga, inclinando o corpo enquanto apoiava a boca bem pró
Estavam sentados na ampla varanda de seu quarto, lado a lado, mãos entrelaçadas, ambos com uma caneca repleta com chá de ervas, quente e reconfortante. Olhavam para o outro lado da rua, mais especificamente para a casa da frente, notando dois jovens casados, unidos por um vínculo que, até aquele momento, em toda a existência, jamais foi presenciado, unidos pela quebra de um destino, pela escolha de dois corações.— Ela está linda grávida — Heylel sorriu, seus olhos focados no vai e vem da filha e Agares, que tiravam as coisas do carro e levavam para dentro de casa.Amarantha também sorria, mas sem conseguir conter a lágrima solitária que escorria em sua face.— Ainda ontem ela era a minha bebezinha, uma pequena bolinha, tão branquinha que parecia ser feita do mais puro leite. — A lembrança da maternidade alargou o seu sorriso.&m
— Miguel, você precisa me ajudar — disse Heylel o que pareceu ser pela décima vez, encarando o irmão ainda na mesma posição, sem dar nenhum indício de que ajudaria.— Não vou ficar levando madeira Lúcifer. — O tom de voz debochado e enojado atacava diretamente a pouca paciência que Heylel ainda tentava manter para lidar com ele.Miguel estava sentado na entrada de uma simples cabana, trajava calça jeans, uma camiseta cinza de mangas curtas e botas. Mexia em um matinho aos seus pés e, como criança contrariando as ordens dos pais, fazia bico para o pedido de ajuda do irmão. A decisão já estava tomada, acataria o castigo dado por seu Pai, mas não facilitaria a vida de Heylel em momento algum.— Se não me ajudar, não teremos como preparar o jantar, muito menos como nos aquecer à noite. — Lutava contra
A luz acinzentada do Sheol invadiu o quarto de Yekun, tocando os olhos fechados do casal que dormiam entrelaçados. Naiara tremeu levemente e, como por instinto, ele puxou sobre eles o cobertor grosso, a envolvendo com sua asa esquerda, fazendo seu corpo se encolher ainda mais em busca de aconchego, encostando o nariz gelado em seu peito nu e despertando o sorriso preguiçoso do caído. Se enroscaram um no outro, fundindo-se em braços e pernas. Não haviam dividido nenhum outro tipo de intimidade, estavam esperando o tempo se encarregar de dizer o momento certo, mas ainda assim o pouco que conseguiram conquistar fazia tudo valer a pena. Viviam em uma montanha russa de sentimentos, saciados pela presença e o toque um do outro. Ele, faminto por muito mais. Ela, incerta de seu querer e desejo.Sabia que todos esperavam que enfim ela se encontrasse, saciasse os desejos da menina de dezoito anos e parasse de lutar contra o que o destino escolh