Travis reduziu a velocidade do carro e o estacionou de frente para um motel, cujo letreiro estava queimado, e eu só conseguia ler “E-em” de esquina com um bar beira de estrada.
— Você não tinha que me levar de volta para o Raymond? — questionei assim que contatei a realidade ao redor.
— Não dá para voltar. — Notificou, desligando o motor do carro. — A polícia ainda está por aí, procurando o assassino do Patrick.
Pensei a respeito, me lembrando do que acontecera no apartamento. Aquele homem tinha tentado me eliminar há dois anos. Por quê? Embora precisasse de resposta agora que começava a me lembrar aos poucos, não estava sob nenhuma condição falar a respeito disso com Travis. Não dava para confiar em ninguém, além do mais, Travis era o que mais me deixava com o pé atrás.
— Quem e
Juntei as tiras que agora se pareciam mais com cordas e as larguei na frente de Travis. Ele estava completamente grogue. A droga o deixara em um estágio parecido com o de uma hibernação. Não dormia, mas também não estava acordado. Uma espécie de analgésico dissociativo muito conveniente no momento.Não tinha a menor ideia de como fazer o que precisava a seguir, mas precisava ser forte o suficiente para passar um braço de Travis pelos meus ombros e suportar o seu peso até o outro canto do quarto.O treinamento recebido enquanto estava presa, me foram de grande valia naquele momento. Tinha adquiri boa condicionamento, velocidade e força física. Eu conseguiria lidar com os oitenta e tantos quilos dele. Eu daria conta do recado.Suspirei, numa forma de me preparar, e posicionei o seu corpo na direção da cama, soltando-o depois, de modo que ele caísse deita
— Você passa tanto tempo procurando respostas, que não consegue enxergar o que está diante de você.Suas palavras me deixaram revoltada. Possessa, mordi o lábio interno com tanta força ao ponto do gosto ferroso contaminar o meu paladar. Me aproximei bruscamente dele, como um animal selvagem prestes a atacar e apoiei a mão no colchão, afundando um pouco.Estávamos cara a cara. Meus olhos fincados nos dele. Os meus dentes cerrados pela revolta e mão fechada em punhos.— Você sabe o que eu estou vendo agora, Travis? — retorqui entre os dentes. O meu sangue fervilhava num frenesi violento. Meus olhos queimavam de puro ódio. Eu estava a fim de machucá-lo, mas não fisicamente, desejava ir além daquilo, pois o cretino aguentaria firme em sua pose de confiança indestrutível, independentemente de qualquer agressão físic
— Você pegou tudo? — perguntei a Stayce, enquanto descíamos às pressas à escadaria do prédio.— Acho que sim. — Respondeu, enquanto eu abria o porta-malas do carro dela, um Toyota Matrix prata usado, mas muito conservado, e depositava nossa bagagem ali.Não se tratava de muita coisa. Eram duas bolsas. Uma minha, outra dela e uma sacola com comida para o caso de emergências. Nós não precisaríamos de muito agora, pelo menos não por enquanto. O mais importante era sair desse lugar, e se prender a coisas demais parecia um erro.— O que é isso na sua calça? — Stayce indagou, arregalando os olhos e apertando as sobrancelhas ao cruzar os braços diante do peito, encarando a arma enfiada no cós da calça.A pergunta me fizera lembrar do que tinha acontecido há poucas horas. Meu plano de prender Travis e conseguir i
No fim, tudo não passava de um negrume infinito e vazio. Era como se meu corpo navegasse num eterno vai-e-vem, consumida por uma inércia vazia e constante. Não havia dor, até que de repente, um sopro frio varreu meu corpo. Como se algo intenso e remoto preenchesse o estômago, distante demais da minha consciência para distinguir o que poderia ser.Então, fui surpreendida pela sensação de algo agarrasse a minha alma e jogasse-a com vontade o suficiente para não a deixar fugir. Em um momento, estava partindo, mas no outro, estava sendo arrastada, sugada. Minha alma foi empurrada de volta para o corpo.A água irrompeu queimando a garganta e as vias respiratórias. Tossi freneticamente, quando ela irrompeu a boca e encharcou meu rosto. Resfoleguei ruidosamente, de súbito, colocando o resto da água, que havia dentro de mim para fora. O meu peito subia e descia arqueja
