George encostou a testa na minha, esfregando-a de leve, antes de murmurar: — Mas eu senti tanta saudade de você... Tanta, tanta... Ele segurou minha mão e a pressionou contra o peito quente de forma intensa. Instintivamente, puxei a mão de volta e a escondi atrás de mim, como se o toque queimasse. George sorriu ao ver meu nervosismo e, com a voz baixa, perguntou: — Você não sente saudade de mim? — Não sinto, nem um pouco. Só quero dormir, estou cansada. — Respondi apressada, tentando empurrá-lo para longe e procurando as chaves da porta na bolsa. Quanto mais eu tentava, mais atrapalhada ficava. Não conseguia achar as chaves de jeito nenhum, até que George, com calma, as tirou da minha mão. — Amor. — Ele disse, inclinando-se para perto do meu ouvido. Meu corpo inteiro ficou quente, como se o calor dele tivesse me contagiado. Ele abriu a porta para mim e, no momento em que eu ia entrar, segurou meu braço. — Você realmente não vai me deixar entrar? — Não, não vou. — Fa
George foi embora. Tomei um banho rápido e me joguei na cama. Peguei o celular e logo vi que tinha uma mensagem da Luana. Ela tinha enviado uma foto e uma mensagem. Na foto, Benedita aparecia dormindo tranquilamente, e a mensagem dizia: [Benedita está ótima.] Eu sabia que podia confiar a Benedita a ela sem nenhuma preocupação. Escrevi rapidamente uma resposta: [Obrigada, querida.]Nem bem enviei a mensagem e o celular começou a tocar em vídeo. Luana estava esperando eu responder? Pensei que, com certeza, ela queria compartilhar a felicidade de finalmente ter ficado com Gilberto. Curiosa para ouvir os detalhes, atendi a chamada. A imagem de Luana apareceu na tela. Ela estava recostada em sua cadeira de escritório, com uma expressão de felicidade tão radiante que nem a tela conseguiu esconder. — Tá estampado na cara. Felicidade não dá pra esconder, né? Esse sorriso bobo tá quase saindo da tela! — Que poeta você é. — Disse Luana, rindo, enquanto levantava o polegar para mim.
— Compartilhar coisas íntimas eu não faço. — Luana achou que eu estava brincando. Mas, com a expressão séria, perguntei: — E aquele seu admirador, você já deixou claro que não está interessada? — Claro, recusei na hora, sem rodeios. — Mas ele não desistiu. Caso contrário, não ficaria te mandando flores e comida. Além disso... — Fiz uma pausa, medindo as palavras. — Ele estava te espionando. O semblante de Luana ficou mais sério. Então, contei sobre o momento em que dei de cara com o homem na porta do consultório dela. Lembrei-me de quando fui perseguida por um ex-pretendente e quase acabei em apuros. Por isso, falei com cuidado: — Luana, você precisa tomar cuidado. Homens assim podem agir de maneiras inesperadas. Preste atenção quando sair ou chegar, e redobre a atenção ao dirigir. Luana não respondeu imediatamente. Em vez disso, levantou-se da cadeira e saiu andando. — Onde você vai? Você ouviu o que eu disse? — Perguntei, seguindo-a com os olhos pela tela do celular
Desta vez, o homem não fugiu. Ficou parado no lugar, me encarando diretamente. — Você me conhece? — Perguntei assim que parei diante dele. — Não. Analisei aquele rosto com calma. Ele não era do tipo que chamava atenção à primeira vista, mas, quanto mais eu olhava, mais interessante ele parecia. Era um daqueles rostos que cresciam em beleza com o tempo. A pele clara destacava ainda mais o ar limpo e organizado que ele transmitia. Hoje, o moletom cinza já tinha dado lugar a uma camiseta azul clara, e seu visual me parecia ainda mais arrumado. — Só que, de ontem pra hoje, nossas “coincidências” estão ficando um pouco frequentes demais. — Comentei, tentando ser discreta enquanto indicava que ele estava mentindo. — A gente realmente não se conhece, mas você é muito parecida com alguém que eu conheço. — Disse ele, e eu não consegui segurar o riso. Aquela abordagem era tão clichê que parecia ter saído de um manual antiquado de cantadas. Ele percebeu o tom de deboche no meu sorriso
