Paralisei quando um nó começou a se formar em minha garganta. As palavras de Travis tinham se tornado um grande bolo impossível de deglutir.
Atirar — suas palavras reverberavam, como se eu fosse capaz de realmente atirar em alguém.
Como ele esperava que eu lidasse com isso?
Voltei o olhar para o corpo inconsciente a poucos metros de mim e comecei a me desesperar outra vez.
Cada minuto de Travis lá fora parecia uma eternidade dentro dessa sala, e a minha mente começou a trabalhar em situações que envolviam Seth acordar e eu precisar imobilizá-lo. Um soco não mataria alguém — a minha cabeça desejava desesperadamente que aquele homem não acordasse enquanto Travis não retornasse, porque não seria eu a fazer qualquer coisa contra ele, e não era uma boa hora para ir contra as ordens que Travis havia me dado.
Enfiei as
— Um... — mordi o lábio e desferi um soco contra o saco de areia a minha frente.— Dois... — soco.O ritmo frenético do meu coração batendo podia ser ouvido nas minhas orelhas, a cada vez que minha mente lembrava os dos tiros no corpo de Seth.— Três... — outro soco forte e impreciso que fez ecoar um estrondo seco pelo salão de treinamento.A contagem dos meus golpes soava tão baixa quanto um sussurro entrecortado pela respiração ofegante, que poderia ser facilmente confundido com um pensamento. Nada seria capaz de apagar da minha mente o momento em que a cabeça de Seth pendeu para frente, sem firmeza. Sem um pingo de vida, ou sangue vertendo pelas perfurações dos projéteis em seu corpo.Morto...— Quatro... — dessa vez foi um chute.Droga! Não dava para lidar com esse sentimento.Esta
Travis estacionou o carro na rua, em frente a um grande e luxuoso prédio no Queen’s.— Você entendeu? — Perguntou Travis pela quarta vez, logo depois de desligar o motor do carro.Assenti impacientemente com a cabeça em resposta, e ele arqueou as sobrancelhas, parecendo não dar credibilidade a minha resposta.— Então, repasse o plano! — Ele se ajeitou na poltrona.De forma impaciente, me remexi na poltrona do carro, mudando a posição, de forma que, ficasse de frente para ele.— É sério? — rebati franzindo as sobrancelhas.Travis retorceu o rosto numa expressão que demonstrava desaprovação e suspirou, impacientemente.— Infelizmente, eu sou obrigado a lidar com uma maluca impulsiva, que, aliás, não sabe receber ordens. Então sim! Repasse o plano.— Eu não pedi para e
Analisei o rosto do homem que carregava estranhos traços brutos, bem como algumas deformidades devido a contusões. A pele era clara ao ponto de tomar uma coloração rosada. Os olhos eram estreitos demais, castanho-escuros que carregavam em si um brilho selvagem e brutal. O cara, literalmente parecia um animal selvagem.— Agora, você vai me dar à arma e começar a explicar direitinho o que tá fazendo na minha casa! — Pediu, estendendo a mão e fazendo um sinal com os dedos. Levei algum tempo para assimilar toda a situação, e apesar de seu tamanho e saber que estava correndo um grande risco, entregar a arma não era uma opção.Eu precisava dar um jeito nisso!O homem suspirou insatisfeito, rangendo os dentes quando percebeu que não lhe entregaria a arma e como resposta, se aproximou abruptamente, tornando-se ainda maior e mais ameaçador.
Daquele momento em diante, eu só conseguia me questionar se os meios poderiam justificar os fins? Estar sendo ameaçada e chantageada justificavam esse ato hediondo? Usar isso como desculpa seria capaz de amenizar o que eu acabara de fazer?Eu precisava daquele homem vivo; ele tinha respostas e agora, eu tinha conseguido estragar tudo.— Nós precisamos sair. — A voz de Travis não passava de um ecoar distante em minha cabeça, parecendo um zumbido.O meu cérebro ainda estava trabalhando para assimilar o estrago que eu tinha acabado de fazer.Eu tinha matado uma pessoa.O que isso faz de mim agora?Uma assassina?Não. Eu me recusava a ser esse tipo de pessoa, mas tinha acabado de fincar os meus dois pés na lama e não conseguiria sair limpa disso.— Amy! — Era a voz dele novamente, mas estava muito difícil me livrar da inérc
Travis reduziu a velocidade do carro e o estacionou de frente para um motel, cujo letreiro estava queimado, e eu só conseguia ler “E-em” de esquina com um bar beira de estrada.— Você não tinha que me levar de volta para o Raymond? — questionei assim que contatei a realidade ao redor.— Não dá para voltar. — Notificou, desligando o motor do carro. — A polícia ainda está por aí, procurando o assassino do Patrick.Pensei a respeito, me lembrando do que acontecera no apartamento. Aquele homem tinha tentado me eliminar há dois anos. Por quê? Embora precisasse de resposta agora que começava a me lembrar aos poucos, não estava sob nenhuma condição falar a respeito disso com Travis. Não dava para confiar em ninguém, além do mais, Travis era o que mais me deixava com o pé atrás.— Quem e
Juntei as tiras que agora se pareciam mais com cordas e as larguei na frente de Travis. Ele estava completamente grogue. A droga o deixara em um estágio parecido com o de uma hibernação. Não dormia, mas também não estava acordado. Uma espécie de analgésico dissociativo muito conveniente no momento.Não tinha a menor ideia de como fazer o que precisava a seguir, mas precisava ser forte o suficiente para passar um braço de Travis pelos meus ombros e suportar o seu peso até o outro canto do quarto.O treinamento recebido enquanto estava presa, me foram de grande valia naquele momento. Tinha adquiri boa condicionamento, velocidade e força física. Eu conseguiria lidar com os oitenta e tantos quilos dele. Eu daria conta do recado.Suspirei, numa forma de me preparar, e posicionei o seu corpo na direção da cama, soltando-o depois, de modo que ele caísse deita
— Você passa tanto tempo procurando respostas, que não consegue enxergar o que está diante de você.Suas palavras me deixaram revoltada. Possessa, mordi o lábio interno com tanta força ao ponto do gosto ferroso contaminar o meu paladar. Me aproximei bruscamente dele, como um animal selvagem prestes a atacar e apoiei a mão no colchão, afundando um pouco.Estávamos cara a cara. Meus olhos fincados nos dele. Os meus dentes cerrados pela revolta e mão fechada em punhos.— Você sabe o que eu estou vendo agora, Travis? — retorqui entre os dentes. O meu sangue fervilhava num frenesi violento. Meus olhos queimavam de puro ódio. Eu estava a fim de machucá-lo, mas não fisicamente, desejava ir além daquilo, pois o cretino aguentaria firme em sua pose de confiança indestrutível, independentemente de qualquer agressão físic
— Você pegou tudo? — perguntei a Stayce, enquanto descíamos às pressas à escadaria do prédio.— Acho que sim. — Respondeu, enquanto eu abria o porta-malas do carro dela, um Toyota Matrix prata usado, mas muito conservado, e depositava nossa bagagem ali.Não se tratava de muita coisa. Eram duas bolsas. Uma minha, outra dela e uma sacola com comida para o caso de emergências. Nós não precisaríamos de muito agora, pelo menos não por enquanto. O mais importante era sair desse lugar, e se prender a coisas demais parecia um erro.— O que é isso na sua calça? — Stayce indagou, arregalando os olhos e apertando as sobrancelhas ao cruzar os braços diante do peito, encarando a arma enfiada no cós da calça.A pergunta me fizera lembrar do que tinha acontecido há poucas horas. Meu plano de prender Travis e conseguir i