Senti os primeiros lampejos de consciência. Em seguida, uma dor abrasadora se espalhou por cada parte da minha cabeça. Meus lábios estavam rachados e ressecados. A língua colava no céu da boca, junto à sensação horrível de ter poeira por todas as minhas vias. Minha mente estava em torpor. Grogue e submersa em uma mistura de dor física e sono incontrolavelmente pesado.
Minhas pálpebras tremiam relutantes em obedecer aos comandos emitidos pelo meu cérebro. Com muito esforço, abri os olhos, mas tive de fechá-los, no mesmo instante. Não parecia ser possível controlar o peso da sonolência que insistiam em mantê-los assim, afogados da inércia de um pesadelo. Os músculos que compunham minha estrutura corporal pareciam moles demais para sustentar todo o meu peso. Podia senti-los dormentes sob a pele.
Que merda é essa? O que estava acontecendo?
Acorda! — Ordenei ao meu corpo com mais intensidade. Insisti um pouco mais para que meus olhos se mantivessem abertos e chacoalhei a cabeça, tentando dispersar o sono.
— Água! — O meu corpo praticamente implorava.
Levando a mão à têmpora, massageando-a e forçando meu corpo a se erguer, sentei sobre a superfície desconfortável que havia embaixo de mim.
Antes mesmo que meu cérebro pudesse processar qualquer tipo de informação, o meu estômago foi atacado por uma sensação de desconforto e náusea. Fui forçada a levar as mãos à altura do abdômen, numa tentativa fracassada de amenizar a dor.
A minha cabeça doía e os tímpanos pareciam ser atacados por marteladas incessantes, fazendo com que o mundo girasse, sem foco em minha visão. Tudo não passava de meros borrões. Pisquei algumas vezes, e aos poucos minha mente trabalhou para que o cérebro processasse informação suficiente, a fim de que soubesse que não estava na segurança da minha casa. Com isso, o desespero contaminou instantaneamente o meu sistema ao constatar o que havia ao meu redor.
Desejei desesperadamente que minha mente despertasse daquele pesadelo, mas nada aconteceu. Ainda estava exatamente no mesmo lugar. Presa em uma cela, sozinha como um rato engaiolado de laboratório.
Estudei o teto alto e branco, me deparando com a lâmpada, cuja luz emitida era fraca e acinzentada, e me causava mal estar. Atônita, analisei, em seguida, as duas paredes de vidro puro, grosso, aparentemente muito resistente. Uma cercava a minha frente, e a outra a lateral, isso me permitia ter contato visual com o largo corredor que ladeava o exterior da cela. As outras duas paredes eram brancas, feitas de concreto, e em uma delas havia apenas uma mísera saída de ar coberta por uma tampa metálica gradeada, grande o bastante para que apenas um gato passasse por ali.
Meu corpo paralisou com a sensação de aprisionamento e impotência.
Não havia janelas à vista.
Nenhuma porta.
Nenhuma saída. Desesperei-me mais ainda.
O que fazer numa situação dessas? Meu coração batia pequeno e doloroso dentro do peito. Parecia estar prestes a explodir. Estava tinha sido sequestrada e presa, e essa realidade não parecia fazer nenhum sentido.
Tratei de engoli o nó que se formou em minha garganta e pulei para fora da cama, a adrenalina falando mais alto ao fincar os dois pés calçados por botas de couro no chão, e corri com urgência em direção do vidro, tropeçando em algo metálico disposto ao lado do pé da cama, assim que achei ter visto uma silhueta quase fora do meu campo de visão.
Bati no vidro algumas vezes, tentando chamar sua atenção.
─ Tire-me daqui! ─ Gritei a plenos pulmões.
Tinha esperanças que o vidro se rompesse e caísse aos meus pés, mas mesmo com toda a violência dos golpes, ele sequer, saiu do lugar.
Embora minha voz soasse seca e rouca, o som ecoava abafadamente através dos vidros. O homem foi capaz de me ouvir, porque ele se moveu cautelosamente, virando-se em minha direção, entrando completamente no meu campo de visão. Pausei por um instante, encarando-o à distância.
