Diante do espelho, eu tentava buscar qualquer traço familiar na figura refletida ali. A única coisa que parecia não ter mudado eram meus olhos castanhos, que agora pareciam maiores e mais expressivos com o delineado marcante desenhado. Meus lábios foram tingidos de uma coloração vermelho quase vinho, que pareciam ter mais volume agora; as olheiras foram corrigidas com uma boa camada de maquiagem, e as bochechas já não era mais tão pálidas quanto antes. Mexi nos meus cabelos, que tinham sido cortados e estavam estranhamente curtos, um pouco acima dos ombros e eles caiam, repartidos ao meio, pelas laterais do meu rosto.
Mudar a aparência fazia parte do plano, e eu tinha ciência disso, mas não esperava me parecer tanto com uma mulher fina e elegante como agora.
— O que você achou? — indagou a mulher que tinha me preparado.
Ela acabara de retornar segurando um
Podemos tirar lições das companhias que temos, e eu havia aprendido algumas coisas nesse meio tempo com Brandon. Uma delas e que nunca devemos subestimar um criminoso, principalmente os mais procurados. Eles não estão livres porque são idiotas. Mas Brandon tinha um ponto a mais a seu favor. Ele era eloquente, fascinantemente bonito e muito, muito manipulador.— Em quem você apostou? — Ele perguntou, desviando o olhar do ringue para mim.Eu não tinha feito uma aposta, mas esperava que a vermelha ganhasse.— A vermelha. — respondi, sem desviar o olhar do ringue.Ela era realmente muito agressiva. Pensei, admirando a forma como ela agarrara a cabeça da mulher e a levara de encontro ao seu joelho. Belo golpe.— Ela está guardando o melhor para o final. — Brandon soltou e eu virei meu rosto a tempo de flagrar seu sorriso sujo.Estava difícil c
Minha cabeça parecia pesar três vezes mais do que o normal e pendia para frente, sem forças. Abri os olhos com dificuldade e uma dor terrível martelou meu crânio e eu precisei apertar as pálpebras em resposta àquilo. Eu sentia o suor escorrer por entre as minhas sobrancelhas e têmporas.Sentia-me desidratada. A garganta implorando por uma gota de água. Os lábios secos e rachados, a minha língua colava no céu da boca.Ergui minha cabeça com dificuldade e forcei a minha visão a focar em meio ao ambiente escuro. Tentei mover meus braços, mas fui impedida imediatamente, com um retinir metálico se arrastando e uma dor queimou os meus braços e ombros. O meu coração parou, e o eu perdi o fôlego quando me deparei com correntes enferrujadas, envoltas em meus pulsos, mantendo os meus braços esticados para cima.Encontrava-me jogada
O meu corpo doía; minha mente agonizava.Seria mais fácil se ele acabasse logo com isso, porque dava para sentir o cansaço corroer meus ossos e atrofiar os músculos. Respirar parecia ser algo lancinante e torturante. Eu só queria que parasse. Só conseguia implorar a quem quer que fosse para que aquilo parasse.O meu corpo já não aguentava mais e havia chegado ao ponto de pensar que resistir àquilo era uma ideia insustentável.Ninguém se preocuparia com o meu desaparecimento, ninguém viria ao meu socorro. Eu estava sozinha novamente.Esse era o fim da linha.Os meus braços encontravam-se presos para trás, por algemas. Estava jogada de qualquer jeito no canto da cela, as costas apoiadas na parede mofada e úmida de tijolos. Fraca e completamente destruída. Os meus lábios estavam rachados. Minha garganta estava seca, meu est&ocir
Senti a dor irromper como uma linha no pescoço. O movimento brusco tinha resultado em um corte superficial na altura da garganta, e dava para sentir o sangue quente começar a verter do corte, mas a adrenalina me impedia de afundar na dor que aquilo causava.Então, havia chegado a um nível crítico de desvio de postura. Pois estava prestes a matar alguém e eu não me sentia culpada por isso.O quão desesperado você tem que ser para tomar atitudes impensadas? Eu diria que o desespero mexe com sua cabeça e não te deixam pensar racionalmente. Assim como a raiva e medo são bons combustíveis para mover o ser humano, o desespero também. A diferença é que eu não estava cega, e isso me fez pensar no que eu estava sentindo agora? Mas, mais do que isso, eu queria saber o que ele, Brandon, estava vendo nos meus olhos agora. Raiva, medo, dor... Fúria. Eu me sen
