Miguel disse que eu estava em coma há três dias e que ele também estava ali há três dias. Então, George certamente também veio. Afinal, ele disse ao telefone que viria imediatamente. — Toma um pouco de água. — Miguel colocou um copo perto da minha boca. Olhei para ele e perguntei: — E o George? Miguel ficou visivelmente desconfortável por um momento antes de responder: — Bebe a água primeiro. Aquelas palavras fizeram algo no meu peito apertar. Minha garganta, já seca e dolorida, parecia arder ainda mais. — Ele não veio, né? — Veio. — Miguel respondeu, sentando-se na beira da minha cama. — Ele veio. — Então, onde ele está agora? — Perguntei, confusa. Se George realmente havia vindo, por que ele não estava aqui comigo? Eu estive inconsciente por três dias. Ele não deveria estar ao meu lado? Será que ele realmente decidiu seguir o que eu disse antes, de que, se ele me machucasse, deveria se afastar de mim? — Ele foi embora. Provavelmente saiu para resolver a questão da
— Carolina! — Sebastião estendeu a mão e segurou meu braço. Olhei para o curativo em sua cabeça antes de encarar Miguel, que havia entrado com ele. — George pode estar em apuros. — Falei, com a voz carregada de preocupação. Miguel franziu o cenho, claramente surpreso e incrédulo: — Como assim? O que aconteceu? Como você sabe que ele está com problemas? Eu não sabia. Era apenas um pressentimento. — Liguei para ele mais cedo. Ele disse que estava ocupado e que me ligaria depois. Mas até agora não retornou. — Expliquei, tentando justificar minha suspeita. — E você não tentou ligar para ele de novo? — Sebastião perguntou, com um tom que misturava preocupação e leve reprovação. George tinha dito que me retornaria, então eu apenas esperei. Não quis insistir, nem liguei de novo. — Eu ligo para ele. — Disse Sebastião, pegando o celular e discando o número de George. A ligação demorou a ser atendida. Quando finalmente foi, ouvi a voz de George do outro lado, clara e inconfun
Fiquei paralisada olhando para aquela única palavra na tela, incapaz de reagir. Involuntariamente, meus olhos voltaram às mensagens que eu tinha enviado para ele. — Porra, o que ele está querendo fazer? — Sebastião resmungou e imediatamente tentou ligar para George novamente. Mas, dessa vez, o telefone já estava desligado. Meus olhos começaram a ficar turvos enquanto olhava para a tela do celular. Virei-me rapidamente e dei alguns passos até a janela, encarando o céu que já começava a escurecer. Ouvi passos atrás de mim e, antes que alguém dissesse algo, falei: — Saiam. Deixem-me sozinha por um tempo. Sebastião e Miguel perceberam o quanto eu estava machucada e respeitaram meu pedido. Eles saíram sem insistir, fechando a porta atrás de si. Foi naquele instante que as lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto, como se tivessem esperado o momento em que eu estivesse sozinha para finalmente cair. Eu não sabia se estava chorando porque George aceitou tão facilmente o térmi
Que notícia? Fiquei paralisada por um instante. Desde que acordei, ninguém havia mencionado nada disso. Abri a porta de repente. Sebastião e Miguel, que estavam do lado de fora, se viraram para me encarar ao mesmo tempo. — Que notícia? — Perguntei diretamente, sem rodeios. Os dois trocaram um olhar, claramente tentando decidir se deveriam ou não me contar. Antes que um deles pudesse abrir a boca, cortei o silêncio: — Eu ouvi tudo. Miguel suspirou, com o olhar mais sério, e começou a mexer no celular. Sebastião tentou impedi-lo, mas eu o intimidei com um único olhar, deixando claro que não aceitaria ser deixada de fora disso. — É melhor que ela saiba. Assim, pode esclarecer as coisas com George. — Disse Miguel enquanto abria algo no celular e, em seguida, estendeu o aparelho para mim. Era uma captura de tela de uma página de notícias. O título dizia: [Namorados de sangue dourado: jovem doa 800 ml de sangue raro para salvar o amado. Agora, o sangue dela corre nas veias
