Meu peito estava apertado, uma sensação de ansiedade me invadia.— Certo, amanhã por volta de que horas? — Perguntei, tentando manter a calma.— Não sei ao certo. Espere minha ligação. — George respondeu, fazendo uma breve pausa antes de perguntar. — Você já comeu?— Sim, comi com o Sebastião. — Respondi honestamente, sem segundas intenções.Na verdade, ele provavelmente não pensaria nada disso. Afinal, foi ele quem pediu para Sebastião cuidar de mim. E, como esperado, George não comentou nada sobre isso. Em vez disso, mudou de assunto:— O que Sebastião disse sobre o Pedro?— Ele disse que está tentando encontrar uma maneira de eu vê-lo. Fora isso, não disse mais nada. — Respondi com sinceridade.— Sebastião conhece bem os colegas de time do Pedro. Talvez ele consiga informações úteis. — Comentou George, mas não aprofundei a conversa, e ele também não insistiu.O silêncio tomou conta da ligação. Era algo que nunca havia acontecido antes. Olhei para a janela novamente, tentando quebrar
[Entre em contato o quanto antes.]Essa foi a mensagem que ele me enviou.Respondi imediatamente com um “Ok”, mas, assim que a mensagem foi enviada, senti que algo estava errado. Ele disse “o quanto antes”; parecia algo urgente.Então, decidi tentar outra abordagem e enviei outra mensagem:Se não for possível ou se tiver algo importante, pode tirar uma foto e me enviar.No entanto, essa segunda mensagem desapareceu no vazio. Ele não respondeu. Era como se ele surgisse e desaparecesse à vontade. Quando ele não me procurava, eu simplesmente não conseguia contatá-lo.Pensar no acidente de carro dos meus pais só tornou meu humor ainda mais sombrio. Passei a noite inteira sem conseguir dormir. Não sabia se era o desconforto de estar em um lugar estranho ou se minha mente estava ocupada demais com tantas coisas.Na manhã seguinte, Sebastião percebeu meu estado no instante em que me viu:— Não dormiu bem.— Dormi o suficiente. — Respondi, teimosa.Eu não queria que ele percebesse minha fragil
Sebastião, talvez percebendo que eu ainda estava irritada, não disse mais nada durante o caminho.Quando finalmente vi Pedro, senti meu coração apertar. Ele estava vestindo um uniforme de detento, e seu cabelo, sempre impecável, havia sido raspado quase por completo, deixando-o praticamente careca. Era uma imagem que eu nunca imaginei ver.Naquele instante, as lágrimas quase escaparam dos meus olhos.Pedro, que havia conquistado seu espaço com muito esforço e talento, sendo reconhecido até no círculo de Sebastião, agora estava à beira de ver sua carreira e sua vida destruídas por completo.— Pedro... — Chamei seu nome suavemente.— O que você está fazendo aqui? — Perguntou ele, com um sorriso no rosto.Era sempre assim. Pedro estava sempre sorrindo para mim, como se o mundo dele fosse sempre iluminado por um sol constante, mesmo em meio à tempestade.Fiquei sem palavras por alguns segundos. Ele percebeu e, ainda sorrindo, brincou:— Está achando que eu fiquei tão feio assim que nem que
Quando saí da sala de detenção, os gritos de Pedro ainda ecoavam nos meus ouvidos.Sebastião não tinha mentido. O estado emocional de Pedro estava terrível, oscilando entre acessos de raiva e momentos de total desânimo.A frase que ele disse no final “Carolina, eu não quero ficar aqui! Eu preciso sair! Eu sou inocente!” perfurou meu coração como uma lâmina.Assim que saí, Sebastião, que já estava me esperando do lado de fora, veio em minha direção com passos largos. Ele notou imediatamente meu semblante abatido e me segurou pelo braço:— Você está pálida. O Pedro falou alguma coisa que te deixou assim?Ainda com as palavras de Pedro ecoando na cabeça, olhei para ele e disse:— Vamos para o carro. Conversamos no caminho.Eu sabia o motivo pelo qual Pedro havia me pedido para sair rapidamente. Provavelmente, havia espiões do Clube Q por ali. Ele temia que eu fosse vista, o que também colocaria minha segurança em risco.Sebastião me levou rapidamente até o carro e, assim que entrei, me en