O sujeito vestia um sobretudo preto, aberto, cujo comprimento ia até a altura dos joelhos. Blusa marrom de gola redonda e calça preta jeans. Nos pés botas escuras de cano alto. Seus cabelos eram quase raspados, cerrados no couro-cabeludo. A pele era amarronzada num tom quase chocolate. Sobrancelhas finas e alongadas moldavam os olhos castanhos estreitos que se enviesaram ao se fixarem sobre mim.
─ Solte-me! ─ Pedi, e desta vez eu não havia gritado.
Meu corpo congelou instintivamente, quando o homem encarou friamente os meus olhos. Em seguida, levou a ponta do dedo da mão à orelha. Seus lábios se moveram calmante por um breve momento. Ele estava se comunicando com alguém.
O que ele estava falando? Comecei a me exasperar outra vez, porque o homem pareceu ignorar o meu desespero ao virar as costas e sair novamente do meu campo de visão.
─ O-o que? ─ Sussurrei para mim mesmo, incrédula. ─ Não! – Gritei novamente, apavorada, temendo ficar sozinha ali outra vez.
Maldito! Maldito vidro!
Fui capaz de ouvir apenas o som dos seus passos ecoando fracamente pelo chão, enquanto se distanciava cada vez mais de mim.
─ Você não pode me deixar aqui! ─ Gritei revoltada, estapeando o vidro, completamente horrorizada por ele não expressar nenhum pingo de piedade. ─ Pelo menos me diga, o que está acontecendo?
Um estrondo arrastado e abafado pelo vidro preencheu o ambiente de repente. Um silêncio absoluto recaiu sobre o espaço, sucedendo do barulho que revirou o meu estômago.
Nada. Nenhuma resposta.
Como isso aconteceu? Como vim parar neste lugar? Minha mente estava entrando em colapso.
Virei de costas, ficando contra o vidro, levando as mãos às têmporas ao tentar me situar sobre os últimos fatos, mas tudo não passava de meros borrões desconexos. Condenei a minha cabeça por ser tão danificada.
Fui tomada por um mal-estar repentino. O meu estômago deu um nó, revirando-se como um ninho de cobras ao contrair desconfortavelmente, enquanto minha garganta se apertava involuntariamente. Senti um líquido amargo percorrer minhas entranhas, cortando garganta afora, e então me curvei para frente, pressionando o meu braço contra o abdômen ao vomitar o líquido viscoso e amargo.
Levou algum tempo para que a náusea cessasse, mas quando aconteceu, afastei-me da repugnante poça azeda, que se formara no chão e escorei as costas no vidro outra vez. Meu corpo estava fraco e fatigado, então não demorou muito para que minhas pernas começassem a fraquejar, cedendo abatidamente sobre o chão.
Meu corpo estava desidratado e não havia nada que pudesse fazer. O sentimento de impotência me abateu, e não havia ninguém que pudesse me ajudar.
Não fazia a menor ideia de quanto tempo havia ficado inconsciente, e tentar decifrar qualquer coisa estava me desgastando demais. A minha vulnerabilidade estava me destruindo. Encolhi as pernas diante de meu corpo e envolvi meus joelhos com os braços. Os meus instintos se alarmaram ao começar a cogitar sobre o que poderia estar acontecendo.
Tráfico de mulheres?
Quem estiver por trás disso me venderiam para o mercado de prostituição... Eu me crucificava com tantas possibilidades. Como havia me permitido cair em uma dessas...
Estava ferrada! Sempre chegava a essa conclusão.
Eles vão precisar me tirar daqui em algum momento. — Divagava sozinha ao erguer a cabeça, vasculhando com o olhar o lugar que não era muito maior do que um quarto pequeno, enquanto considerava alguma forma de tentar escapar.
Encarei com repulsa e rancor à bandeja bagunçada, que havia sido posta ao lado da minha cama, servida de um copo virado de suco com coloração amarelada viva derramada por cima da bandeja, e sobre um pequeno prato metálico havia uma maçã, e um sanduiche embrulhado em um guardanapo.
─ Malditos ... ─ Gritei enraivecida, empurrando brutalmente a bandeja contra a parede de gesso.
O copo de vidro estilhaçou-se contra a parede, espalhando cacos por todos os cantos. Sobressaltei-me ao ouvir um baque metálico ecoar, onde deduzi ser o final do corredor, e a minha espinha enrijeceu-se imediatamente, forçando-me a ficar de pé o mais rápido que pude, usando o vidro como base de apoio.
