Desde que nos separamos, eu nunca tinha chegado tão perto dele, muito menos olhado diretamente para ele. Agora, ele estava bem na minha frente, gravemente ferido. Lembrei que, no momento em que o carro capotava, ele me abraçou para me proteger. Foi por isso que ele se machucou tanto... Por minha causa. — Sebastião, fala alguma coisa. — Chamei, tentando mantê-lo acordado. Eu sabia que só minhas palavras não adiantariam. Se eu falasse muito, ele poderia querer fechar os olhos e dormir. — Eu... Falar o quê? — Murmurou ele, com a voz fraca. — Fala o que quiser. Fala como foi depois que nos separamos. Fala o que pensou. Fala da Lídia, se quiser. Ou então me conta onde você esteve sumido esses dias. — Disparei desesperada, tentando manter sua atenção. Ele ficou em silêncio. Achei que tivesse adormecido. Quando estava prestes a chamá-lo novamente, ouvi sua voz: — Carolina, eu te amo de verdade. Minha respiração travou. Olhei para o rosto pálido dele, drenado de sangue, mas não
Fomos resgatados. Um dos homens que me ajudaram era o mesmo motorista que havia me levado para visitar Pedro na prisão. Eu sabia que ele era uma pessoa de confiança de George. O carro estava completamente destruído, e foi preciso cortá-lo para retirar Sebastião, o motorista e eu. Durante o processo, também encontraram os nossos celulares. — Olha, este aqui ainda está em ligação. — Disse um dos homens, me entregando o aparelho. Mas o telefone não era meu. Era o de Sebastião. Lembrei que eu tinha usado aquele celular para ligar para George antes do acidente. Será que ele nunca desligou a chamada? Peguei o telefone, confusa. Quando olhei para a tela, vi que a ligação havia acabado de ser encerrada. O tempo total era de 67 minutos e 12 segundos. George ficou todo esse tempo na linha? Ele ouviu o que Sebastião e eu dissemos? Mas... O que exatamente nós falamos? Não tive muito tempo para pensar. Logo me colocaram na ambulância e me levaram para o hospital, onde fizeram vários e
Normalmente, um exame no hospital demora pelo menos meia hora para ficar pronto, mas desta vez o resultado saiu em segundos. O médico parecia aliviado e até animado: — Ótimo! Agora precisamos que você doe sangue imediatamente para o paciente. Pelo menos 400 ml, ou talvez 600 ml. Você consegue? — Consigo. Se precisar de mais, pode tirar também. — Respondi sem hesitar. Eu precisava salvar Sebastião. Mesmo que ele não tivesse se machucado por minha causa, eu não deixaria que ele morresse por falta de sangue. O médico me orientou a trocar para uma roupa esterilizada e me levou para a sala de emergência. Quando entrei, vi Sebastião deitado na maca. Seu rosto estava completamente pálido, sem nenhum vestígio de cor. Ele estava imóvel, sem dar nenhum sinal de vida. As palavras do médico de que ele corria risco de morte ecoaram na minha mente. Meu coração ficou apertado. Caminhei até ele e, ao chegar ao seu lado, levantei minha mão e enganchei meu dedo mindinho no dele. — Sebastiã
A transfusão excessiva de sangue me deixou em um estado de sono profundo, do qual demorei muito para acordar. Durante esse tempo, eu sonhava constantemente. Nos sonhos, ouvia vozes ao meu redor, repetindo coisas como: — Carolina, você precisa ter cuidado. Não pode se machucar ou sangrar. Se isso acontecer, ninguém poderá te salvar. — Carolina, como você pôde doar tanto sangue? Quer morrer? — Sua tola, idiota. Quem pediu para você fazer isso? — Carolina, me salva. Estou com frio... As vozes vinham de pessoas diferentes. Reconhecia a de meus pais, a de George, e, principalmente, a de Sebastião. Eu queria responder, mas parecia que minha boca estava selada, incapaz de emitir qualquer som. De repente, a visão no meu sonho se fixou em Sebastião. Ele estava coberto de ferimentos, e o sangue escorria de seu corpo como se fosse água saindo de uma torneira aberta. Fiquei apavorada. Ele também tinha o sangue dourado. Ele não podia sangrar assim! — Sebastião, Sebastião! — Gritei,
Miguel disse que eu estava em coma há três dias e que ele também estava ali há três dias. Então, George certamente também veio. Afinal, ele disse ao telefone que viria imediatamente. — Toma um pouco de água. — Miguel colocou um copo perto da minha boca. Olhei para ele e perguntei: — E o George? Miguel ficou visivelmente desconfortável por um momento antes de responder: — Bebe a água primeiro. Aquelas palavras fizeram algo no meu peito apertar. Minha garganta, já seca e dolorida, parecia arder ainda mais. — Ele não veio, né? — Veio. — Miguel respondeu, sentando-se na beira da minha cama. — Ele veio. — Então, onde ele está agora? — Perguntei, confusa. Se George realmente havia vindo, por que ele não estava aqui comigo? Eu estive inconsciente por três dias. Ele não deveria estar ao meu lado? Será que ele realmente decidiu seguir o que eu disse antes, de que, se ele me machucasse, deveria se afastar de mim? — Ele foi embora. Provavelmente saiu para resolver a questão da
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm