Travis estacionou o carro na rua, em frente a um grande e luxuoso prédio no Queen’s.
— Você entendeu? — Perguntou Travis pela quarta vez, logo depois de desligar o motor do carro.
Assenti impacientemente com a cabeça em resposta, e ele arqueou as sobrancelhas, parecendo não dar credibilidade a minha resposta.
— Então, repasse o plano! — Ele se ajeitou na poltrona.
De forma impaciente, me remexi na poltrona do carro, mudando a posição, de forma que, ficasse de frente para ele.
— É sério? — rebati franzindo as sobrancelhas.
Travis retorceu o rosto numa expressão que demonstrava desaprovação e suspirou, impacientemente.
— Infelizmente, eu sou obrigado a lidar com uma maluca impulsiva, que, aliás, não sabe receber ordens. Então sim! Repasse o plano.
— Eu não pedi para e
Analisei o rosto do homem que carregava estranhos traços brutos, bem como algumas deformidades devido a contusões. A pele era clara ao ponto de tomar uma coloração rosada. Os olhos eram estreitos demais, castanho-escuros que carregavam em si um brilho selvagem e brutal. O cara, literalmente parecia um animal selvagem.— Agora, você vai me dar à arma e começar a explicar direitinho o que tá fazendo na minha casa! — Pediu, estendendo a mão e fazendo um sinal com os dedos. Levei algum tempo para assimilar toda a situação, e apesar de seu tamanho e saber que estava correndo um grande risco, entregar a arma não era uma opção.Eu precisava dar um jeito nisso!O homem suspirou insatisfeito, rangendo os dentes quando percebeu que não lhe entregaria a arma e como resposta, se aproximou abruptamente, tornando-se ainda maior e mais ameaçador.
Daquele momento em diante, eu só conseguia me questionar se os meios poderiam justificar os fins? Estar sendo ameaçada e chantageada justificavam esse ato hediondo? Usar isso como desculpa seria capaz de amenizar o que eu acabara de fazer?Eu precisava daquele homem vivo; ele tinha respostas e agora, eu tinha conseguido estragar tudo.— Nós precisamos sair. — A voz de Travis não passava de um ecoar distante em minha cabeça, parecendo um zumbido.O meu cérebro ainda estava trabalhando para assimilar o estrago que eu tinha acabado de fazer.Eu tinha matado uma pessoa.O que isso faz de mim agora?Uma assassina?Não. Eu me recusava a ser esse tipo de pessoa, mas tinha acabado de fincar os meus dois pés na lama e não conseguiria sair limpa disso.— Amy! — Era a voz dele novamente, mas estava muito difícil me livrar da inérc
Travis reduziu a velocidade do carro e o estacionou de frente para um motel, cujo letreiro estava queimado, e eu só conseguia ler “E-em” de esquina com um bar beira de estrada.— Você não tinha que me levar de volta para o Raymond? — questionei assim que contatei a realidade ao redor.— Não dá para voltar. — Notificou, desligando o motor do carro. — A polícia ainda está por aí, procurando o assassino do Patrick.Pensei a respeito, me lembrando do que acontecera no apartamento. Aquele homem tinha tentado me eliminar há dois anos. Por quê? Embora precisasse de resposta agora que começava a me lembrar aos poucos, não estava sob nenhuma condição falar a respeito disso com Travis. Não dava para confiar em ninguém, além do mais, Travis era o que mais me deixava com o pé atrás.— Quem e
Juntei as tiras que agora se pareciam mais com cordas e as larguei na frente de Travis. Ele estava completamente grogue. A droga o deixara em um estágio parecido com o de uma hibernação. Não dormia, mas também não estava acordado. Uma espécie de analgésico dissociativo muito conveniente no momento.Não tinha a menor ideia de como fazer o que precisava a seguir, mas precisava ser forte o suficiente para passar um braço de Travis pelos meus ombros e suportar o seu peso até o outro canto do quarto.O treinamento recebido enquanto estava presa, me foram de grande valia naquele momento. Tinha adquiri boa condicionamento, velocidade e força física. Eu conseguiria lidar com os oitenta e tantos quilos dele. Eu daria conta do recado.Suspirei, numa forma de me preparar, e posicionei o seu corpo na direção da cama, soltando-o depois, de modo que ele caísse deita
