Tank estava quase dormindo, ou talvez o mais correto seria dizer desmaiando, o calor e a sede o faziam pensar que ser arremessado para os jacarés fosse melhor do que sentir o ferro fervendo corroendo a sua pele. Ainda assim, mesmo com a dor e a agonia, às vezes, ele sorria. Sorria quando se lembrava da felicidade de Dállia sempre que ganhava um vestido novo, de como ela ficou com os olhos arregalados o dia em que ele segurou seus pés e pintou as unhas, e principalmente como ela dizia que o amava com um sorriso imenso quando terminavam de fazer amor. Era assim que estava, entre desejar a própria morte e se manter vivo em uma lembrança doce que Tank entendeu o significado do instinto de sobrevivência. Sentiu o cabo de aço se mover, o rangido metálico, o corpo estremeceu inteiro antes de reagir. Girou o corpo com toda a força que tinha, precisou de alguns impulsos até que se agarrou ao cabo de aço, uma tentativa que sabia ser inútil, ainda assim, tentou. Não olhou para baixo, só pa
Tank passou a mão nos cabelos, a dor o fez fechar os punhos e apertar os olhos. Deixou a irmã para trás, se esqueceu do lanche, o corpo implorava por algum descanso, mas o pensamento gritava por Dállia, queria falar com a menina, dizer que estava bem, procurou nos quartos, não encontrou as coisas de Russo. Ficou confuso.Continuou vasculhando e quando encontrou as roupas de Dállia ele gritou com o tom que misturava desespero e raiva. AMARA! A garota paralisou, estava limpando a bagunça que havia ficado no chão, mas largou tudo e correu para o andar superior. O coração acelerado, sem entender nada, ainda assim assustada. Tank quase nunca a chamava pelo nome.Encontrou o irmão retirando tudo de dentro do guarda-roupas, uma montanha de vestidos e ele pálido como se tivesse visto um fantasma. — TANK! O QUE ESTÁ FAZENDO? Ele a encarou segurando um dos vestidos de Dállia, os soldados que organizaram tudo acabaram se confundindo, tiveram ordens de não recolher as coisas de Russo e da e
Quando a ficha de Russo finalmente chegou, o soldado já tinha experimentado, ao menos, um pouco, do jogo que Endi gostava de jogar. O galpão tinha aquele cheiro de sangue seco e tabaco que encantava os sentidos do capo, não se lembrava quando havia começado a gostar daqueles cheiros, ou talvez sim, a primeira vez que torturou um homem era alguém que havia ousado desejar Mel Bianchi, a única mulher que ele se lembrava de amar. Acha estranho quando ouvia falar de segundos amores.Era possível amar duas vezes? Endi tinha certeza que não. — Tem tudo? — Tudo branquelo, o passado, o juramento, as missões, ele é daquele tipo. Daquele tipo, a forma como o subchefe chamava os soldados que pareciam não ter consciência, não entendia como pessoas podiam gostar de matar, ele detestava. Fazia, se fosse preciso, mas nunca por prazer. O capo permitiu que Rodolpho saísse. Russo estava com os tornozelos e os pulsos presos, uma amostra inútil de impotência, ainda assim, o homem tentava negociar,
O capo deixou o jogo e a decisão para mais tarde, sabia a versão da filha daquele homem, mas não sabia ainda como ele era visto pela esposa, aliás a esposa que ele negava possuir. — Ela é a marmita que eu trouxe para casa, sabe como é, com a minha idade não temos mais a mesma condição de caçar na rua, mas jamais casaria com uma puta sob o código. Aquela resposta enojava e tranquilizava o capo na mesma proporção, não significava um atenuante para Russo, mas poderia significar um novo começo para a menina. Quando ela chegou, ele viu nos olhos de Dállia um tipo de bondade e doçura quase impossíveis de existir em alguém que vivesse aprisionada. O coração se acalmou por alguns instantes, mas foi realmente apenas por alguns instantes. Endi pediu para que Dállia fosse levada até a sua casa, queria que a menina se sentisse tranquila, Mel estaria por perto e Dállia não se sentiria em um julgamento, não era. Ao menos não o dela. Ouviu coisas tão pesadas que fizeram o seu mundo voltar para
