Apreensiva, engoli a seco ao encarar mais uma vez os fios partidos na mão de Ryan. Não havia mais dúvidas. Alguém tinha sabotado o carro. Alguém tinha cortado os fios. Mas por quê?
Não conhecíamos ninguém nessa cidade.
— Isso é um sinal, Ryan — disse, fixando o meu olhar nos dois homens do outro lado da rua. — Ir para Detroit é suicídio. Pellington vai acabar com a gente. Até o carro sabe disso.
Ele me encarou e depois arqueou as sobrancelhas.
— Não seja ridícula. Isso é coisa daqueles malditos! — praguejou ao socar o volante no impulso e suspirou, apoiando os cotovelos ali, em seguida, respirando ruidosamente em meio à fúria, apertando os olhos. — Eles vão me pagar por terem feito isso com meu carro.
Franzi as sobrancelhas, denunciando a minha confusão.
— Ser&aac
De todas as poucas coisas certas sobre mim, eu tinha certeza absoluta de apenas duas delas naquele momento. Primeira, eu me arrependia amargamente de ter depositado qualquer resquício de confiança em Ryan e sequer ter cogitado a ideia de que ele me manteria segura. É claro que em algum momento oportuno ele usaria isso contra mim, e eu fui uma grande e inquestionável idiota por ter caído nessa. Segundo, eu não era, com toda a fodida certeza, uma moeda de troca para absolutamente nada.A minha garganta contraiu e o estômago inflamou com a bílis que se espalhou amarga pelo meu sistema. Eu não seria, de forma alguma, o prêmio de alguém. Essa ideia estava fora de cogitação, e eu o odiava de todas as formas possíveis por ter feito isso comigo.— O que? — questionei, me engasgando com as palavras, inconformada, pulando da cadeira e me pondo de pé, ainda sem acred
✦TRAVIS✦Sentia o suor cobrir a minha pele, e uma gota quente de sangue escorrer pela lateral do meu rosto. Narinas dilatadas. Peito subindo e descendo no compasso de uma respiração pesada. Eu estava abaixado, com os joelhos no chão, braços erguidos e mãos a vista. Tudo conforme aquela maldita havia ordenado.Minha casa tinha sido invadida e praticamente destruída. Havia estilhaços de vidros por toda a sala. Cápsulas de bala espalhadas pela entrada, e como se a situação não pudesse ficar ainda pior, tinha uma mulher mascarada segurando uma arma contra mim.Ela não sabia onde estava se metendo quando decidiu invadir a minha residência, sequestrar Amy e fazer o meu amigo e a mim de reféns. Foi uma péssima ideia, mas mesmo com todo essa situação caótica, eu realmente estava disposto a relevar. Não fazia a menor ideia d
Diante do espelho, eu tentava buscar qualquer traço familiar na figura refletida ali. A única coisa que parecia não ter mudado eram meus olhos castanhos, que agora pareciam maiores e mais expressivos com o delineado marcante desenhado. Meus lábios foram tingidos de uma coloração vermelho quase vinho, que pareciam ter mais volume agora; as olheiras foram corrigidas com uma boa camada de maquiagem, e as bochechas já não era mais tão pálidas quanto antes. Mexi nos meus cabelos, que tinham sido cortados e estavam estranhamente curtos, um pouco acima dos ombros e eles caiam, repartidos ao meio, pelas laterais do meu rosto.Mudar a aparência fazia parte do plano, e eu tinha ciência disso, mas não esperava me parecer tanto com uma mulher fina e elegante como agora.— O que você achou? — indagou a mulher que tinha me preparado.Ela acabara de retornar segurando um
