— Você pegou tudo? — perguntei a Stayce, enquanto descíamos às pressas à escadaria do prédio.
— Acho que sim. — Respondeu, enquanto eu abria o porta-malas do carro dela, um Toyota Matrix prata usado, mas muito conservado, e depositava nossa bagagem ali.
Não se tratava de muita coisa. Eram duas bolsas. Uma minha, outra dela e uma sacola com comida para o caso de emergências. Nós não precisaríamos de muito agora, pelo menos não por enquanto. O mais importante era sair desse lugar, e se prender a coisas demais parecia um erro.
— O que é isso na sua calça? — Stayce indagou, arregalando os olhos e apertando as sobrancelhas ao cruzar os braços diante do peito, encarando a arma enfiada no cós da calça.
A pergunta me fizera lembrar do que tinha acontecido há poucas horas. Meu plano de prender Travis e conseguir i
No fim, tudo não passava de um negrume infinito e vazio. Era como se meu corpo navegasse num eterno vai-e-vem, consumida por uma inércia vazia e constante. Não havia dor, até que de repente, um sopro frio varreu meu corpo. Como se algo intenso e remoto preenchesse o estômago, distante demais da minha consciência para distinguir o que poderia ser.Então, fui surpreendida pela sensação de algo agarrasse a minha alma e jogasse-a com vontade o suficiente para não a deixar fugir. Em um momento, estava partindo, mas no outro, estava sendo arrastada, sugada. Minha alma foi empurrada de volta para o corpo.A água irrompeu queimando a garganta e as vias respiratórias. Tossi freneticamente, quando ela irrompeu a boca e encharcou meu rosto. Resfoleguei ruidosamente, de súbito, colocando o resto da água, que havia dentro de mim para fora. O meu peito subia e descia arqueja
As imagens do caos começaram a tomar espaço em minha mente, quando os vidros do SUV se partindo com o impacto da batida. Os estilhaços caindo por cima dos nossos corpos e a sensação de estar sem chão, voando rumo ao nada. O vazio desesperador que se propagava do estômago até a coluna. Revivi o desespero, entrando em pânico. A impotência me torturava. Não podia fazer absolutamente nada e me via de punhos atados outra vez, novamente vivendo a mercê das circunstâncias, frágil demais para lutar contra as catástrofes da vida.A morte de Stayce. Minha mente estava revivendo aquilo de novo e de novo, e parecia que relembraria aqueles momentos pelo resto da minha vida.A culpa conseguia irromper dos sonhos e queimar meu corpo, voltando as águas furiosas e impiedosas que tomava pouco a pouco toda a extensão do carro destroçado, sugando-o para o fundo do rio.
Minha cabeça lateja e eu podia sentir que meus músculos contraiam involuntariamente. Arrastei-me da cama e pus as pernas para fora, apoiando os cotovelos sobre as coxas e arquejando com a fisgada que irrompia dolorosa da têmpora. Esfreguei meus olhos e analisei ao redor, constatando que estava no quarto de Travis.Olhei pela janela e vi pelo céu acinzentado que ainda era muito cedo.Levantei-me da cama e segui em direção a porta que estava entreaberta e puxei-a silenciosamente, passando por ela ao sair no corredor.Havia mais três portas além da minha e isso me fez olhar ao redor com curiosidade. Por que Travis precisava de uma casa tão grande?Olhei para a porta mais próxima da que eu saíra e me atrevi a girar a maçaneta, tentando fazer o mínimo barulho possível e a empurrei o suficiente para que meu corpo pudesse passar, deparando-me imediatamente com o corpo
