[Entre em contato o quanto antes.]Essa foi a mensagem que ele me enviou.Respondi imediatamente com um “Ok”, mas, assim que a mensagem foi enviada, senti que algo estava errado. Ele disse “o quanto antes”; parecia algo urgente.Então, decidi tentar outra abordagem e enviei outra mensagem:Se não for possível ou se tiver algo importante, pode tirar uma foto e me enviar.No entanto, essa segunda mensagem desapareceu no vazio. Ele não respondeu. Era como se ele surgisse e desaparecesse à vontade. Quando ele não me procurava, eu simplesmente não conseguia contatá-lo.Pensar no acidente de carro dos meus pais só tornou meu humor ainda mais sombrio. Passei a noite inteira sem conseguir dormir. Não sabia se era o desconforto de estar em um lugar estranho ou se minha mente estava ocupada demais com tantas coisas.Na manhã seguinte, Sebastião percebeu meu estado no instante em que me viu:— Não dormiu bem.— Dormi o suficiente. — Respondi, teimosa.Eu não queria que ele percebesse minha fragil
Sebastião, talvez percebendo que eu ainda estava irritada, não disse mais nada durante o caminho.Quando finalmente vi Pedro, senti meu coração apertar. Ele estava vestindo um uniforme de detento, e seu cabelo, sempre impecável, havia sido raspado quase por completo, deixando-o praticamente careca. Era uma imagem que eu nunca imaginei ver.Naquele instante, as lágrimas quase escaparam dos meus olhos.Pedro, que havia conquistado seu espaço com muito esforço e talento, sendo reconhecido até no círculo de Sebastião, agora estava à beira de ver sua carreira e sua vida destruídas por completo.— Pedro... — Chamei seu nome suavemente.— O que você está fazendo aqui? — Perguntou ele, com um sorriso no rosto.Era sempre assim. Pedro estava sempre sorrindo para mim, como se o mundo dele fosse sempre iluminado por um sol constante, mesmo em meio à tempestade.Fiquei sem palavras por alguns segundos. Ele percebeu e, ainda sorrindo, brincou:— Está achando que eu fiquei tão feio assim que nem que
Quando saí da sala de detenção, os gritos de Pedro ainda ecoavam nos meus ouvidos.Sebastião não tinha mentido. O estado emocional de Pedro estava terrível, oscilando entre acessos de raiva e momentos de total desânimo.A frase que ele disse no final “Carolina, eu não quero ficar aqui! Eu preciso sair! Eu sou inocente!” perfurou meu coração como uma lâmina.Assim que saí, Sebastião, que já estava me esperando do lado de fora, veio em minha direção com passos largos. Ele notou imediatamente meu semblante abatido e me segurou pelo braço:— Você está pálida. O Pedro falou alguma coisa que te deixou assim?Ainda com as palavras de Pedro ecoando na cabeça, olhei para ele e disse:— Vamos para o carro. Conversamos no caminho.Eu sabia o motivo pelo qual Pedro havia me pedido para sair rapidamente. Provavelmente, havia espiões do Clube Q por ali. Ele temia que eu fosse vista, o que também colocaria minha segurança em risco.Sebastião me levou rapidamente até o carro e, assim que entrei, me en
Com um estrondo ensurdecedor, o veículo parou de capotar. De repente, o mundo ficou em silêncio. Um silêncio tão intenso que parecia que a própria vida havia cessado. Demorei um tempo para recobrar os sentidos e perceber que ainda estava viva. Tentei mexer meu corpo, mas não conseguia. Fiz mais força e, então, ouvi um gemido abafado. — Não... Se mexa... Meu mundo continuava imerso na escuridão. Sabia que essa escuridão não era da noite, mas porque meus olhos ainda estavam cobertos. — Sebastião. — Chamei, com a voz trêmula. — Estou aqui. — Respondeu ele, bem próximo, mas com um tom fraco. — Sai de cima de mim. Não consigo me mexer. — Insisti, ainda sem perceber que ele estava ferido. Só queria me livrar daquele peso. Sebastião se moveu um pouco, e aproveitei para tirar o rosto que estava pressionado contra o peito dele. Foi então que vi tudo ao meu redor: o carro destruído, o motorista imóvel e ensanguentado. Um calafrio percorreu meu corpo, e gritei, desesperada: — Se
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura. — Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei: — Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desre