Olhei pelo retrovisor e nós tínhamos ganhado distância o bastante para nos mantermos em segurança. Um suspiro de alívio e culpa me escapuliu naquele instante.Travis resfolegou de súbito ao meu lado, capturando a minha atenção. Ele puxou a jaqueta, afastando-a do corpo e eu congelei, engolindo a seco quando mirei a mancha de sangue que enxovalhava a camiseta branca, na altura do ombro.— Mas que droga... — Ele resmungou, jogando a cabeça contra a poltrona novamente.— Essa não... — deixei escapar.Ele estava ferido. Franzi o rosto em decepção, compartilhando do sentimento de frustração.— Como está isso? — Ernest perguntou, olhando do espelho central e pisando mais fundo no acelerador ao ver a mancha de sangue ficar maior a cada instante. — Precisa estancar, Amy.Estancar.— F
Uma corrente elétrica trilhou minha espinha e proliferou-se por todos os meus membros, no momento em que os olhos dele se fecharam e meus lábios se moveram, dando passagem para a língua. O meu coração batia forte e atordoado dentro do peito. O ar tinha se tornado rarefeito, pesado demais para ultrapassar as minhas narinas.Travis só poderia estar enlouquecendo!Eu tinha perdido o juízo quando o vi se aproximar e não fiz nada além de deixá-lo continuar.Afaste-se! — O meu consciente gritava, mas o meu corpo se recusava a obedecer a ordem expressa. Uma parte de mim, a sã. Essa que sabia que Travis não era uma boa pessoa, que sabia que ele era perigoso, desejava que eu saísse correndo imediatamente dali. Ela lutava contra a outra parte, a insensata e imprudente, a que desejava sedenta e desesperadamente por Travis.Eu me odiava por isso e me deixar levar
Travis abaixou-se do outro do corpo mole de Ryan e levou as pontas dos dedos ao pescoço dele, encarando-me com pesar, incapaz de se pronunciar.Não precisava pensar muito para entender o que aquilo significava.Os meus músculos tencionaram e o estômago revirou-se com um sentimento amargo fluindo por mim. Por um momento eu havia me esquecido de como se realizava o ato de respirar. Todos sabiam o que tinha acontecido.Ryan estava morto e por minha causa. Eu não sabia se conseguiria assumir isso em voz alta, era doloroso demais. Então mordi a parte interna de meu lábio inferior assumindo a raiva como sentimento para abandonar a tristeza. Travis passou as mãos pelo rosto de Ryan, fechando as suas pálpebras para esconder os olhos azuis fúnebres e vazios.Tudo tinha acabado. Eu não teria paz.Morto! Todos à minha volta acabavam morrendo e eu sabia lamentavelmente
A luz difusa do dia incidia diretamente sobre o meu rosto e as cortinas esvoaçavam-se conforme a brisa matinal batia pela janela. Aos poucos os meus olhos foram se abrindo, e conforme o sono se dissipava, o cômodo ia tomando formas, era um belo quarto, mas não foi a parede ou o grande quadro que ostentava borrões abstratos que roubavam o meu fôlego e chamaram minha atenção.Era Travis. Ele estava de frente para mim, deitado de lado onde forrara os cobertores à noite. A luz se expandia pelo quarto e parava sobre ele, iluminando o rosto e metade do torso do peito nu com o braço sobreposto. Seus olhos refletiam a luz, e as pupilas negras não passavam de pequenos pontinhos nos olhos abertos, que queimavam sobre mim. Ele estava me observando enquanto dormia, e ele não fazia a menor questão de fingir que não estava fazendo isso. Senti meu rosto esquentar e pensei em lhe perguntar o que havia er