Permaneci na casa de Travis por dois dias. Meu corpo se recuperava satisfatoriamente rápido. A ferida já estava seca e não precisava tomar mais remédios, porque a dor já não era latente.
Eu me sentia boa o suficiente para partir. Não queria mais permanecer em Nova York, e me recusava a ficar na casa de Travis por mais tempo.
As coisas tinham ficado estranhas desde a primeira noite, e eu passava a maior parte do tempo tentando evitá-lo. Talvez estivesse envergonhada por ter ficado chapada ou simplesmente com medo de Travis e da forma como ele olhava para mim, mas de algum jeito surreal, as coisas conseguiam ficar ainda mais esquisitas à medida que permanecia na casa.
Uma sensação estranha zunia no fundo dos meus ouvidos, advertindo-me ao fato de que ele estava escondendo alguma coisa importante sobre o meu passado de mim. Eu tinha certeza disso, pois ele sabia demais, mas Travis nã
Ergui o meu olhar, atordoada com o fluxo de informação que me atingia como uma pedrada na cabeça. O pulsar acelerado do meu coração poderia ser ouvido com facilidade se o caos cessasse. Na verdade, o ambiente estava em silêncio e carregava uma apreensão palpável. A gritaria acontecia dentro de mim.— O-o que? — rebati perplexa e muito assustada.Minha boca secou quando o homem deu dois passos para mim e deixou um pequeno chute na minha bota.— Levante-se! — Ralhou, permanecendo firme em sua ordem.Droga!Apavorava, chacoalhei a cabeça em negativa e apertei os olhos com força ao tentar controlar os meus nervos, mas parecia ser impossível.— Você está surda? — refutou ele, com uma revolta aparente em seu timbre que me fez encolher mais. — Qual parte está difícil de entender. Eu mandei voc&eci
Abri meus olhos quando senti um peso fazer o meu corpo subir com pressão. O colchão abaixo de mim era macio, mas mesmo com o conforto, a sensação não era nada boa. Então, mesmo com a mente atordoada, inclinei o corpo sobre os cotovelos, erguendo a cabeça e sobressaltando num pulo sobre a cama assim que me deparei com Ryan sentado à beira.— Ryan! — exclamei no susto, me encolhendo na defensiva, encarando-o com apreensão.Ele estava inclinado para frente. Os cotovelos fincados nos joelhos, os braços lhe cobriam o rosto, e os dedos emaranhavam-se nos cabelos loiros mais compridos na parte superior, rendendo a ele um ar dramático e pensativo.Receando o pior. Baixei o olhar para os meus pés. Minhas botas não estavam ali e arrastei-os mais para mim, tomando o cuidado de ficar o mais longe possível dele.Ergui o olhar, mas tive de mexer o maxilar, arqu
Marshall não ofereceu resistência, porque Ryan foi bastante persuasivo quando apontou a arma nas costas dele, e nós fizemos o caminho contrário.Era bastante inusitado pensar que as pessoas mudavam de opinião rapidamente, se você as motivassem do jeito certo, e mesmo que isso fosse hediondo, Marshall estava escondendo alguma coisa importante e estava na cara que ele não nos ajudaria sem um empurrãozinho.Os casacos grossos serviram para camuflar a arma e não chamar muita atenção das poucas pessoas que transitavam pela calçada. Marshall empurrou a grande porta pesada e passou primeiro com Ryan em seu encalço. Eu os segui, passando pelo grande saguão de entrada que ostentava no chão um selo adesivo enorme e redondo. Um brasão elucidava a rosa dos ventos com cabeça de uma a águia branca logo acima. “Central Intelligence Agency” m