Ouvi o ruído distante de passos contra o chão frio, cada vez mais próximo. Alguém estava vindo e o medo me fez estagnar onde estava. Então, uma silhueta masculina entrou em meu campo de visão. À medida que se aproximava, o rosto do desconhecido foi tomando forma, e quando parou diante do vidro, encarou-me diretamente.
Pisquei diversas vezes, incrédula, paralisada e assustada, incapaz de me pronunciar verbalmente, pois as lembranças dos malditos olhos verdes vieram como um soco na minha cabeça.
Filho da puta! — Uma voz na minha cabeça esbravejou furiosamente.
─ Você... ─ sussurrei incrédula.
A armadilha... A nuvem de confusão começou a se desfazer em minha cabeça, tudo estava começando a entrar em foco.
Maldito!
Ele vestia uma camisa preta de lã lisa de mangas compridas e enroladas até a altura do antebraço, o que deixava em evidência a seu porte físico forte. Calça jeans escura, e botas de cano curto.
Os finos lábios do desconhecido curvaram-se em um riso irônico, e os meus sentidos começaram a voltar, e impulsivamente bati com violência no vidro.
─ Solte-me! ─ Ordenei no grito, ainda socando o vidro. – Me tire daqui!
Não fiz questão nenhuma de encará-lo, estava desesperada demais para tentar me acalmar.
─ Pare já com isso! ─ Ralhou em resposta, lançando-me um olhar intimidador.
Não permiti que meu corpo se amedrontasse com a ordem. Eu só queria desesperadamente sair desse lugar. Eles não tinham o direito de me trancafiar, e ele não fazia nada além de assistir ao meu desespero.
─ O que você quer? ─ Inquiri, enquanto as lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. ─ O que você quer? ─ esbravejei outra vez, a minha mão deslizando sem esperança pelo vidro. ─ Por favor, me tire daqui! ─ Implorei, pela última vez, quando uma lágrima apavorada escorreu.
A glote dele subiu e desceu, mas seu olhar continuava incisivo.
─ Apenas, cala a boca. ─ Latiu, puxando um pouco a blusa para cima, fazendo questão de exibir à pistola guardada no cós da calça.
Percebi o maxilar do homem se tencionar, e seu olhar pesar ainda mais duramente sobre mim. Engoli em seco, sacodindo a cabeça copiosamente, calando-me imediatamente, surpresa com a atitude perversa dele, e me afastei, dando alguns passos para trás. Seus olhos se estreitaram, ostentando um brilho cruel de vitória. Ele inclinou um pouco a cabeça e sorriu de lado, acenando em concordância, de modo que desse a entender que eu estava fazendo a escolha certa.
─ Quanta ironia... – ele divagou depois de um tempo, exibindo um riso sarcástico antes de abaixando o olhar.
Senti vontade de lhe perguntar qual era a ironia, mas abstive-me com a postura rígida dele.
─ Ernest! ─ Chamou ele, ao homem que eu não tinha reparado que estava logo atrás do desconhecido. ─ Se ela der um passo, não hesite em atirar! ─ Ordenou ao me lançar um olhar intimidante.
Ernest sacou a pistola do seu coldre e a preparou, empunhando-a diante do corpo.
Cretino!
O homem se voltou um pouco para o lado e dirigiu sua atenção para algo que não era eu. Ouvi consecutivos bipes eletrônicos e em seguida, uma parte do vidro começou a se mover, arrastando-se para abrir.
Naquele momento, o meu coração e pulmão pararam. Não tinha reparado, mas o vidro que me mantinha separada dele, ainda que fosse uma prisão, me transmitia à sensação de segurança. Daqui ele não podia me tocar e nem me ferir, mas agora... agora não havia nada. Estava exposta e não tinha meios possíveis para me defender.
Meus olhos alternaram nervosamente entre a pistola e o sujeito que invadia a cela. O meu coração quase pulou boca afora, quando o homem se pôs no meio da porta, avançando pelo espaço.
─ O-o q-que você vai fazer? ─ Indaguei arfante, tentando me afastar enquanto podia da sua aproximação abrupta.
Eu podia sentir os meus olhos esbugalhados e coração aterrorizado, batendo forte e descompassado dentro das costelas. Milhares de coisas vieram a minha mente num só instante. E se ele fosse um estuprador... ou, se essa fosse a parte em que ele me levava para um açougue humano, e retirava todos os meus órgãos para vender no mercado negro?