— Então, você pode voltar, mas não vai conseguir ir sozinho assim. — Disse Sebastião, fazendo uma pausa antes de olhar para Miguel. — Irmão, volte com a Carol.Miguel acenou com a cabeça. — Claro.Queria recusar, mas sabia que não adiantaria. Com a situação em que me encontrava, eles certamente não me deixariam ir sozinha.— E você? — Perguntei, olhando para o curativo na cabeça de Sebastião.— Eu vou esperar o Pedro. Quando ele sair, volto com ele. — Respondeu Sebastião, o que parecia ser o certo a fazer.Pedro sofria bullying em um país estrangeiro. Se saísse e não tivesse ninguém por perto, ele certamente se sentiria mal. Mas, pensando bem, com Sebastião assim, talvez Pedro ficasse ainda mais incomodado.— Se o Pedro te ver assim, ele vai se sentir culpado. — Eu avisei Sebastião.— Não se preocupe, vou inventar outro motivo. Não vou mencionar o acidente. — Insistiu Sebastião.Vendo sua determinação, sabia que não adiantava insistir mais. Apenas perguntei:— O Pedro ainda vai consegu
Eu fiquei olhando para Miguel, e a reação dele me deu a resposta de que eu precisava.— Carol. — Miguel me chamou suavemente. — Não pense demais.Pensar demais?Na verdade, eu não estava pensando muito.Mas, agora que ele falou isso, não pude evitar começar a pensar mais.— Os tios e tias também sabem, não é? — Eu perguntei, embora fosse uma pergunta, também era uma afirmação.Eles me criaram durante tantos anos, como poderiam não saber o meu tipo sanguíneo?— Carol, quando meus pais te trouxeram para a família Martins para te criar, era natural que eles tivessem que cuidar de você. Não tem nada de errado em saber disso. — Miguel explicou com muito esforço.Sim, eles me conhecem, sabem que eu sou de sangue dourado, assim como o Sebastião, e isso não tem nada de errado.Mas eles nunca haviam mencionado isso, e isso parecia errado.— Carol, por que você não fala nada? Não pense demais, meus pais te tratam como filha, eles não teriam outros sentimentos. — Miguel continuava tentando explic
Este quarto eu só olhei duas vezes desde que acordei: uma vez procurando pelo George, e agora procurando por algo.Miguel se aproximou de mim e se agachou levemente.— Carol, como você está se sentindo? Está sentindo algum desconforto? — Ele perguntou.Eu estava prestes a negar com a cabeça quando ouvi uma batida na porta, seguida pela entrada do médico e de Sebastião.— Peça para o médico fazer um exame, vai que você sinta algo estranho, seria difícil tratar no avião. — Explicou Sebastião, olhando para Miguel enquanto falava.Eu percebi claramente que ele franziu a testa por um momento.Quando o médico entrou, Miguel se levantou e deu espaço para ele, se afastando naturalmente para o lado.O médico fez os exames, ouviu meu coração, mediu minha pressão arterial e fez uma série de verificações, antes de dizer:— Sua recuperação está boa, tudo está normal.— Obrigada, doutor. — Sebastião expressou sua gratidão.Miguel então falou:— Eu vou acompanhar o doutor e também vou aproveitar para
Eu não respondi.Sebastião se aproximou de mim.— Carol.— Sebastião, você não acha que está sendo insensível ao dizer isso agora? — Minha resposta fez ele parar de se aproximar.Ele me olhou, e uma expressão de vergonha e derrota apareceu em seu rosto.— É, eu... por causa de uma paixão momentânea, causei danos ao meu irmão, e agora, por você ter me salvado, estou causando uma briga entre você e o George. E eu ainda estou tentando aproveitar a oportunidade para me meter, dizendo essas palavras tão descaradas... — Ele balançou a cabeça enquanto falava. — Eu não sou só insensível, eu também não mereço nada.Com essas palavras, ele deu um passo atrás e se afastou.Quando Miguel e eu saímos, Sebastião não nos acompanhou até a porta.Chegamos ao aeroporto, Miguel foi cuidar da documentação e eu fiquei sentada em silêncio.Eu me sentia vazia, como se minha alma estivesse flutuando, sem saber para onde ir ou o que fazer.— Moça, você está viajando sozinha? — Uma garotinha com lindos cachos d