— Vimos o meu pai — começou a explicar, já sentindo os dedos de Yekun entrelaçando-se aos dela e, de alguma forma, o gesto a irritou ainda mais. — Acho que Deus nos atendeu, não sei... e permitiu que víssemos que ele está bem. — Deu de ombros, não sabia como explicar o que nem ela mesmo entendia e isso a frustrava ainda mais.
— Você está muito nervosa, Heylel está mesmo bem? — Era evidente que ela não estava bem e a reação dela ao toque de Yekun evidenciava isso ainda mais.
Afastou-se, querendo ter seu espaço pessoal preservado, não queria ser tocada, muito menos sabatinada com perguntas que não teria como responder, e a frustração a irritava tanto quanto as atitudes de Miguel.
— Sim, só que... — Tentou explicar e afastou-se ainda mais, mas a mãe veio ao seu socorro, coloc
Yekun chegou impiedoso na sala, vendo todos se levantando do chão. Apenas alguns minutos haviam se passado e o caos na mente e coração de Naiara quase levou a morada à destruição e sua família à morte. Assim que viu seus dedos se movendo, sabia que a menina o atingiria, somente não passava por sua cabeça que teria poder o bastante para, não somente o tirar de lá, mas enviá-lo para um lugar entre os mundos que poucos se permitiam estar, como se fosse uma bolsa entre o Sheol e a terra, um imenso espaço onde o tempo não existia, somente o vazio.Precisou de todo o seu esforço físico para conseguir se desprender do lugar onde estava e não permitir que sua mente fosse tomada pelo vazio que ali habitava e assim conseguir voltar para sua família e tentar ajudá-los de alguma forma.Chocou-se assim que atravessou a porta, deparando-se com a
Os dois chocaram-se contra o colchão, ele envolveu as pernas ao redor das pernas dela e os braços ao redor de seu corpo. Usava toda sua força para conseguir conter Naiara, sentia o suor escorrer e os cabelos grudarem em sua face.— Nai, por favor, se controla. Ouça a minha voz, sou eu, estou aqui com você — ele dizia com dificuldade no ouvido da menina. — Você é mais forte do que isso, pode conter, você tem o seu destino nas mãos, Nai, é você quem decide, lembra?— Eu não consigo. — Enfim ela conseguiu dizer.— Consegue, ouça a minha voz, estou aqui, você não está sozinha.Com cuidado ele acariciava o rosto dela, ainda falando baixo em seu ouvido. Sentiu o corpo de Naiara relaxar e aos poucos a luz vermelha ceder, ficando clara e em uma linha fina ao redor dela.— Estou aqui, Nai, estou aqui — en
Após os momentos de silêncio entre ele e o Pai, Miguel teve o direito de voltar, sabendo que em nada aquele castigo adiantou, apenas deixou-o ainda mais bravo e desejoso por colocar em prática o plano que mataria aquela que, ao seus olhos, não passava de uma aberração e, com seu fim, teria o fim de Heylel.— Mas a que devo a honra de uma visita tão ilustre? — Belial sorria diabolicamente, olhando para Miguel parado a sua frente.— Pare de gracinhas Belial, precisamos começar a trabalhar — respondeu seriamente, deixando claro que não estava com humor para brincadeiras.— Trabalhar? — O tom irônico ainda dominava a conversa. — Ouvi falar que seu pai colocou-o de castigo, já pode sair para brincar?— Belial... — Miguel começou a dizer, enquanto aproximava-se um pouco mais. — Acha mesmo sensato o que está fazendo
Miguel recolheu suas asas e sentou-se no banco de madeira da simples igreja, mostrando o espaço vago ao seu lado para que Robert fizesse o mesmo.Ele o atendeu de pronto.Robert acreditava em um mundo sobrenatural, acreditava que anjos e demônios caminhavam entre os humanos e que em algum momento se mostrariam face a face, portanto não se surpreendeu ou abalou-se diante da aparição, ao contrário, sentia-se privilegiado por vivenciar aquele momento e, assim como leu inúmeras vezes em sua bíblia, iria somente crer e obedecer ao querer de Deus.— As crias do inferno estão se colocando contra a igreja e contra tudo o que é certo, afetando a moral e os mandamentos do Pai — começou o discurso que Robert conhecia tão bem. O pastor bebia de cada palavra que saía dos lábios do anjo, como se fossem o mais puro mel. — Estou liderando o exército que colo