Oh meu Deus!
O desespero não me permitia racionalizar. Eu só não queria que ele se aproximasse e numa tentativa desesperada de não fazer movimentos bruscos, ergui a mão, esperando que ele ao menos respeitasse isso. O espaço.
Enquanto ele se aproximava, eu recuava com passadas para trás.
─ Tá legal. Eu não tenho o dia inteiro. ─ Protestou impacientemente, o maldito, quando me encurralou no canto, entre uma parede e outra.
─ Pelo visto, essa garota vai ser uma baita dor na bunda. ─ Ouvi outra voz áspera preencher o ambiente do lado de fora. Era Ernest, o seu comparsa.
─ Está tudo sob controle! ─ Declarou o sujeito, muito mais perto de mim agora, e sua voz ecoou gravemente pelos meus tímpanos, e eu precisei me encolher mais contra a parede devido à falta de espaço entre nós.
Vi por cima do ombro do homem, quando Ernest se afastou. O outro suspirou irritadamente, e puxou uma faca, fazendo-me esbugalhar os olhos ao engolir em seco, totalmente apavorada. Porque, ele a pressionou conta a minha bochecha. Pude sentir o metal gélido roçar em minha pele, a lâmina prensando a minha carne, junto com a sensação de pânico que se espalhava da minha espinha por toda extensão do corpo. Naquele momento, tive a convicção de que ele me mataria por estar dificultando as coisas.
A vida conseguia ser uma tremenda vadia de duas caras. Naquele momento, eu tinha me flagrado pensando no motivo pelo qual tudo isso estava acontecendo comigo? Por que ferrar tanto assim? Eu já não estava quebrada o suficiente?Abaixei o olhar, completamente intimidada e virei meu rosto para o outro lado, assim que o homem pressionou a lâmina afiada da faca na minha bochecha com mais força. Eu podia sentir a minha pele começando a ceder à pressão do objeto afiado.Seus olhos obscuros me encaravam diretamente. Engoli a seco, quando percebi que ele relutava entre abaixar a faca e me tirar da cela. Ele não precisava fazer isso, porque eu não tinha como fugir. Estava entre a cruz e a espada. Mas talvez ele sentisse prazer em me torturar ou simplesmente estava pensando seriamente em adiantar o trabalho e acabar comigo de uma vez por todas. “Pouparia uma grande dor na bunda” — cogitei com as perna
De todas as coisas que já precisei superar nos últimos dois anos, essa sem dúvida era a mais crítica e maluca de todas.Tentei por diversas vezes, na maioria, frustradas, respirar fundo e oxigenar meu cérebro para manter a calma. Estava difícil processar aquilo. Isso se for possível manter a calma com tantos criminosos ao redor.Não sabia o que fazer, na verdade, não havia nada o que fazer. Eu estava presa e em poder de pessoas que não pareciam dar a mínima se precisasse tirar uma vida a troco de nada.Respirei fundo outra vez, contendo a vontade que sentia de abaixar o olhar e os mantive firme em direção ao homem que estava diante de mim.Ele espreitou a mesa, deslizando o polegar pela quinta.O homem era cheio de si, vestia uma confiança imponente e intimidante. Seus olhos eram como cofres invioláveis e obscuros, sua postura era como a de uma
Desejei acordar...Desejei desesperadamente acordar daquele pesadelo e fugir desse lugar maldito.No fundo, eu sabia que nunca mais seria o que era antes. O passado, as marcas, as cicatrizes, o treinamento. O que forma quem uma pessoa é são as situações impostas a ela ao longo da vida. Definitivamente eu não tinha isso, não havia lembranças.Não carregava nada daquilo em mim, mas Amy Murray sim. Contudo, ela morreu junto com todas as minhas memórias.Passei dois anos em busca de algo que eu mesma não sabia o que era, e sequer chegara perto de encontrar, e por mais que no fundo sentisse que tudo que estava fazendo passava longe de me trazer de volta, ainda assim, era com um único propósito: a sobrevivência.Precisava sobreviver, e é mais difícil sobreviver no submundo do Brooklin do que se imagina.Eu me interessava pela minha histór
