Que notícia? Fiquei paralisada por um instante. Desde que acordei, ninguém havia mencionado nada disso. Abri a porta de repente. Sebastião e Miguel, que estavam do lado de fora, se viraram para me encarar ao mesmo tempo. — Que notícia? — Perguntei diretamente, sem rodeios. Os dois trocaram um olhar, claramente tentando decidir se deveriam ou não me contar. Antes que um deles pudesse abrir a boca, cortei o silêncio: — Eu ouvi tudo. Miguel suspirou, com o olhar mais sério, e começou a mexer no celular. Sebastião tentou impedi-lo, mas eu o intimidei com um único olhar, deixando claro que não aceitaria ser deixada de fora disso. — É melhor que ela saiba. Assim, pode esclarecer as coisas com George. — Disse Miguel enquanto abria algo no celular e, em seguida, estendeu o aparelho para mim. Era uma captura de tela de uma página de notícias. O título dizia: [Namorados de sangue dourado: jovem doa 800 ml de sangue raro para salvar o amado. Agora, o sangue dela corre nas veias
— Então, você pode voltar, mas não vai conseguir ir sozinho assim. — Disse Sebastião, fazendo uma pausa antes de olhar para Miguel. — Irmão, volte com a Carol.Miguel acenou com a cabeça. — Claro.Queria recusar, mas sabia que não adiantaria. Com a situação em que me encontrava, eles certamente não me deixariam ir sozinha.— E você? — Perguntei, olhando para o curativo na cabeça de Sebastião.— Eu vou esperar o Pedro. Quando ele sair, volto com ele. — Respondeu Sebastião, o que parecia ser o certo a fazer.Pedro sofria bullying em um país estrangeiro. Se saísse e não tivesse ninguém por perto, ele certamente se sentiria mal. Mas, pensando bem, com Sebastião assim, talvez Pedro ficasse ainda mais incomodado.— Se o Pedro te ver assim, ele vai se sentir culpado. — Eu avisei Sebastião.— Não se preocupe, vou inventar outro motivo. Não vou mencionar o acidente. — Insistiu Sebastião.Vendo sua determinação, sabia que não adiantava insistir mais. Apenas perguntei:— O Pedro ainda vai consegu
Eu fiquei olhando para Miguel, e a reação dele me deu a resposta de que eu precisava.— Carol. — Miguel me chamou suavemente. — Não pense demais.Pensar demais?Na verdade, eu não estava pensando muito.Mas, agora que ele falou isso, não pude evitar começar a pensar mais.— Os tios e tias também sabem, não é? — Eu perguntei, embora fosse uma pergunta, também era uma afirmação.Eles me criaram durante tantos anos, como poderiam não saber o meu tipo sanguíneo?— Carol, quando meus pais te trouxeram para a família Martins para te criar, era natural que eles tivessem que cuidar de você. Não tem nada de errado em saber disso. — Miguel explicou com muito esforço.Sim, eles me conhecem, sabem que eu sou de sangue dourado, assim como o Sebastião, e isso não tem nada de errado.Mas eles nunca haviam mencionado isso, e isso parecia errado.— Carol, por que você não fala nada? Não pense demais, meus pais te tratam como filha, eles não teriam outros sentimentos. — Miguel continuava tentando explic
Este quarto eu só olhei duas vezes desde que acordei: uma vez procurando pelo George, e agora procurando por algo.Miguel se aproximou de mim e se agachou levemente.— Carol, como você está se sentindo? Está sentindo algum desconforto? — Ele perguntou.Eu estava prestes a negar com a cabeça quando ouvi uma batida na porta, seguida pela entrada do médico e de Sebastião.— Peça para o médico fazer um exame, vai que você sinta algo estranho, seria difícil tratar no avião. — Explicou Sebastião, olhando para Miguel enquanto falava.Eu percebi claramente que ele franziu a testa por um momento.Quando o médico entrou, Miguel se levantou e deu espaço para ele, se afastando naturalmente para o lado.O médico fez os exames, ouviu meu coração, mediu minha pressão arterial e fez uma série de verificações, antes de dizer:— Sua recuperação está boa, tudo está normal.— Obrigada, doutor. — Sebastião expressou sua gratidão.Miguel então falou:— Eu vou acompanhar o doutor e também vou aproveitar para
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura. — Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei: — Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desre