— Você passa tanto tempo procurando respostas, que não consegue enxergar o que está diante de você.Suas palavras me deixaram revoltada. Possessa, mordi o lábio interno com tanta força ao ponto do gosto ferroso contaminar o meu paladar. Me aproximei bruscamente dele, como um animal selvagem prestes a atacar e apoiei a mão no colchão, afundando um pouco.Estávamos cara a cara. Meus olhos fincados nos dele. Os meus dentes cerrados pela revolta e mão fechada em punhos.— Você sabe o que eu estou vendo agora, Travis? — retorqui entre os dentes. O meu sangue fervilhava num frenesi violento. Meus olhos queimavam de puro ódio. Eu estava a fim de machucá-lo, mas não fisicamente, desejava ir além daquilo, pois o cretino aguentaria firme em sua pose de confiança indestrutível, independentemente de qualquer agressão físic
— Você pegou tudo? — perguntei a Stayce, enquanto descíamos às pressas à escadaria do prédio.— Acho que sim. — Respondeu, enquanto eu abria o porta-malas do carro dela, um Toyota Matrix prata usado, mas muito conservado, e depositava nossa bagagem ali.Não se tratava de muita coisa. Eram duas bolsas. Uma minha, outra dela e uma sacola com comida para o caso de emergências. Nós não precisaríamos de muito agora, pelo menos não por enquanto. O mais importante era sair desse lugar, e se prender a coisas demais parecia um erro.— O que é isso na sua calça? — Stayce indagou, arregalando os olhos e apertando as sobrancelhas ao cruzar os braços diante do peito, encarando a arma enfiada no cós da calça.A pergunta me fizera lembrar do que tinha acontecido há poucas horas. Meu plano de prender Travis e conseguir i
No fim, tudo não passava de um negrume infinito e vazio. Era como se meu corpo navegasse num eterno vai-e-vem, consumida por uma inércia vazia e constante. Não havia dor, até que de repente, um sopro frio varreu meu corpo. Como se algo intenso e remoto preenchesse o estômago, distante demais da minha consciência para distinguir o que poderia ser.Então, fui surpreendida pela sensação de algo agarrasse a minha alma e jogasse-a com vontade o suficiente para não a deixar fugir. Em um momento, estava partindo, mas no outro, estava sendo arrastada, sugada. Minha alma foi empurrada de volta para o corpo.A água irrompeu queimando a garganta e as vias respiratórias. Tossi freneticamente, quando ela irrompeu a boca e encharcou meu rosto. Resfoleguei ruidosamente, de súbito, colocando o resto da água, que havia dentro de mim para fora. O meu peito subia e descia arqueja
As imagens do caos começaram a tomar espaço em minha mente, quando os vidros do SUV se partindo com o impacto da batida. Os estilhaços caindo por cima dos nossos corpos e a sensação de estar sem chão, voando rumo ao nada. O vazio desesperador que se propagava do estômago até a coluna. Revivi o desespero, entrando em pânico. A impotência me torturava. Não podia fazer absolutamente nada e me via de punhos atados outra vez, novamente vivendo a mercê das circunstâncias, frágil demais para lutar contra as catástrofes da vida.A morte de Stayce. Minha mente estava revivendo aquilo de novo e de novo, e parecia que relembraria aqueles momentos pelo resto da minha vida.A culpa conseguia irromper dos sonhos e queimar meu corpo, voltando as águas furiosas e impiedosas que tomava pouco a pouco toda a extensão do carro destroçado, sugando-o para o fundo do rio.