— George, o que você quer dizer com isso? Está usando o fato de nos conhecermos e o que aconteceu ontem à noite para me chantagear, é isso? — Questionei, encarando-o.— Claro que não. — Ele respondeu sem conseguir me olhar nos olhos.Isso só podia ser culpa na consciência. Fechei os punhos, sentindo uma enorme vontade de lhe dar uma surra.— Eu não conheço nada por aqui. Qual é o problema de você me ajudar um pouco? Eu também já te ajudei. — George voltou a falar, mas agora com uma voz mais suave, quase tímida.A sensação que ele me passou foi que, se eu não o ajudasse, estaria sendo ingrata. Era como se eu estivesse em dívida com ele. E, de fato, dívida era dívida, fosse de dinheiro ou de favores.Suspirei profundamente.— Tudo bem. O que você quer fazer hoje? Onde quer ir? O que precisa comprar? Me diga, que eu te levo.— Quero ver umas casas. — A resposta dele me pegou de surpresa.Olhei para ele, tentando entender.— Ver casas? Mas você não vai voltar para Cidade B quando terminar
— Não vai conseguir girar!— Isso aí está enferrujado faz anos.— O chão foi refeito e agora a válvula está enterrado.As pessoas ao redor comentavam, enquanto eu não conseguia tirar os olhos de George. Nunca imaginei que ele fosse se jogar no chão daquele jeito. As veias em suas têmporas e braços saltavam, revelando sua força.Mesmo com todo esse esforço, a válvula não cedeu. Vi seu rosto começar a ficar vermelho.— Deixa pra lá, rapaz! Já tentaram vários homens fortes e ninguém conseguiu. — A vizinha idosa, vendo o esforço de George, tentou dissuadi-lo.Também fiquei com pena.— George, deixa isso. Eu chamo um encanador.Assim que terminei de falar, vi George relaxar o corpo de repente.— Pronto. — Ele disse, se levantando com agilidade.Com naturalidade, limpou a sujeira da roupa e completou:— Vamos ver como está lá em cima.A água ainda escorria pela escada. Subir agora significava molhar os sapatos.— Espera um pouco. Deixe a água baixar. — Sugeri.George olhou para os meus sapat
Eu não sabia o porquê, mas, ao contrário das complicadas luzes do parque de diversões, que nunca me causaram dor de cabeça, agora tudo parecia confuso, e eu simplesmente não queria lidar com isso.— Você não confia em mim? — George perguntou.— Não é isso... É só que... — Olhei para ele. Sua camisa estava visivelmente suja, e as barras da calça estavam molhadas.Ao vê-lo daquele jeito, senti um aperto no coração.— Eu dou conta, vai logo. — Ele disse, enquanto dava um leve tapinha na minha cabeça. — Obedece.Senti um arrepio percorrer meu couro cabeludo. Fazia pouco tempo que Miguel também tinha tocado minha cabeça, mas a sensação era completamente diferente. O toque de George trazia algo quente, doce, como se fosse algo que eu desejava há muito tempo, algo que me faltava e que, de repente, estava ali, ao meu alcance.Diante do olhar de George, não consegui sustentar o contato visual por muito tempo. Desviei o olhar, meio sem jeito, e fui comprar as coisas que ele tinha pedido. Quand
Minha respiração ficou rápida, e eu congelei no lugar. George também não se mexeu, mas seus olhos estavam fixos nos meus, e nós nos encaramos, sem que nenhum de nós desse um passo à frente ou recuasse.Podia até sentir os batimentos cardíacos dele e dos meus acelerando...Foi só quando ouvi a voz da vizinha do lado de fora que voltei à realidade.— Esse rapaz que a nova inquilina arrumou é um achado! Olha só como deixou as escadas limpinhas!Empurrei George e me afastei rapidamente, indo para a sala. Meu coração estava em desordem, e minha mente parecia um turbilhão.George saiu da cozinha logo em seguida, quebrando o silêncio de forma natural.— Essa casa era dos seus pais?Fiquei surpresa com a pergunta, sem entender como ele sabia. Ele caminhou até a parede onde estavam penduradas algumas fotos.— Você não mudou muito desde criança. — Ele comentou, olhando uma das fotos.Na parede, havia certificados de prêmios que eu havia recebido na escola, além de uma foto da nossa família. Eu
