Quando saí da sala de detenção, os gritos de Pedro ainda ecoavam nos meus ouvidos.Sebastião não tinha mentido. O estado emocional de Pedro estava terrível, oscilando entre acessos de raiva e momentos de total desânimo.A frase que ele disse no final “Carolina, eu não quero ficar aqui! Eu preciso sair! Eu sou inocente!” perfurou meu coração como uma lâmina.Assim que saí, Sebastião, que já estava me esperando do lado de fora, veio em minha direção com passos largos. Ele notou imediatamente meu semblante abatido e me segurou pelo braço:— Você está pálida. O Pedro falou alguma coisa que te deixou assim?Ainda com as palavras de Pedro ecoando na cabeça, olhei para ele e disse:— Vamos para o carro. Conversamos no caminho.Eu sabia o motivo pelo qual Pedro havia me pedido para sair rapidamente. Provavelmente, havia espiões do Clube Q por ali. Ele temia que eu fosse vista, o que também colocaria minha segurança em risco.Sebastião me levou rapidamente até o carro e, assim que entrei, me en
Com um estrondo ensurdecedor, o veículo parou de capotar. De repente, o mundo ficou em silêncio. Um silêncio tão intenso que parecia que a própria vida havia cessado. Demorei um tempo para recobrar os sentidos e perceber que ainda estava viva. Tentei mexer meu corpo, mas não conseguia. Fiz mais força e, então, ouvi um gemido abafado. — Não... Se mexa... Meu mundo continuava imerso na escuridão. Sabia que essa escuridão não era da noite, mas porque meus olhos ainda estavam cobertos. — Sebastião. — Chamei, com a voz trêmula. — Estou aqui. — Respondeu ele, bem próximo, mas com um tom fraco. — Sai de cima de mim. Não consigo me mexer. — Insisti, ainda sem perceber que ele estava ferido. Só queria me livrar daquele peso. Sebastião se moveu um pouco, e aproveitei para tirar o rosto que estava pressionado contra o peito dele. Foi então que vi tudo ao meu redor: o carro destruído, o motorista imóvel e ensanguentado. Um calafrio percorreu meu corpo, e gritei, desesperada: — Se
Acidentes de carro eram meu pior pesadelo, e eu nunca imaginei que um dia viveria isso na pele. Aquele desespero que eu sentia agora devia ser o mesmo que meus pais sentiram naquela época. Não... Eles sentiram algo ainda pior. Eles morreram gravemente feridos. Minha mente estava um caos, mas a voz de George no telefone não parava de me acalmar. — Carolina, não se preocupe. Já tem gente a caminho para te resgatar. Eu também já estou indo. — Ele repetia, tentando me tranquilizar. Ele insistia para que eu tentasse sair do carro, mas, por mais que eu tentasse, a porta não abria. — Não se mexa... Tá doendo... — A voz fraca de Sebastião soou ao meu lado. No momento em que ele disse isso, eu congelei. Não me atrevi a me mexer novamente, nem mesmo a falar alguma coisa. — Carolina, por que você não está falando? Você está bem? — George parecia mais preocupado do outro lado, quando não ouviu mais minha voz. — Estou bem. — Respondi, forçando a voz a sair mais baixa. — Veja se o ca
Desde que nos separamos, eu nunca tinha chegado tão perto dele, muito menos olhado diretamente para ele. Agora, ele estava bem na minha frente, gravemente ferido. Lembrei que, no momento em que o carro capotava, ele me abraçou para me proteger. Foi por isso que ele se machucou tanto... Por minha causa. — Sebastião, fala alguma coisa. — Chamei, tentando mantê-lo acordado. Eu sabia que só minhas palavras não adiantariam. Se eu falasse muito, ele poderia querer fechar os olhos e dormir. — Eu... Falar o quê? — Murmurou ele, com a voz fraca. — Fala o que quiser. Fala como foi depois que nos separamos. Fala o que pensou. Fala da Lídia, se quiser. Ou então me conta onde você esteve sumido esses dias. — Disparei desesperada, tentando manter sua atenção. Ele ficou em silêncio. Achei que tivesse adormecido. Quando estava prestes a chamá-lo novamente, ouvi sua voz: — Carolina, eu te amo de verdade. Minha respiração travou. Olhei para o rosto pálido dele, drenado de sangue, mas não