As imagens do caos começaram a tomar espaço em minha mente, quando os vidros do SUV se partindo com o impacto da batida. Os estilhaços caindo por cima dos nossos corpos e a sensação de estar sem chão, voando rumo ao nada. O vazio desesperador que se propagava do estômago até a coluna. Revivi o desespero, entrando em pânico. A impotência me torturava. Não podia fazer absolutamente nada e me via de punhos atados outra vez, novamente vivendo a mercê das circunstâncias, frágil demais para lutar contra as catástrofes da vida.A morte de Stayce. Minha mente estava revivendo aquilo de novo e de novo, e parecia que relembraria aqueles momentos pelo resto da minha vida.A culpa conseguia irromper dos sonhos e queimar meu corpo, voltando as águas furiosas e impiedosas que tomava pouco a pouco toda a extensão do carro destroçado, sugando-o para o fundo do rio.
Minha cabeça lateja e eu podia sentir que meus músculos contraiam involuntariamente. Arrastei-me da cama e pus as pernas para fora, apoiando os cotovelos sobre as coxas e arquejando com a fisgada que irrompia dolorosa da têmpora. Esfreguei meus olhos e analisei ao redor, constatando que estava no quarto de Travis.Olhei pela janela e vi pelo céu acinzentado que ainda era muito cedo.Levantei-me da cama e segui em direção a porta que estava entreaberta e puxei-a silenciosamente, passando por ela ao sair no corredor.Havia mais três portas além da minha e isso me fez olhar ao redor com curiosidade. Por que Travis precisava de uma casa tão grande?Olhei para a porta mais próxima da que eu saíra e me atrevi a girar a maçaneta, tentando fazer o mínimo barulho possível e a empurrei o suficiente para que meu corpo pudesse passar, deparando-me imediatamente com o corpo
Permaneci na casa de Travis por dois dias. Meu corpo se recuperava satisfatoriamente rápido. A ferida já estava seca e não precisava tomar mais remédios, porque a dor já não era latente.Eu me sentia boa o suficiente para partir. Não queria mais permanecer em Nova York, e me recusava a ficar na casa de Travis por mais tempo.As coisas tinham ficado estranhas desde a primeira noite, e eu passava a maior parte do tempo tentando evitá-lo. Talvez estivesse envergonhada por ter ficado chapada ou simplesmente com medo de Travis e da forma como ele olhava para mim, mas de algum jeito surreal, as coisas conseguiam ficar ainda mais esquisitas à medida que permanecia na casa.Uma sensação estranha zunia no fundo dos meus ouvidos, advertindo-me ao fato de que ele estava escondendo alguma coisa importante sobre o meu passado de mim. Eu tinha certeza disso, pois ele sabia demais, mas Travis nã
Ergui o meu olhar, atordoada com o fluxo de informação que me atingia como uma pedrada na cabeça. O pulsar acelerado do meu coração poderia ser ouvido com facilidade se o caos cessasse. Na verdade, o ambiente estava em silêncio e carregava uma apreensão palpável. A gritaria acontecia dentro de mim.— O-o que? — rebati perplexa e muito assustada.Minha boca secou quando o homem deu dois passos para mim e deixou um pequeno chute na minha bota.— Levante-se! — Ralhou, permanecendo firme em sua ordem.Droga!Apavorava, chacoalhei a cabeça em negativa e apertei os olhos com força ao tentar controlar os meus nervos, mas parecia ser impossível.— Você está surda? — refutou ele, com uma revolta aparente em seu timbre que me fez encolher mais. — Qual parte está difícil de entender. Eu mandei voc&eci