De canto de olho, encarei seus olhos negros, e por um momento, senti um leve desconforto.Desviei o olhar e continuei andando.— Não, eu só não quero que as pessoas comecem a falar demais.— Ah… — Ele respondeu com uma única palavra, deixando-me sem entender ao certo o que ele queria dizer.Também não perguntei mais nada. Nós dois já éramos adultos e sabíamos muito bem os limites. Além disso, ele não parecia ser do tipo que fala demais.Seguimos em silêncio, o que deixou o ambiente um pouco constrangedor. No fim, fui eu quem quebrou o gelo de novo.— Quanto tempo vai levar para ajustar essas luzes?— Difícil dizer. — George respondeu.Lembrei da promessa que havia feito a Sebastião: — Vinte dias, tem que estar tudo pronto.George me olhou, e eu imaginei que ele fosse dizer algo, mas tudo o que ouvi foi um breve "hum".Ele tinha concordado?Depois disso, não havia muito mais o que dizer. Claro, eu poderia perguntar sobre dona Malena, mas preferi não mencionar.Se não fosse por ela, eu
— Carolina, você caiu de propósito, não foi?Eu não conseguia acreditar que Ana pensaria algo assim, especialmente agora que minhas costas ainda estavam doendo. Com certeza vai ficar roxo. Eu até quis levantar a camisa e mostrar para ela.Eu não era tão boba a ponto de me machucar por atração física.Revirei os olhos para ela, mas não a impedi de continuar:— Como é que foi ser abraçada pelo George? Os braços dele são tão fortes quanto parecem? O abraço é...— Ana! — Interrompi-a. — Você não tem mais nada de decente na cabeça?Ana percebeu que eu estava realmente irritada, e deu de ombros, mordendo os lábios. Ela ainda murmurou alguma coisa, mas tão baixo que eu nem ouvi.Com uma mão na parte dolorida das costas, saí da sala de distribuição.Foi só então que me lembrei de que George me chamou, mas no final, não perguntou nada e eu só passei vergonha e me machuquei.Achei que era melhor eu manter distância dele e lembrar que ele era apenas um cliente, nada mais.Além disso, só saímos pa
— Gerente Carolina. — De repente, a voz de George ecoou.Rapidamente voltei à realidade e me virei, sem saber desde quando ele estava atrás de mim. Ele estava acompanhado por Ana e o responsável pela elétrica.Não sei se era impressão minha, mas senti que George estava com uma expressão um pouco fria, o que me fez pensar que algo tinha dado errado.— George, você encontrou algum problema? — Perguntei.— O problema já foi passado para o eletricista corrigir. — Respondeu com uma voz fria.Soltei um “Ah”, prestes a perguntar o que fazer a seguir, quando ele disse:— Hoje não vamos testar as luzes.— Por quê? — Fquei surpresa.O responsável pela elétrica prontamente explicou:— A voltagem da linha precisa ser ajustada.Franzi a testa:— Quanto tempo isso vai levar?— Devemos resolver ainda hoje. — Respondeu ele.Soltei um suspiro de alívio. Tinha medo de que fosse demorar dias.— Tem mais alguma coisa que eu possa fazer? — Perguntei a George.— Não.Franzi as sobrancelhas ligeiramente. Ana
George logo se aproximou. Seus olhos encontraram os meus de forma tranquila e direta: — Vamos.Ele nem vai explicar por que está morando tão perto de mim?Eu queria perguntar, mas achei que, se o fizesse, pareceria estranho.— George, por que você está morando tão perto de nós? — Ana, sempre rápida no gatilho, fez a pergunta por mim.George caminhou até o elevador e apertou o botão. Foi aí que notei o cartão do quarto em sua mão: 308, bem ao lado do meu.— Conveniência. — Ele respondeu de maneira simples.Conveniência de quê? Não pude evitar que minha mente viajasse.Ana, igualmente surpresa, olhou para mim e depois para George, com curiosidade no olhar. — Conveniência de quê?Eu queria bater na cabeça dela. Como ela pode ser tão curiosa? Tinha mesmo que insistir nisso?O espelho brilhante do elevador refletia nossas silhuetas com perfeição. Eu observei George pelo reflexo e, de repente, ele levantou os olhos e os nossos olhares se cruzaram. Não desviei, mas ele foi o primeiro a romp
