Capítulo VI

Arlissa

Entramos no elevador novamente, e eu prendi a respiração; odiava aquele lugar com todo meu ser. Paramos a um andar abaixo do que estávamos e passamos por algumas pessoas que nos olhavam curiosas. Chegamos a uma porta toda branca, que Santa Cruz abriu.

- Bem-vinda à sua nova sala. – Ele me disse, e eu entrei. O ambiente era bonito, com espelhos, vista para a cidade, cores vibrantes e um clima aconchegante.

- É linda, gostei. – Coloquei minha carteira no sofá e me sentei. – Só uma pergunta: Não vou precisar ver nenhum de vocês quando chegar aqui, certo?

Os dois se entreolharam, confusos.

- Eu trabalho no décimo andar, e Owen no andar acima de você, então não. – Ele respondeu, e eu sorri satisfeita.

- Ótimo. E não quero uma secretária chata e grudenta. Detesto pessoas assim.

- Você é exigente. – Ele comentou, e eu sorri.

- Muito, Santa Cruz. – Nunca pensei que esse nome fosse ser tão... interessante.

Pode contratar quem quiser para trabalhar com você.

- Perfeito. – Sorri ainda mais. – E só para avisar, gosto de ouvir música enquanto trabalho, me ajuda a me concentrar.

- Tudo bem, vou embora, preciso trabalhar. Senhoritas! – Ele se despediu e saiu.

- Nunca tocaste em alguém voluntariamente, Idalina. – Gosto quando minha irmã me chama assim.

- Eu sei, mas pela primeira vez não senti nojo ou medo de um homem. Foi estranho.

Samanta semicerrou os olhos.

- Realmente é estranho, nunca te vi conversar com um homem tão à vontade. E não foi só com ele, foi com o Derick também.

- Eu sei. Eu sinto que eles não representam perigo para mim, não sei, simplesmente sinto.

- Que bom que é assim. – Ela sorriu e me abraçou antes de sair.

Peguei meu celular e discquei o número da pessoa mais maluca que já conheci.

- Olha só, quem é vivo sempre aparece, não é? – Fez drama, e eu ri.

- Sem drama, Cloe.

Cloe Lisandro, uma linda morena, com um corpo maravilhoso e uma energia ainda mais incrível, é minha única amiga de verdade. Ela é carismática, maluca, animada, inteligente e muito leal. E é uma das poucas pessoas com quem eu me sinto à vontade, sem angústia.

- Tenho uma notícia para você... – Pausei, deixando-a enlouquecer.

- Fala logo, sua rabugenta.

- A partir de hoje, você vai ser a nova secretária executiva de Arlisaa Altamira, a nova designer da Empire. – Enfatizei, e ela gritou.

- Jura? Obrigada, obrigada, eu te amo! Conta até dez, que já estou indo!

A doida desligou e venceu o jogo.

Já fazia uns três meses que Cloe procurava um emprego, já que os torneios de jogos não estavam mais rendendo tanto para quem tem a mãe e o irmão para cuidar sozinha. Ela é formada em secretariado executivo, e esse trabalho vai ajudá-la bastante. E, como eu posso escolher quem quiser para trabalhar comigo, não achei ninguém melhor do que minha Lize.

Levantei do sofá e sentei atrás da minha nova mesa. Peguei os papéis sobre ela e vi que havia uma exposição de joias marcada para o mês seguinte, mas ainda não havia nenhuma peça pronta. Isso porque tanto a antiga designer quanto o Sr. Santa Cruz ainda não haviam desenhado nada. Isso era realmente estranho. Pelo que eu sabia, a exposição já deveria estar na fase final, não em estágio inicial.

Passei duas horas me atualizando sobre o trabalho da antiga designer. Ela era boa no que fazia. Seus desenhos eram joias lindas, ainda vendidas no mundo todo e com muito sucesso financeiro.

Ouvi batidas na porta e mandei entrar, sem ver quem era.

- Minha amiga e designer, não acredito! – Cloe pulou, e eu me levantei para abraçá-la.

- Minha Lize. – A abracei forte, e ela beijou minha testa.

- Fico feliz a cada abraço seu que recebo. – Ela sorriu.