— Irmãos, entendo que muitos devem estar confusos e até mesmo aflitos e amedrontados com os acontecimentos que estão sendo mostrados nos jornais. O fim está próximo e isso não é novidade para aqueles que creem, mas lembrem-se, meus queridos, que para nós o viver é Cristo, mas o morrer é ganho. Permaneçam com seus corações em paz, pois o nosso querer é agradar o nosso Deus acima de qualquer coisa, ainda que para isso, precisemos nos desprender do nosso corpo físico para vivermos em eterna glória.A igreja explodiu em palmas, os fiéis engoliam o que era ministrado de cima do altar, não existia questionamentos, dúvidas ou incertezas, se o líder estava dizendo, então seguiriam até o fim. Robert desceu do púlpito e foi ter com o pequeno grupo de pessoas que o aguardavam ainda sentados e sorridentes, como ovelhas pron
— Agora temos que ir. — Ele separou-se das duas, ainda segurando a filha pelos ombros.— Ir para onde, pai? — questionou curiosa, precisaria apenas de dois segundos para tudo mudar em sua casa, ela sabia muito bem daquilo.— Algumas coisas aconteceram na sua ausência, minha filha — disse receoso, sem saber ao certo até que ponto a filha estava mesmo com o domínio de seu poder.— Que tipo de coisas? — Quis saber de imediato. Detestava se afastar de casa e descobrir que algo aconteceu em sua ausência.O clima passou de carinhoso e amistoso para denso e tenso em um instante. Agares que até o momento não havia dito uma única palavra sequer, deu um passo à frente, aproximando-se de Naiara, voltando a segurar sua mão, como se precisasse protegê-la de alguma ameaça invisível. Amarantha sem nem ao menos perceber, revirou os olhos para a
Agares virou-se para Yekun e se o seu olhar pudesse matar, com certeza ele seria um caído mais do que morto naquele momento. Por segundos que pareciam a eternidade para ela, os dois se olhavam travando alguma batalha particular, em total silêncio. Yekun balançou a cabeça em negativa, seja lá qual tenha sido a conversa, ele estava nitidamente insatisfeito com a decisão escolhida por Agares. Aproximou-se de Naiara, sem dar importância para os dedos dos dois entrelaçados, segurou o rosto dela entre suas mãos e com cuidado, selou os lábios da menina, pegando-a de surpresa. Mas ela não se afastou ou ao menos o repreendeu, sabia que devia muito a Yekun, devia sua vida. Ele a resgatou das suas próprias sombras e em seus piores momentos, ele mergulhou em suas trevas e a trouxe para a luz. Não teria coragem de lhe negar um último beijo.— Ainda que tudo ao seu redor pareça sem
Pedro via tudo ao seu redor desmoronando, a fé das pessoas esvaindo entre os dedos, muitos desistindo de uma vida inteira de uma ligação que ele acreditava ter sido real e sincera, deixando-se levar pelas tribulações que os assolavam. Mortes e mais mortes aconteciam todos os dias, pequenos grupos de diferentes congregações davam fim à própria vida. A polícia procurava algo que ligasse um grupo ao outro, mas não havia nada, nenhuma carta, despedida, nada. Pessoas normais, com famílias, filhos, amigos, jovens com todo um futuro pela frente, um dia estavam bem, rindo, conversando e se divertindo e no outro, mortos. Mas não negaria a sua, não deixaria as pessoas que se apoiavam nele caírem. Há um tempo estava liderando um grupo que muitos torciam o rosto, mas, para ele, eram mais do que especiais. Jamais entendeu como conseguiam rotular as pessoas, como conseguiam olhar para a