Permaneci na casa de Travis por dois dias. Meu corpo se recuperava satisfatoriamente rápido. A ferida já estava seca e não precisava tomar mais remédios, porque a dor já não era latente.Eu me sentia boa o suficiente para partir. Não queria mais permanecer em Nova York, e me recusava a ficar na casa de Travis por mais tempo.As coisas tinham ficado estranhas desde a primeira noite, e eu passava a maior parte do tempo tentando evitá-lo. Talvez estivesse envergonhada por ter ficado chapada ou simplesmente com medo de Travis e da forma como ele olhava para mim, mas de algum jeito surreal, as coisas conseguiam ficar ainda mais esquisitas à medida que permanecia na casa.Uma sensação estranha zunia no fundo dos meus ouvidos, advertindo-me ao fato de que ele estava escondendo alguma coisa importante sobre o meu passado de mim. Eu tinha certeza disso, pois ele sabia demais, mas Travis nã
Ergui o meu olhar, atordoada com o fluxo de informação que me atingia como uma pedrada na cabeça. O pulsar acelerado do meu coração poderia ser ouvido com facilidade se o caos cessasse. Na verdade, o ambiente estava em silêncio e carregava uma apreensão palpável. A gritaria acontecia dentro de mim.— O-o que? — rebati perplexa e muito assustada.Minha boca secou quando o homem deu dois passos para mim e deixou um pequeno chute na minha bota.— Levante-se! — Ralhou, permanecendo firme em sua ordem.Droga!Apavorava, chacoalhei a cabeça em negativa e apertei os olhos com força ao tentar controlar os meus nervos, mas parecia ser impossível.— Você está surda? — refutou ele, com uma revolta aparente em seu timbre que me fez encolher mais. — Qual parte está difícil de entender. Eu mandei voc&eci
Abri meus olhos quando senti um peso fazer o meu corpo subir com pressão. O colchão abaixo de mim era macio, mas mesmo com o conforto, a sensação não era nada boa. Então, mesmo com a mente atordoada, inclinei o corpo sobre os cotovelos, erguendo a cabeça e sobressaltando num pulo sobre a cama assim que me deparei com Ryan sentado à beira.— Ryan! — exclamei no susto, me encolhendo na defensiva, encarando-o com apreensão.Ele estava inclinado para frente. Os cotovelos fincados nos joelhos, os braços lhe cobriam o rosto, e os dedos emaranhavam-se nos cabelos loiros mais compridos na parte superior, rendendo a ele um ar dramático e pensativo.Receando o pior. Baixei o olhar para os meus pés. Minhas botas não estavam ali e arrastei-os mais para mim, tomando o cuidado de ficar o mais longe possível dele.Ergui o olhar, mas tive de mexer o maxilar, arqu
Marshall não ofereceu resistência, porque Ryan foi bastante persuasivo quando apontou a arma nas costas dele, e nós fizemos o caminho contrário.Era bastante inusitado pensar que as pessoas mudavam de opinião rapidamente, se você as motivassem do jeito certo, e mesmo que isso fosse hediondo, Marshall estava escondendo alguma coisa importante e estava na cara que ele não nos ajudaria sem um empurrãozinho.Os casacos grossos serviram para camuflar a arma e não chamar muita atenção das poucas pessoas que transitavam pela calçada. Marshall empurrou a grande porta pesada e passou primeiro com Ryan em seu encalço. Eu os segui, passando pelo grande saguão de entrada que ostentava no chão um selo adesivo enorme e redondo. Um brasão elucidava a rosa dos ventos com cabeça de uma a águia branca logo acima. “Central Intelligence Agency” m
Nós estávamos dentro do carro, esperando, sob o estacionamento subterrâneo de um luxuoso prédio em Manhattan, como eu imaginava que policias faziam. Aqui o teto era rebaixado e a estrutura metálica se fundia ao concreto. Colunas reforçadas sustentavam a gigantesca estrutura e quatro filas de carros seguiam de uma ponta a outra, e de um determinado ponto, não dava para ver nada, já que a iluminação era precária e penosa, transformando metade da luz ambiente em uma densa escuridão.O silêncio estava desconcertante e inquietante quando eu me movimentei para olhar para Ryan, a minha roupa farfalhando em contato com o material do banco até que eu me ajeitasse.— Quando você o pegar — disse — o que você vai fazer?Ryan não respondeu, apenas ficou ali, olhando com ar de distanciamento através do para-brisa. As mãos enfiadas