- Eu também. Agora vem. – A puxei para a mesa e mostrei o que já havia feito.

Ficamos analisando mais alguns detalhes até termos tudo pronto para conversar com o Sr. Santa Cruz. Saímos da minha sala e subimos as escadas até o andar dele.

- Emily, o Sr. Santa Cruz está ocupado? – Perguntei à secretária fofoqueira.

- Não, podem entrar. – Ela respondeu, simpática.

- Obrigada, Emily. – Bati na porta duas vezes, e ouvimos um fraco "entre". Abrimos a porta e entramos. Santa Cruz estava de costas, olhando para uma tela em branco, acompanhado por Samanta e Derick.

- Olá, Arlissa. – Quando ele ouviu meu nome, se virou e olhou para nós. – Algum problema?

- Não, só queria conversar sobre algumas coisas.

- Seu chefe é o gostoso do Owen Santa Cruz? Por que não me disse? Eu teria colocado uma roupa mais bonita! – Cloe começou a falar, e eu baixei a cabeça, com vergonha por nós duas.

- Olá, Cloe.

- Olá, Samanta! Como vai a vida de casada com o outro Santa Cruz gostoso? – Samanta riu. Ela nunca se incomoda com isso, porque sabe que Cloe não faz por mal. É só brincadeira.

- Muito bem, só felicidade. – Cloe riu junto.

- Vejo que já tem uma secretária. – Santa Cruz comentou, com uma pitada de humor na voz.

- Pois é, não tem ninguém melhor para trabalhar comigo. Aliás... – Eu a puxei do sofá e a coloquei em pé. – Sr. Santa Cruz, esta é Cloe Lisandro. Cloe, este é...

, O homem mais gostoso e molhador de calcinhas humano, Owen Santa Cruz! – Ela suspirou, me deixando de boca aberta, enquanto ele ria alto.

- Prazer, Cloe. – Ele continuou rindo. – Bom, e a outra coisa?

- Ah, sim, é que fiquei analisando alguns papéis na minha mesa e percebi que a exposição para o mês que vem está parada, porque não há nenhuma joia feita. – Santa Cruz suspirou e se acomodou na cadeira, parecendo o "poderoso chefão".

- Há um ano estou com bloqueio criativo. A última exposição foi a Flor que desenhou, e, como ela não está mais, fica complicado. – Uau, nunca vi alguém admitir assim as coisas. Ele não tem problema em dizer que não desenhou as joias, mas sim outra pessoa.

- Eu... ah...

- Arlissa pode desenhar. Aliás, ela pode apresentar as joias já feitas. – Cloe interrompeu, deixando-me com vergonha.

- Cala a boca, Cloe! Eu não posso fazer nada! – Rosnei, mas ela ignorou.

- Pode, sim. Você tem desenhos para umas quatro coleções inteiras, principalmente aqueles inspirados nos jogos de vídeo. – A maluca não parava de falar.

- Sério? – Os olhos de Santa Cruz brilharam, e eu fiquei um pouco envergonhada.

- São só esboços, nada demais. – Eu tentei desviar o assunto.

- Os meus melhores trabalhos foram feitos a partir de esboços. Então, não desvalorize os seus. Podemos ver?

- Não, eu os perdi.

- Não perdeu não. – Cloe riu, e eu fechei a cara. Ela se levantou do sofá, caminhou até a mesa dele e abriu seu celular, mostrando algumas coisas.

Sam, como a curiosa que é, levantou-se e foi ver também. A cada coisa que viam, olhavam para mim, e eu não estava gostando.

Quando terminaram de ver, olharam para mim e sorriram.

- Esses são os melhores esboços que vi. São lindos, criativos, e além de joias, são uma linda demonstração da cultura egípcia e grega. – Sorri com o elogio, me sentindo contente e feliz.

- Se permitir, podemos começar a trabalhar nelas agora. – Sam disse, com os olhos brilhando.

- Aceita, Lissa, vai! – Cloe me incentivou.

- Está bem, pode ser. – Concordei, feliz com a felicidade delas.

- Perfeito! – Santa Cruz comemorou, feliz.

- Bom, vou trabalhar. Cloe. – Saímos da sala e voltamos para a nossa.