— Tem lenço umedecido aqui em casa? — Ele me perguntou. — Ou uma toalha serve, só para limpar minhas roupas.Ele segurava minha toalha, mas parecia relutante em usá-la para limpar suas próprias roupas.— Tenho lenço de limpeza facial, se quiser posso molhar para você usar. — Respondi, pegando dois lenços.George ficou um pouco surpreso, olhando para os lenços como se nunca tivesse visto algo parecido antes.Eu não pude evitar e comecei a rir.— Não me diga que você não conhece isso, George?— É, é a primeira vez que vejo. — Ele respondeu com uma honestidade que o tornava ainda mais adorável.Era claro que ele nunca teve namorada e, sem ter uma mulher por perto, provavelmente não sabia dessas coisas. Afinal, esses lenços faciais eram uma novidade dos últimos anos.— São lenços descartáveis usados por mulheres para lavar o rosto. — Expliquei, enquanto molhava o lenço e entregava a ele.George abaixou a cabeça para limpar a poeira e a sujeira em suas roupas, e foi então que notei um pouco
“Como pode uma pessoa ser tão sem vergonha?”, foi a primeira coisa que me veio à mente ao ver Lídia caminhando em minha direção.Se uma pessoa como essa, que é amante, tem algum resultado moral e ético, evitaria cruzar o caminho da namorada de verdade. Mas os tempos mudaram, e as amantes de hoje em dia não só não tinham vergonha, como faziam questão de se exibir, como se quisessem esfregar na nossa cara o quão espertas e poderosas eram.— Carolina, que coincidência, você também veio almoçar? — Lídia disse, fingindo simpatia, mas seus olhos estavam cravados em George.Desde que ela entrou no restaurante, seus olhos não desgrudaram dele.Eu já sabia o quanto George era atraente. Não havia uma pessoa que não olhasse duas vezes para ele, nem mesmo as senhoras mais velhas, como aquela vizinha do meu prédio.— Pois é, vim aqui para comer. — Respondi sem paciência. — Ou você acha que eu vim para visitar?Eu não era do tipo que guardava palavras doces para quem não merecia. Não é que eu fosse
Eu sabia que não devia ter olhado, mas o arrependimento veio tarde demais. Só me causou mais irritação.Estava prestes a desviar o olhar quando, de repente, vi Sebastião se virar. Seus olhos atravessaram a janela de vidro e se fixaram em mim, com as sobrancelhas visivelmente franzidas.Não dei muita importância e voltei minha atenção para George, que tinha acabado de escolher os pratos e me entregava o cardápio. Quando olhei para as opções que ele escolheu, percebi que eram todas as minhas comidas favoritas.Mas ele não me conhecia tão bem assim para saber disso, certo? Será que tínhamos gostos parecidos?Levantei os olhos para ele, querendo perguntar, mas hesitei. Movi os lábios, mas no final, achei melhor não falar nada. Algumas perguntas revelam demais, e eu não queria que George pensasse que eu estava interessada.Então, perguntei outra coisa:— Vai querer beber alguma coisa? Um vinho, talvez?— Eu não queria bebidas alcoólicas. — Ele respondeu prontamente. — E além disso, tenho co
Se naquele momento houvesse um buraco no chão, eu teria me jogado nele sem heisitar.Mas não havia. E eu sabia que, quanto mais eu evitasse falar sobre o assunto, mais George poderia interpretar mal.Além disso, parecia que, com ele, as coisas sempre iam direto ao ponto. Quando ele achava que tinha de falar algo, falava sem rodeios, como se tivéssemos uma intimidade que não existia.Respirei fundo e levantei a cabeça, tentando agir com naturalidade.— É mesmo? Mas palavras não provam nada.— É. — Ele respondeu, tomando um gole de água. — Posso...Assim que ele começou a frase, minhas antenas ficaram em alerta.— George, cala a boca!Eu sabia que ele ia dizer algo que me deixaria ainda mais envergonhada.— O que eu ia dizer. — Ele continuou, como se não tivesse me ouvido. — É que, se você quiser, posso fazer exames para comprovar.Embora não fosse uma frase ofensiva, ela me fez pensar em várias coisas ao mesmo tempo. Por que, afinal, eu precisaria de uma prova dessas? Eu não sou ninguém