Com um estrondo ensurdecedor, o veículo parou de capotar. De repente, o mundo ficou em silêncio. Um silêncio tão intenso que parecia que a própria vida havia cessado. Demorei um tempo para recobrar os sentidos e perceber que ainda estava viva. Tentei mexer meu corpo, mas não conseguia. Fiz mais força e, então, ouvi um gemido abafado. — Não... Se mexa... Meu mundo continuava imerso na escuridão. Sabia que essa escuridão não era da noite, mas porque meus olhos ainda estavam cobertos. — Sebastião. — Chamei, com a voz trêmula. — Estou aqui. — Respondeu ele, bem próximo, mas com um tom fraco. — Sai de cima de mim. Não consigo me mexer. — Insisti, ainda sem perceber que ele estava ferido. Só queria me livrar daquele peso. Sebastião se moveu um pouco, e aproveitei para tirar o rosto que estava pressionado contra o peito dele. Foi então que vi tudo ao meu redor: o carro destruído, o motorista imóvel e ensanguentado. Um calafrio percorreu meu corpo, e gritei, desesperada: — Se
Acidentes de carro eram meu pior pesadelo, e eu nunca imaginei que um dia viveria isso na pele. Aquele desespero que eu sentia agora devia ser o mesmo que meus pais sentiram naquela época. Não... Eles sentiram algo ainda pior. Eles morreram gravemente feridos. Minha mente estava um caos, mas a voz de George no telefone não parava de me acalmar. — Carolina, não se preocupe. Já tem gente a caminho para te resgatar. Eu também já estou indo. — Ele repetia, tentando me tranquilizar. Ele insistia para que eu tentasse sair do carro, mas, por mais que eu tentasse, a porta não abria. — Não se mexa... Tá doendo... — A voz fraca de Sebastião soou ao meu lado. No momento em que ele disse isso, eu congelei. Não me atrevi a me mexer novamente, nem mesmo a falar alguma coisa. — Carolina, por que você não está falando? Você está bem? — George parecia mais preocupado do outro lado, quando não ouviu mais minha voz. — Estou bem. — Respondi, forçando a voz a sair mais baixa. — Veja se o ca
Desde que nos separamos, eu nunca tinha chegado tão perto dele, muito menos olhado diretamente para ele. Agora, ele estava bem na minha frente, gravemente ferido. Lembrei que, no momento em que o carro capotava, ele me abraçou para me proteger. Foi por isso que ele se machucou tanto... Por minha causa. — Sebastião, fala alguma coisa. — Chamei, tentando mantê-lo acordado. Eu sabia que só minhas palavras não adiantariam. Se eu falasse muito, ele poderia querer fechar os olhos e dormir. — Eu... Falar o quê? — Murmurou ele, com a voz fraca. — Fala o que quiser. Fala como foi depois que nos separamos. Fala o que pensou. Fala da Lídia, se quiser. Ou então me conta onde você esteve sumido esses dias. — Disparei desesperada, tentando manter sua atenção. Ele ficou em silêncio. Achei que tivesse adormecido. Quando estava prestes a chamá-lo novamente, ouvi sua voz: — Carolina, eu te amo de verdade. Minha respiração travou. Olhei para o rosto pálido dele, drenado de sangue, mas não
Fomos resgatados. Um dos homens que me ajudaram era o mesmo motorista que havia me levado para visitar Pedro na prisão. Eu sabia que ele era uma pessoa de confiança de George. O carro estava completamente destruído, e foi preciso cortá-lo para retirar Sebastião, o motorista e eu. Durante o processo, também encontraram os nossos celulares. — Olha, este aqui ainda está em ligação. — Disse um dos homens, me entregando o aparelho. Mas o telefone não era meu. Era o de Sebastião. Lembrei que eu tinha usado aquele celular para ligar para George antes do acidente. Será que ele nunca desligou a chamada? Peguei o telefone, confusa. Quando olhei para a tela, vi que a ligação havia acabado de ser encerrada. O tempo total era de 67 minutos e 12 segundos. George ficou todo esse tempo na linha? Ele ouviu o que Sebastião e eu dissemos? Mas... O que exatamente nós falamos? Não tive muito tempo para pensar. Logo me colocaram na ambulância e me levaram para o hospital, onde fizeram vários e