Fomos resgatados. Um dos homens que me ajudaram era o mesmo motorista que havia me levado para visitar Pedro na prisão. Eu sabia que ele era uma pessoa de confiança de George. O carro estava completamente destruído, e foi preciso cortá-lo para retirar Sebastião, o motorista e eu. Durante o processo, também encontraram os nossos celulares. — Olha, este aqui ainda está em ligação. — Disse um dos homens, me entregando o aparelho. Mas o telefone não era meu. Era o de Sebastião. Lembrei que eu tinha usado aquele celular para ligar para George antes do acidente. Será que ele nunca desligou a chamada? Peguei o telefone, confusa. Quando olhei para a tela, vi que a ligação havia acabado de ser encerrada. O tempo total era de 67 minutos e 12 segundos. George ficou todo esse tempo na linha? Ele ouviu o que Sebastião e eu dissemos? Mas... O que exatamente nós falamos? Não tive muito tempo para pensar. Logo me colocaram na ambulância e me levaram para o hospital, onde fizeram vários e
Normalmente, um exame no hospital demora pelo menos meia hora para ficar pronto, mas desta vez o resultado saiu em segundos. O médico parecia aliviado e até animado: — Ótimo! Agora precisamos que você doe sangue imediatamente para o paciente. Pelo menos 400 ml, ou talvez 600 ml. Você consegue? — Consigo. Se precisar de mais, pode tirar também. — Respondi sem hesitar. Eu precisava salvar Sebastião. Mesmo que ele não tivesse se machucado por minha causa, eu não deixaria que ele morresse por falta de sangue. O médico me orientou a trocar para uma roupa esterilizada e me levou para a sala de emergência. Quando entrei, vi Sebastião deitado na maca. Seu rosto estava completamente pálido, sem nenhum vestígio de cor. Ele estava imóvel, sem dar nenhum sinal de vida. As palavras do médico de que ele corria risco de morte ecoaram na minha mente. Meu coração ficou apertado. Caminhei até ele e, ao chegar ao seu lado, levantei minha mão e enganchei meu dedo mindinho no dele. — Sebastiã
A transfusão excessiva de sangue me deixou em um estado de sono profundo, do qual demorei muito para acordar. Durante esse tempo, eu sonhava constantemente. Nos sonhos, ouvia vozes ao meu redor, repetindo coisas como: — Carolina, você precisa ter cuidado. Não pode se machucar ou sangrar. Se isso acontecer, ninguém poderá te salvar. — Carolina, como você pôde doar tanto sangue? Quer morrer? — Sua tola, idiota. Quem pediu para você fazer isso? — Carolina, me salva. Estou com frio... As vozes vinham de pessoas diferentes. Reconhecia a de meus pais, a de George, e, principalmente, a de Sebastião. Eu queria responder, mas parecia que minha boca estava selada, incapaz de emitir qualquer som. De repente, a visão no meu sonho se fixou em Sebastião. Ele estava coberto de ferimentos, e o sangue escorria de seu corpo como se fosse água saindo de uma torneira aberta. Fiquei apavorada. Ele também tinha o sangue dourado. Ele não podia sangrar assim! — Sebastião, Sebastião! — Gritei,
Miguel disse que eu estava em coma há três dias e que ele também estava ali há três dias. Então, George certamente também veio. Afinal, ele disse ao telefone que viria imediatamente. — Toma um pouco de água. — Miguel colocou um copo perto da minha boca. Olhei para ele e perguntei: — E o George? Miguel ficou visivelmente desconfortável por um momento antes de responder: — Bebe a água primeiro. Aquelas palavras fizeram algo no meu peito apertar. Minha garganta, já seca e dolorida, parecia arder ainda mais. — Ele não veio, né? — Veio. — Miguel respondeu, sentando-se na beira da minha cama. — Ele veio. — Então, onde ele está agora? — Perguntei, confusa. Se George realmente havia vindo, por que ele não estava aqui comigo? Eu estive inconsciente por três dias. Ele não deveria estar ao meu lado? Será que ele realmente decidiu seguir o que eu disse antes, de que, se ele me machucasse, deveria se afastar de mim? — Ele foi embora. Provavelmente saiu para resolver a questão da