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Capítulo 05 - Na marra

De todas as coisas que já precisei superar nos últimos dois anos, essa sem dúvida era a mais crítica e maluca de todas.

Tentei por diversas vezes, na maioria, frustradas, respirar fundo e oxigenar meu cérebro para manter a calma. Estava difícil processar aquilo. Isso se for possível manter a calma com tantos criminosos ao redor.

Não sabia o que fazer, na verdade, não havia nada o que fazer. Eu estava presa e em poder de pessoas que não pareciam dar a mínima se precisasse tirar uma vida a troco de nada.

Respirei fundo outra vez, contendo a vontade que sentia de abaixar o olhar e os mantive firme em direção ao homem que estava diante de mim.

Ele espreitou a mesa, deslizando o polegar pela quinta.

O homem era cheio de si, vestia uma confiança imponente e intimidante. Seus olhos eram como cofres invioláveis e obscuros, sua postura era como a de uma águia no topo da cadeia alimentar. Ele irradiava poder e parecia calcular tudo o que fazia.

Ele sorriu de lado, de forma prepotente e se sentou na cadeira vazia do outro lado da mesa como se tentasse calcular as minhas atitudes.

— Agora que você já sabe de tudo... — disse, recostando-se mais para trás da cadeira, cruzando as pernas. — A situação aqui é... — Ponderou, virando a cabeça e me encarou um pouco mais — bastante simples. — Completou, repousando as mãos juntas sobre a pasta aberta em cima da mesa. — Eu tenho um trabalho para você...

Pausei por um instante.

Isso não fazia o menor sentido.

Engoli em seco e ergui uma sobrancelha, ainda sem conseguir compreender o seu objetivo. Mantive-me encolhida e silenciosa, esperando que ele falasse mais a respeito.

Eu não sabia o que fazer, mas eu sabia que o que fizesse ou dissesse poderia pôr a minha vida em risco.

— O que eu estou dizendo é... — Começou a explorar o assunto, parecendo selecionar as melhores palavras para a ocasião, inclinando seu corpo um pouco para frente, sobre a mesa. Recuei sobre o assento quando um arrepio trilhou minha espinha ao mirar os seus olhos castanhos brilharem denotando interesse. — Você era ótima em matar pessoas, fazia o serviço pesado como ninguém. Não pensava duas vezes e eu preciso de pessoas assim à minha disposição. Nada me parece melhor do que um fantasma do Governo.

O meu estômago embrulhou. Aquelas palavras perfuraram agressivamente os meus tímpanos como pontas de agulhas afiadas.

Desespero irradiou por todo o meu corpo. Nada do que ele dizia parecia ser real. Abaixei o olhar e fitei os meus pulsos arroxeados, atados por algemas apertadas.

— Eu não sou uma assassina... — Rebati amarga, fazendo questão de ressaltar lentamente, encarando-o de esguelha. Minha voz saiu apertada da garganta quando o medo cedeu lugar para a raiva.

— Isso com certeza está dentro de você... — analisou, distante, ignorando completamente o que eu dizia.

Cerrei a mandíbula e balancei a cabeça em negativa.

— Você pirou? — Questionei — eu não vou trabalhar para você! — Rebati com firmeza na voz e me inclinei um pouco mais para frente, encarando-o duramente.

Sua atenção voltou a mim quando a minha negativa alcançou os seus ouvidos e ele recostou-se descontraidamente no espaldar da cadeira, tamborilando os dedos sobre a pasta. A expressão fascinada pregada em seu rosto retorceu-se em nítido desagrado.

— Escute, querida, você não tem muitas opções no momento. — Retrucou, e os seus lábios se retorceram em um riso muito satisfeito. — E dadas às circunstâncias, eu até me atreveria a dizer que NENHUMA. — Ele fez questão sibilar a última palavra.

A sua calma estava começando a desestabilizar o meu estado, pois desejei xingar o maldito de todas as formas possíveis, mas me contive em fazer isso em pensamento.

— Essa é a parte que você aponta uma arma para minha? — Rebati sem filtro, e me arrependi no momento seguinte.

Ele inclinou a cabeça para me encarar.

— Não, minha cara! — disse de forma calculista, levantando-se de seu assento como um lobo astuto a espreita. — Essa é a parte em que você fala o que eu quero ouvir ou mando os meus homens matarem qualquer um que já tenha passado pela sua vida. As prostitutas... Seu pai... — ele pausou por um momento. — Aquela ratinha lésbica que você chama de amiga...