Trabalhamos mais algumas horas até a hora de sair, exaustas, mas felizes.

Cheguei em casa cansada e de rastros, sem sentir meus pés nem meu corpo. Pela primeira vez, optei pelo elevador e não pelas escadas. Coloquei os fones, fechei os olhos e tentei me distrair com o fato de estar no elevador. Só percebi que parei quando senti alguém entrar. Com o tempo, desenvolvi uma sensibilidade incrível para perceber a presença das pessoas, já que detesto quando se aproximam de repente ou tocam em mim.

Saí do elevador, peguei minhas chaves da bolsa, abri a porta e entrei em casa já sentindo o cheiro maravilhoso da comida da minha mãe.

- Oi, filha! - Mamãe saiu da cozinha com um pano de prato sujo de farinha.

- Oi, mamãe! - A abracei e recebi um beijo.

- Vai tomar banho e vem comer. - Sorri e obedecei.

Subi até meu quarto, retirei minha roupa, caminhei até o banheiro e entrei no box. Tomei um banho relaxante e saí do banheiro, voltando para o meu quarto. Limpei meu quarto e vesti uma calcinha azul, um calção de moletom e uma blusa de moletom roxa. Sai do quarto e desci até a cozinha, encontrando meus irmãos e minha mãe à mesa. Sentei ao lado do Aiden e peguei um prato também.

Como foi o primeiro dia de trabalho, filha?

Engoli minha comida antes de responder:

- Foi bom. - Disse de forma vaga.

- Bom? Só isso? - A curiosidade da Sam era justificável.

- Sim, mamãe. Foi bom, muito bom. - Continuei comendo e encerrei o assunto.

- Terminamos de comer e segui o Aiden até a varanda.

- Aiden, posso conversar com você?

- Claro, vem cá. - Sentei no chão ao seu lado e apoiei a cabeça em seu ombro.

- Aiden... tu... gostas de ser assim?

- Assim como? - Perguntou, confuso.

- Poder sentir quando as pessoas são boas ou não, sentir a sua aura, sentir angústia ou afinidade com elas. Nunca desejaste ser diferente?

- Não. - Pude notar a sinceridade em sua voz.

- Não?

- Não, Dali... Eu gosto de ser assim. Nós somos abençoados com um dom de Deus. Às vezes, gostaria de não sentir certas coisas, mas mudar... não, eu gosto de ser assim. Tu não?

- Eu não sei, mas tem certas vezes que gosto de sentir as coisas nas pessoas. - Sorri ao lembrar de tudo que senti com o Santa Cruz.

De todos, Aiden era o único que podia me compreender, já que era cigano também e, principalmente, meu gêmeo. Eu e ele sentíamos as mesmas coisas sobre as pessoas e tínhamos o mesmo problema de ter relacionamentos duradouros com elas.

- Mas saiba que, independentemente de tudo, eu estou aqui. - Disse, sincero.

- Eu sei. - O abracei e levantei.

Depois da minha infância e metade da adolescência, comecei a me abrir mais para a minha família e a aceitar que nem todos podiam me machucar ou destruir como aquele homem fez. Comecei a ver que o mundo não era tão sombrio como antes, mas... isso não significa que meus monstros sabem ou vêem isso também.

Me deitei na cama e fixei o olhar no teto. Eu não pensei que poderia passar bem esse dia como passei. É estranho o que senti com aquele homem. Ele me fez sentir algo que, em todos os meus anos de estudo sobre esse "dom", eu não conseguia entender. De todos à minha volta, os homens são os que eu menos ou quase nunca me aproximo ou deixo se aproximarem. Com anos de terapia, eu deixei meus irmãos, Bruno e meus cunhados se aproximarem, e mais ninguém, às vezes nem mesmo as mulheres.

Comecei a aceitar abraços e beijos há dois anos, quando vi a Sam chorar e sofrer quando meus sobrinhos estavam doentes. Nem mesmo quando a Sasha morreu eu deixei alguém me abraçar ou abracei alguém. Eu era assim, não por escolha minha, mas sim dele.

Minhas pálpebras pesaram e cobriram os meus olhos. Então, me aconcheguei na cama e dormi

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