Nós estávamos dentro do carro, esperando, sob o estacionamento subterrâneo de um luxuoso prédio em Manhattan, como eu imaginava que policias faziam. Aqui o teto era rebaixado e a estrutura metálica se fundia ao concreto. Colunas reforçadas sustentavam a gigantesca estrutura e quatro filas de carros seguiam de uma ponta a outra, e de um determinado ponto, não dava para ver nada, já que a iluminação era precária e penosa, transformando metade da luz ambiente em uma densa escuridão.O silêncio estava desconcertante e inquietante quando eu me movimentei para olhar para Ryan, a minha roupa farfalhando em contato com o material do banco até que eu me ajeitasse.— Quando você o pegar — disse — o que você vai fazer?Ryan não respondeu, apenas ficou ali, olhando com ar de distanciamento através do para-brisa. As mãos enfiadas
Ryan zapeava o botão do rádio até que parou no momento em que ouviu o distinto som de guitarra de Highway to hell preencher o espaço do Velho Mustang Reformado.— Hey mama! Look at me. — Ele cantou acompanhando a letra da música. — I’m on my way to the promised land. I’m on the highway to hell.A forma como ele estava se comportando praticamente dizia: ei, olhe para mim. Acabei de fazer uma coisa sensacional.— Você está orgulhoso do que fez ao Coleman? — indaguei, pensativa.Ryan parou de acompanhar a música e me fitou por bastante tempo antes de colocar os olhos na estrada.— Você não está? — Ele rebateu a pergunta, e eu arqueei as sobrancelhas.Não. As minhas sobrancelhas se juntaram. É claro que eu não estava. Não foi correto torturar um homem; ris
Eu tinha plena consciência de que me levantar daquela cadeira e me dirigir ao banheiro não era a melhor ideia. Primeiro, porque tinha um policial no bar, e segundo, pois Ryan não estava lidando com a devida seriedade da qual o problema que tínhamos exigia, mas eu realmente tinha uma emergência e com isso, assenti com a cabeça e empurrei a cadeira para trás, me levantando e rumando em direção a porta do banheiro.Sem criar muitas expectativas sobre a limpeza do local, abri a porta e avancei com pressa, batendo-a logo atrás. Quando sai de lá, minutos depois, levei algum tempo para me reorientar com toda a fumaça e a música alta, até encontrar a mesa em que Ryan estava.Antes de atravessar o caminho até a mesa, vasculhei o local com o olhar, buscando pelo policial que chegara a pouco. Esperava passar o mais longe possível dele, e agradeci internamente, sentindo um
Apreensiva, engoli a seco ao encarar mais uma vez os fios partidos na mão de Ryan. Não havia mais dúvidas. Alguém tinha sabotado o carro. Alguém tinha cortado os fios. Mas por quê?Não conhecíamos ninguém nessa cidade.— Isso é um sinal, Ryan — disse, fixando o meu olhar nos dois homens do outro lado da rua. — Ir para Detroit é suicídio. Pellington vai acabar com a gente. Até o carro sabe disso.Ele me encarou e depois arqueou as sobrancelhas.— Não seja ridícula. Isso é coisa daqueles malditos! — praguejou ao socar o volante no impulso e suspirou, apoiando os cotovelos ali, em seguida, respirando ruidosamente em meio à fúria, apertando os olhos. — Eles vão me pagar por terem feito isso com meu carro.Franzi as sobrancelhas, denunciando a minha confusão.— Ser&aac
De todas as poucas coisas certas sobre mim, eu tinha certeza absoluta de apenas duas delas naquele momento. Primeira, eu me arrependia amargamente de ter depositado qualquer resquício de confiança em Ryan e sequer ter cogitado a ideia de que ele me manteria segura. É claro que em algum momento oportuno ele usaria isso contra mim, e eu fui uma grande e inquestionável idiota por ter caído nessa. Segundo, eu não era, com toda a fodida certeza, uma moeda de troca para absolutamente nada.A minha garganta contraiu e o estômago inflamou com a bílis que se espalhou amarga pelo meu sistema. Eu não seria, de forma alguma, o prêmio de alguém. Essa ideia estava fora de cogitação, e eu o odiava de todas as formas possíveis por ter feito isso comigo.— O que? — questionei, me engasgando com as palavras, inconformada, pulando da cadeira e me pondo de pé, ainda sem acred