Meus pensamentos moveram-se velozes até assimilar a palavra “pai”. Durante todo esse tempo, não se passava um dia sem que me perguntasse se haveria alguém procurando por mim e eu mal podia me dar ao luxo de sentir felicidade por isso.

Oh minha nossa!

— Eu não vou deixar um de pé para contar história! — Sobressaltei com sua voz dura e observei seu corpo esguio e forte diante de mim. Não houve vestígio de hesitação nem dúvida de sua parte.

Agora sim o brilho sádico em seus olhos combinava perfeitamente com a expressão insana de seu rosto. Senti meu peito estremecer e o coração bater acelerando. Agradeci internamente por ter meu corpo sustentado pela cadeira.

Virei meu rosto na direção da parede oposta e comprimi meu corpo com os braços, de modo que ele não presenciasse o medo em minhas reações. Ele ergueu bruscamente a cabeça e mudou sua rota, surgindo feroz diante de mim.

— Vamos! — Grunhiu ele, agarrando com sua mão maciça o meu maxilar, me forçando a manter contato visual consigo. Minha respiração se acelerou com tamanha proximidade. — Você deixar um monte de gente morrer por causa desse papo furado?

Senti minha garganta deglutir dolorosamente com sua mão apertando violentamente o meu pescoço. Meus músculos se contraiam tensos de medo e apavoro.

Naquele momento, senti-me pequena e fraca, impotente, presa a um pesadelo que parecia não ter fim. Por uma fração de segundos desejei ser Amy Murray novamente, a agente da CIA. Com certeza ela era forte e não se permitiria estar onde eu estava agora. Sua mão se afrouxou em torno de meu pescoço e ele se virou de costa com um felino traiçoeiro.

— Isso só pode ser um engano! — Aleguei — Eu não sou quem você procura... — contive o medo que me dominava e tentei argumentar. — Deixe-me ir, por favor. Juro que não contar absolutamente nada sobre isso a ninguém.

O homem se virou novamente para mim, com um brilho feroz nos olhos e me ignorou, puxando um pouco a manga de seu paletó, expondo a pele clara de seu pulso e o relógio dourado, e em seguidas arqueou as sobrancelhas.

— Já chega! O seu tempo acabou. — Declarou e seus lábios torceram em riso perverso. — Levem-na de volta!

Não tive tempo para pensar. O vazio a minha frente foi preenchido pelo rosto frio do cretino que me trouxera para cá. O amaldiçoei em pensamento, enquanto relutava contra suas mãos firmes que tentavam tomar meus braços, puxando-me para fora da cadeira.

O que seria pior? Ficar aqui e ouvir esse sádico me ameaçar das piores formas possíveis ou seguir de volta para aquele buraco vazio e gelado?

— Ah! — Citou ele, erguendo o dedo indicador. — E a cada hora do silêncio dela, pode matar um... Talvez isso faça com que ela chegue logo a uma conclusão. — disse, sem mudar o tom de voz, direcionando-se a Travis. — Comece pela prostituta lésbica, ela vai ser um excelente incentivo.

Sobressaltei, encarando Travis primeiro e depois encarei o outro com urgência.

— Por favor! Não faça isso, por favor! — Implorei com urgência, antes que o raptor me tirasse dali. — Não façam nada com ela... — Minha voz oscilou com boas notas de desespero.

Eu não seria capaz de me perdoar se algo acontecesse a Stayce. Ela fora a única pessoa a me acolher quando mais precisei e agora a vida dela dependia de uma decisão minha.

— Vai ser mais fácil se você falar logo... — Travis disse, baixo o suficiente para que só eu pudesse escutar a vibração da sua voz.

O homem suspirou, cruzando os braços diante de seu peito e avançou dois passos cautelosos em minha direção.

— Você sabe o que tem que fazer. — replicou o homem, guiando o seu olhar em minha direção, dando de ombros em seguida.

O sentimento afiado de culpa perfurou meu coração. Senti o peso das lágrimas se formando por trás dos meus olhos, tentando emergir por minhas glândulas.

— Está bem, está bem... — Gritei, contra a minha vontade. — Eu faço o que for preciso, mas não machuque ninguém.

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