— Hmm. — Depois dessa única palavra, ele desligou o telefone.Agora, ele era o centro das atenções, o responsável por resolver os problemas na iluminação. Eu não podia me dar ao luxo de irritá-lo. Por isso, joguei um casaco por cima do pijama e fui até o quarto dele. Bati na porta e George a abriu, seus olhos imediatamente parando no meu cabelo ainda molhado. Ele engoliu em seco, o pomo de Adão se movendo visivelmente.— Ainda dói? — Ele perguntou.A pergunta me pegou desprevenida.— O quê?O olhar dele desceu, pousando na minha cintura. Foi então que entendi.Meu coração acelerou por um segundo, sem que eu soubesse o motivo.— Estou bem. — Respondi.— Espera um pouco. — Ele disse isso e se virou, me deixando sozinha à porta.Aproveitei para dar uma olhada dentro do quarto, já que a porta estava entreaberta. Consegui ver o laptop dele em cima da mesa. Pelo visto, enquanto eu estava no banho, ele já havia começado a trabalhar. Isso era bom, sua dedicação era admirável.Logo, George vol
Ele tinha me enviado uma mensagem no WhatsApp não foi nenhuma surpresa. Afinal, agora éramos parceiros de trabalho, e haveria muitos momentos em que precisaríamos nos comunicar. O WhatsApp facilitava muito isso.No entanto, não adicionei o contato dele imediatamente. Primeiro, respondi à mensagem da Luana, mas ela não me respondeu de volta, provavelmente ocupada como sempre.Depois, abri a conversa com o Miguel e, após pensar por dois segundos, escrevi: [Estou bem ocupada com o projeto do parque de diversões. Quando eu terminar, a gente dá uma volta pela cidade.]Logo em seguida, acrescentei outra mensagem: [Desculpa.]Miguel respondeu rapidamente: [Tudo bem, só não esquece de cuidar de você.]Eu estava prestes a responder "ok", mas ele enviou outra mensagem: [Eu espero você ter tempo.]De repente, aquele simples "ok" já não parecia mais adequado. Então, perguntei: [Você não vai sair do país em um curto período?]Miguel: [Não, vou ficar por aqui.]Fiquei surpresa ao ler isso.Depois de
Mas por que ele fez essa pergunta?Eu não entendi, então respondi apenas com um ponto de interrogação.George não me respondeu e, como já tinha comido, foi para o parque de diversões mais cedo.Durante a noite, os problemas elétricos do parque foram todos resolvidos, e George começou a ajustar a iluminação. Eu era como uma revisora, ele ajustava uma parte, eu verificava. Se não estivesse bom, ele ajustava novamente.Foi então que entendi o que ele quis dizer ontem à noite. Ele realmente não queria que eu perdesse trabalho por causa da minha saúde.Ele era praticamente uma máquina, quase incansável, e eu me sentia como um pião, girando sem parar. Mal conseguia beber água, e quando bebia, tinha que controlar, porque, se bebesse muito, teria que correr ao banheiro.Enquanto eu ia e voltava, ele já terminava de ajustar outra parte da iluminação. Se eu não revisasse, ele teria que esperar, o que atrasaria o processo.Depois de três dias seguidos assim, minha boca já estava cheia de aftas, e
Virei-me e, claro, lá estava Sebastião. Ele olhou para mim, mas perguntou diretamente a Ana:— Para onde você vai?— A Carolina está com afta, vou comprar remédio para ela. — Ana respondeu, e Sebastião veio em minha direção com passos largos.— Você não está bebendo água suficiente? — Ele perguntou diretamente, como quem já me conhecia de cor.Eu sempre tive tendência a ter aftas quando ficava desidratada, então bebia muita água normalmente. Caso contrário, ou meu nariz começaria a sangrar ou minha boca ficaria cheia de feridas.Depois de dez anos ao meu lado, Sebastião sabia disso muito bem.Mas, naquele momento, suas palavras me soaram como uma provocação, e eu não pude deixar de me lembrar do que ele disse a Pedro — que estava tão acostumado comigo que já não sentia nenhum interesse.Ao contrário, ele parecia atraído por uma viúva.— Chefe Sebastião, veio aqui por algum motivo específico? — Não respondi à pergunta dele, adotando um tom frio e formal.Sebastião notou minha frieza e,