— Seja honesto, você já fez amor com Carolina?A voz rouca do homem se espalhou pelo vão da porta, fazendo com que eu, prestes a entrar, parasse meus passos. Através do vão, observei os lábios finos de Sebastião pressionados de leve.— Ela tentou, mas eu não estava interessado.— Sebastião, não humilhe a Carolina dessa maneira. Ela é uma das mais belas do nosso círculo social; muitos caras estão interessados nela.Quem falou isso foi Pedro Santos, amigo íntimo de Sebastião e testemunha dos nossos dez anos de relacionamento.— Estamos muito familiarizados, você entende? — Sebastião franziu as sobrancelhas.Quando eu tinha quatorze anos, fui enviada para a casa dos Martins, onde conheci Sebastião pela primeira vez. Desde então, todos me disseram que ele seria meu futuro marido. E assim vivemos juntos por dez anos.— Isso mesmo, vocês trabalham na mesma empresa durante o dia, veem um ao outro o tempo todo, e à noite vocês comem na mesma mesa. Devem se conhecer tão bem que até sabem quanta
Sebastião levantou a cabeça ao ouvir o som da porta, e seu olhar parou no meu rosto. Ele deve ter notado minha expressão.— Está se sentindo mal? — Ele franziu ligeiramente a testa.Caminhei silenciosamente até sua mesa, engolindo o amargor que subia em minha garganta, e falei: — Se você não quer casar comigo, posso falar com sua mãe.As rugas entre as sobrancelhas de Sebastião aprofundaram; ele percebeu que eu tinha ouvido sua conversa com Pedro.A amargura voltou à minha garganta, e eu continuei: — Nunca pensei que me tornaria uma pessoa com quem você se sente desconfortável em estar, Sebastião...— Para todos, já somos marido e mulher. — Sebastião me interrompeu.E daí? Ele quer casar comigo por causa dos outros? Eu queria que ele case comigo por me amar, por querer passar o resto da sua vida comigo.Com um clique suave, Sebastião fechou a caneta que segurava, seu olhar caiu sobre o documento em minhas mãos, e disse: — Vamos pegar a certidão de casamento na próxima quarta-feira.
O dia todo, fiquei pensando sobre essa questão. Até à tarde, quando ele veio me chamar, eu ainda não tinha a resposta, mas o segui mesmo assim.O hábito era algo terrível. Em dez anos, me acostumei com ele e também a voltar para a casa dos Martins depois do trabalho.— Por que você não está falando? — No caminho de volta, Sebastião provavelmente percebeu que eu estava de mau humor e perguntou.Fiquei em silêncio por alguns segundos e, finalmente, comecei a falar: — Sebastião, e se nós...Antes que eu pudesse terminar a frase, o celular dele tocou. O viva-voz mostrou um número não identificado, mas eu vi claramente que Sebastião apertou o volante com força. Ele estava nervoso, algo raro.Instintivamente, olhei para o rosto dele, mas ele já tinha desligado o viva-voz e atendido com o Bluetooth: — Alô... Ok, estou indo agora.A ligação foi curta. Ele desligou o telefone e olhou para mim. — Lina, tenho uma urgência para resolver e não vou poder se levar para casa.Na verdade, antes mesm
Nunca imaginei que um dia na minha vida acabaria indo para a delegacia por uma acusação de assédio.Derrubei um adolescente, que tinha apenas 17 anos e ainda era menor de idade. Ele insistiu que eu tinha más intenções com ele. Mesmo que eu negasse, ele continuava a afirmar que eu o tinha tocado.— Onde ela te tocou? — O policial perguntou com bastante detalhamento.O nome do adolescente era Augusto Reis. Ele olhou para mim, apontou primeiro para o próprio peito e depois para baixo da cintura. — Aqui, aqui... Ela tocou em tudo.Besteira! Quase gritei. Sebastião, que é um homem tão bonito, eu nunca toquei, então por que tocaria nesse pirralho que nem barba tinha?O policial olhou de volta para mim, e antes que ele pudesse perguntar, eu já neguei: — Eu não o toquei, apenas esbarrei nele sem querer.— Você bebeu? — O policial me olhou com um semblante sugestivo.Nesta sociedade, é normal os homens se entregarem ao álcool, mas quando uma mulher bebe um pouco, geralmente é vista como desre