Podemos tirar lições das companhias que temos, e eu havia aprendido algumas coisas nesse meio tempo com Brandon. Uma delas e que nunca devemos subestimar um criminoso, principalmente os mais procurados. Eles não estão livres porque são idiotas. Mas Brandon tinha um ponto a mais a seu favor. Ele era eloquente, fascinantemente bonito e muito, muito manipulador.— Em quem você apostou? — Ele perguntou, desviando o olhar do ringue para mim.Eu não tinha feito uma aposta, mas esperava que a vermelha ganhasse.— A vermelha. — respondi, sem desviar o olhar do ringue.Ela era realmente muito agressiva. Pensei, admirando a forma como ela agarrara a cabeça da mulher e a levara de encontro ao seu joelho. Belo golpe.— Ela está guardando o melhor para o final. — Brandon soltou e eu virei meu rosto a tempo de flagrar seu sorriso sujo.Estava difícil c
Minha cabeça parecia pesar três vezes mais do que o normal e pendia para frente, sem forças. Abri os olhos com dificuldade e uma dor terrível martelou meu crânio e eu precisei apertar as pálpebras em resposta àquilo. Eu sentia o suor escorrer por entre as minhas sobrancelhas e têmporas.Sentia-me desidratada. A garganta implorando por uma gota de água. Os lábios secos e rachados, a minha língua colava no céu da boca.Ergui minha cabeça com dificuldade e forcei a minha visão a focar em meio ao ambiente escuro. Tentei mover meus braços, mas fui impedida imediatamente, com um retinir metálico se arrastando e uma dor queimou os meus braços e ombros. O meu coração parou, e o eu perdi o fôlego quando me deparei com correntes enferrujadas, envoltas em meus pulsos, mantendo os meus braços esticados para cima.Encontrava-me jogada
O meu corpo doía; minha mente agonizava.Seria mais fácil se ele acabasse logo com isso, porque dava para sentir o cansaço corroer meus ossos e atrofiar os músculos. Respirar parecia ser algo lancinante e torturante. Eu só queria que parasse. Só conseguia implorar a quem quer que fosse para que aquilo parasse.O meu corpo já não aguentava mais e havia chegado ao ponto de pensar que resistir àquilo era uma ideia insustentável.Ninguém se preocuparia com o meu desaparecimento, ninguém viria ao meu socorro. Eu estava sozinha novamente.Esse era o fim da linha.Os meus braços encontravam-se presos para trás, por algemas. Estava jogada de qualquer jeito no canto da cela, as costas apoiadas na parede mofada e úmida de tijolos. Fraca e completamente destruída. Os meus lábios estavam rachados. Minha garganta estava seca, meu est&ocir
Senti a dor irromper como uma linha no pescoço. O movimento brusco tinha resultado em um corte superficial na altura da garganta, e dava para sentir o sangue quente começar a verter do corte, mas a adrenalina me impedia de afundar na dor que aquilo causava.Então, havia chegado a um nível crítico de desvio de postura. Pois estava prestes a matar alguém e eu não me sentia culpada por isso.O quão desesperado você tem que ser para tomar atitudes impensadas? Eu diria que o desespero mexe com sua cabeça e não te deixam pensar racionalmente. Assim como a raiva e medo são bons combustíveis para mover o ser humano, o desespero também. A diferença é que eu não estava cega, e isso me fez pensar no que eu estava sentindo agora? Mas, mais do que isso, eu queria saber o que ele, Brandon, estava vendo nos meus olhos agora. Raiva, medo, dor... Fúria. Eu me sen
Olhei pelo retrovisor e nós tínhamos ganhado distância o bastante para nos mantermos em segurança. Um suspiro de alívio e culpa me escapuliu naquele instante.Travis resfolegou de súbito ao meu lado, capturando a minha atenção. Ele puxou a jaqueta, afastando-a do corpo e eu congelei, engolindo a seco quando mirei a mancha de sangue que enxovalhava a camiseta branca, na altura do ombro.— Mas que droga... — Ele resmungou, jogando a cabeça contra a poltrona novamente.— Essa não... — deixei escapar.Ele estava ferido. Franzi o rosto em decepção, compartilhando do sentimento de frustração.— Como está isso? — Ernest perguntou, olhando do espelho central e pisando mais fundo no acelerador ao ver a mancha de sangue ficar maior a cada instante. — Precisa estancar, Amy.Estancar.— F