Senti minhas pernas travarem no chão. Percebi nesse momento que, o sentimento de coragem, nada mais é do que a ausência de lucidez da mente humana. É o otimismo e a esperança de que tudo o que fizer, vai dar certo. Mas o universo conspira contra você o tempo inteiro. O destino joga, e se diverte com a sua destraça, porque sua vida não passa de uma partida fodida num jogo de azar. E embora não me sentisse pronta para morrer, consegui ver a minha vida passar como um filme nos olhos de vidro dede. Travis estava bravo. Na verdade, ele estava muito mais do que isso. Ele estava puto da vida comigo. O meu olhar oscilou das mãos ainda erguidas empunhando a arma e seu rosto sombrio, enquanto esgueirava no ambiente escuro até estar diante de mim. A arma apontada diretamente em minha direção me fazia vacilar ao imaginar que a qualquer momento ele poderia descarregá-la em mim.Alguns feixes de
— Amy Murray foi uma das poucas mulheres que conheci que nunca se fava ao luxo de errar... — comentou Travis, destravando e abrindo uma grande maleta metálica prateada disposta sobre a mesa à nossa frente. — Ela tinha fama de se dedicar exclusivamente ao seu trabalho, a vadia era realmente muito boa — disse, enquanto encarava o conteúdo dentro da maleta. Suas retinas refletindo o brilho prateado do objeto a sua frente.Intrigada eu observava todos os seus movimentos, com os braços cruzados diante do peio, tentando ignorar a onda de ódio que ele conseguia despertar em mim ao falar daquela forma a respeito de mim.O lugar para onde Travis tinha me trazido era como um grande galpão vazio. Carregava um clima pesado e frio e mesmo com as luzes acesas, ainda sentia algo sombrio sobrecarregar o ambiente. O espaço não era tão largo, mas em compensação era bastante comprido.
Senti minha garganta seca arranhar.Relutei em abri meus olhos, paralisada e catatônica quando o único barulho que os meus ouvidos capturaram foi pequeno estalido de simples engrenagens girando.Santa Mãe dos Desesperados...Era possível sentir o meu mundo se desfazer lentamente em mil pedaços atrás de mim.Se fugir não me custou à vida, tentar mata-lo certamente vai me custar.Morta. Eu já podia me ver morta!Encarei a pistola de prata em minhas mãos trêmulas e pressionei o gatilho mais duas vezes, louca, furiosa, agarrando-me a um único fio de esperança de que a arma estivesse apenas com um mal funcionamento e mergulhando em uma espécie de colapso de nervoso e desespero quando nada aconteceu.— Não. Não. Não. Não... — Eu repetia, tentando fazer a arma funcionar.Dava para sentir meu
Quando ouvi a porta metálica que isolava o andar se arrastar, comecei a retirar as roupas de dentro da bolsa, analisando-as da forma que podia em meio à ausência de luz. Havia ali uma jaqueta de couro preta, semelhante a que eu vestia quando fui trazida contra minha vontade para este lugar. Encontrei também um par de botas de cano curto, calça jeans e uma regata preta.Algo me dizia que já estava sozinha, mas ainda assim vasculhei ao redor com os olhos, buscando encontrar Travis em algum canto escuro, mas quando isso não aconteceu, suspirei e me apressei em começar a substituir as peças de roupa, de modo que não ficasse completamente nua de uma só vez. Eu tentava evitar deixar o meu corpo o máximo exposto possível.Vesti a última peça que faltava, a jaqueta de couro envelhecido que tinha servido como uma luva e puxei os fios de cabelo para fora da gola da peça
Paralisei quando um nó começou a se formar em minha garganta. As palavras de Travis tinham se tornado um grande bolo impossível de deglutir.Atirar— suas palavras reverberavam, como se eu fosse capaz de realmente atirar em alguém.Como ele esperava que eu lidasse com isso?Voltei o olhar para o corpo inconsciente a poucos metros de mim e comecei a me desesperar outra vez.Cada minuto de Travis lá fora parecia uma eternidade dentro dessa sala, e a minha mente começou a trabalhar em situações que envolviam Seth acordar e eu precisar imobilizá-lo. Um soco não mataria alguém — a minha cabeça desejava desesperadamente que aquele homem não acordasse enquanto Travis não retornasse, porque não seria eu a fazer qualquer coisa contra ele, e não era uma boa hora para ir contra as ordens que Travis havia me dado.Enfiei as