Um raio de sol entrava por uma pequena fresta aberta da janela, a casa de madeira era escura e o cheiro estranho, mas o brilho que entrava potente a encantou. Partículas de poeira dançavam na luz enquanto o corpo de Dállia se movia com o impulso do corpo velho sobre o dela.Os sons eram estranhos, bizarros, mas ela se focou na luz, no tímido raio solar e na poeira dançante. Já estava acostumada com a dor, a maioria das vezes nem incomodava mais.Foi virada de bruços sobre a mesa, a toalha branca ficou enrolada sob o seu corpo, os movimentos continuaram, firmes, violentos e acompanhados daqueles ruídos animalescos.E foi exatamente nesse minuto que tudo mudou.Quando Dállia foi virada sobre a mesa ela lamentou que não pudesse mais olhar para a luz e foi na escuridão que seus olhos cruzaram com os de Tank pela primeira vez.Ele estava ali, parado, olhando para ela como se visse um animal ser abatido. Uma mistura de desprezo e pena que a fez fechar os olhos, segurou mais firme na borda d
Ele era diferente, não se parecia em nada com os homens da comunidade em que Dállia vivia antes de ser vendida ao marido. Tank parecia rústico e ao mesmo tempo os olhos traziam uma força diferente, dilacerante, algo que a atraia.Mas os dias passaram e ele nem sequer a olhou, nem mesmo uma única vez. Tank passava por ela como se ninguém existisse, somente ele e Amara.De certa forma, havia beleza naquele desprezo, era como se Tank e a irmã pudessem viver em um mundo próprio, algo só deles, onde as risadas e as músicas se espalhavam pela casa de um jeito que Dállia achava lindo.Em uma manhã, depois que o marido saiu para o trabalho, ela se aproximou devagar do quarto de Amara, a música estava alta e os irmãos conversavam animados enquanto comiam algo que Tank havia comprado.Eles não comiam nada que ela cozinhasse, não importava o quanto Dállia se esforçasse para agradar, Tank sempre passava em algum lugar e trazia marmitas que dividia com a irmã. Se esforçou para ouvir o que falavam.
Tank voltou para casa após o treino ser cancelado, detestava todas as vezes que isso acontecia, mas Dylan não era um soldado comum, tinha manias estranhas, não avisava quando faltaria e vivia correndo atrás da mulher como um cachorrinho abandonado.Ninguém achava Zoey bonita o bastante para receber tanta atenção, mas jamais alguém ousou falar isso, ao menos não para o chefe de treinamento. Seria como pedir para passar uma longa temporada no centro médico e talvez, nem voltar.Abriu a porta com um humor péssimo, odiava aquela casa e tudo o que ligava ao pai. Russo nunca foi um pai amoroso, mas as coisas tinham piorado muito desde que a mãe de Tank faleceu.Respirou fundo e entrou, teria ido direto para o quarto se a música que vinha do quarto da irmã não tivesse chamado a sua atenção.— Amara, droga! Faltou à aulaReclamou apenas em pensamento, não quis chamar atenção da irmã, achou que a pegaria em flagrante. Precisava que ao menos Amara tivesse um futuro, que alguém daquela família f
Um amor impossível, os dois sabiam, não podiam continuar. Russo era um homem da máfia, um homem marcado por dores que o transformaram, temido pela sua capacidade de matar sem sentir, odiado por todos, até mesmo pelos filhos.Ela tentou falar, mas ele a segurou mais forte, mais perto, subiu a mão pelas costas de Dállia, ela tremeu.Tremeu porque nunca havia sentido nada parecido, nem mesmo teve chance de conhecer o amor.Antes aprendeu sobre dor, crueldade, submissão.Mulheres como ela não podiam amar, como aprender sobre algo que nunca viu?O rapaz deslizou a mão, que antes segurava o rosto dela, gostou da textura da pele.Uma mulher podia ser tão suave?Aproveitou com carícias lentas. Cuidadoso, quase como se tivesse medo de machucá-la.Os olhos acompanharam a mão, deslizou o polegar pelo pescoço delicado, desenhou os ossos da clavícula exposta pelo vestido. Aquela visão parecia incendiar sua alma.Segurou a coxa da menina e ergueu a perna de Dállia a fazendo enlaçar sua cintura. Pre